Discurso durante a 40ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

APELO PARA DIVULGAÇÃO DA LISTA DE VOTAÇÃO RESULTANTE DA VIOLAÇÃO DO PAINEL ELETRONICO DO PLENARIO. REAFIRMAÇÃO DO SEU VOTO PELA CASSAÇÃO DO EX-SENADOR LUIZ ESTEVÃO. NECESSIDADE DE PRESERVAR A INSTITUIÇÃO DO CONGRESSO NACIONAL POR MEIO DA INVESTIGAÇÃO E PUNIÇÃO EXEMPLAR DE PARLAMENTARES ENVOLVIDOS EM IRREGULARIDADES.

Autor
Heloísa Helena (PT - Partido dos Trabalhadores/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CORRUPÇÃO.:
  • APELO PARA DIVULGAÇÃO DA LISTA DE VOTAÇÃO RESULTANTE DA VIOLAÇÃO DO PAINEL ELETRONICO DO PLENARIO. REAFIRMAÇÃO DO SEU VOTO PELA CASSAÇÃO DO EX-SENADOR LUIZ ESTEVÃO. NECESSIDADE DE PRESERVAR A INSTITUIÇÃO DO CONGRESSO NACIONAL POR MEIO DA INVESTIGAÇÃO E PUNIÇÃO EXEMPLAR DE PARLAMENTARES ENVOLVIDOS EM IRREGULARIDADES.
Aparteantes
Amir Lando, Antonio Carlos Valadares, Carlos Wilson, Casildo Maldaner, Eduardo Siqueira Campos, Eduardo Suplicy, Emília Fernandes, Geraldo Cândido, Iris Rezende, José Eduardo Dutra, Lauro Campos, Marina Silva, Marluce Pinto, Paulo Hartung, Pedro Simon, Renan Calheiros, Sebastião Bala Rocha.
Publicação
Publicação no DSF de 25/04/2001 - Página 7090
Assunto
Outros > SENADO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CORRUPÇÃO.
Indexação
  • CONFIRMAÇÃO, VOTO FAVORAVEL, CASSAÇÃO, LUIZ ESTEVÃO, EX SENADOR.
  • NECESSIDADE, DIVULGAÇÃO, POPULAÇÃO, RELAÇÃO, VOTO, CASSAÇÃO.
  • NECESSIDADE, PUNIÇÃO, RESPONSAVEL, VIOLAÇÃO, VOTAÇÃO, APARELHO ELETRONICO, BENEFICIO, RESPEITO, CONGRESSO NACIONAL.
  • NECESSIDADE, URGENCIA, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CORRUPÇÃO.

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em primeiro lugar, quero deixar claro que não estou vindo à tribuna para refazer, reformular ou modificar os meus discursos anteriores. Estou a reafirmá-los, com a mais bela e doce compreensão de que não existe nada que dê mais satisfação moral a um ser pensante do que ser absolutamente escrupuloso no campo das idéias e das ações. E o que promove a suprema satisfação moral em ser absolutamente escrupulosa no campo das idéias e das ações permite que não precise reformular, modificar o meu discurso para qualquer conveniência que seja estabelecida.

Acompanhei os jornais e revistas no final de semana com muita atenção. Li alguns artigos com tristeza, pelo requinte de crueldade e pela pobreza do argumento, apesar do excessivo número de linhas. Embora tentassem apresentar riqueza de detalhes para justificar o meu suposto voto contra a cassação do Senador Luiz Estevão, a lógica formal implacável não permitia fazê-lo.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, por mais que se tente, por mais que se remexa em supostos aspectos públicos ou privados, quem quer refrescar a memória poderia se lembrar com exatidão da minha participação ativa ao longo de todo o processo de cassação do ex-Senador Luiz Estevão. Eu já repeti aqui centenas de vezes que votei pela cassação. Que votaria novamente, pela convicção legal que tenho das infrações cometidas pelo ex-Senador contra a ordem jurídica vigente, e pela convicção política que tenho de que o Senado deveria fazê-lo mesmo. Mas é como se nada disso tivesse valor para alguns, que insistem desesperadamente, continuamente, no assunto.

Apesar dos destroços na alma, no coração, descobri também que, por mais que tudo isso tenha me machucado profundamente, não foi capaz de me abalar, tanto pela generosidade de muitos aqui, em Alagoas e em todo o Brasil - pessoas que acompanham a minha vida política, a minha trajetória política absolutamente irrepreensível -, como também porque sou uma sobrevivente. Essa é a verdade. E, como sobrevivente, mesmo que eu seja muito amada pela Dona Helena, a senhora minha mãe, não tive oportunidade de ser “filhinha de papai”, “filhinha de mamãe”.

Como todo sobrevivente, Senador Gilberto Mestrinho, passei a minha vida sem saber o que fazia, até que descobri, depois, um verso muito interessante que diz assim: “Quando o inimigo vem, nós vamos; quando o inimigo descansa, nós o perturbamos; quando o inimigo está exausto, nós lutamos; e quando o inimigo se vai, nós o caçamos!”

Portanto, a minha convicção de sobrevivente, a minha consciência absolutamente tranqüila de que votei pela cassação me leva a fazer uma solicitação à Mesa. Neste momento tão importante para o Senado e diante de tantas confissões de culpa em crimes cometidos, diante da impressionante mobilidade, da impressionante mutação dos discursos, no sobe e desce da tribuna, onde se jura por Deus, num dia, e, no outro dia, jura-se por Deus novamente, dizendo uma coisa completamente diferente, precisamos de um precioso complemento, de um complemento muito importante, o disquete, pois mesmo quando não existia a materialidade muitos setores da imprensa e parte importante da opinião pública já refletiam e elaboravam sua opinião com convicção, como se tivessem à mão a verdadeira lista de votantes.

Então, é exatamente por isso, Sr. Presidente, que é de fundamental importância que o disquete, no qual está gravada a lista dos votantes, seja disponibilizado para a opinião pública logo. Enquanto o assunto estava restrito e assemelhado ao comportamento de vadios em mesa de bar, ou restrito a moleques fantasiados de homens, de terno e gravata, arrotando arrogância pelos corredores e se mostrando profundos conhecedores dos segredos da República ou da casa dos tapetes azuis, estava tudo muito bem.

Agora é uma outra coisa. Agora tem violação, tem confissão e tem disquete. Portanto, nada mais nos resta a não ser divulgar a verdadeira lista dos votantes. É claro que eu quero que a lista seja divulgada, com o meu voto pela cassação. Mas quero que ela seja divulgada imediatamente, do jeito que se encontra no disquete, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores. É importante que se a divulgue logo, para que seja atendida a voracidade, a curiosidade de alguns em relação ao tema, que deixa de lado o crime cometido, a infração ao Código de Ética e Decoro Parlamentar e passa a trabalhar unicamente pelos supostos votos de um e de outro. Vamos garantir que a voracidade e a curiosidade dessas pessoas sejam absolutamente contempladas e que elas possam colocar a lista dos votantes em algum quadro emoldurado nas suas paredes.

Para nós, isso é importantíssimo, porque só assim iremos acabar definitivamente com o voto secreto em qualquer circunstância. E também para que as pessoas cuja voracidade e curiosidade são muito maiores do que a análise do crime possam se contemplar, como se num divã estivessem, de frente para a lista de votação. Repito: é importante que façamos isso como ponto número um. Que a lista seja divulgada e, assim, possamos começar a trabalhar e a analisar a representação que temos, ou seja, as infrações ao Código de Ética e Decoro Parlamentar, previstas pelo art. 55 da Constituição - o abuso das prerrogativas asseguradas ao Parlamentar, a exacerbação da função legislativa.

