Discurso durante a 18ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à personalidade narcisista do Presidente Fernando Henrique Cardoso e suas estratégias para permanecer no poder. Comentários ao artigo do jornalista Ricardo Amaral e Layrce Lima, do Jornal Valor Econômico, que faz relação das viagens do Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Autor
Lauro Campos (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Lauro Álvares da Silva Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Críticas à personalidade narcisista do Presidente Fernando Henrique Cardoso e suas estratégias para permanecer no poder. Comentários ao artigo do jornalista Ricardo Amaral e Layrce Lima, do Jornal Valor Econômico, que faz relação das viagens do Presidente Fernando Henrique Cardoso.
Publicação
Publicação no DSF de 13/03/2002 - Página 2110
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, OBEDIENCIA, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), EXCESSO, VIAGEM, EXTERIOR, RECOLHIMENTO, MEDALHA, LEITURA, RELAÇÃO, SUPERIORIDADE, CONCESSÃO HONORIFICA.

  SENADO FEDERAL SF -

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SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, é com certa tristeza e desalento que volto a esta tribuna para traçar uma crítica, uma análise - que eu gostaria não fosse esta - a respeito de uma pessoa que conheci, em 1975. No dia em que a conheci, ainda cheirava a pólvora o seu instituto, em São Paulo, o instituto presidido pelo Professor Fernando Henrique Cardoso - aposentado com vencimentos integrais aos 38 anos de idade. Jamais perturbado pelo regime militar, jamais expulso ou perseguido neste País - ao contrário -, com 38 anos, ele teve uma aposentadoria com vencimentos integrais.

            Naquela ocasião, conversamos longamente. Ele era apenas um professor aposentado, com tempo disponível. Almoçamos juntos. E eu sempre fui, como tenho demonstrado aqui durante oito anos, um excelente escutador. Naquele dia, pude treinar essa minha capacidade de escutar. O Professor Fernando Henrique Cardoso falou quase que ininterruptamente, durante todo o tempo, por umas três horas, de sua inteligência antes de ingressar na Universidade de São Paulo como aluno, de sua genialidade manifestada na Sorbonne e de sua grande capacidade intelectual, depois que voltou da Sorbonne. Fiquei perplexo, porque, na minha vida, conheci apenas uma pessoa, antes dele, que era um adorador tão profundo de si mesmo, um admirador do espelho, um ser obviamente dominado não apenas pela volonté de puissance. Dessa forma, o caso não seria propriamente para Freud, mas talvez para Adler, discípulo de Freud, que coloca esse protesto de afirmação, essa vontade de poder como o traço mais marcante da sociedade moderna. Adler dá mais ênfase a esse aspecto da afirmação narcísica no seu extremo do que propriamente às pulsões sexuais e ao pansexualismo de seu mestre Freud. Então, no caso, parece-me que realmente se trata de uma pessoa mais definida e analisada sob a lente de Adler do que de Freud.

            Essas pessoas, esses seres encaminham-se para o espelho político, onde miram a sua eterna juventude. O Presidente Fernando Henrique Cardoso é o único septuagenário juvenil que o mundo já produziu. Mais de 70 anos de idade, porém, naquela juventude, mocidade, elegância. Já escrevi isso sobre outro Fernando: o narciso ignora, ou melhor, o narciso desconhece o tempo e a idade, que transformam sua beleza nas rugas e na decadência da velhice. Então, ele é o eterno jovem. Não pode envelhecer. Tem que ignorar que já passou oito anos na Presidência da República. Tem que ignorar isso porque é uma necessidade interna, psicológica de sua característica adleriana.

            Sendo assim, percebemos que, na percepção dele, o tempo não passou. E acrescento ainda: não acredito, mas dizem que ele foi até fazer uma consulta ao Supremo Tribunal Federal - onde já se encontram alguns de seus antigos auxiliares e apaniguados -, para saber se não há um jeito de mais um “mandatozinho”. Aqueles que afirmam isso dizem que ele está queimando os concorrentes. E os concorrentes são aqueles dos Partidos da Base que o apóiam. Na semana passada, ele já queimou um. E o candidato que elegeu como adversário é, declaradamente, o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva. Trata-se, pois, de uma personalidade interessante. Agora, por exemplo, foi ao Ceará, onde se reuniram alguns organismos internacionais comandados pelo Fundo Monetário Internacional, e lá afirmou que o FMI pensa que somos idiotas, como se ele, durante oito anos, não houvesse feito o dever de casa. Quem diz que está fazendo o dever de casa não somos nós, da Oposição. Essa expressão é deles mesmos, dos técnicos do Governo, com anuência de Sua Excelência o Presidente da República. Estamos fazendo o dever de casa, tudo que seu mestre mandar, tudo que o FMI nos aconselhar. Portanto, obviamente, estamos vendo agora uma tentativa de dizer que é desobediente, que não faz dever de casa, que não é idiota, que entende que o FMI está querendo enterrar o Brasil, como já fez com vários países da América Latina, principalmente a Argentina, que se encontra numa situação deplorável.

