Discurso durante a 45ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

REPUDIO AS NOTICIAS PUBLICADAS NA IMPRENSA, QUE ANUNCIAM O APOIO DE S.EXA., NO CONSELHO DE ETICA, AO SENADOR ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, COM DESTAQUE PARA O EQUIVOCO COMETIDO PELO JORNALISTA CLAUDIO HUMBERTO.

Autor
Lauro Campos (S/PARTIDO - Sem Partido/DF)
Nome completo: Lauro Álvares da Silva Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • REPUDIO AS NOTICIAS PUBLICADAS NA IMPRENSA, QUE ANUNCIAM O APOIO DE S.EXA., NO CONSELHO DE ETICA, AO SENADOR ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, COM DESTAQUE PARA O EQUIVOCO COMETIDO PELO JORNALISTA CLAUDIO HUMBERTO.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Gilvam Borges, Heloísa Helena, Tião Viana.
Publicação
Publicação no DSF de 04/05/2001 - Página 8012
Assunto
Outros > IMPRENSA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • CRITICA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, TRIBUNA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), AUTORIA, CLAUDIO HUMBERTO, JORNALISTA, APOIO, ORADOR, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR, VOTO, COMISSÃO DE ETICA.
  • CRITICA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), OMISSÃO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR.
  • ESCLARECIMENTOS, IDONEIDADE, VOTO, ORADOR, COMISSÃO DE ETICA, CRITICA, INDIGNIDADE, CLAUDIO HUMBERTO, JORNALISTA.

O SR. LAURO CAMPOS (Sem Partido - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, a vida e as circunstâncias muitas vezes impedem que decisões amadurecidas possam continuar a dirigir a nossa existência. Uma das coisas que jamais quis ser na vida foi julgador - julgar o próximo. Considero essa uma das mais angustiantes e difíceis tarefas. Três ou quatro vezes tive de julgar. Fui sorteado para compor o júri e, em todas as vezes, apesar de não ser espírita, absolvi os réus. Para mim, realmente, é muito difícil, porque sei que sou - como todos somos ou pretendemos ser - um cristal. Mas, como homem, sou um cristal cindido; é a cisão que começa nas nossas pernas. É a fragilidade daquele cristal cindido ou daquela tentativa de se constituir num cristal, mas que é cindido, defeituoso; como o ser que anda e que se move, cada passo que damos não passa de uma queda interrompida. Somos seres duais, cindidos. Não há ninguém puro. E, por isso, é difícil julgar o próximo.

Algumas pessoas parecem considerar fácil julgar alguém. Por exemplo, o jornalista Cláudio Humberto, que fugiu da Casa da Dinda, amicíssimo de PC Farias e da corja toda, agora se transforma num julgador de todos. Tendo se infiltrado no jornalismo fácil, esse Sr. Cláudio Humberto, tempos atrás, disse que eu sou o Lauro Paschoal, comparando-me àquele Hildebrando Paschoal que usava serra elétrica para fazer a sua política e os seus atos atrabiliários lá não sei onde. Pois bem, de acordo com Cláudio Humberto, sou o tal do Paschoal. Não o processei, não dei ouvidos a esse pretenso jornalista que, parece-me, no tempo do Collor, foi portador de mentiras colloridas.

Agora, na Tribuna de hoje, na primeira página, ele afirma que vou votar a favor do Senador Antonio Carlos Magalhães e que teria recebido ontem um telefonema. Ontem, parece-me, não dei nenhum telefonema. Hoje de manhã, já dei uma dessas entrevistas por telefone. Marquei uma hora com o jornalista que me telefonou hoje cedo, mas ontem, parece-me, não tive oportunidade de telefonar para ninguém. E este Sr. Cláudio Humberto, fofoqueiro profissional, mentiroso, canalha, vem, de novo, morder meu calcanhar, agora dizendo que uso motosserra.