Essa atitude é de fundamental importância para que passemos ao segundo passo, igualmente importante: investigar as denúncias contra Parlamentares, evitando, assim, que o povo brasileiro veja o Congresso Nacional, na sua unanimidade, como um covil de ladrões tolerados deste País, e que um dia encontremos um pobre ladrão, encontremos alguém do Carandiru, e frente a Parlamentares honestos, possa se repetir aquele velho diálogo que há num sermão muito interessante do Padre Antônio Vieira. Certa vez, um pirata dialogava com Alexandre Magno, um grande imperador. Navegava Alexandre numa poderosa armada pelo mar Eritreu a conquistar a Índia. E, como fosse trazido a sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre, por andar em tão mau ofício. Porém ele, o pequeno pirata, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim: “Basta, Senhor, que eu porque roubo em uma barca sou ladrão, e vós porque roubais em uma armada, sois Imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza; o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres.” Portanto, é extremamente importante que passemos para o segundo ponto: investigar as denúncias feitas contra Parlamentares, para que não estejamos todos na vala comum do covil dos ladrões tolerados deste País.

O terceiro passo: que possamos imediatamente instalar a comissão parlamentar de inquérito. Não tenho dúvida, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, de que a comissão parlamentar de inquérito será instalada. E vai ser instalada muito mais rápido do que a imaginação permite supor, para que o Congresso Nacional mostre ao Senhor Fernando Henrique que, apesar dos seus problemas, o Congresso Nacional, para cumprir a sua obrigação constitucional, para conquistar o Estado democrático de direito, tem que ter a tarefa nobre de fiscalizar os atos do Executivo e tem de mostrar à sociedade que não é omisso nem cúmplice do palácio putrefato do Senhor Fernando Henrique Cardoso, mergulhado na lama da corrupção com a conivência da Congresso Nacional.

Portanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o primeiro ponto, que faço questão de repetir, é que não falta mais nenhum elemento. Já foi identificada a violação, já foram feitas as confissões de culpa, e, agora, apareceu o disquete. Que a sociedade brasileira possa imediatamente ter conhecimento do disquete para garantir que a sua curiosidade seja saciada plenamente, para que possamos trabalhar a representação no Conselho de Ética, trabalhar na Comissão Parlamentar de Inquérito e fazer as investigações, para que o Congresso Nacional e todos nós não sejamos identificados como o covil dos ladrões tolerados deste País!

O Sr. Geraldo Cândido (Bloco/PT - RJ) - Permite-me V. Exª um aparte?

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Concedo um aparte a V. Exª, Senador Geraldo Cândido.

O Sr. Geraldo Cândido (Bloco/PT - RJ) - Senadora Heloísa Helena, solidarizo-me com V. Exª. Cada vez fico mais convencido de que V. Exª jamais votaria contra a cassação de Luiz Estevão. Conheço V. Exª, convivemos aqui no Senado na nossa luta diária, e os seus pronunciamentos, os seus discursos têm sido feitos sempre na mesma linha - de coerência, de firmeza, de convicção -, o que nós dá tranqüilidade e nos dá a certeza de que V. Exª jamais faria isso. Outros ocupam a tribuna com arrogância, querendo afrontar todos, e, depois, quando a verdade aparece, voltam à tribuna para chorar e pedir perdão. Esses, sim, têm culpa no cartório realmente. Cometeram um delito e agora querem minimizá-lo, tentando convencer os seus Pares, os Senadores, de que todo mundo é passível de erro, de que o ser humano é assim mesmo, para se livrar de uma possível cassação. V. Exª nunca mudou o discurso, porque tem convicção, certeza e consciência daquilo que fez e se mantém coerente. Concordo com V. Exª no sentido de que devemos lutar pela instalação da CPI da Corrupção, para chegarmos ao Palácio do Planalto. Precisamos manter a nossa luta pela ética nesta Casa, assim como ocorreu durante o processo de cassação do Luiz Estevão, e temos que manter a mesma ética e a mesma dignidade na Comissão de Ética. Não podemos aceitar essa história de que fulano, por ser A ou B, não pode ser cassado. Pode, sim. Desde que fique constatado que se cometeu um delito, é preciso que se pague por ele. Então, é preciso que a Comissão de Ética analise o caso. É preciso que haja cassação para qualquer Senador que cometer erros como o da violação do painel de votação. Parabenizo V. Exª, manifestando meu voto de solidariedade. Continuamos nesta luta para mostrar à sociedade que o Senado da República não deixa impunes aqueles que cometeram crimes aqui. Estes terão que pagar pelo crime que cometeram. Muito obrigado a V. Exª.

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Agradeço a V. Exª o aparte, Senador Geraldo Cândido. É realmente de fundamental importância que esclareçamos logo essa questão da listagem dos votos, até porque o suposto voto dado acaba se transformando em um tapete para esconder o lixo sujo daqui e do putrefato Palácio do Planalto.

Então, superemos essa etapa para começarmos as etapas seguintes, que são de fundamental importância para que possamos defender o interesse público!

O Sr. Lauro Campos (Sem Partido - DF) - Permite-me V. Exª um aparte?

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Concedo um aparte a V. Exª, Senador Lauro Campos.

O Sr. Lauro Campos (Sem Partido - DF) - Senadora Heloísa Helena, sinto-me constrangido, porque a minha admiração e o meu respeito, de um ser quase hipnotizado pela sua atuação neste plenário e em todos os outros lugares em que V. Exª atua, fazem com que o meu julgamento não seja isento. E, como não acredito em isenção, vou falar algumas poucas palavras, apesar dessa paixão. Não acredito no racionalismo, nos seres racionais, frios, porque eles perdem - já perderam -, com essa postura, 90% daquilo que é vida, daquilo que é energia, daquilo que é calor, daquilo que é movimento, daquilo que é emoção. Assim, prefiro ser pouco racional e mais humano, como V. Exª obviamente o é. Quero apenas testemunhar que, um dia, atraídos por esse tropismo que V. Exª tem, o tropismo da simpatia, o tropismo que se transforma em empatia, fomo-nos reunindo ali, o Senador Eduardo Suplicy e eu - e chegou o ex-Senador Luiz Estevão -, em frente da sua cadeira. Quando estávamos ali... Perdi agora um pouco o fio da meada, porque uma lista do painel, divulgada pela Internet, está nas mãos do Senador Gilberto Mestrinho, e isso desvia a nossa atenção. Naquele momento, discutíamos sobre um assunto que estava em debate na Câmara. V. Exª perguntou o que estávamos discutindo e disse que aquilo era algo que não tinha importância. Quando chegou o ex-Senador Luiz Estevão, V. Exª se levantou e disse: “Todo mundo sabe que V. Exª não presta”. Ele mudou: ficou lívido, ficou branco, perdeu sangue no rosto e saiu completamente perturbado. Houve um outro episódio, que todo mundo viu, em que V. Exª, com a sua incansável busca de justiça, o que obviamente significava a cassação do então Senador Luiz Estevão, foi alvo de um gesto típico de alguém que puxa o gatilho. São demonstrações cabais e insofismáveis de que V. Exª foi talvez uma das mais atuantes no sentido da cassação do então Senador Luiz Estevão. Discordo do início do discurso do nosso Colega Senador Geraldo Cândido, porque nunca deixei de acreditar que V. Exª tinha votado pela cassação do Senador Luiz Estevão - e não poderia fazer outra coisa. Com painel ou sem painel, com lista ou sem lista, eu nunca deixei de acreditar nisso. É perigoso falar o que vou dizer aqui, porque a imprensa distorce tudo, mas, por conhecer bem V. Exª, é mais fácil que eu tenha votado contra a cassação do que V. Exª. Inclusive, uma vez, o muito bem preparado, treinado e eficiente Senador Luiz Estevão - eficiência utilizada não sei se para o bem ou para o mal ou para os dois -, num comício no Gama, desferiu um golpe de caratê contra mim e só o desarmou, porque, se tivesse chegado ao fim, obviamente os arames que atam a minha carcaça teriam estourado, causando-me uma morte súbita. Portanto, tenho alguns motivos para pensar assim. Mas acredito que seria mais fácil eu deixar de votar a favor da cassação dele do que V. Exª. Creio que não há depoimento mais forte em certo sentido. Repudio toda essa tentativa de transformar o painel num dossiê contra V. Exª. É o tal do dossiê, são os tais dos dossiês que ajudam a aumentar a lama deste plenário. Muito obrigado.

