Discurso durante a 18ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Necessidade de investimentos do Ministério da Saúde para o enfrentamento da epidemia da dengue a partir da ciência e da tecnologia, com a adoção do combate biológico, destacando pesquisas desenvolvidas pela Fiocruz, Universidade Federal de Pernambuco, Instituto de Pesquisas Agropecuária - IPA e o Lafepe - Laboratório estatal pernambucano. (como Líder)

Autor
Roberto Freire (PPS - CIDADANIA/PE)
Nome completo: Roberto João Pereira Freire
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA. SAUDE.:
  • Necessidade de investimentos do Ministério da Saúde para o enfrentamento da epidemia da dengue a partir da ciência e da tecnologia, com a adoção do combate biológico, destacando pesquisas desenvolvidas pela Fiocruz, Universidade Federal de Pernambuco, Instituto de Pesquisas Agropecuária - IPA e o Lafepe - Laboratório estatal pernambucano. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 13/03/2002 - Página 2106
Assunto
Outros > POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA. SAUDE.
Indexação
  • INFORMAÇÃO, PESQUISA CIENTIFICA, COMBATE, AEDES AEGYPTI, AUTORIA, FUNDAÇÃO INSTITUTO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ), UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE), INSTITUIÇÃO DE PESQUISA, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), ELOGIO, METODOLOGIA, EFICIENCIA, AUSENCIA, DANOS, SAUDE, MEIO AMBIENTE, QUESTIONAMENTO, FALTA, APOIO, GOVERNO FEDERAL, PRODUÇÃO, ESCALA, INDUSTRIA.
  • COMENTARIO, DEBATE, PRODUTO TRANSGENICO, DEFESA, PROGRESSO, CIENCIA E TECNOLOGIA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ROBERTO FREIRE (Bloco/PPS - PE. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não gosto muito de ler, mas, como estou trazendo informações, para não cometer equívocos, eu lerei.

            O Brasil está com medo, e a sua população, perplexa com a epidemia da dengue. As autoridades de todas as esferas e competências - União, Estados e Municípios - acusadas de descaso e de inépcia, apresentam-se com novas justificativas e velhas ações no combate ao mosquito.

            A novidade, em contraposição ao velho cenário - e quero ressaltar a sua importância -, é a mobilização social. Infelizmente, o que poderia ser a grande ação original no combate à epidemia é relegada a segundo plano: o enfrentamento a partir da ciência e da tecnologia, com a adoção do combate biológico. Quem me traz essa informação são os cientistas do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães/Fiocruz, na capital do meu Estado. Este renomado centro, juntamente com o Departamento de Antibióticos da Universidade Federal de Pernambuco, o Instituto de Pesquisas Agropecuária (IPA) e o Lafepe - laboratório estatal pernambucano que já vem colaborando com o Ministério da Saúde na produção de coquetéis para o tratamento da Aids - estão produzindo larvicidas biológicos. Pesquisas na mesma linha estão sendo realizadas na Farmanguinhos-Fiocruz, do Rio de Janeiro. Por sinal, esses são os dois Estados que mais sofrem com a epidemia.

            As pesquisas desenvolvidas em Pernambuco estão avançadas e um formulado à base da bactéria - que há mais de 20 anos é usado pela Organização Mundial de Saúde na África contra um tipo de filariose e no Vale do Reno, na Alemanha, para não citarmos apenas os países subdesenvolvidos - já foi produzido, em grânulos e comprimidos, embora em pequena escala. Esse novo método de combate biológico, segundo estudiosos, é extremamente eficiente e seletivo, por só matar as larvas de Aedes aegypti, sem danos para os demais organismos fisiológicos, além de não provocar resistência.

            Essa que seria, talvez, a forma mais eficaz de se enfrentar e combater a epidemia, como já disse, não é levada em consideração. As autoridades insistem no método químico, considerado pelos estudiosos totalmente impróprio, porque age contra todos os organismos vivos, provocando doenças respiratórias e irritações cutâneas. Aventa-se até que possa provocar câncer. Além disso, as substâncias químicas utilizadas no método tradicional induzem resistências nos mosquitos. No Rio de Janeiro, pesquisas dizem que foi detectada uma resistência de mais de 80% e, em Recife, de mais de 60%.

            Como resposta a tudo isso, intensificam-se os “fumacês”, que é esse combate químico, aumentando-se inutilmente os gastos. Um Secretário de Saúde não teve pudor em afirmar que era importante intensificar a ação do “fumacê” porque produziria “efeitos psicológicos” positivos na sociedade. Tamanha insensibilidade fez com que um pesquisador, de forma contundente, retorquisse: se a intenção é o efeito psicológico, melhor usar a água. Não mata o mosquito, mas também não prejudica a saúde de ninguém.

            Com todo esse quadro, cabe a pergunta: por que o Governo Federal, com base no conhecimento científico, reluta em adotar a nova tecnologia, ou mesmo incentivar a que se aprofunde esse estudo? Mais grave: por que as autoridades públicas do Estado de Pernambuco e do Município de Recife -- segundo lugar nas estatísticas da epidemia -- permanecem omissas no apoio às pesquisas geradas em Pernambuco? Essa omissão é duplamente condenável: por não ousar com a ciência, insistindo no tradicional; e por faltar a coragem de se induzir e alavancar o conhecimento produzido por respeitáveis pesquisadores e instituições do nosso Estado.

            É hora de se investir na pesquisa, redirecionando recursos para a aplicação de todas as formas e métodos de combate à epidemia. A cidadania brasileira exige que o Ministério da Saúde designe recursos para que em Pernambuco se possa produzir, em escala industrial, os larvicidas biológicos, hoje produzidos em pequena escala.

            Temos conhecimento da resistência que enfrentou Oswaldo Cruz no início do século XX, no Rio de Janeiro, com a compulsoriedade da vacinação contra a febre amarela.

            Permitam-me uma ressalva aqui. Soube que ontem, nesta Casa, houve discursos sobre a questão dos transgênicos. Vejo a questão dos transgênicos da mesma forma: a incapacidade de se pensar a ciência, o medo de se enfrentar o novo. A resistência à mudança é próprio da natureza, mas quem tem a racionalidade sabe que tem que avançar. Essa visão preconceituosa faz com que se enfrentem esses problemas sem a coragem de ir buscar o que de mais avançado a ciência pode produzir, ficando no mais tradicional, no mais tranqüilo, embora isso não resolva coisa alguma, como é o caso dos “fumacês”. Talvez a mobilização social, a utilização de elementos das Forças Armadas e a consciência da sociedade resolvam. Já diminuiu o índice de infectados, ninguém sabe se por esses motivos ou se pelo ciclo da doença. De qualquer forma, fiz esse pequeno reparo em discursos feitos nesta tribuna por quem defende avanços e progressos, mas se posiciona contra a pesquisa científica, inclusive na questão dos transgênicos.

            A resistência ao novo faz parte da natureza, inclusive da natureza humana. Mas devemos nos apropriar daquilo que a ciência pode nos trazer de benefício, especialmente quando salva vidas. Não fazê-lo, no combate ao mosquito transmissor da dengue - que provocou surtos no passado, a epidemia do presente e nada indica que não venha a produzir no futuro - é uma irresponsabilidade.

            Faço um apelo: acreditemos na ciência e na tecnologia. Precisamos trilhar novos caminhos. É preciso ousar.


            Modelo14/23/2411:20



Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/03/2002 - Página 2106