Uma vez - isso não sai da minha memória; eu deveria ter oito anos de idade -, voltando da escola, peguei um estilingue e atirei em um passarinho. Por azar meu, acertei. Fui lá ver o pássaro morto. Esse pássaro, até hoje, depois de 64 anos, esvoaça e se bate diante da minha memória e da minha sensibilidade. Nunca esqueci o crime que cometi contra o passarinho. E uma pessoa como essa é que é acusada pelo jornal do Sr .Cláudio Humberto de usar motosserra contra não-sei-quem. Só se fosse contra ele, o que seria mais perto de uma justiça!

Pois bem, mais uma vez o Sr. Cláudio Humberto, que se diz jornalista, mente. Não vou perder meu tempo e uma parte da minha sobrevida, que para mim é muito valiosa - quanto mais rara, mais estreita, mais limitada a sobrevida, mais valiosos são os dias -, com esse sujeito.

Diversas vezes elogiei ACM - não tanto quanto, por exemplo, os Srs. José Genoíno e Aloízio Mercadante, ambos do PT, o fizeram ou quanto outros tantos petistas o fizeram. Mas o elogio a ACM não foi elogio, foi o reconhecimento de que o Senador Antonio Carlos Magalhães, enquanto Presidente desta Casa, tinha uma preocupação precípua: a de manter a imagem já tão abalada, tão conspurcada do Senado Federal. O Senador Antonio Carlos Magalhães nunca me cortou a palavra. Ao contrário, um dia eu lhe perguntei de quantos minutos ainda dispunha e ele me respondeu: “V. Exª é o senhor do tempo”. Recebi ainda outras inúmeras gentilezas. Para mim, havia o ACM ternura, que tinha admiração por mim. Talvez isso tenha causado inveja ao Sr. Cláudio Humberto.

Além do mais, ele sabe que, aqui em Brasília, elegi-me contra tudo e contra todos, contra os jornais que me caluniavam - como agora um outro tal de André, do Correio Braziliense, que num dia me entrevistou quatro vezes. Ele queria não me encontrar porque já tinha uma manchete preparada: “Lauro Campos sumiu”. Ele telefonou quatro vezes para fazer uma só entrevista, e eu respondi as quatro vezes. Só que, na última vez, em telefonema às onze horas da noite, queria mandar um fotógrafo a minha casa. Atendi, mas disse que não era hora de tirar fotografia. Pararam um carro desse jornal na minha porta por quatro horas para me vigiar, para saber onde é que eu não estaria em determinado momento para aplicar a manchete pré-fabricada a meu respeito, dizendo que sou ausente. Esquecem-se, porém, que apresentei mais de cinqüenta projetos de lei, que fiz discursos que, publicados, já contam 1.643 páginas. Esquecem-se de tudo para reforçar a imagem pré-fabricada, comprada e vendida.

Fui o mais votado de Brasília antes do Senador Luiz Estevão, sem gastar nada, a partir de uma corneta, sem nunca ter feito um outdoor, sem nada. Isso irrita, sei disso, isso encrespa as consciências malformadas, deformadas, como é o caso do Sr. Cláudio Humberto.

Pois bem, eu gostaria de me reservar, de reservar a minha declaração de voto na Comissão de Ética do Senado para depois, pelo menos, da acareação que teremos hoje. Posso mudar de idéia até a hora do voto e é por isto que o voto, nesses casos, deve ser secreto.

Uma mentira dessas divulgada no jornal, uma aleivosia dessas publicada pode ocasionar um dano maior do que aquele que seria de se esperar. Não se deve esquecer que os dois Senadores ainda têm um prazo, até que seja proferido o parecer por parte do Relator, para resolver se renunciam ou não. Ou seja, eles podem renunciar - e isso é um direito deles - até antes que o Relator profira a sua sentença.