            O que eu queria dizer hoje a respeito dessa personalidade tão rara é que, embora o Papa João Paulo II tenha recebido como missão viajar, levar a fé, implantar ou reimplantar a fé dos católicos apostólicos romanos pelo mundo afora, o Papa João Paulo II viajou menos que o Presidente da República.

            O que eu já desconfiava encontra-se aqui, em um estudo a esse respeito, que informa: “Fernando Henrique Cardoso, o Presidente que mais viajou para o exterior na História do Brasil, encerrará seu governo de oito anos com praticamente um ano dedicado a viagens para fora do País”.

            Parece, então, que, realmente, o mandato é curto. Sua Excelência deseja mais mandato, porque passou um ano lá fora, como está aqui, fora do País. É o que demonstra a reportagem assinada por Ricardo Amaral e Layrce Lima, publicada pelo jornal Valor Econômico, nesta segunda-feira. Desde que tomou posse, Fernando Henrique deixou o Brasil 88 vezes para 121 viagens oficiais a 44 países, além de 3 visitas à sede da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque. O mundo ficou pequeno para o seu desejo alado de viajar, de ser homenageado em suas viagens, de colher louros e encontrar espelhos onde mirar o seu narcisismo. A média anual de viagem do Presidente é 2,7 vezes superior à do Papa João Paulo II. O Presidente é recordista mundial em quilometragem aérea.

            “A diplomacia presidencial foi instrumento que favoreceu muito o acesso a novos mercados, a conquista de investimentos e a conquista de mais espaço para o Brasil nas decisões internacionais”, explica o Embaixador Eduardo Santos, assessor especial da Presidência da República para relações internacionais.

            Depois dessa leitura, farei uma afirmativa, que é quase uma denúncia, de que o Presidente Fernando Henrique Cardoso tem-se valido do poder da Presidência, do despotismo, do autoritarismo e das verbas presidenciais para colher, mundo afora, principalmente no meio acadêmico, honrarias, medalhas, títulos de honoris causa, doutor de borla e capelo das universidades, que passo a ler, se tiver tempo.

            Há, portanto, e não pode ser mera coincidência, um divisor de águas: existia um ser normal, ainda na planície, que granjeara alguns poucos títulos acadêmicos; mas, agora, depois da Presidência, tem muita gente trabalhando para que o Presidente Fernando Henrique Cardoso fature academicamente os seus títulos, honrarias, brasões e medalhas:

