Discurso durante a 132ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO EX-SENADOR ROBERTO CAMPOS, OCORRIDO ONTEM.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO EX-SENADOR ROBERTO CAMPOS, OCORRIDO ONTEM.
Publicação
Publicação no DSF de 11/10/2001 - Página 24449
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ROBERTO CAMPOS, EX SENADOR, EX-DEPUTADO, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO EXTRAORDINARIO PARA O PLANEJAMENTO E COORDENAÇÃO ECONOMICA (MEPLAN), ECONOMISTA, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é interessante salientar que, à exceção do ilustre autor do requerimento, os oradores que se têm sucedido nesta sessão, todos eles têm pensamento contrário ao de Roberto Campos, o que não nos impede de reconhecermos que hoje é um dia de luto para todo o Brasil, porque Roberto Campos é daqueles homens do qual se podia discordar, mas que se tinha obrigação de respeitar pelas suas qualidades, pela sua competência, pela sua dedicação e pelo seu trabalho.

            Fui companheiro de Roberto Campos aqui, no Senado. Eu tinha um respeito muito grande pela pessoa de Roberto Campos. Nos primeiros Governos da Revolução, principalmente nos tempos de Castello Branco, ele foi a grande figura, o grande nome, a grande liderança, o grande condutor, e continuou o sendo no Governo posterior. Depois dele, veio a era de Delfin Netto, totalmente diferente.

            Mas eu buscava conhecer Roberto Campos, que, para nós do antigo PTB, que tínhamos sido derrubados do Governo com o Movimento de 1964 e com a nomeação pelo Congresso de Castello Branco, apresentava-se como alguém que queria fazer algo diferente. Temos que reconhecer que ele tinha idéia, pensamento, seriedade, e que executava. Roberto Campos não foi como os que vieram depois: uma pessoa que fazia questão de determinar que ele é que mandava, que ele era o superministro e dava as determinações. Mas, na verdade, as profundas transformações que ocorreram no Movimento de 1964 e as primeiras medidas no sentido de buscar uma racionalidade na economia da chamada Revolução foram de autoria de Roberto Campos.

            Por isso, quando cheguei aqui, procurei me acercar para conhecer o Sr. Roberto Campos, uma figura que, diga-se de passagem, tinha quase um olhar rude, austero, sério. Ele dava a impressão de que estava sempre de mal com o mundo. Sentava-se na última fileira. Quando começava a sessão do Senado, às 14h30min, ele estava sentado ali - nunca faltou - e saía ao final da sessão. Se houvesse três ou quatros Senadores presentes no plenário, um deles era Roberto Campos.

            Ele se preocupava com todos os projetos, desde os mais importantes até os mais singelos, e emitia opinião. Parece até que ele tinha uma alegria um pouco mórbida de dar a sua opinião quando era contrário a alguma matéria. Gostava de debater com parlamentares de pensamento mais avançado, dos quais ele discordava e que dele discordavam.

            Nas Comissões, acontecia a mesmíssima coisa. Em todas as reuniões das Comissões, estava presente Roberto Campos. Ele conhecia previamente os assuntos. Ele ia às reuniões das Comissões ou ao plenário do Senado já tendo, em seu gabinete, tomado conhecimento de qual era a Ordem do Dia e de quais eram os assuntos a serem discutidos.

            Naquela época, não era como agora. Hoje, recebemos a pauta e sabemos o que será discutido até o final do mês. Naquela época, não havia isso. Essa foi uma grande vitória do Senado. Naquela época, a Mesa e o Secretário faziam a pauta no início da sessão. Que se dane o resto! Se o assunto era importante ou não, azar! Mas ele estava a par de tudo. Ou ele ou algum assessor dele se dirigia à Secretaria-Geral da Mesa e tomava conhecimento das matérias. Por isso, ele discutia, debatia e analisava qualquer matéria.

            Isso mostra como um homem pode chegar ao topo da capacidade na área a que era dedicado, ou seja, na Economia. Debater com pessoas como eu, muito inferiores culturalmente, não o inferiorizavam. Esse era um grande mérito de Roberto Campos, e faço questão de salientar isso. Faço questão de salientar os tijolaços que ele publicava na Imprensa Nacional e que eu, muitas vezes, lia com raiva, porque discordava de tudo, mas era obrigado a reconhecer a racionalidade do pensamento dele. Ele debatia ponto por ponto, item por item, em sua explicação.

            O seu romance - Deus me guarde! - era composto por páginas e mais páginas. Eu o li em grande parte. A lucidez daquele homem, o estilo, a perfeição da linguagem e a seriedade do conteúdo realmente faziam com que ele tivesse a nossa admiração e o nosso respeito.

            Gostei muito do seu pronunciamento, Senador Roberto Saturnino. Eu o achei muito lindo, emotivo. V. Exª disse que ele foi coerente a vida inteira, que ele teve seu pensamento, suas idéias, que ele era um liberal. Também penso que ele deve ter, nas suas origens, um pensamento diferente. Nunca o entendi bem no Grupo de Itatiaia. Nunca entendi o que ele estava fazendo lá, qual a razão de ele estar ali. Mas alguma razão devia existir.

            Algo que sempre me chamou a atenção em Roberto Campos é que nunca o vimos nos jornais, nas épocas mais bravas, dizer que “a Revolução quer isso, o Governo revolucionário vai fazer aquilo”. As medidas econômicas eram sempre discutidas com os economistas, na base do debate da questão que estava em jogo. Nunca ouvi falar que Roberto Campos estivesse em uma reunião do Conselho de Segurança defendendo que se cassasse fulano, que se fizesse isso ou aquilo com beltrano, que se tomasse determinada medida. As suas medidas eram racionais, tomadas exclusivamente com base nos estudos que fazia da Economia e na análise do que deveria ser feito.

            Por isso, Sr. Presidente, trago aqui o meu voto de pesar, com muito respeito e humildade, reconhecendo que existem pessoas que estão acima das próprias identidades ideológicas. Afinal de contas, o importante na sociedade brasileira é as pessoas terem valor. Triste aquele que imagina que só têm valor aqueles que pensam igual a ele, os que estão do mesmo lado que ele, e que inimigos, sem conteúdo, são os que estão do outro lado. Muitas vezes, acontece o contrário. Há pessoas que, estando do outro lado, têm condições de valorizar mais os que estão do próprio lado.

            Roberto Campos honrou esta Casa, honrou a Câmara dos Deputados. Foi político, diplomata, um grande Ministro, um grande cidadão.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/10/2001 - Página 24449