No entanto, se os Senadores Antonio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda lerem na coluninha de futricas e fofocas desse colorido fugitivo da casa da Dinda, difamador profissional, um dos mais abjetos seres de que tenho conhecimento - nunca o vi, mas sei pelo que leio nos jornais, e ele freqüenta vários jornais, que é um dos mais abjetos seres humanos de que já soube da existência - que vou votar a favor de um ou de dois deles, e digo isso porque de acordo com os rumores que ouvi por aí, há sete Senadores decididos a cassá-los e sete Senadores decididos a absolvê-los, o meu voto seria muito importante, seria decisivo, seria o oitavo voto, ou para um lado ou para o outro. Portanto, se acreditarem nessa notícia, obviamente os Senadores, que poderiam estar pretendendo recorrer à renúncia do seu mandato, deixarão de fazê-lo, e, nesse sentido, serão prejudicados, porque não se valerão do direito de renúncia esperando que eu vote a favor deles, e assim serão cassados definitivamente.

Considero isso, portanto, uma falta de responsabilidade total por parte de repórteres que se dizem jornalistas. Isso não é jornalismo; são repórteres, são focas e o serão até a morte. Vão envelhecendo, envelhecendo, mas, em termos de jornalismo, continuarão e morrerão focas do baixo jornalismo, o que é muito pior do que o baixo meretrício.

O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Senador Lauro Campos, V. Exª me concede um aparte?

O SR. LAURO CAMPOS (Sem Partido - DF) - Ouço V. Exª, Senador Gilvam Borges.

O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Senador Lauro Campos, as considerações na coluna do jornalista Cláudio Humberto não mereciam de maneira nenhuma uma resposta à altura, porque V. Exª tem estirpe, o que nós do Senado respeitamos. V. Exª também fala da dualidade e tem um acervo intelectual e moral reconhecido, e por tal reconhecimento recebeu do Distrito Federal uma votação expressiva. Portanto, esta Casa não só lhe presta reverência, mas o respeita muito. Assim sendo, o jornalista Cláudio Humberto, ao tecer as suas considerações em sua coluna, deixa de ser elegante, porque V. Exª é um referencial no Senado Federal. Muito nos honra a oportunidade de conviver com V. Exª e ver a sua atuação aqui. Quero, pois, congratular-me com V. Exª e repudiar esse tipo de comportamento com um homem da sua estatura, da sua idade, da sua experiência, da sua vida pública. É realmente lamentável esse fato.

O SR. LAURO CAMPOS (Sem Partido - DF) - Agradeço muito a gentileza do aparte de V. Exª.

Realmente, estou dizendo que esse aspecto da dualidade existe em todos os seres humanos. Durante dois anos, convivi com o Senador Antonio Carlos Magalhães, e, embora já tivesse uma má vontade, um preconceito em relação a S. Exª, o que faria com que o meu julgamento fosse negativo, contrário a S. Exª, percebi que S. Exª aqui defendeu, durante todo o tempo em que esteve à frente da Presidência desta Casa, inclusive por meio do que eu chamei de ditadura compartilhada entre S. Exª e o Senhor Fernando Henrique Cardoso, a imagem do Senado.

           No entanto, no final, participou desse infeliz episódio da quebra de sigilo do painel. Se tivesse ficado apenas na lista, ou seja, se a referida lista não se tivesse transformado em um dossiê usado para difamar, por exemplo, a Senadora Heloísa Helena, eu seria capaz de relevar a conduta, o passo em falso dado pelo Presidente Antonio Carlos Magalhães. Mas o processo de violação chegou ao final, e só uma pessoa foi atingida - uma só pessoa -, mas uma pessoa, um ser humano que tem o direito à sua dignidade, à sua integridade.

           Desse modo, considero gravíssimo o que, infelizmente, ocorreu nesse final da presença do Senador Antonio Carlos Magalhães neste Senado.

           Não gostaria e não vou adiantar o meu voto, apesar das provocações de cláudios humbertos e de seres menores - menor do que ele não, porque isso é difícil de encontrar - mais ou menos da sua dimensão.

