Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE OS FORUNS INTERNACIONAIS DE DISCUSSÃO DOS PROBLEMAS ECONOMICOS ORIUNDOS DO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO.

Autor
Wellington Roberto (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: José Wellington Roberto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIO ECONOMICA.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE OS FORUNS INTERNACIONAIS DE DISCUSSÃO DOS PROBLEMAS ECONOMICOS ORIUNDOS DO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO.
Publicação
Publicação no DSF de 21/02/2001 - Página 1635
Assunto
Outros > POLITICA SOCIO ECONOMICA.
Indexação
  • REGISTRO, OCORRENCIA, FORO, AMBITO INTERNACIONAL, ASSUNTO, GLOBALIZAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, SUIÇA, MUNICIPIO, PORTO ALEGRE (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), DIFERENÇA, IDEOLOGIA, DEBATE.
  • ANALISE, PROCESSO, GLOBALIZAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, TECNOLOGIA, INFORMAÇÃO, NEGOCIAÇÃO, INTERNET, DEFESA, DEBATE, POLITICA SOCIAL, AMBITO, CONJUNTURA ECONOMICA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. WELLINGTON ROBERTO (PMDB - PB) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, dois fóruns internacionais discutiram, há duas semanas, em datas simultâneas, o problema da globalização econômica por ângulos distintos. Em Davos, Suíça, os responsáveis pela condução do processo ¾ governos, instituições, lideranças ¾ avaliaram rumos, formularam críticas e se dispuseram a providências corretivas.

            Em Porto Alegre, o Fórum Social Mundial, de teor declaradamente esquerdista, buscou negar a globalização como imperativo dos novos tempos. Considerou-a fruto da manipulação ideológica do neoliberalismo, cujo objetivo seria aprofundar a dominação sobre os países periféricos, estabelecendo o império definitivo do capitalismo.

            Não há dúvida de que o processo de globalização em curso está longe de corresponder aos ideais de justiça social. Mas é também indiscutível que a globalização não é fruto de uma doutrina política ou da vontade de um ou mais países. É resultado do estágio de desenvolvimento tecnológico a que chegou a humanidade.

            A tecnologia de comunicação, de que a Internet é apenas um dos instrumentos mais fascinantes e corriqueiros, coloca o mundo literalmente na residência de cada indivíduo. A televisão e o rádio trazem a informação em tempo real. Um simples comando no computador faz com que as pessoas transfiram dinheiro, façam compras on line em/e para qualquer país do mundo. Tudo isso é globalização, um processo que transpõe fronteiras e põe em xeque conceitos clássicos de soberania.

            É claro que tudo isso, sob diversos aspectos, é assustador e precisa ser discutido em seus detalhes. É claro que os países ricos, num primeiro momento, tiram proveito, manipulam e tentam deter o comando do processo. Mas também é claro que se trata de uma via de mão dupla. A globalização traz também oportunidades de negócios para os países periféricos, conectando-os com mercados antes inacessíveis e proporcionando troca de informações em escala jamais vista. A Internet, mais uma vez, é exemplo disso.

            Por tudo isso, a negação pura e simples do fenômeno, como pretendeu o Fórum de Porto Alegre, é atitude ingênua e pueril. E ainda: desserve mais que auxilia os países periféricos. Primeiro, porque, ao negá-lo, não se está necessariamente (muito pelo contrário) anulando o processo ou atenuando seus efeitos nocivos. Cabe aí a velha máxima segundo a qual o pior cego é o que não quer ver. E os que negam a globalização fazem como o avestruz ao enterrar o pescoço na areia.

            Segundo, porque, ao se negar a globalização, deixa-se de discuti-la e de submetê-la a regras elementares de ética e de justiça. Fica o seu controle onde está, a serviço dos interesses que geram injustiças e agravam desigualdades.

            Vejo, pois, que o Fórum Social Mundial poderia ter sido bem mais eficiente na defesa da causa que elegeu, a justiça social, se tivesse partido de outra premissa: a de que a globalização é conseqüência do desenvolvimento tecnológico da humanidade ¾ e, como tal, é irreversível.

            Se não é ainda benéfica, não é por ela em si, mas pelo modo como está sendo conduzida. Nesse sentido, o Fórum de Davos acabou sendo mais produtivo, ao discutir objetivamente o comércio mundial e permitir que os Governos dos países periféricos (entre os quais o do Brasil) pudessem se manifestar e colocar em exame seus pontos de vista.

            O Fórum de Porto Alegre, embora tenha estabelecido importante contraponto ideológico, pecou por falta de objetividade. Produziu belos discursos, reuniu personalidades respeitáveis, mas não gerou conseqüências práticas.

            Nesse ponto, não há como negar razão ao Presidente Fernando Henrique: o econômico sem o social é desumano, enquanto o social sem o econômico é pura veleidade. E aí se resumem os fóruns de Davos e Porto Alegre respectivamente. O que parece lógico é que a soma dos dois fóruns constitui o cenário ideal para uma discussão indispensável ao bem-estar geral. Não sendo ainda assim, é lamentável constatar, mas preservam-se as desigualdades e retarda-se o progresso da humanidade. É o que se convencionou chamar de marcha da insensatez, matriz de crises e de conflitos, cuja vítima maior é o próprio ser humano.

            Era o que tinha a dizer.

            Muito obrigado.


            Modelo14/25/243:22



Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/02/2001 - Página 1635