Discurso durante a 65ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Importância do trabalho dos imigrantes para o desenvolvimento sócio-econômico do Paraná.

Autor
Alvaro Dias (PDT - Partido Democrático Trabalhista/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO PARANA (PR), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Importância do trabalho dos imigrantes para o desenvolvimento sócio-econômico do Paraná.
Publicação
Publicação no DSF de 22/05/2002 - Página 8795
Assunto
Outros > ESTADO DO PARANA (PR), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • COMENTARIO, ANTERIORIDADE, IMPORTANCIA, TRABALHO, IMIGRANTE, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, ESTADO DO PARANA (PR).
  • CRITICA, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO PARANA (PR), AUSENCIA, INVESTIMENTO, AGRICULTURA, AUMENTO, DESEMPREGO, RESULTADO, RETORNO, IMIGRANTE, ORIGEM, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, REDUÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. ÁLVARO DIAS (PDT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Brasil como um todo, e o Paraná, no particular, sempre foi visto como uma terra de oportunidades. A partir do século XIX, as correntes migratórias se integraram como um só corpo, buscando fazer da esperança e do trabalho um hino de construção para uma vida melhor. O êxito foi indiscutível. E quem com isso ganhou foi a terra brasileira. Aqui constituíram uma nova civilização, plenamente integrada com os valores maiores da nacionalidade. Italianos, espanhóis, portugueses, árabes, japoneses, enfim, de quase todo o mundo, fizeram o caminho da busca da terra prometida.

Infelizmente, hoje, muitos estão fazendo o caminho de volta através de seus filhos e netos. É uma realidade triste e brutal. São famílias divididas nessa antidiáspora, provocada pela falta de uma política de desenvolvimento que absorva os vários milhares de jovens, que não encontram respostas num mercado de trabalho inexistente. O desenvolvimento é o nome da paz e da integração de um país, principalmente no nosso caso, uma realidade em construção, em que tanta coisa está por fazer e precisa ser feita. É um país em construção.

A colônia nipônica, a partir de 1912, quando aportou em Santos o navio Kasato-Maru, trazendo os primeiros imigrantes, integrou-se à nossa realidade com benefícios que se estendem até os dias atuais. Os velhos pioneiros legaram aos seus descendentes o valor da ética do trabalho, fazendo da fé no amanhã a certeza da edificação de um tempo de prosperidade, aliado à disciplina dos valores morais, fecundados em princípios inegociáveis. A educação e a formação profissional e humana é uma das grandes características que plasmaram os vários milhões de nisseis e sanseis, que se tornaram brasileiros dos mais úteis para o desenvolvimento brasileiro.

No Paraná, particularmente, a situação do jovem nissei e sansei assumiu proporções de verdadeira calamidade. São milhares os que fazem o caminho de volta na busca do emprego e da oportunidade que lhes falta no nosso Estado. O norte e o oeste do Paraná muito devem da sua prosperidade e progresso ao afirmativo trabalho da colônia nipônica. A agricultura foi a matriz de desenvolvimento do Estado nas últimas décadas, sobretudo naquelas regiões. E a presença pioneira desses autênticos “samurais modernos” foi fator determinante para o pleno êxito do desafio enfrentado e vencido com hercúlea tenacidade.

Hoje, a falta de uma política de desenvolvimento agroindustrial que agregue e incorpore riqueza tem sido um grave equívoco para a economia paranaense. A sua base econômica, que se moderniza num novo perfil industrial, não pode significar a redução da importância da atividade agrícola, que, por muito tempo, ainda continuará sendo o fundamento maior da riqueza do Paraná.

Essa falta de uma estratégia que contemple o Paraná como um todo, explorando as suas vocações regionais, vem sendo o principal responsável pelo êxodo dos milhares de jovens nisseis e sanseis que, na falta de perspectivas, voltam à terra insular dos seus ancestrais. Perdem o Paraná e o Brasil com a fuga de promissores e qualificados jovens, que muito teriam a contribuir, a exemplo do seus pais e avós, para o nosso desenvolvimento.

A triste partida desses jovens é uma perda irreparável, não apenas para as suas famílias, mas para o próprio Brasil. São talentos, inteligências e competências que, num país carente como o nosso, partem na busca do êxito que aqui se lhes é negado. Alguns têm relativo sucesso profissional, mesmo carregando a amargura da separação. Infelizmente, para a grande maioria, o sucesso não bate à porta com a mesma intensidade. O sofrimento e a desilusão passam a freqüentar o cotidiano de uma angústia sem fim. Alguns vivem uma vida de marginalidade atentadora à própria dignidade humana. Muitos têm dificuldades de fazer o retorno desejado. Enfim, Sr. Presidente, uma realidade que nos agride a todos!

A causa principal desses desajustes não é externa. Ela está presente no nosso dia-a-dia. O Brasil não pode ser unicamente uma realidade financeira, como vem sendo nos últimos anos. É fundamental fazer do investimento, do crescimento e do desenvolvimento o único mecanismo estancador dessa brutal realidade.

Não são apenas os nisseis e sanseis que têm partido nos últimos anos. Jovens, filhos e netos, de outras etnias têm procurado a porta de saída como último recurso para vislumbrarem a perspectiva de construção de uma vida digna.

São várias, às centenas, que buscam nas embaixadas e consulados passaportes de oriundis, sobretudo em direção à velha Europa. Qualificados por um nível de educação superior, as suas inteligências são postas a serviço das nações desenvolvidas, num prejuízo incalculável para uma nação emergente como o Brasil.

Tudo isso precisa ter fim e o seu enfrentamento não é impossível. Ao contrário, neste continente brasileiro, as oportunidades existem. O que falta é a ação de políticas públicas desenvolvimentistas que se acople ao verdadeiro destino nacional: um país dotado de potencialidades e recursos como poucos no mundo.

Nos últimos setenta anos, um articulado projeto nacional de desenvolvimento gerou o Brasil moderno. Em 1930, quando a renda per capita brasileira era de 130 dólares, a da Argentina era de mil e duzentos e setenta dólares. Contemplem hoje a realidade dos dois países.

            Lamentavelmente, na última década de globalização assimétrica, o Brasil deixou de crescer na sua média histórica. A principal causa para os desajustes estruturais que estamos vivendo tem aí a sua única e definitiva causa.

Sr. Presidente, este pronunciamento é uma homenagem aos oriundis, especialmente, da velha Europa que contribuíram de forma decisiva para o desenvolvimento econômico e social do Paraná; mas, acima de tudo, é uma homenagem aos nisseis e sanseis que, especialmente no norte do Paraná, vivem o drama daqueles que, desejando prosperar e desenvolver-se, enfrentam hoje terríveis dificuldades, com a ausência de oportunidades de trabalho e de vida digna.


Modelo1 4/18/242:41



Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/05/2002 - Página 8795