           O processo de quebra do sigilo do painel chegou até o fim. Foi cometido o ato final que fecha a ação deletéria, a ação desonesta, a ação que realmente constitui uma quebra do decoro parlamentar. Gostaria muito que isso não tivesse acontecido, porque aprendi a admirar e respeitar um outro lado do ex-Presidente Antonio Carlos Magalhães. Somos seres duais; ninguém é inconsútil e ninguém é completamente criminoso, nem o Sr. Cláudio Humberto conseguiu ser completamente criminoso, completamente desqualificado. Se eu estivesse julgando o Sr. Cláudio Humberto talvez entrasse na dúvida, percebesse alguns traços positivos naquele foragido da casa da Dinda. Mas, infelizmente, o Sr. Cláudio Humberto tem mais agilidade do que o traficante Fernandinho Beira-Mar, pois ainda não foi levado às barras do tribunal.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Permite-me V. Exª um aparte, nobre Senador?

O SR. LAURO CAMPOS (Sem Partido - DF) - Concedo um aparte ao meu exemplar ex-colega de Partido, o Senador Tião Viana.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Meu caro Senador Lauro Campos, quero apenas deixar bem presente a minha solidariedade a V. Exª e dizer que sou daqueles que têm absoluta convicção de que o seu voto sempre foi e sempre será, enquanto no exercício do seu mandato, fruto exclusivo de sua consciência, de sua coerência de vida pública, parlamentar, de um pensador da vida. A sua coerência e a sua integridade são um paralelo do seu próprio oxigênio. Não consigo imaginar V. Exª quebrando a sua consciência, a sua integridade e continuando a respirar. Então, tenho absoluta tranqüilidade e reforço aqui a certeza de que o voto de V. Exª será fruto exclusivo da sua consciência e coerência. Lamento que a imprensa não exerça o código de ética com a mesma rigidez que cobra do Senado Federal, tendo em vista que atitudes como a desse jornalista continuam a se repetir, como se ele não merecesse uma punição ética também por uma transgressão moral como a que pratica contra V. Exª. Muito obrigado.

O SR. LAURO CAMPOS (Sem Partido - DF) - O que desejo, Senador Tião Viana, é continuar respirando até o final dos meus dias, e respirar nesse sentido que V. Exª acaba de criar com as suas palavras.

Agradeço muito a manifestação de V. Exª.

A Srª Heloísa Helena (Bloco/PT - AL) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. LAURO CAMPOS (Sem Partido - DF) - Ouço V. Exª com muito prazer.

A Srª Heloísa Helena (Bloco/PT - AL) - Senador Lauro Campos, quando estava chegando ao plenário, perguntei ao Senador Tião Viana o motivo que o levou à tribuna. S. Exª não teve nem tempo de me contar e não sei qual o teor da nota publicada. Mas, qualquer que seja o conteúdo da nota que tenha provocado irritação em V. Exª, em função de uma questão de conduta ética, é descabida, porque todos conhecemos o seu comportamento e as suas atitudes nesta Casa, como também o rigor com que V. Exª trata as questões do Código de Ética e Decoro Parlamentar. V. Exª sabe, até pelo carinho, pelo amor e pela confiança que tenho para conversar e desabafar com V. Exª, o quanto as especulações, as falas, a covardia, a mentira também já me machucaram profundamente. O que tinha que acontecer já aconteceu. Eu disse ontem no Programa do Jô - a quem tenho a obrigação de agradecer, porque ele foi muito paciente e carinhoso comigo - que já fui ao topo da montanha da indignação e ao fundo do poço da tristeza. Agora estou no equilíbrio, naquele momento em que podemos dizer: “pode vir quente que eu estou fervendo”. Estou no ponto em que gosto de estar. Espero que depois dessa história toda o povo brasileiro não veja a necessidade de construir dois anexos, um perto do Congresso Nacional e o outro perto do Palácio do Planalto. Um deles funcionaria como um mini-Carandiru, no qual se poderia aprisionar as pessoas mais facilmente, em função da proximidade física, e o outro, como um gigantesco divã, onde as pessoas pudessem resolver seus gigantescos problemas. Portanto, com este aparte, quero simplesmente compartilhar aquilo que todos nós sabemos. Se há um tema em que não pode haver especulação é o voto de V. Exª, tendo em vista a conduta rigorosa que V. Exª tem tido nesta Casa.