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Agradeço, de coração, o aparte de V. Exª, Senador Lauro Campos.

A Srª Marina Silva (Bloco/PT - AC) - Concede-me V. Exª um aparte?

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Concede-me V. Exª um aparte?

O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT - SE) - Concede-me V. Exª um aparte?

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Embora sabendo que o tempo está esgotado, peço licença à Mesa para conceder um aparte à Senadora Marina Silva e, depois, aos Senadores Eduardo Suplicy e José Eduardo Dutra.

A Srª Marina Silva (Bloco/PT - AC) - Senadora Heloísa Helena, faço minhas as palavras do Senador Lauro Campos, no sentido de que V. Exª, dentro do nosso Partido, dentro da nossa Bancada, em momento algum, despertou dúvida a respeito do seu voto ou foi questionada por isso. Portanto, as minhas palavras são no sentido de repudiar essas acusações que estão sendo feitas, de que V. Exª teria votado contra a cassação do ex-Senador Luiz Estevão. Tenho o maior respeito e admiração por V. Exª, pela sua coerência, pela sua ética, pela sua história de vida como sobrevivente e pela mulher corajosa que V. Exª é. Fico feliz em ver a tranqüilidade de V. Exª, porque isso é muito difícil. Quando se está sendo observado, apontado, mesmo quando se é inocente, é difícil manter a tranqüilidade. Essa tranqüilidade só é possível aos sobreviventes, que, mesmo na espreita do caçador, não são capazes de ficar acuados na condição de presos. Quero dizer também, Senadora Heloísa Helena, que a minha solidariedade com relação a V. Exª se dá em dois níveis: como companheira de Partido e como mulher que sou, pois sou sabedora de que, talvez, muitas das acusações feitas a V. Exª possivelmente não aconteceriam com o mesmo ódio, com a mesma determinação, se V. Exª, ao invés de mulher, fosse homem. Talvez ninguém se desse ao trabalho de caluniar alguém, como aqui ninguém se sentiu caluniado. Por que especificamente V. Exª? É o que me pergunto. Quais são os interesses? Talvez a pergunta já traga a resposta. Quero apenas dizer que, do meu ponto de vista, não basta qualquer disquete, não basta qualquer lista, porque qualquer um pode inventar um disquete com informações ou uma lista. É preciso que venha à tona o conteúdo do disco rígido, do disco mole ou do que for desse bendito painel, para que surja a verdade, nada mais do que a verdade, em relação ao voto de V. Exª. Deve-se entrar no mérito da discussão, que é a violação do painel, e não se discutir a opinião dos que votaram, porque os votos já estão consagrados no painel do Congresso, que jamais poderia ter sido violado. O que se deve discutir aqui é o direito de se preservar o voto, que é um direito e não um dever. Quem quiser pode abdicar do sigilo do seu voto, pode dizer como votou. V. Exª diz que votou pela cassação. Também votei. Estou abdicando desse sigilo, mas não permiti que ninguém bolinasse o meu voto sem a minha autorização. Muito obrigada.

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Agradeço o aparte de V. Exª, Senadora Marina Silva, igualmente sobrevivente, como eu.

Concedo um aparte ao Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senadora Heloísa Helena, ainda ontem, na Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza, mais de 200 pessoas estavam presentes, assistindo a uma palestra; eram pessoas, sobretudo, simpatizantes do PT. Havia muita preocupação com a situação de V. Exª, bem como com a do Senador Lauro Campos. Quero até dizer a S. Exª que houve um apelo muito forte para que permanecesse conosco no PT. Falei do nosso empenho para que S. Exª permaneça conosco e volte ao Partido como um filho pródigo. Eu também disse que é preciso que o Lula converse com S. Exª - são essas coisas que temos dito. Mas a outra preocupação se deu devido à admiração que V. Exª desperta em todo o Brasil, pela sua combatividade, pela sua forma guerreira de ser em relação a tudo aquilo que é a justa causa do esclarecimento e da realização de justiça neste País. Como os Senadores que me precederam, quero aqui, mais uma vez, afirmar o meu testemunho da sua ação no cotidiano. V. Exª sempre esteve empenhada em tudo o que se passou com o Senador Luiz Estevão. Desde que V. Exª percebeu que ele havia faltado com o decoro parlamentar, desde que V. Exª, como muitos de nós, constatou que ele não havia falado inteiramente a verdade em seus depoimentos e não havia esclarecido completamente o episódio relacionado à construção do edifício do TRT de São Paulo, V. Exª se tomou de uma indignação tão forte, que não poderia ter outra atitude senão a de votar, conforme registra, pela cassação do mandato do então Senador Luiz Estevão. Esse ponto é muito importante, e tenho a certeza de que V. Exª faz muito bem em exigir que surjam esse disquete e essa lista, para que se esclareça inteiramente o episódio. Aproveito esta oportunidade, uma vez que não estive ontem aqui, quando o Senador José Roberto Arruda resolveu expressar a verdade, para dizer que considero a sua atitude importante. Teria sido dilacerador para a sua relação conosco, com os funcionários, com o seu filho músico, com os seus sete filhos, se S. Exª mantivesse a versão que havia apresentado na semana passada, que não correspondia à verdade. Achei muito significativa a sua atitude de falar a verdade, mas acredito que ela precisa vir à tona de forma ainda mais completa. Registro isso porque há uma enorme expectativa em relação ao que vai dizer o Senador Antonio Carlos Magalhães. Obviamente, as suas palavras aumentam a expectativa de todos. Quero transmitir a V. Exª e ao Senador Antonio Carlos Magalhães que é importantíssimo que S. Exª agora preste um serviço à Nação. Talvez esse seja o mais importante serviço que S. Exª prestará desde que ingressou nesta Casa, durante toda a sua gestão como Presidente, durante o tempo em que, como Presidente, conviveu com o outro Presidente, que era o seu filho Luís Eduardo Magalhães. Até em memória do seu filho, S. Exª deve mostrar a relevância de dizer a verdade, doa a quem doer - inclusive, eventualmente, a si próprio. Porém, é muito importante que, em benefício do Senado Federal, do qual foi Presidente, S. Exª traga a verdade inteira e contribua para esclarecer o episódio em que citou V. Exª, inclusive perante os Procuradores da República. Minha solidariedade, Senadora Heloísa Helena!