      Cidadão Honorário de Jaraguá do Sul; Cidadão Itaguaiense, Itaguaí; Ordem do Mérito Grão Pará (Grande-Colar); Ordem do Mérito do Xingu; Cidadão Honorário de Joinville; Comenda Coronel Esperidião Rodrigues - Membro Honorário da Academia Brasileira de Ciência Política; Ordem do Mérito Pantaneiro; Medalha do Mérito da Justiça Eleitoral do Rio de Janeiro; Hóspede Oficial do Município de Santa Maria; Palmas Acadêmicas, Academia Brasileira de Letras; Cidadão de Rosário; Cidadão Tocantinense; Cidadão Petropolitano; Medalha Mérito Santos Dumont; Medalha da Academia Nacional de Medicina; Cidadão Honorário do Estado de Alagoas; Ordem do Mérito Judiciário Militar (Grã-Cruz); Medalha Cruz de Ferro; Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho (Grão-Colar); Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho (Grã-Cruz); Ordem do Mérito Brasília; Ordem do Mérito Forças Armadas (Grã-Cruz); Ordem de Rio Branco (Grã-Cruz); Ordem do Mérito Militar (Grã-Cruz); Ordem do Mérito Naval (Grã-Cruz); Ordem do Mérito Aeronáutico (Grã-Cruz); Ordem do Mérito de Tocantins (Grande-Oficial); Eleito Professor Emérito da Universidade de São Paulo. Em 1987 recebeu a Ordem do Mérito do Congresso Nacional; Ordem do Mérito Aeronáutico; Ordem do Mérito Educativo; Ordem do Mérito Naval; Ordem do Mérito Brasília; Ordem de Rio Branco (Grande-Oficial); Medalha Anchieta; Medalha Mérito Tamandaré; Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho (Grande-Oficial); Medalha Brigadeiro Tobias, Polícia Militar, Estado de São Paulo; Ordem do Mérito Forças Armadas (Grande-Oficial); Ordem do Mérito Militar; Ordem Nacional do Mérito (Grã-Cruz); Ordem da Cruz Dupla Branca Primeira Classe, Eslováquia (Grã-Cruz); Ordem Rei Abdul Aziz, Arábia Saudita; Ordem Nacional “Steaua României”, Romênia (Colar); Hóspede de Honra da Cidade de Cartagena de Indias, Colômbia; Prêmio “Príncipe das Astúrias de Cooperação Internacional 2000”, Espanha; Prêmio do Mérito da Association des Comités Nationaux Olympiques; Medalha de Ouro, Câmara Municipal de Santarém, Portugal; Visitante Ilustre, Ciudad Guayana, Estado Bolivar, Venezuela; Ordem Nacional “Juan Mora Fernández”, Costa Rica; Ordem “Francisco de Miranda”, Venezuela; Ordem “Condor de los Andes”, Bolívia; Ordem do Infante D. Henrique, Portugal (Grande-Colar); Hóspede de Honra da Cidade de Lima, Peru; Ordem do Elefante, Dinamarca (Grã-Cruz); Ordem “Al Mérito por Servicios Distinguidos”, Peru (Grã-Cruz Especial); Medalha da Fundação Rotária do Rotary Internacional; Medalha de Ouro da Câmara dos Deputados, Espanha; Hóspede de Honra da Província de Tierra del Fuego, Antártida e Islas del Atlántico Sur, Argentina; Insígnia da “American Society Gold Medal”, Estados Unidos; Certificado “Ao Mérito”, Círculo Chileno Brasileiro de Integração Latino-Americana; Prêmio “Felipe Herrera Lane”, Santiago de Chile; Ordem “Isabel la Católica”, Espanha (Grã-Cruz); Medalha de Ouro de Galícia, Espanha; Doutor “Honoris Causa”, Ciência Econômica, “London School of Economics and Political Science”, Universidade de Londres; Ordem do Banho; Ordem Militar de Santiago da Espada, Portugal; Ordem do Mérito Libanês; Doutor Honoris Causa, Universidade Soka, Japão; Prêmio Interamericano de Liderança de 1997, Fundação Pan-americana de Desenvolvimento da Organização dos Estados Americanos, Washington; Ordem do Mérito da República da Hungria (Grã-Cruz); Ordem da Rosa Branca, Finlândia (Grã-Cruz e Grande-Colar); “Equitem Torquatum Ordinis Piani”, Santa Sé (Grande-Colar); Doutor “Honoris Causa”, Faculdade de Ciências Políticas da Universidade “degli Studi”, Bolonha, Itália; Ordem da Boa Esperança, República da África do Sul; Grande Ordem de Mugunghwa, Coréia (Colar); Prêmio Internacional Soka Gakkai, Paz e Cultura; Ordem Nacional do Mérito, Paraguai (Colar Mariscal Francisco Solano López); Hóspede de Honra, Governo da Província de San Luis, Argentina; Hóspede de Honra, Cidade de San Luis, San Luis, Argentina; Hóspede de Honra, Cidade de Juana Koslay, San Luis, Argentina; Medalha da Reitoria das Universidades de Paris, “Légion d’Honneur”, França; Doutor “Honoris Causa”, Universidade “Lumière Lyon 2”, França; Ordem do “Libertador San Martin”, Argentina; Doutor “Honoris Causa”, Universidade Sofia, Japão; Ordem Suprema do Crisântemo, Japão; Ordem El Sol del Perú, Peru (Grã-Cruz com brilhantes); Hóspede de Honra, Cidade de México; Ordem “Águila Azteca”, México (Colar); Ordem de Honra da Estrela Amarela, Suriname (Grã-Cruz e Grande-Colar); Ordem “Darjah Utama Seri Makhota Negara”, Malásia (Colar), Ordem do Príncipe Iaroslav, “o Sábio, Ucrânia (Grande-Colar), Hóspede de Honra, Cidade de San Carlos de Bariloche, Argentina, Medalha do Rotary Internacional, Doutor “Honoris Causa”, Faculdade de Ciência Política, Universidade Livre de Berlim, Alemanha, Ordem do Mérito da República Federal da Alemanha (Grã-Cruz), Doutor “Honoris Causa”, Faculdade de Ciências, Universidade de Porto, Portugal, Ordem da Liberdade, Portugal (Grande-Colar), Doutor “Honoris Causa” - V. Exªs têm que suportar essa leitura porque fomos nós que pagamos por isso -, Faculdade de Ciências Econômicas e Sociais, Universidade Central de Venezuela, Caracas, Venezuela, Ordem do Libertador, Venezuela (Grande-Colar), Ordem do Mérito da República Italiana (Grã-Cruz e Grande-Colar), Medalha da República, Uruguai, Medalha do Lions Clube Internacional “Vecino Ilustre”, Santiago do Chile, Ordem do Mérito, Chile (Grande-Colar), Ordem do Mérito da República Polonesa, Polônia (Grã-Cruz), Hóspede de Honra, Província de Misiones, Ordem Nacional do Mérito, Equador (Grã-Cruz), Ordem de Boyacá, Colômbia (Grã-Cruz), Ordem do Mérito, Chile (Grã-Cruz), Doutor “Honoris Causa”, Universidade de Chile, Doutor “Honoris Causa”, Universidade de Notre Dame, Indiana, USA; Ordem do Mérito de Portugal, Portugal (Grã-Cruz), eleito Membro da Associação Internacional “Maison d’Auguste Comte”, França, “Légion d’honneur”, França (Cavaleiro), Ordem “Aguila Azteca”, México (Banda), Eleito “Foreign Member” da “American Academy of Arts and Sciences”, Cambrigde, USA, Palmes Académiques, França, Professor do Collège de France, Paris, “Honoris Causa Degree of Doctor of Laws”, Rutgers, Universidade do Estado de New Jersey, USA, Membro Visitante, “Institute for Advanced Study”, Princeton, New Jersey, USA.

