Discurso durante a 124ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro da participação de S.Exa. no sexto Hallel, ontem, em Brasília.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA. POLITICA SOCIAL.:
  • Registro da participação de S.Exa. no sexto Hallel, ontem, em Brasília.
Publicação
Publicação no DSF de 02/10/2001 - Página 23437
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, ENCONTRO, IGREJA CATOLICA, REALIZAÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), CONCLAMAÇÃO, JUVENTUDE, DIVERSIDADE, CRENÇA RELIGIOSA, DISCUSSÃO, ANALISE, QUESTIONAMENTO, PROBLEMAS BRASILEIROS.
  • IMPORTANCIA, ENCONTRO, IGREJA CATOLICA, ATENDIMENTO, ASSISTENCIA RELIGIOSA, ASSISTENCIA ESPIRITUAL, ORIENTAÇÃO, FORMAÇÃO, JUVENTUDE.
  • DEFESA, RELEVANCIA, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, ASSISTENCIA SOCIAL, CONSCIENTIZAÇÃO, JUVENTUDE, IMPORTANCIA, CONTRIBUIÇÃO, SOLUÇÃO, PROBLEMA, NATUREZA SOCIAL, PAIS.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Ramez Tebet, é uma satisfação falar pela primeira vez com V. Exª na Presidência, na expectativa de que V. Exª cumpra um grande mandato como Presidente do Senado.

            Está na hora de encerrarmos uma fase que todo mundo quer ver longe e de o Senado cumprir não apenas as suas grandes atividades do passado, mas, principalmente, as suas responsabilidades para com o futuro deste País.

            Não é possível nem viável que, em meio ao que está acontecendo no Brasil e no mundo, o Senado fique tão à margem, tão distante, e a nossa atividade se resuma nos discursos individuais ou na atuação individual de cada parlamentar.

            V. Exª, com sua larga experiência, competência, capacidade, haverá de reunir as condições necessárias para coordenar, dirigir a ação deste Senado, que, se for o caso, deve continuar a buscar a verdade, a afastar aqueles que daqui devam ser afastados. Mas, basicamente, que esta Casa passe a ser a grande representante dos problemas e das dificuldades do povo brasileiro.

            Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, na segunda-feira, assisti a um acontecimento religioso que eu não conhecia até então: o 6º Hallel, realizado em Brasília, no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade. Trezentos mil jovens estiveram ali presentes das oito às vinte horas. Impressionou-me o fato de que, numa época como esta, num momento como este, jovens atendam a um chamamento da Igreja e venham participar de eventos dessa natureza, discutir e analisar questões da nossa espiritualidade.

            A música popular das igrejas, com várias bandas no palco, e a versão dinâmica dos temas religiosos tratados animaram aquela mocidade. Simultaneamente, havia vários auditórios funcionando, com diversas atividades para os jovens não apenas de Brasília, mas de toda a região. Estavam presentes não apenas católicos, mas representantes de várias outras igrejas, pois o evento segue princípios ecumênicos, que envolvem a espiritualidade geral, e não esta ou aquela crença. Havia o auditório das confissões, onde eram ministradas palestras e orientações sobre o sacramento da confissão. Havia o auditório da terceira idade, onde a discussão era feita com a presença de homens e mulheres da terceira idade, muitas vezes sem uma palavra, sem um estímulo, por parte daqueles que se preocupam com a sua espiritualidade. Foi uma das discussões mais concorridas, e foi emocionante ver aquelas pessoas em idade avançada trazendo o seu depoimento, trazendo a sua experiência e trazendo a sua fé, que deve e vale a pena continuar. Havia o auditório da Intercessão, outro que se chamava SOS Oração. Também um painel sobre os vários temas da sexualidade, a abordagem do namoro, do casamento, do sexo em si e a confissão religiosa. Havia - e este é da maior importância - o painel Evangelho e Partilha; outro sobre as Vocações. Um dos mais concorridos era sobre a Família: convivência, como é, como deve ser. Outro, Cristão e Compromisso, a responsabilidade do cristão na sua atividade, na sua ação, quais são os compromissos do cristão no meio em que ele atua, na sociedade em que ele convive. Havia o painel A Caridade e a Questão Social, voltadas para os problemas sociais do povo brasileiro; as dificuldades, o que se está fazendo e o que cada um pode fazer para cumprir a sua parte, e propostas que possam ser apresentadas para esclarecer essa questão.