            A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Agradeço o aparte de V. Exª, Senador Suplicy. É evidente que não vou reproduzir discursos feitos anteriormente para caracterizar determinadas personalidades políticas da Casa. Como membro titular do Conselho de Ética, estarei agindo com absoluta serenidade, com respeito ao Regimento, à legislação em vigor, à Constituição. Embora até possa querer que alguns sejam fritos, como churrasco, no fogo do inferno, é evidente que, no Conselho de Ética, estarei agindo à luz do Código de Ética e Decoro Parlamentar, à luz da Constituição, enfim, à luz da legislação vigente, que nos obrigamos efetivamente a defender se quisermos construir um Estado Democrático de Direito.

O Sr. Eduardo Siqueira Campos (PFL - TO) - Permite-me V. Exª um aparte?

            A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Concedo um aparte a V. Exª, Senador Siqueira Campos.

O Sr. Eduardo Siqueira Campos (PFL - TO) - Senadora Heloísa Helena, talvez eu tenha tido a oportunidade de assistir praticamente a todos os pronunciamentos que V. Exª fez nesta Casa. Portanto, gostaria de lhe dizer que, no meu entendimento, tem V. Exª toda a liberdade e as suas razões pessoais para querer a publicação da tal lista. Entretanto, acho que, neste momento - repito que se trata de opinião minha, pessoal -, não podemos fazer o jogo do fraudador, nem do violador. A intenção, as razões pessoais e o discernimento de cada Parlamentar estão guardados naquela votação, mas não será qualquer papel que esteja circulando pelo plenário ou pela Internet, ou que venha a ser apresentado, que mudará o conceito que V. Exª tem nesta Casa e, principalmente, entre os seus Pares. Pode ser, sim, Senadora Heloísa Helena, que V. Exª tenha muitos adversários dentro desta Casa - de suas idéias, da sua forma de atuar -, mas não tenho a menor dúvida de que V. Exª é acreditada por todos os integrantes desta Casa. Jamais um pedaço de papel apresentado, venha de onde vier, mudará o conceito que tenho de V. Exª, que prima pela verdade, pela vontade e pela tenacidade de sua luta. Portanto, respeito a sua decisão de querer ver a publicação de tal lista, mas de forma nenhuma pode esta Casa aceitar que haja uma substituição de valores e que passe a ser mais interessante, agora, fazer o jogo do fraudador e do violador. Estes, sim, deverão ser punidos. Não devemos diminuir a discussão querendo saber como votou cada Senador. Os fatos foram amplamente narrados nesta Casa e cada um teve a maturidade e a integridade para dar o seu voto de acordo com a sua consciência. Tudo aqui está em questão, menos, Senadora, a honra de V. Exª, porque esta Casa respeita a sua atuação e, acima de tudo, a sua palavra.

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Senador Siqueira Campos, agradeço profundamente o aparte de V. Exª. Entretanto, não existe mais votação secreta na Casa. Não existe mais votação secreta! Não houve a votação secreta! A votação que supostamente era secreta não o foi; foi violada. Nem vou falar dos outros pontos do relatório da Unicamp que nos deixaram completamente estarrecidos. Mas, se não houve votação secreta, se houve violação, se houve confissão de culpa, se houve um disquete, a opinião pública deve conhecer o seu conteúdo para, então, podermos tratar de outras coisas. Há o Código de Ética e Decoro Parlamentar a identificar, aqui, o covil de ladrões tolerados e a corrupção do Governo putrefato de Fernando Henrique. No entanto, não se pode dar como secreta uma votação que, efetivamente, não o foi. E eu quero o meu voto pela cassação! E se quero o meu voto pela cassação, quero ver a lista e quero que ela seja publicada, porque enquanto isso era assunto de vadio em mesa de bar, de moleque de terno e gravata metido a saber o segredo de todo mundo, era uma coisa. Agora, é outra. A opinião pública precisa saber do conteúdo do disquete para que acabe a voracidade da curiosidade - embora sejamos contra o voto secreto, mesmo - e possamos iniciar um outro ponto de discussão. Portanto, compreendo as razões de V. Exª.

O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT - SE) - Permite-me V. Exª um aparte, Senadora?

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Ouço o Senador Dutra.

O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT - SE) - Senadora Heloísa Helena, em várias oportunidades, emiti a minha opinião a respeito desse processo envolvendo V. Exª. É absolutamente indigno que pessoas e setores coloquem no mesmo barco ou estabeleçam uma comparação entre alguém que está sendo, desde agosto do ano passado, vítima de uma calúnia e outros que são investigados por terem cometido um crime. V. Exª lembrou um assunto importante: além de todos os problemas gerados por esse fato, além do crime e da violação, os efeitos nefastos desse episódio continuam se propagando ao longo do tempo. Hoje, todos os Senadores são reféns dessa famosa lista. Todos nós estamos sujeitos a quaisquer tipos de chantagens, de calúnias, inclusive com objetivos eleitorais. Eu não me surpreenderei se, no ano que vem, os jornais do meu Estado - que são todos de propriedade de políticos adversários - publicarem: “Bomba! Surgiu a lista! Senador José Eduardo Dutra votou contra a cassação de Luiz Estevão!” Como temos visto, volta e meia surgem, em colunas, outros nomes. Agora, há uma lista na Internet apresentando os votos, contra ou a favor, de diversos Senadores, quando o voto era secreto. No entanto, sinceramente, não acredito que não seja possível resgatar essa lista do disco rígido do computador do Senado. Não sou especialista em informática - aliás, entendo muito pouco do assunto -, mas se foi possível, por meio de uma auditoria técnica, comprovar-se, com data e hora, que foi feita a violação, se ficou preservada, no disco rígido, a informação de que foi modificado o programa, não é possível que não tenha sido preservado, também, o resultado dessa violação! Então, entendo que a Mesa do Senado tem a obrigação de solicitar que se aprofunde a auditoria, pela Unicamp, para se comprovar se é possível ou não a divulgação da lista. Aí, teremos certeza de que não se trata de uma lista forjada em um disquete “a” ou “b”. Se isso for comprovado, será obrigação de todos os Senadores autorizarem que a lista seja publicada, porque, do contrário, a partir de agora todos nós - como V. Exª, que tem sido vítima disso desde agosto do ano passado - estaremos sujeitos ao mesmo tipo de chantagem e de calúnia. Por isso, quero apoiar o pronunciamento de V. Ex.ª. Concordo com a questão levantada pela Senadora Marina Silva de que o disquete pode ter sido também forjado. Mas se essas informações estão preservadas no disco rígido do computador do Senado Federal, este tem que fazer o possível para resgatá-las. E, se comprovado tecnicamente que essa informação está lá - e, portanto, é o resultado fidedigno da votação -, repito que os oitenta e um Senadores têm a obrigação de autorizar a sua publicação. Com certeza, a Bancada do PT irá fazê-lo. Muito obrigado a V. Exª.

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Agradeço o aparte de V. Exª à Bancada do Bloco da Oposição.

O Sr. Carlos Wilson (Bloco/PPS - PE) - Permite-me V. Exª um aparte?

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Concedo o aparte a V. Exª, Senador Carlos Wilson.

