O SR. RONALDO CUNHA LIMA (Bloco/PSDB - PB) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, às margens plácidas do Rio Piranhas, que une com suas águas de inverno o sertão da Paraíba, há cem anos atrás, nasceu o Senador Ruy Carneiro; uma lembrança que o povo paraibano guarda como um ícone da política como arte e ética.

A simpatia do advogado e jornalista construiu um político de tecido singular; sob o signo das revoluções sociais e culturais que marcaram o adolescente viveu um homem que sempre conservou algo em comum com o rio que margeia sua cidade de Pombal: nascer nas dificuldades e buscar a plenitude da imensidão, superando com calma e tempo todos os obstáculos.

Conheci esse homem e pude conviver com ele como um privilégio que o destino me ofereceu. Guardo dele lembranças agradáveis e atitudes dignas e corajosas. Na política tento, a todo custo, perseguir seus exemplos.

Um marco na história brasileira, a Revolução de 30 significou para Ruy Carneiro também um marco de vida. Os novos princípios republicanos por ele defendidos possibilitaram sua ascensão na vida pública. Não foi difícil sair da Chefia de Gabinete do Banco do Brasil para a o cargo de Interventor da Paraíba, logo após a adoção do Estado Novo, no qual viveu sem perder o fascínio pela democracia, daí que sua passagem pelo Executivo de seu Estado teve uma conotação popular e de respeito aos direitos humanos. Carlos Lacerda, em suas pregações pelo fim da ditadura, reverenciou seu governo, dizendo que a “Paraíba é um oásis da liberdade”, porque o Interventor lhe permitiu usar como tribuna, as escadarias do Palácio.

A substância da República sempre lhe impressionou, a ponto de adotar como lema de campanha a frase que se tornou um standard: “Forte é o Povo”. Essa marca é identificada nas diretrizes de seu governo: educação (com a construção de grupos e escolas) para combater o analfabetismo; estradas, hospitais e segurança pública.

Sr. Presidente, a cultura política de Ruy, como restou conhecido no seio do povo, foi um exemplo de civilidade que esta Casa soube admirar. Suas opiniões serviram de balizamento às decisões deste Plenário e das diversas Comissões, durante muito tempo.

Mesmo quando, em 1964, o sonho da liberdade foi assaltado pelo pesadelo da ditadura militar, Ruy comportou-se como o político que sabe que a preço da liberdade é determinado pela resistência da democracia. Esse comportamento deu-lhe as sucessivas e históricas vitórias, com as quais conseguiu o memorável feito de eleger-se quatro vezes ao Senado Federal.

A derrota ao governo da Paraíba em 1965 foi-lhe antes de tudo um episódio circunstancial. O país encontrava-se atordoado com o golpe e a democracia perdia espaço às sombras da ditadura.

Somente a morte (1977) pode encerrar sua sempre viva atividade política. Mas, mesmo assim, a chama vivificante do exemplo se eterniza nos corações paraibanos. O companheiro leal e amigo, capaz de gestos além de humanos, é uma legenda. Os amigos, agora representados na figura exemplar do nosso “Cônsul” Raimundo Onofre, mereceram sempre o tratamento da benevolência e da atenção, mas os adversários nunca foram tratados com o ódio, mas à medida da divergência ideológica e pragmática.

Nas gerações atuais seus ensinamentos continuam no exemplo de magistrado, do Desembargador Raphael Caneiro Arnaud e de futuro político, do Deputado Estadual Ruy Carneiro, que também lhe herdou o nome.

Dos que se foram, a memória marcante na vida de Ruy: D. Alice, esposa e companheira, Jandhuy, irmão e amigo.

Por solicitação minha este Senado Federal aprovou requerimento à Mesa no qual solicitei que fosse publicada, pelas edições técnicas da Casa, a biografia do Senador Ruy Carneiro, como parte da série “Grandes Vultos que Honraram o Senado”, para que a nação possa lhe assegurar a importância de seu papel como protagonista da história.

Na cantiga de amor a Pombal, inspiradora dos versos de Joubert de Carvalho, por solicitação de Ruy, a recordação e a saudade: “depois que tu partistes tudo aqui ficou tão triste... “