            Éfeta: o anúncio da Boa Nova para todos os povos. Esse módulo acolhe os surdos na sua própria linguagem. É emocionante. Em Porto Alegre, quando Governador, eu já conhecia e dei uma grande força às instituições que cuidam do surdos-mudos e delas participei.

            Em primeiro lugar, vimos ali os surdos na missa inicial, cantando, na sua linguagem figurada, os hinos que os outros cantavam. Depois, no auditório a eles destinado, foi realmente comovente vê-los ler a Bíblia em código braile, apresentar as suas propostas, fazer palestras em código braile e ver, ali, aqueles jovens que não falam e que não escutam nos dar o exemplo de resistência e de disposição de lutar.

            Eram impressionantes a fé e o sentimento de brio que animavam aqueles jovens, nas suas linguagens mímicas, transmitidas pelas suas professoras, e quando os palestrantes falavam a eles, também em mímica, havia aplausos veementes, quando diziam que os surdos-mudos, os jovens que fazem parte dessa entidade e que participam desse movimento, são pessoas apaixonadas pela vida, amam a vida, são pessoas que se preparam para desempenhar várias missões lá fora. E nós temos a obrigação de, aqui fora, verificar que surdos, mudos, cegos não são inválidos e que não lhes resta apenas o caminho de pedir esmolas. Como há atividades que eles podem exercer melhor que nós, que enxergarmos, falamos e ouvimos! Conheço várias indústrias em que há uma parcela grande de cegos, surdos e mudos trabalhando lá. E, conforme a missão, eles são melhores que seus colegas, porque não perdem menos tempo olhando para os lados e se dedicam, com mais profundidade, ao trabalho; e podem ser úteis, vivendo do próprio trabalho.

            Havia a Igreja e a saúde, analisando todos os problemas da saúde; havia a maternidade; havia o Hallelzinho para as crianças. Todas essas atividades ocorreram das 9 horas às 20 horas, ininterruptamente, em cada um desses auditórios. Havia atividades para crianças como peças de teatro, orientação, esclarecimentos. Isso prova que é viável e necessário darmos uma orientação sadia aos nossos jovens.

            Emocionei-me. Os jornais anunciam: “Música para Deus”, 300 mil pessoas; “Sábado de fé e muita música”. E fico a me perguntar - não foi uma propaganda; o Jornal de Brasília fez uma cobertura antecipada, chamando atenção, mas não foi uma grande propaganda, um grade chamamento. É verdade que mais de três ou quatro mil crentes trabalharam nos mais variados setores. Era emocionante ver aquele enorme pavilhão com umas cinco ou seis mil pessoas trabalhando; senhoras muito bem arrumadas, com os seus maridos, trabalhando, limpando, varrendo, arrumando as cadeiras, servindo às mesas, vendendo bebidas, fazendo os mais variados serviços com o trabalho voluntário, feito com fé, com amor e com a preocupação de ajudar - se esses jovens tiveram essa oportunidade. E eu sei. Meu filho, inclusive, pertence a um movimento, a uma igreja onde se realiza um trabalho diário e permanente de orientação, de formação, basicamente com jovens. Cada jovem tem o que chamam de seu discípulo - embora ele seja o discípulo de alguém -, para conscientizar essas pessoas para a verdade, para a justiça, para Deus e para o amor. Fico a me perguntar se assim não deveria ser com toda a mocidade brasileira.

            Porque, assistindo aos jornais, à televisão, ou ficando no lufa-lufa do dia-a-dia, o que se imagina é que a droga é a única opção que existe para a mocidade. E existe a droga. Desgraçadamente existe, e muito, principalmente para os que têm dinheiro quanto para os que não tem, que vivem em favelas, na miséria. Muitas vezes, na porta da escola está o vendedor. Muitas vezes, os jovens são pegos pelo traficante para fazer a distribuição. É violento? É!