O SR. CARLOS WILSON (Bloco/PPS - PE) - Senadora Heloísa Helena, não pretendo externar aquilo que já disse diversas vezes, ou seja, a admiração que tenho por V. Exª, a admiração que tenho pela sua garra, pela sua dignidade, pela sua luta. Desde o primeiro momento em que V. Exª tomou posse aqui, exercendo o seu mandato de Senadora, confesso, assim como o Senador Lauro Campos, ser seu fã: da sua atuação, da seriedade de suas palavras em tudo o quanto V. Exª transmite. Mas, como 1º Secretário do Senado, fui encarregado, pelo Presidente Jader Barbalho, de instalar uma comissão para fazer um levantamento se houve ou não violação no painel do Senado. Por determinação do Presidente, imediatamente convidamos a Unicamp para que fizesse esta perícia, este levantamento se houve ou não violação no painel. Três funcionários ficaram encarregados de compor essa comissão. Com pouco mais de trinta dias, a Unicamp nos procurou, a mim e aos funcionários do Senado, dizendo que não tinha, ainda, como chegar a um ponto definitivo de que o painel do Senado havia sido violado, mas tinha como mostrar que o painel do Senado, em 18 pontos, poderia ser violado. Tudo bem! Passaram-se mais vinte dias. A Unicamp registra, em seu relatório final, que o painel do Senado, na votação do dia 28 de junho, foi violado. Foi violado como? Existia, no Senado, um sistema instalado - eu também sou um leigo na área de informática tanto quanto ou mais do que o Senado José Eduardo Dutra. No dia 28, resolveram mudar esse sistema para que o painel do Senado fosse violado naquela data. Tanto que esse sistema, que foi violado, permaneceu nos dias 28 e 29. No dia 30 de junho, o sistema voltou a ser o que era anteriormente. E aí a Unicamp disse que não era possível constatar se houve ou não troca de voto durante o processo de votação. E isso ela já havia detectado nos dezoito pontos anteriores. Ficava apenas a violação do dia 28 e do dia 29. Na primeira entrevista que dei quando se detectou que o painel havia sido violado nos dias 28 e 29, e se falava no voto de V. Exª, eu disse à imprensa e digo agora ao Plenário: “Se há um voto cuja posição não tenho nenhuma dúvida é o da Senadora Heloísa Helena! Durante o tempo todo, no exercício do seu mandato, S. Exª foi exemplar, como ocorreu no acompanhamento, passo a passo, dado à CPI do Judiciário. Entendia S. Exª que o Senador Luiz Estevão havia ferido o decoro parlamentar e, dessa forma, deveria ser cassado”. Entendo a dor de V. Exª. Entendo como V. Exª deve estar sofrendo. Mas o que eu posso fazer é dizer a V. Exª que, da minha parte, jamais terei nenhuma dúvida no que se refere ao comportamento ético e ao comportamento parlamentar de V. Exª.

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Agradeço, de coração, o aparte de V. Exª, Senador Carlos Wilson.

O Sr. Paulo Hartung (Bloco/PPS - ES) - Permite-me V. Exª um aparte?

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Ouço V. Exª, Senador Paulo Hartung.

O Sr. Paulo Hartung (Bloco/PPS - ES) - Senadora Heloísa Helena, indiscutivelmente vivemos uma crise gravíssima. Penso que o olho do furacão é esta Casa, que tem uma história importante entre as instituições brasileiras. Na minha visão, Senadora Heloísa Helena, usando uma expressão popular, os fatos ganharam pernas próprias, e as versões também. Hoje, informalmente, temos instalada uma CPI. Foi uma estultice do Governo segurar a implantação dessa CPI, porque ela está funcionando. E pior: informalmente, sem regras, sem regimento, enfim, está funcionando, fazendo justiças e também praticando injustiças. Disse ontem, e vou repetir hoje: penso que a Drª Regina cometeu muitos erros, mas ela ajudou esta Casa no momento em que resolveu falar a verdade, ou parcialmente a verdade - já não tenho certeza de nada. Penso que o Senador Arruda cometeu erros gravíssimos, mas também ajudou no momento em que resolveu falar a verdade. Eu, particularmente, estou com muita expectativa quanto ao pronunciamento do ex-Presidente da Casa, Senador Antonio Carlos Magalhães, porque - e o Senador Eduardo Suplicy também já afirmou isto - poderemos caminhar no sentido de dar rumo a essa questão. Queria dizer a V. Exª que apóio o direito de V. Exª de cobrar essa lista. E se, amanhã, precisar das assinaturas dos Senadores, eu não quero ser o primeiro, porque a primeira assinatura certamente será a de V. Exª, mas serei o segundo a assiná-la. Isso é um direito! V. Exª foi levada para um linchamento público. O noticiário do final de semana diz tudo. Não preciso falar mais nada. V. Exª, hoje, não veio falar da sua dor. Da dor, V. Exª já falou, e comoveu esta Casa. V. Exª, hoje, veio falar que necessita do apoio desta Casa para que esse disquete, essa lista, apareça - a lista verdadeira - e esclareça a verdade. Morro de medo - pois, agora mesmo, mostraram-me uma lista aqui no canto, não sei quantas listas há em circulação -, mas espero que a lista verdadeira, tirada de um disco rígido, como disse o Senador José Eduardo Dutra - também não sou especialista em computador -, possa trazer um pouco da verdade sobre essa votação, ou uma verdade parcial também, porque aí vamos querer discutir essa verdade. É tudo lamentável. Volto a dizer: esse não é um fato do Senado Federal, mas sim da opinião pública deste País. Estamos vivendo um momento dramático, doloroso. Um momento de crise, normalmente, é um momento também de oportunidades. Não estou ainda enxergando as oportunidades. Quero enxergá-las para que possamos colocar ao menos um tijolo na construção de uma nova prática política no nosso País. Temos anos de patrimonialismo neste País: gente vindo para a política para se enriquecer; temos anos de prática política oligárquica nos Estados Federados: gente que mistura coisa pública com coisa privada, gente que se acredita no direito de fraudar uma votação que deveria ser secreta. Então, são coisas muito graves. Não quero perder energia, nem a esperança, e eu queria que V. Exª também não as perdesse. Creio que V. Exª é um pouco de luz e de esperança na construção de uma outra prática política. Sei que não é fácil agüentar um tranco desses. E, em um País machista, agüentar um tranco desses, como mulher, é mais difícil ainda. Na verdade, eu queria, com essas palavras tão simples, dar força a V. Exª. Sei que, hoje, não estamos falando para nós mesmos, nem para os jornalistas que aqui estão. Hoje, por meio da TV Senado, falamos para o País. E tenho certeza de que muita gente tem vontade de dizer a V. Exª o que estou dizendo: vá em frente. O direito que V. Exª está cobrando desta tribuna, se depender do Senador Paulo Hartung, V. Exª o terá, ou seja: cobrar que a calúnia seja esclarecida até as últimas conseqüências. V. Exª tem o direito de cobrar que essa lista, que esse disquete ou disco rígido, ou seja lá o que for, saia dos cantos do Senado e seja de conhecimento público. Meu abraço, minha solidariedade e força. Sinceramente, sou muito forte. Pessoalmente, agüento muito tranco. Foi difícil, durante a minha campanha, perder o meu pai, uma pessoa importante na minha vida. Tem sido difícil a luta que travo no Espírito Santo contra a oligarquia local para tentar construir uma nova prática política. Mas não sei, se estivesse no lugar de V. Exª, se ainda teria esse sorriso firme e bonito, essa firmeza na tribuna e essa disposição de lutar pela verdade e pela sua dignidade. Minha solidariedade pessoal. Vá em frente! Ontem, o PT soltou uma nota apoiando V. Exª. Essa nota não é do PT e, sim, do Bloco de Oposição nesta Casa e de muita gente. É muito difícil o que estamos passando - tenho consciência disso. Outro dia, disse para o meu filho: “daqui a vinte anos, este País vai olhar para trás e vai encontrar essa crise”. Isso não é algo pequeno, pontual; essa não é mais uma crise na vida do Legislativo brasileiro. Os homens e mulheres que estão aqui - ou os que sobrarem aqui diante dessa crise - têm que ter a capacidade, a grandeza, a inteligência, o espírito público e o patriotismo de levantar esta instituição novamente. Hoje, a situação não é boa, mas somos democratas, sabemos o valor da democracia, sabemos que a democracia não tem valor tático, tem valor estratégico na sociedade. Aprendemos isso na luta. Estávamos no movimento estudantil derrubando uma ditadura militar e sabemos que esta Casa é importante. E não é bom esta Casa desmoralizada. Esta Casa desmoralizada sabemos a quem serve. Então, vamos em frente e temos este papel de reconstruir, com o apoio da imprensa e da opinião pública. Não será fácil, não será com tapete azul nem vermelho, nem com coisa debaixo do tapete, mas com inteligência. Muitas vezes, aprendemos que com a força não se faz, mas com inteligência e com jeito. Vamos usar o jeito, a inteligência, a competência que cada um de nós possa ter para tentar construir um caminho para tirar a instituição desta situação em que está, inclusive colocando V. Exª nessa situação de constrangimento, o que é uma profunda injustiça. O meu abraço e a minha solidariedade a V. Exª.