O SR. LAURO CAMPOS (Sem Partido - DF) - Agradeço a gentileza de V. Exª. Até iria comentar sobre as nossas afinidades, mas não o fiz por causa daqueles que andam procurando chifre em cabeça de cavalo e que têm medo de tudo, são covardes. A propósito da intervenção de V. Exª, me veio à memória uma colocação que fiz em um discurso ou em um aparte ao Presidente Antonio Carlos Magalhães. Falei para S. Exª que tínhamos várias afinidades. Tínhamos 72 anos de idade, eu e ele. Nós dois éramos diabéticos, outra afinidade. Somos safenados, também outra afinidade. E parei por aí, não quis aprofundar-me em descobrir outras afinidades além dessas que nos ligam.

De modo que não tenho medo. Tive muito medo no tempo dos militares, quando estava sozinho e fui ameaçado de morte. Nunca tinha dado um tiro na minha vida e recebi ameaças de morte. Fui aconselhado a procurar o Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo. Procurei-o e ele me disse: Lauro, nunca vi ninguém tão ameaçado quanto você. Estou indo agora para os Estados Unidos; se puder, vou levá-lo comigo. Então, tive medo. A minha pressão foi a vinte, diante das ameaças de morte. Agora, medo de Cláudio Humberto? Isso nunca. E também não tenho medo do ACM. Por isso, posso constatar algumas afinidades com S. Exª - não vou achar que estou sendo hipnotizado por ele - e conservar a minha integridade, a minha dignidade e, assim, procurar, até o final, criar a possibilidade de dar o voto mais isento, mais honesto e mais justo que eu seja capaz de dar.

Não posso dizer ainda antes dessa acareação, que vai acontecer hoje à tarde, que a minha consciência já esteja formada. Mas o Sr. Cláudio Humberto, safado, tem o dom divinatório.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permite-me um aparte, Senador?

O SR. LAURO CAMPOS (Sem Partido - DF) - Pois não.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Também quero expressar a minha solidariedade a V. Exª, primeiro, porque pude constatar, em diversas notas recentes do jornalista Cláudio Humberto, que ele tem tido pouquíssimo cuidado, antes de escrever, em saber se os fatos que serão publicados em sua coluna são ou não verdadeiros. Inúmeras vezes ele tem escrito a respeito de fatos que não ocorreram. De tal maneira que é preciso registrar que, da forma como ele continua a agir - e já é de há muito tempo -, a sua coluna passa a ser cada vez menos acreditada. Inclusive, agora, quando se refere a V. Exª. Outro aspecto é a certeza que pode ter o povo brasileiro em relação à conduta de V. Exª na defesa dos princípios éticos da mais alta relevância. Desde que o conheci, aqui nesta Casa, pude notar sua preocupação com os princípios da ética e da moral, no sentido de que a nossa conduta como Senadores seja principalmente baseada na responsabilidade de sermos sinceros, de dizermos a verdade nos momentos de maior gravidade. Tenho a certeza de que V. Exª estará formando o seu julgamento, com base nos princípios que, a cada dia, tem aqui defendido. Receba minha solidariedade, Senador Lauro campos.

O SR. LAURO CAMPOS (Sem Partido - DF) - Senador Eduardo Suplicy, a sua manifestação nos faz lembrar que vamos formando a nossa personalidade ao longo da nossa vida, principalmente pelos bons exemplos que procuramos seguir. Embora V. Exª seja muito mais novo que eu, pode estar certo de que tenho também procurado seguir seus exemplos.