            Conversando com psicólogos e psiquiatras, num congresso de que participei sobre a questão da droga, eles me disseram: “Senador, nos congressos científicos que fizemos sobre isso, chegamos à triste conclusão de que nós, os médicos, estamos perdendo a batalha da droga com os jovens. A nossa ação tem pouca eficácia no sentido de que alguém, que já está viciado, retorne.” E diziam mais: “A única novidade que há sobre isso são os movimentos religiosos, que reúnem esses jovens e os levam para uma colônia de fé, durante dois, três ou cinco meses, sem medicação, na base do amor, do trabalho e da amizade coletiva, uns ajudando os outros, já que todos usam drogas, e 30% dos drogados são curados”. Esse é um trabalho fantástico.

            Estive na Fazenda do Bom Jesus, aqui em Brasília, e fiquei realmente impressionado com o trabalho que ali assisti. Tomei conhecimento, lá no interior, na cidade de Charqueada, que um afilhado meu - que leva meu nome, é filho de um grande amigo, que já faleceu, e que a esposa trata os filhos com extremo carinho -, de 16 anos, estava usando drogas. A mãe contou-me hoje de manhã, pelo telefone que está há três meses nessa fazenda e já é outra pessoa. Se Deus quiser, ele será curado.

            Vejo as manchetes de jornais noticiando a presença de jovens em crimes e violências, e o espaço que se dá às entidades que recolhem as crianças. É um crime, Sr. Presidente! É doloroso e cruel sentirmos que essas entidades que gastam fortunas - R$1,5 mil ou R$2 mil - por cada criança, geralmente realizam a formatura de criminosos. Os jovens apanhados em flagrante por terem cometido delitos - roubos ou outras infrações - são retirados do seu lar, levados para aquelas entidades e, em vez de serem curados, aprendem ali o que resta para se transformar em profissionais. E, como ainda pertencem à menoridade, podem ser usados a bel-prazer pelas gangues que se organizam.

            Por isso, Sr. Presidente, para nós que lemos permanentemente essas manchetes nos jornais e ouvimos rádios mostrando as corridas loucas de jovens alcoolizados em automóveis; nós que vemos as festas de Carnaval conclamando milhares de jovens para esses atos, é importante ver e sentir que os jovens também aceitam as mensagens de fé, de amor, de carinho e cidadania; é importante sentir e ver como os jovens estão abertos. Deus colocou o homem no mundo para fazer o bem. O mal, o vício, é uma deturpação do bem, é um pecado. Mas a índole humana é a busca do bem.

            Acredito que, além dos 300 mil jovens que passaram, além do êxito obtido, o importante desse Hallel é o exemplo. Não precisamos fazer outro igual, com mais de 300 mil pessoas, mas fica o exemplo do que cada um de nós pode fazer.

            Nós políticos, de um modo especial, temos uma condição profunda, concreta e real de fazer a nossa parte. A grande discussão que travamos - e discuti muito isso com os meus alunos universitários em aulas de sociologia, em aulas de economia política - é sobre a missão do ser humano. Aprendemos muito, principalmente no Brasil. Nós da classe média, de uma classe mais abastada, que pagamos os nossos impostos, que fizemos a nossa parte e cumprimos a nossa obrigação não temos culpa se o Brasil é essa desgraça de 40 milhões de pessoas que passam fome, se o Brasil é isso que estamos sentindo e vivendo; não temos culpa por isso. A culpa não é minha, que pago meu imposto, que trabalho e faço a minha parte, mas do Governo que está aí, dessas entidades que estão aí que não fazem o que deveriam. É evidente que a sociedade organizada e as autoridades são culpadas. É evidente que falta uma decisão, uma capacidade, uma vontade e uma competência de estabelecer uma política social que termine com esses números grosseiros e brutais de fome, de miséria, de arbítrio, de mocidade promiscuída, prostitutas de 14, 15 anos, mão-de-obra vendida como escravos e tudo o mais. Se isso deve ser feito, se o Governo e a sociedade devem fazer, temos que entender que cada um de nós pode fazer alguma coisa.

