Discurso durante a 34ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

INTERPELAÇÃO AO MINISTRO DE ESTADO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, SR. CELSO LAFER.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. COMERCIO EXTERIOR. POLITICA INTERNACIONAL.:
  • INTERPELAÇÃO AO MINISTRO DE ESTADO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, SR. CELSO LAFER.
Publicação
Publicação no DSF de 05/04/2002 - Página 3825
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. COMERCIO EXTERIOR. POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, POSSIBILIDADE, CONTRIBUIÇÃO, SENADO, SOLUÇÃO, PROBLEMA, EXPORTAÇÃO, AÇO, BUSCA, PAZ, ORIENTE MEDIO.
  • AVALIAÇÃO, POLITICA INTERNACIONAL, CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • APREENSÃO, DEMORA, NEGOCIAÇÃO, ALTERAÇÃO, SALVAGUARDA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), SUGESTÃO, SOBRETAXA, IMPORTAÇÃO, PROTEÇÃO, AÇO, BRASIL, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMERCIO (OMC).
  • APROVAÇÃO, POLITICA EXTERNA, BRASIL, REFERENCIA, CONFLITO, ORIENTE MEDIO, ANALISE, POSSIBILIDADE, PRESENÇA, TROPA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU).

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Sr. Presidente, Sr. Embaixador, também trago aqui uma palavra de respeito ao Itamaraty e ao trabalho de V. Exª. Sou daqueles que, ao longo de muitos anos, respeita o trabalho da Chancelaria brasileira.

Penso que até nos momentos mais difíceis, como no regime militar, ela se portou com dignidade e vem desempenhando um papel realmente muito importante.

Gostaria de perguntar a V. Exª em que o Senado Federal poderia contribuir para que, neste momento, se resolva o contencioso do aço com os Estados Unidos e a crise dramática no Oriente Médio. E é uma pena que os dois assuntos sejam tratados juntos. Na verdade, sei que V. Exª não tem tempo, mas deveríamos conversar sobre o aço e, em outro dia, sobre o Oriente Médio, porque os dois temas são quase incompatíveis. Todavia, consideramos que podemos participar da discussão dos dois assuntos.

Em relação ao aço, entendemos que a medida imposta pelos Estados Unidos foi unilateral, quase grosseira. O Presidente Bush, que, aliás vem se mostrando paroquiano, se recusa a assinar o Protocolo de Kyoto, que o mundo inteiro quer ver em vigor, por entender que prejudica os interesses, o desenvolvimento da indústria americana. Houve o atentado às torres do World Trade Center, episódio que o mundo inteiro lamentou, contra o qual todo mundo protestou, chorou. E Bush então, no espaço de poucas semanas, praticamente liqüida com o Afeganistão. As atitudes do Presidente Bush, ao longo da sua administração, realmente têm sido muito complicadas, complexas. É uma pessoa que não nos parece ter a preocupação maior de estadista, como até, de certa forma, teve o seu antecessor. Mas, neste momento, a atitude de Bush com relação ao aço brasileiro nos atinge de uma maneira muito dura.

Na indústria brasileira do aço, com as privatizações, foram investidos mais de US$15 bilhões. Está em pleno desenvolvimento. O nosso aço é da melhor qualidade, com custo mais baixo. Os americanos, sem mais nem menos, impõem-nos uma taxação dessas. Pelo que me consta, haveria um excedente de US$2 bilhões em nossas exportações. Agora, há dificuldade nos Estados Unidos e facilidade das importações. Vejo aqui que praticamente o mundo inteiro já adotou uma sobretaxa. O México estabeleceu uma alíquota de 35%, para se garantir. A Venezuela, 30%. A Tailândia, o Chile, a Colômbia, o Canadá, outro tanto. E a União Européia, 26%. Com isso, há uma oferta de aço inclusive para nós, aqui no Brasil.

Então, com todo respeito a V. Exª quando diz que as negociações são interessantes, dado o estilo do governo americano, perguntamos se não seria o caso de estabelecermos uma sobretaxa, protegendo assim o nosso aço, como todos os outros praticamente o fizeram. E não seria o caso de irmos à OMC, porque esperar pela bondade, por um ato de grandiosidade, de respeito por parte do atual governo americano não nos parece ser o melhor caminho?

Por isso, perguntaria a V. Exª se podemos nós, do Congresso Nacional, juntamente com a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, elaborar uma moção que vá além do que o Governo Exª está fazendo. Tem V. Exª tarimba, experiência, está acompanhando o desenrolar dos fatos e diz que o caminho são as negociações.

Com todo o respeito, entendemos que, com mais firmeza, fazendo o que os europeus e os outros fizeram, fixando uma sobretaxa ao aço importado, seria muito significativo e importante para o Brasil.

Penso que as manifestações do Presidente da República e de V. Exa são muito claras em relação ao que está ocorrendo no Oriente Médio. O que lá se vê já extrapolou tudo o que podíamos imaginar. É algo inédito o que lá ocorre, após dois mil anos de guerras e lutas. Pela primeira, a Igreja da Natividade, em Belém, berço de Jesus Cristo, está sendo ameaçada de bombardeio. Então, o Presidente George Bush aqui também está tendo uma atitude que me parece absurda. Ao se omitir, Bush deixa a impressão de que aguarda primeiro a destruição da Autoridade Palestina por Israel para ver depois o que fazer. É algo que choca realmente.

É claro que divergimos da atitude de palestinos e israelenses. Por um lado, os suicidas palestinos lá estão numa posição que não é a ideal, porque causa conflito e dá o pretexto para que o Primeiro-Ministro israelense aja como deseja. Parece-me que o mundo está a assistir a um massacre, quase que uma guerra de extermínio. Por outro lado, ressalto que tenho o maior respeito pelos judeus, que considero um grande povo, que viveu, sofreu, que tem conteúdo, capacidade, e não merece o atual Primeiro-Ministro, o qual não está assumindo a atitude adequada para sanar o problema. O Estado de Israel terá que prestar contas futuramente daquilo que a insanidade de um homem está operando.

Não tenho nada a acrescentar àquilo que o nosso País está fazendo, que aprovo. Como o Senado Federal pode colaborar? O ideal seria, inclusive, o envio de tropas. Em nenhum outro conflito ocorrido no mundo vislumbrei possibilidade mais urgente e necessária da presença de tropas da ONU. O Governo brasileiro talvez possa oferecer o auxílio de tropas brasileiras, e o Brasil tem autoridade, pois não existe lugar no mundo onde haja maior convivência entre árabes e israelitas do que aqui. O Presidente Fernando Henrique Cardoso já tem uma presença marcante no cenário internacional. Se avançasse nesse sentido, talvez fosse o momento oportuno de fazermos algo, para, pelo menos, ficarmos em paz com a nossa consciência. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/04/2002 - Página 3825