           A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Sr. Presidente, concluirei o mais rapidamente possível.

           Agradeço, de coração, a V. Exª, Senador Paulo Hartung. V. Exª foi uma das pessoas que, desde o início, estava lá me ajudando a catar as peninhas da calúnia que foram jogadas lá de cima do mais alto prédio.

Quando eu era “piveta” do interior de Alagoas, contaram-me uma história sobre o Quilombo dos Palmares. Diziam que o capitão-do-mato, quando arrastava os escravos de volta para a senzala, arrancava-lhes uma orelha. E o capitão-do-mato tinha um colar cheio de orelhas humanas. Era a simbologia de que ele era dono de seres, de corações e de mentes. Desde que eu era pequena, minha mãe, analfabeta, que me deu as mais belas lições de solidariedade humana, quando contavam essa história, dizia que a gente nunca devia deixar que nos arrancassem a orelha para que fizesse parte do colar de ninguém. Pelo contrário, tinha de fazer como as escravas, que botavam olhar de pantera negra e lutavam até a morte, mas não deixavam que lhes arrancassem a orelha para compor o colar de orelhas humanas de qualquer capitão-do-mato ou de quem quer que fosse. Portanto, agradeço, de coração, o aparte de V. Exª.

O Sr. Amir Lando (PMDB - RO) - Senadora Heloísa Helena, V. Exª me concede um aparte?

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Ouço V. Exª com prazer, Senador Amir Lando.

O Sr. Amir Lando (PMDB - RO) - Nobre Senadora Heloísa Helena, V. Exª vem à tribuna, mais uma vez, num processo que parece a flagelação da própria Senadora, diante de uma suspeita que surge na escuridão de uma possível violação, verdadeira ou não, de uma imputação sobre eventual voto da nobre Senadora. E V. Exª, diante desse fato, tem que se defender. Mas se defender de quê, meu Deus? Defender-se dessa imputação, dessa responsabilização feita não se sabe de onde. Do voto que não foi dado, tem que se justificar perenemente, mais do que Sísifo, que tinha que rolar o bloco de pedra morro acima para que ele voltasse ao ponto de partida. Até quando essa condenação deverá perseguir V. Exª? Até quando V. Exª terá de dizer não! E eu não preciso de outra prova além da palavra de V. Exª. Afinal, o voto era secreto. Cada um tinha como confidente a própria consciência e, é claro, poderia tirar ilações pelas posições anteriormente firmadas - a veemente postura de V. Exª pela cassação. Mas tudo isso se sucumbe diante daquilo - e digo a V. Exª que, em determinadas circunstâncias, defendo o voto secreto, porque é a preservação da consciência contra sorte de tirania: a tirania do poder, a tirania da opinião pública em certas circunstâncias, porque ela também se manipula de acordo com a vontade da classe dominante, mas, sobretudo, a preservação da consciência, da fidedignidade de si mesmo. E cada um tem que ser o testemunho das próprias convicções em quaisquer circunstâncias. Ora, diante disso, o vexame. Imagino a dor de V. Exª: ter que explicar à opinião pública sobre algo que não se tem conhecimento objetivo, que se insinua numa imputação, numa suspeita. E, a partir dessa suspeita, um fato consumado como se tivesse praticado um delito monstruoso, infame, contra quem? Contra uma posição que V. Exª sempre teve de forma cristalina. É realmente deplorável isso que se verifica, tudo isso que se vê. E o que é abominável é saber que o painel de votação foi violado, e essa violação é imperdoável. Não posso concordar com aquilo que ocorreu, em circunstância alguma. Não quero fazer um prejulgamento de quem será e de quem é o culpado nem diante da confissão, mas digo simplesmente que isso não pode ficar em vão e simplesmente evocar-se a idéia do perdão como se nada tivesse acontecido. V. Exª está aí, com um sofrimento atroz. Tem que justificar o que não fez, mas como se tivera feito. E agora a suspeita, a dúvida talvez há de levar V. Exª até o seu último momento. Infelizmente, é isso que vivemos: o momento do “libelismo”, o momento da condenação. As pessoas que têm as posições mais limpas, mais coerentes não estão livres do libelo, da condenação prévia, sem recurso, sem instância superior, mas a condenação ad aeternum. Talvez, estejamos vivendo o inferno de Dante e dizer: vós que entrais deixai toda a esperança. É a esperança da justiça, a esperança, sobretudo, da clareza insofismável da postura digna com que V. Exª sempre se conduziu nesta Casa. Lamento. A minha solidariedade, o meu pesar, a minha dor, se isso pode confortá-la. Tenho certeza de que a injustiça, de maneira nenhuma, pode ser confortada, nem mesmo pela solidariedade humana. É uma dor que mora n'alma. É uma dor que se aprofunda no silêncio, sem remédio. Obrigado.

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Agradeço a V. Exª pelo aparte, Senador Amir Lando.

O Sr. Renan Calheiros (PMDB - AL) - V. Exª me permite um aparte, Senadora Heloísa Helena?

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Ouço V. Exª, Senador Renan Calheiros.

O Sr. Renan Calheiros (PMDB - AL) - Senadora Heloísa Helena, sem dúvida, o Senado vive um momento muito ruim, tanto que obriga V. Exª, mais uma vez, a subir à tribuna para defender a sua honra e definitivamente dizer, com o apoio de todos nós, que não aceita, de forma alguma, a inversão dos papéis. V. Exª está sendo vítima de uma maldade, de uma trama sórdida, de uma coisa abjeta, digamos assim. Por que essa gente que mente tanto, que a cada dia é surpreendida em nova mentira, estaria acertando exatamente com relação à lista e ao voto de V. Exª? Que motivos teria V. Exª para votar contra a cassação, se foi exatamente uma das pessoas que mais trabalhou por ela, neste Senado Federal? Eu, sem dúvida, apóio V. Exª no desejo de que essa lista seja publicada, porque só assim, tenho absoluta convicção, teríamos como fazer estancar essa maldade, essa grosseria, essa estupidez, essa infâmia, essa calúnia. V. Exª tem o meu apoio pessoal. Em Alagoas, para meu desprazer, provavelmente ficaremos em frentes opostas. Não importa; nada disso me impede de dar aqui o melhor testemunho com relação à sua dignidade, à sua honradez, à sua coragem, à sua bravura e, principalmente, à sua coerência. Conte com o apoio de todos nós.