            Tenho dito desta tribuna que se as pessoas que têm cachorrinho de luxo e gastam bastante com eles nas butiques pegassem um menino de rua, não teríamos mais essas crianças nas ruas. Não sou contra que se tenha cachorrinho. O meu filhinho tem um, normal, arrumadinho e limpinho, mas não tem roupas especiais, não tem jóia no pulso, não freqüenta butique e não faz aniversário com festas que emocionam o gran-social de Brasília, Rio e São Paulo. Reparem. É só isto: basta que os lares que têm cachorro de luxo criem uma criança. Isso diminuiria em muito o problema. Porque a verdade é que cada criança que você tira e ampara é uma a mais que vai ter oportunidade de ser gente e uma a menos que vai cair no arbítrio, na violência e na morte.

            Dou grande importância ao evento de sábado, porque ele aflorou consciências. Tenho certeza de que os jovens que estiveram ali nunca mais serão os mesmos. Será um dia especial na vida deles. Eles viram que são amados, que podem amar; que os obstáculos que muitos deles têm, como os outros, podem ser superados.

            Por isso venho aqui, numa segunda-feira vazia, quando a Casa não tem maior interesse pelo dia, quando as reuniões devem estar sendo feitas nos gabinetes entre os que saem de um partido e os que vão para outro... Mas, em meio a esse turbilhão de quem sai e de quem entra, dirijo-me aos jovens com uma mensagem de otimismo: haveremos de ter um governo que compreenda a questão social brasileira, que compreenda a miséria dos 40 milhões que passam fome, que compreenda a carência da mocidade que mora na rua, sem teto, sem família, sem lar, sem nada; que compreenda que não são apenas as instituições frias, geladas, sem alma e sem sentimento que devem fazer isso. É necessário um grande chamamento, um chamado de voluntários, um trabalho de toda a sociedade, que deve ter um projeto, um programa. Não tenho dúvida, tantas quantas forem as creches e entidades de educação de jovens que forem criadas, encontraremos, ao lado dos funcionários, mão-de-obra qualificada para fazer um trabalho voluntário e dispor para isso de parte de seu tempo - o que é normal nos Estados Unidos e está começando a ser normal no Brasil -, e por mais atribulada que seja a nossa tarefa semanal, cada um de nós pode encontrar uma parcela de hora ou uma tarde ou uma manhã para se dedicar a uma entidade social como essa.

            Antônio Ermírio de Moraes faz isso. Sexta, no final da tarde, sábado e domingo, ele está na Beneficência Portuguesa. Não está passeando, não está se divertindo, está ali, dedicando todo o seu trabalho àquela entidade. O Dr. Adib Jatene fez isso durante muito tempo. Conheço muita gente, nos mais variados setores, que dedicam grande parte de seu tempo a um trabalho voluntário para a sociedade. Cheguei a falar com os Ministros Militares para criarmos uma espécie de serviço civil voluntário e obrigatório em que reunisse, anualmente, jovens, homens e mulheres para prestarem serviços e, nesse ano, aprenderiam a amar a pátria e a conhecer o seu país. Os pobres e miseráveis, como acontece com os que são convocados pelo Exército, colocariam os dentes, aprenderiam a usar sapatos. Além disso, poderiam ajudar, porque os jovens das classes média e rica, nesse convívio, aprenderiam a ver que não há apenas o seu pequeno mundo; aprenderiam a conviver e fariam trabalhos enormes nos colégios, nos hospitais, nas creches, nos bairros, no trânsito. Uma infinidade de atividades poderiam ser desempenhadas por esses jovens, que não apenas somariam um esforço para minorar a questão social, mas aprenderiam e seriam gente diferente. Eles aprenderiam que, ao lado do seu papai e da sua mamãe, do seu estudo, da empresa familiar, ao lado de se prepararem para o seu futuro, devem ter uma visão social do conjunto do Brasil e dar a sua colaboração para que isso aconteça.

            Sr. Presidente, com muita singeleza, mas com profunda sinceridade, eram essas as palavras que eu queria dizer neste momento em que trago as felicitações pelo grande êxito do evento realizado em Brasília no sábado passado. Muito obrigado.

 

            


            Modelo15/7/246:33



Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/10/2001 - Página 23437