Por outro lado, existem os cláudios humbertos, que nos dão a sombra. Alguns nos dão a luz, que nos atrai e pela qual temos o tropismo; outros nos dão a sombra, para sabermos que aquilo nós não podemos fazer, que aquele comportamento não pode e nem deve ser imitado. Felizmente, tenho, aqui mesmo, neste momento, os dois espelhos: o espelho iluminado e o espelho sombrio de cláudios humbertos, que não devem ser imitados, se quisermos conduzir a nossa vida com o mínimo de ética.

Jamais eu disse que sou um ser perfeito. Eu sou um ser a procura de apreender, a procura de desvendar, a procura de apreender e a procura da transformação da sociedade, que um dia ficará livre de várias coisas: de painéis, de quebra de ética, de dívida externa, de dívida pública, de exploração, de pobreza e de cláudios humbertos. Aí, estaremos diante de um mundo realmente que fez a superação para uma sociedade melhor.

A Srª Heloísa Helena (Bloco/PT - AL) - Senador Lauro Campos, V. Exª me concede um pequeno aparte?

O SR. LAURO CAMPOS (Sem Partido - DF) - Pois não.

A Srª Heloísa Helena (Bloco/PT - AL) - Sei que não é intenção de V. Exª, mas quero também deixar registrada a minha opinião, para que não se satanize uma única pessoa. É claro que, quando V. Exª fala o nome de um jornalista, e o faz no plural, é porque ele não é o único. Conheço vários jornalistas dignos. Independentemente daqueles que fazem essas notinhas sujas, em qualquer jornal, como fizeram contra mim, eu continuo defendendo a liberdade de imprensa, que acredito ser de fundamental importância. Não aceito nenhuma discussão sobre “lei da mordaça” em qualquer instituição, porque quero construir a democracia. Mas quero evitar que, por usar um mesmo nome muitas vezes, se satanize uma única pessoa. Passei por várias situações durante esse tempo e houve um jornalista - de que nem lembro o nome -, que acompanha o Congresso Nacional há mais de 20 anos, que, quando disseram que seria possível mudar o voto, ele disse: “Não, mas no Senado não pode. Se a Senadora disse isso, não está falando a verdade, porque lá existe a digital”. Onde existe essa tal digital aqui? E ele nunca refez o que disse. Ainda bem que, além dos que falam ou redigem uma nota por desinformação - porque, às vezes, alguns acreditam muito na suposta “fonte”, pensam que ninguém age de má-fé, e registram essas informações -, e dos que agem de má-fé, existem várias pessoas que trabalham, neste País, de maneira séria, honesta: são jornalistas, homens e mulheres, dignos, sérios, que não se curvam a propinazinhas, a esse negócio de falar bem de um ou de outro, conforme convém. Ainda bem que há muita gente séria neste País. Então, é bom que não fiquemos falando apenas o nome de uma pessoa, para não satanizá-la, pois sabemos que esse tipo de comportamento várias pessoas, por aí afora, têm.

O SR. LAURO CAMPOS (Sem Partido - DF) - Não falei apenas de um, falei de dois, também de um tal de André, um “foca” do Correio Braziliense - creio que V. Exª não ouviu -, que me entrevistou. Ele dividiu a entrevista em quatro partes. Todas as quatro vezes que ele me procurou, eu estava lá. Conversei com ele quatro vezes em um dia, e a manchete foi que eu era sumido, que não era encontrado e que eu estava, portanto, tendo um mandato totalmente vazio e inútil. Esse tal de Andrezinho, esse repórter, me deu o último telefonema às 11 horas da noite, para ver se podia confirmar a minha ausência. Às 11 horas da noite, depois de falar comigo quatro vezes durante o dia e de me encontrar quatro vezes para uma entrevista, mas ele queria justificar a manchete que já tinha feito: que eu era ausente.

