Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO ESCRITOR JORGE AMADO, OCORRIDO ONTEM, EM SALVADOR/BA.

Autor
Antonio Carlos Júnior (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO ESCRITOR JORGE AMADO, OCORRIDO ONTEM, EM SALVADOR/BA.
Publicação
Publicação no DSF de 08/08/2001 - Página 15831
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JORGE AMADO, ESCRITOR, ESTADO DA BAHIA (BA), RECONHECIMENTO, IMPORTANCIA, VIDA PUBLICA, OBRA LITERARIA, RECEBIMENTO, PREMIO, BRASIL, EXTERIOR.
  • TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, CARTA, AUTORIA, JORGE AMADO, ESCRITOR, ESTADO DA BAHIA (BA), HOMENAGEM, ANIVERSARIO, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, PAI, ORADOR.

O SR. ANTONIO CARLOS JÚNIOR (PFL - BA. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nos últimos meses, Jorge Amado mais uma vez prendeu a atenção dos brasileiros. Desta vez, infelizmente, o desfecho nos cobre a todos de tristeza. Perdemos o maior contador de história da Bahia. O maior que ela deu ao País. O maior que o Brasil conheceu.

Por mais que a Bahia procurasse se preparar, esse desfecho que afinal se deu calou fundo em nossa alma, marcando-a com uma inenarrável sensação de perplexidade e perda.

Jorge Amado há muito não pertencia à Bahia. Sua obra transcendeu, desde sempre, os limites de sua terra. No Brasil, são mais de 20 milhões de livros vendidos.

A Bahia sofre. Sofre a dor doída da perda de um de seus filhos mais queridos. Daquele que é, sem dúvida, no presente momento, o mais ilustre e que encarnou, realmente, a legenda de inteligência e talento em tudo que pudesse expressar o sentimento não apenas dos baianos, mas do povo brasileiro.

Sr. Presidente, Jorge Amado nos legou uma herança literária sem tamanho. Uma obra fértil em personagens de conteúdo psicológico riquíssimo, extraídos, em sua maioria, do cotidiano baiano, mas que se mostraram mais que baianos, mais que brasileiros.

O que é, se não universal, uma obra publicada em mais de 60 países, em mais de 40 línguas?

O Jorge Amado conhecido de todos é o Jorge contador de histórias. O Jorge sensual de Gabriela, de Tieta, de Esmeralda, de Dona Flor, de Tereza; das tramas bem urdidas que, com malícia e talento, criaram um universo paralelo do cotidiano, influenciado pela realidade e a ela influenciando.

Mas o Jorge homem público é inesgotável.

Na Assembléia Constituinte de 1946, integrando o Partido Comunista Brasileiro, no esplendor de sua juventude, demonstrou com seu espírito combatente o posicionamento político que marcaria e traria conseqüências à sua vida.

O comunista que, como Deputado Federal, lutou pela liberdade religiosa. Perseguido, cassado, preso, exilado, jamais abdicou de sua crença; jamais deixou de amar e ser amado por sua terra; de demonstrar esse amor a cada passo de sua trajetória.

Homem de posição ideológica firme, foi admirado por todos os setores da vida nacional.

Deixando à margem as atividades partidárias por imposição de uma conjuntura adversa, entregou-se de corpo e alma à literatura, trazendo em suas obras a marca de suas convicções, que nunca o impediram de conviver com pessoas que abraçavam caminhos diferentes no campo da atividade política.

O imortal da Academia que lutou contra a censura, que biografou Luiz Carlos Prestes, o Cavalheiro da Esperança, que teve o seu valor reconhecido e premiado dezenas de vezes na Bahia, no Brasil e no exterior.

Para mim, Jorge Amado tem um significado especial. Nossas famílias têm toda uma vida em comum. São mais de trinta anos de um estreito, carinhoso, fraternal e doce relacionamento. O amor por nossa terra e nossa gente forjou e fortaleceu essa união. Por mais que me esforce, faltarão adjetivos que me permitam qualificar o que essa convivência significou e permanecerá significando para nós.

Uma carta de Jorge Amado a meu pai, que orgulhosamente a exibia em seu gabinete, e lá permanece comigo, dá bem a dimensão dessa convivência. Permito-me reproduzir um pequeno trecho, solicitando que sua íntegra faça parte deste meu pronunciamento e figure nos Anais desta Casa.

“Querido Antonio,

Somos do teu tempo e da tua terra e, como se isso não bastasse, gozamos da tua amizade e da amizade dos que te cercam”.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, sei muito bem como a dor transpassa o coração quando perdemos uma pessoa querida. Mas também sei, Sr. Presidente, como o tempo nos ensina que ela permanece presente em nossas lembranças por meio de suas obras, ensinamentos e exemplos.

Assim será com o amado Jorge.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, por isso o seu desaparecimento não poderia deixar de ser registrado desta tribuna e, ao fazê-lo, desejava que esta Casa se associasse ao luto, ao pesar, à compulsão que envolvem, hoje, toda a nossa gente baiana.

Com profunda tristeza na alma e a certeza de que essa dor se transformará em uma doce e orgulhosa lembrança, encaminhamos, o Senador Paulo Souto e eu, este requerimento de voto de pesar à apreciação dos nobres Pares do Senado Federal.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/08/2001 - Página 15831