            A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Agradeço a V. Exª pelo aparte, Senador Renan Calheiros.

            Diante de tantas tragédias que têm acontecido, Senador Amir Lando, eu comentava com meu irmão e minha mãe que poderia ser pior. Eu dizia assim: imaginem se o Renan, que é meu adversário político, que vai, como eu, ser candidato a Governador - e eu vou trabalhar tanto para ganhar - dissesse: Ah, havia mesmo um acordo político e eu pedi o voto dela; imaginem se o Senador cassado tivesse dito: Ah, foi mesmo! Já pensaram? E logo esse Senador, em relação ao qual já fizeram a baixaria vergonhosa no jornal, que me impôs vir à tribuna para dizer que em gente ‘riquinha’ e ordinária eu vomito. Renan Calheiros é meu adversário político e vai ser candidato a Governador. Eu também. E vou trabalhar muito para ganhar essa eleição, porque quanto mais tumulto existe na minha vida, mais eu me animo para renascer a cada dia.

            Então, estou tentando ver também o lado positivo. Não foi tão trágico, tão traumático; poderia ser pior. Portanto, agradeço a V. Exª pelo aparte, Senador Renan Calheiros.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Permite-me V. Exª um aparte?

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Ouço V. Exª, nobre Senador Pedro Simon.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Não há dúvida nenhuma de que V. Exª agitou este Senado. Foi um fato novo: a forma agressiva de V. Exª falar, esse negócio de sair da porta da fábrica, com uma calça jeans e uma camisa, e subir à tribuna do Senado, desrespeitando a nossa tradição, a nossa história, essa sua maneira firme de dizer as coisas. Há muito tempo, V. Exª era uma figura que desafiava a tradição deste Senado. Mas posso dizer a V. Exª que, por onde ando, por esse Brasil afora, é impressionante o respeito e a admiração que as pessoas têm por V. Exª. As pessoas se sentem representadas por V. Exª. É interessante analisar que não apenas as pessoas simples e modestas a consideram heroína, mas também as pessoas intelectualizadas, do nosso meio, da nossa roda política, também se sentem representadas por V. Exª. É a sua maneira de falar, de ser sincera, espontânea, de apresentar o que é, sem meias palavras. Principalmente agora, em que a TV Senado chega a milhões de lares deste Brasil, V. Exª é a vedete número um desta Casa, a nossa artista de televisão que todos vêem, a que todos assistem e de que todos gostam. É evidente que V. Exª, estando nessa posição, tinha que estar preparada para as agressões, viessem de onde viessem, fossem as causas que fossem. Quero ser sincero com V. Exª: se não fosse essa a causa, daqui a um mês haveria outra. A causa não importa: a Senadora Heloísa Helena tinha que ser atingida. Quem ela pensa que é? Vem lá do interior de Alagoas, diz que não tem nada e agride, fala, bate na mesa, parecendo ser a dona da República. Viria de qualquer jeito. Acho que V. Exª, no fim, já estava preparada. Com relação a este fato, ele é tão pequeno, insignificante, que não vale a pena perder tempo. Tenho a convicção absoluta, como um mais um são dois, de que V. Exª votou pela cassação. Se aparecer, a folha dirá que V. Exª votou pela cassação; se não aparecer, V. Exª votou pela cassação. Se aparecer uma folha que mostre o contrário, houve falsificação. Eu até diria - e foi uma coisa que estávamos discutindo muito - que a votação secreta é delicada, porque quem de nós, a começar por mim, já não errou meia dúzia de vezes nas votações? O próprio José Fogaça já disse: “Está votando assim; tem que mudar a cor”. Eu estava olhando a cor errada. Agora, quando voto e não enxergo a cor, quem diz que não posso, lá pelas tantas, equivocar-me na hora do voto? No entanto, sinceramente, não vejo a mínima possibilidade de duvidarem de V. Exª. Há o interesse de destruir uma pessoa que tem passagem marcada na Casa, porque V. Exª fala a alma do sentimento popular. Esta Casa gosta de ouvir, falar, debater, mas, de modo especial, V. Exª destoa dela. Ao falar em destoar, a sineta tocou. V. Exª destoa desta Casa. Neste ambiente de boate, azul, com estrela, de repente, aparece V. Exª, com esse jeito de dizer que estamos errados e que V. Exª está certa. Acho que V. Exª está certa. Não se preocupe. Se vier a lista, que venha. Se não vier a lista, que não venha. V. Exª tem a confiança, a credibilidade de todos. V. Exª não seria diabólica no sentido de falar como falou, de liderar campanha, de debater, de somar, de ser a que mais se esforçou, para, depois, fazer o papel contrário. Só pode imaginar isso quem tem um cérebro doentio e pensa que os outros podem ser iguais. Sou um admirador profundo e permanente de V. Exª. Quando V. Exª fala aqui, faço questão de ver o horário, para assistir em casa, porque é melhor. V. Exª, na televisão, debatendo, discutindo, expondo, faz com que durmamos, acreditando que o Brasil vai ser melhor. Um abraço muito carinhoso a V. Exª.

A SR.ª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Agradeço de coração o aparte de V. Exª, Senador Pedro Simon. Tantas vezes já discutimos e nos provocamos de forma respeitosa e querida nesta Casa.

O Sr. Iris Rezende (PMDB - GO) - Permite-me V. Exª um aparte?

A SR.ª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Concedo um aparte ao Senador Iris Rezende, para concluir , Sr. Presidente, porque sei que já extrapolei todo o tempo que o Regimento me cabe.

O Sr. Iris Rezende (PMDB - GO) - Obrigado, Senadora Heloísa Helena pelo aparte que me concede. Gostaria, à conclusão do seu pronunciamento, manifestar a solidariedade que, indiscutivelmente, todos nós temos com V. Exª. A população brasileira toda sentiu a revolta de V. Exª pelos boatos surgidos em relação ao voto pessoal de V. Exª naquela fatídica votação. Tenho quase quarenta e dois anos de vida pública intensa. V. Exª nem era nascida e eu já praticava a política. E, nesta fase da vida, ilações, calúnias, deduções apressadas de pessoas não me tocam tanto, porque, no decorrer da vida, fui vítima de tantos conceitos apressados, mas o tempo ia encarregando-se de trazer tudo à realidade. De forma que posso dizer que é natural que V. Exª, cheia de vida, impetuosa, praticando a política - como todos aqui precisam fazê-lo - com responsabilidade, com seriedade, se revolte com os boatos que surgem. Desejo apenas dizer-lhe para não se preocupar tanto com isso. V. Exª, no decorrer desses dois anos no Senado, conseguiu conquistar o respeito da Nação, por suas posições firmes, duras, claras, por suas afirmações que nós teríamos dificuldade de fazê-las. V. Exª tem demonstrado realmente uma coragem cívica extraordinária. De forma que não seriam esses boatos que poderiam manchar essa carreira tão brilhante que V. Exª inicia na vida pública. Eu me lembro bem: compareci a Alagoas, na condição de Ministro da Justiça, na companhia do General Cardoso, em um momento difícil da política de Alagoas. E, naquele dia, tive oportunidade de recebê-la em uma audiência rápida, acompanhada de um grupo de líderes classistas, líderes de bairros. E naquele dia, confesso, V. Exª me impressionou extremamente. Naquele dia V. Exª conquistou mais um fã, mais um admirador por sua coragem, por sua determinação e, sobretudo, por sua posição definida. Não se preocupe! Fique tranqüila quanto às deduções apressadas e aos atos de maldade. Uma pessoa como V. Exª facilmente atrai para si a inveja e o despeito. Não se preocupe! Nessa estrada longa da vida que V. Exª ainda há de percorrer, com a graça de Deus, mostrará àqueles que ainda possivelmente tenham dúvida que V. Exª é uma criatura e uma política excepcionais.