Esses tipos de coisas acontecem, essas deformações, talvez porque a maior raiva desse pessoal seja pelo fato de eu ter sido eleito com o maior número de votos em Brasília, por duas vezes. Em duas eleições, eu tive mais votos do que todos os candidatos do PT juntos. De modo que eu não sou Senador de Partido. Àqueles que estão falando nisso, tentando aprovar uma lei nesse sentido, digo que, para mim, não serve.

Tive mais votos do que todos os candidatos do Partido juntos em duas eleições, sem dinheiro, sem imprensa, sem nada.

A propósito de Partido, o Collor demonstrou que, apesar de ter um partidozinho insignificante, de cujo nome ninguém mais se lembra, chegou à Presidência da República. Isso desmoraliza os Partidos, que se imaginam donos dos votos e do poder, quando na realidade não o são. E o Collor provou isso.

A imprensa também se imagina assim. Mas não entendo como é que pode a imprensa achar que é o quarto poder quando candidatos como eu vencem as eleições, contra toda a imprensa, sujeito a intrigas e a calúnias dessa imprensa, que, quando não pode caluniar, some conosco e, por mais que trabalhemos, afirma que somos malandro. Eu sou malandro, de acordo com todos os jornais desta cidade. Outros me acusam de falar de assuntos que nada têm a ver com o Distrito Federal, como se o desemprego, a fome e a miséria não tivessem a ver com o Distrito Federal, como se a dívida externa que pagamos e nos empobrecem não tivesse nada a ver com a vida dos habitantes do Distrito Federal.

Não vou continuar a falar porque pertencemos a uma totalidade, e os medíocres, au jour le jour, os jornalistas só falam o hoje, como se o hoje fosse algo solto, desgravitado do ontem e do amanhã. Realmente, arranjam sempre alguma crítica a fazer em relação a mim, para, no mínimo, me esconderem. Quando apareço é para “levar pau na moleira”, é para ser criticado. Creio que eles têm o direito de me criticar, mas, pelo amor de Deus, me critiquem com justiça, com argumentos, com dados! Provem as suas aleivosias.

Algumas vezes, fico pensando se isso ocorre, quem sabe, pelo fato de eu ainda não ter usado a linguagem esotérica. Uso apenas a linguagem exotérica, a linguagem para o povo, a linguagem simples. Traduzo o “economês”, por exemplo, em linguagem simples, ao alcance de qualquer burrice. Mas, mesmo assim, acho que não conseguem me acompanhar e ficam com raiva. Dizem que não entendem o que falo; que fico aqui, dando aulas e falando coisas que não têm nada a ver com o mundo real, com Brasília, como se eu fosse um vereador, a cujo nível eles estão, talvez, mais acostumados.

Nunca falei nada disso, nunca fiz nenhum desabafo desse teor, mas, hoje, foi inevitável, diante dessa mentira, que poderá prejudicar outras pessoas, outros Senadores. Podem pensar que vou votar de uma maneira e se surpreenderem, já tardiamente, porque, nesse caso, já haveria passado a fase da renúncia. Não quero prejudicar mais do que o necessário. Ninguém! Nem “a”, nem ‘b”, nem “c”, de acordo com a minha deliberação final.

Era esse o desabafo que eu gostaria de fazer.

Não vou processar esse sujeito nem por essa injúria, nem pelas anteriores. Desejo apenas que ele ainda consiga livrar-se da Casa da Dinda e dos ambientes que condicionaram a sua personalidade. Para mim, ele é um fugitivo, um beira-mar, que fugiu da Casa da Dinda. Um a mais. Amigo do Sr. PC Farias e de outros que ali conviviam e permutavam o seu sangue, do mesmo tipo, da mesma qualidade, do mesmo teor.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/05/2001 - Página 8012