            Creio que essa relação fala por si. Não pode ter sido uma descoberta do mundo depois da posse do Presidente porque 99% desses títulos foram conferidos após a posse do Presidente e tanto mais se organizou um sistema de coleta, de conquista. Se Sua Excelência tivesse tido correspondências, entabulado conversações, agradecido pessoalmente todas essas comendas, não teria feito mais nada durante esses ligeiros sete e poucos anos que passou na Presidência da República.

            De modo que é suspeitísismo que haja pessoas intelectuais que estudaram nos quatro cantos do mundo, que têm seus conhecimentos e que os utilizaram para fornecer esses títulos, medalhas e brasões que foram depositados aos pés de sua majestade, o Presidente Fernando Henrique Cardoso.

            Somente Adler pode entender o que é esse impulso, essa punção. De acordo com Adler, é o contrário que se esconde nessa personalidade que se afirma a cada momento. É uma fraqueza que, de acordo com ele, a pessoa sente e que o obriga compulsivamente, compulsoriamente, infinitamente a ter de se sentir grande, forte, à altura.

            Assim sendo, naquele almoço de 1975, em São Paulo, senti que estava diante de uma personalidade muito especial, muito particular, com uma punção fantástica de afirmação.

            Vou terminar recontando apenas o seguinte: a sua última viagem - e penso que tenha sido a última, a não ser que ele tenha viajado de ontem para hoje - foi à Polônia, onde recebeu um título de Doutor “Honoris Causa”, como aconteceu em todos esses lugares a que me referi. E aqui nesta relação não está ainda esse título recebido agora, na semana passada, na Polônia. Lá fizeram para ele um mural de bronze, onde estava inscrita aquela efeméride, aquela cerimônia, em que Sua Majestade, o Presidente Fernando Henrique Cardoso, estava recebendo ali o título de Doutor “Honoris Causa”. Lá estava escrito - e vi no noticiário da Globo - que tinha sido agraciado o Dr. Fernando Henrique “Cardosa”. A Universidade que lhe concedeu o título Doutor “Honoris Causa” não soube escrever o nome correto de Sua Excelência. Assim, em cada uma dessas, promove-se a tradução de um livro de Sua Excelência, quase sempre aquele que escreveu em parceria com seu colega do Chile sobre o desenvolvimento econômico na América Latina.

            É lamentável e lastimável que só agora, no final de seu Governo, Sua Excelência resolva dizer que não está ajoelhado, referendando e aplicando sobre o povo brasileiro o receituário que o FMI fez cair sobre a Argentina desde Domingo Cavallo, em 1990, e sobre outros países que não resistiram à dose do cavalar remédio. Agora, Sua Excelência diz que o FMI pensa que somos idiotas, mas Fernando Henrique já falou que o somos. Portanto, quem não é idiota é apenas Sua Excelência. Quem de nós mortais tem fôlego para ler tantas medalhas e brasões recolhidos mundo afora?

            Obviamente, dois mandatos são pequenos, estreitos, limitados para tanto saber, para tanta honraria, para tanta grandiloqüência. Fernando Henrique Cardoso é o mais jovem dos septuagenários. Com 71 anos de idade, conserva a jovialidade que o retrato de Dorian Gray escondia. O narciso não pode envelhecer, porque, senão, no espelho, verá as suas rugas e os seus cabelos brancos. Como o retrato de Dorian Gray, é a sociedade brasileira que recolhe o envelhecimento. É na cara do povo que o envelhecimento, tal como no retrato de Dorian Gray, é depositado - o envelhecimento precoce, a morte que chega apressada para os pobres, para os miseráveis e para aqueles que jamais sonharam com as iguarias e as delícias do Primeiro Mundo.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


            Modelo15/8/248:02



Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/03/2002 - Página 2110