A SR.ª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Agradeço muito o aparte de V. Exª, Senador Iris Rezende, que está ali na nossa bancada da esquerda. Não vota nunca comigo, mas estamos aqui sempre juntos na nossa bancada.

O Sr. Antonio Carlos Valadares (PSB - SE) - V. Exª me concede um aparte?

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Concedo um parte ao Senador Antonio Carlos Valadares e prometo, Sr. Presidente, o mais rápido possível, terminar o pronunciamento.

O Sr. Antonio Carlos Valadares (PSB - SE) - Senadora Heloísa Helena, já tive oportunidade de, por telefone, manifestar minha solidariedade, meu apreço e minha admiração por V. Exª, por seu passado de honra, de trabalho e de coerência em Alagoas e aqui no Senado Federal. V. Exª conquistou todos nós por esse espírito de luta, sempre em favor dos menos favorecidos, da ética na política e da honra à palavra dada. Enfim, a atuação de V. Exª recomenda que todos nós prestemo-lhe solidariedade irrestrita. Entretanto, é lamentável que aqui, no Brasil, a mentira e a calúnia andam na velocidade da Internet; enquanto a verdade anda ou de carro de boi ou de teco-teco. Mas a verdade, para mim, é a de V. Exª; a verdade são as palavras que V. Exª pronunciou do fundo do coração, expressando aquilo que todos nós sentimos: V. Exª deu o seu voto consciente, não só representando o seu Partido, mas principalmente a sua consciência e o seu passado. Receba a minha solidariedade!

O Sr. Sebastião Rocha (Bloco/PDT - AP) - Permite-me V. Exª um aparte, eminente Senadora Heloísa Helena?

A Sr.ª Emilia Fernandes (Bloco/PDT - RS) - V. Exª me concede um aparte?

A SR.ª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Sei, Sr. Presidente, que estou extrapolando o tempo que o Regimento me permite. Contudo, gostaria imensamente de ouvir o aparte do Senador Sebastião Rocha.

O Sr. Sebastião Rocha (Bloco/PDT - AP) - Senadora Heloísa Helena, já me sinto perfeitamente representado na intervenção dos colegas Senadores e Senadoras que me antecederam. No entanto, como seu colega, inclusive de Bloco, eu não poderia ficar omisso neste momento em que o Senado garante credibilidade à sua atuação e sinceridade. Entendo perfeitamente que a trajetória e as posições políticas adotadas por V. Exª fazem uma rima harmônica com a sua história de vida. Portanto, eu, de fato, jamais poderia acreditar em qualquer versão que tentasse insinuar um voto diferente daquele que eu sei que é o seu voto verdadeiro: o voto pela cassação. E entendo perfeitamente a preocupação de V. Exª com relação à lista. Concordo com a necessidade de a lista aparecer, porque entendo que da lista original - como tem sido frisado por todos os Senadores - podem decorrer novas investigações. Se todo o Senado tem convicção de que V. Exª votou pela cassação e se seu voto aparecer nessa lista diferentemente, teremos que utilizar todos os meios tecnológicos possíveis para fazer nova investigação para saber se o seu voto foi adulterado, se a sua senha foi utilizada mais de uma vez, pois somente isso poderia explicar um voto daquele que conscientemente V. Exª deu no dia da votação. Minha solidariedade, Senadora Heloísa Helena.

A SR.ª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Agradeço, meu querido companheiro Senador Sebastião Rocha, o seu aparte e concedo a palavra à nobre Senadora Emília Fernandes.

A Sr.ª Emilia Fernandes (Bloco/PDT - RS) - Nobre Senadora Heloísa Helena, confesso que não ouvi na íntegra o pronunciamento de V. Exª, mas tenho acompanhado pela Imprensa as suas declarações. Respeito ao Presidente que nos alerta para o término do seu horário na tribuna, mas eu não gostaria de deixar passar este momento para lhe dizer duas palavras, porque as outras palavras eu as pretendo acrescentar quando usar da tribuna para tratar de forma mais detalhada e profunda o assunto hoje em pauta no Brasil inteiro e até fora dele, qual seja, a violação do painel eletrônico, um fato muito grave, que deixa esta Casa numa situação que precisa, acima de tudo, de reação, para que consigamos manter a credibilidade que a sociedade nos dedica. Posteriormente, farei uma análise e um pronunciamento sobre o assunto. Senadora Heloísa Helena, quero apenas dizer-lhe duas palavras: queremos cumprimentá-la pela garra, pela determinação e pela coragem como V. Exª tem agido dentro desta Casa não apenas neste episódio, mas em todos os outros momentos, nas suas votações e nas suas postulações. Siga em frente com determinação. Tenho certeza de que a verdade virá à tona, e aqueles que estão morrendo afogados pelos erros que cometeram não apenas hoje, mas durante outros episódios de suas vidas, deverão pagar. A sensibilidade e o perdão ocorrem no espaço e na plenitude divina. Aqui, há a justiça do homem e da mulher que exercem cargo público e devem dar uma resposta à sociedade brasileira que a exige. Vamos, gradativamente, mostrar que esta Casa precisa, em primeiro lugar, tratar as Srªs e os Srs. Senadores de igual para igual. Em segundo lugar, o abuso de poder e de autoritarismo neste País, onde queremos que a democracia se fortaleça, não tem mais espaço. Parabéns pela sua luta e pela sua postura. Certamente, o povo brasileiro está sabendo analisar e avaliar esta situação toda.

O Sr. Casildo Maldaner (PMDB - SC) - Concede-me V. Exª um aparte?

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Casildo Maldaner (PMDB - SC) - Senadora Heloísa Helena, peço este aparte, aproveitando a carona, apenas para dizer que o Estado de Santa Catarina admira muito V. Exª, e os catarinenses a admiram pela sua luta arrojada. Tinha de trazer-lhe este testemunho de coração, nesse momento.

O SR. PRESIDENTE (Jader Barbalho) - Senadora Heloísa Helena, a Presidência apela a V. Exª no sentido de que encerre o seu pronunciamento.

A SRª. HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Estarei encerrando o pronunciamento, Sr. Presidente, mas não posso deixar de....

A Srª Marluce Pinto (PMDB - RR) Solicitaria menos de um minuto. Senadora Heloísa Helena, não vou repetir as palavras que já foram ditas. Como última oradora a aparteá-la quero dizer que cada pessoa tem um perfil, seja homem ou mulher. O perfil de V. Exa. é bastante transparente, fato que vem sendo demonstrado no decorrer de todo esse tempo nas causas defendidas por V. Exa.

A SRª. HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Agradeço a V. Exª, Sr. Presidente, agradeço a forma de extrapolar o tempo e dizer a todos que apesar das gigantescas adversidades que ameaçam esgotar nossa capacidade de reação de vez em quando estou absolutamente convicta de que essa lista vai ser esclarecedora, vai ser divulgada, os votos de todos os Parlamentares aparecerão para que possamos iniciar as outras etapas de investigação, que o interesse público e a sociedade exigem.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/04/2001 - Página 7090