Discurso durante a 20ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Equívoco na atribuição ao PSDB da responsabilidade por todos os males do País. Esclarecimentos a respeito da continuidade do processo de obstrução pelos partidos que compõem a base de sustentação do Governo. (como Líder)

Autor
Artur da Tavola (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/RJ)
Nome completo: Paulo Alberto Artur da Tavola Moretzsonh Monteiro de Barros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. SENADO.:
  • Equívoco na atribuição ao PSDB da responsabilidade por todos os males do País. Esclarecimentos a respeito da continuidade do processo de obstrução pelos partidos que compõem a base de sustentação do Governo. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2002 - Página 2280
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. SENADO.
Indexação
  • ANALISE, POLITICA PARTIDARIA, PERIODO, ANTERIORIDADE, ELEIÇÕES, CANDIDATURA, JOSE SERRA, EX MINISTRO DE ESTADO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, CONFLITO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), EXPECTATIVA, ENTENDIMENTO, BENEFICIO, QUALIDADE, GOVERNO.
  • COMENTARIO, POSSIBILIDADE, COLIGAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), SENADO.
  • REGISTRO, IMPORTANCIA, VOTAÇÃO, PAUTA, ESPECIFICAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO PROVISORIA SOBRE A MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA (CPMF), RENEGOCIAÇÃO, DIVIDA AGRARIA.

O SR. ARTUR DA TÁVOLA (Bloco/PSDB - RJ. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras e Srs Senadores, V. Exª já denotou a falta de quorum, por obstrução. Então, nessa condição, Sr. Presidente, quero dizer à Casa que nós, do PSDB e do Governo, estamos extremamente armados da santa arma da paciência, da tolerância e da compreensão para - não digo nem enfrentar - nos defrontarmos com algo que começa a medrar na vida brasileira: a responsabilização do PSDB, do Governo, por todos os males do País, o que há mais de sete anos vem sendo feito, aliás de maneira infrutífera, pela Oposição, e também, sobretudo em um momento eleitoral, a dificuldade de se constatar que o País começa a conhecer o candidato à Presidência da República do PSDB. E como ele, por causa desse reconhecimento, vai tendo resultados expressivos, passa-se ao PSDB, a ele, a eiva de estarem em conspirações absolutamente fabulosas, excepcionais para livros policiais, mas sem nenhum contato com a realidade.

Nosso ilustre Senador Antonio Carlos Valadares, homem de bem, até suspeita que as suas conversas telefônicas estão sendo escutadas possivelmente pelo próprio Sr. José Serra. Agora, entraremos em um período para o qual temos de estar preparados com paciência.

A questão da obstrução aqui não se refere a um desleixo por essa matéria. A Senadora Heloísa Helena e o Senador Antonio Carlos Valadares têm razão quanto ao mérito dessa matéria. Ela está sendo feita em função de uma outra obstrução, que, a meu ver, até merece ser objeto de meditação pelo Partido de V. Exª, o PFL, que, tendo sido um colaborador excepcional da governabilidade, fiel, leal, companheiro, ético, agora, por razões circunstanciais e - acredito - de momento, porque elas passarão quando a verdade e o tempo estabelecerem os fatos, numa reação de primeiro momento a uma situação determinada não causada por nós, está com uma obstrução à CPMF na Câmara dos Deputados.

            Não podemos correr o risco de votar aqui uma matéria que seguramente terá emendas, como é o caso dessa medida provisória. E essas emendas serão aprovadas. A chamada base do Governo aqui está momentaneamente com um número de Senadores em diminuição, e a matéria voltará ou voltaria à Câmara Federal. Pela própria legislação referente às medidas provisórias - que, a meu juízo e ao de muita gente, deve ser mudada -, essa matéria trancará a pauta da Câmara Federal por ter prioridade. Assim sendo, a questão da CPMF, uma vez mais, ficará adiada.

            O prejuízo é para o Erário e não para o PSDB. O PFL, inclusive, tem dado demonstrações públicas de que não é contrário a essa matéria, até porque já a votou em primeiro turno. É um Partido que só tem colaborado nessa direção. Portanto, se há alguma aliança nova que surge no cenário brasileiro, nem é mais a aliança do PT com os evangélicos mercadológicos, mas é uma aliança que já se esboçou ontem entre o PFL e o PT na Casa contra o PSDB, exclusivamente por motivação de natureza político-eleitoral.

            Esse é um movimento válido. Disse muito bem a Senadora Heloísa Helena ao se referir à nossa minoria, com um ar simpático, de uma ironia leve, suave e afetuosa, como é de suas características. É verdade. S. Exª o diz porque está em lua-de-mel com a maioria. Na aliança que o PT faz nesta Casa com o PFL, estabelecer-se-á, quem sabe, uma nova maioria, e S. Exª verificará como é penoso ser maioria num Parlamento.

            Sr. Presidente, concluirei minhas palavras lembrando que hoje é o Dia do Poeta. Certa vez, escrevi que “tudo aquilo que a vida não resolve a palavra dissolve, e tudo aquilo que a palavra não dissolve a vida resolve”. Joguei com um paradoxo, porque assim somos os poetas.

            Em um momento de tanta luta e de tanta desnecessidade em matéria de exaltação, desejo lançar um apelo aqui, para que o que significa a poesia em profundidade chegue também à classe política. Falo da poesia não no sentido habitual, o da inocência e da ingenuidade, mas no sentido de uma análise mais profunda do ser humano.

            O poeta, Sr. Presidente, é o homem que trabalha com o verso. O que é o verso? O verso é o outro lado das coisas. O verso é o lado não aparente da realidade, em que lateja muitas vezes uma realidade muito mais rica.

            Desejo saudar os poetas do Brasil neste dia. E, do ponto de vista governamental, com ou sem poesia, mas com afetividade, com respeito, com cuidado e com dor por uma separação com o PFL, que é um companheiro de sete anos de luta, um Partido exemplar na luta pela governabilidade, espero que possamos pavimentar um caminho de entendimento, que não precisa ser necessariamente um entendimento político-eleitoral, mas um caminho de entendimento para a continuidade de uma obra administrativa que tem sido fundamental para o País e que por certo continuará a ser porque o bom senso triunfará.

Obrigado, Sr. Presidente


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2002 - Página 2280