Fala da Presidência durante a 69ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM A CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL - CNBB, PELO TRANSCURSO DOS 50 ANOS DE SUA FUNDAÇÃO.

Autor
Ramez Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Ramez Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM. IGREJA CATOLICA.:
  • HOMENAGEM A CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL - CNBB, PELO TRANSCURSO DOS 50 ANOS DE SUA FUNDAÇÃO.
Publicação
Publicação no DSF de 24/05/2002 - Página 8998
Assunto
Outros > HOMENAGEM. IGREJA CATOLICA.
Indexação
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB).
  • COMENTARIO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, SOLENIDADE, IGREJA CATOLICA, CONCESSÃO, TITULO, HOMENAGEM, IRMÃ DE CARIDADE, BRASIL, ELOGIO, ATUAÇÃO, PAPA.
  • ELOGIO, ASSISTENCIA RELIGIOSA, ASSISTENCIA SOCIAL, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), ESFORÇO, REDUÇÃO, MISERIA, FOME.

O SR. PRESIDENTE (Ramez Tebet) - Srªs e Srs. Senadores; autoridades eclesiásticas, o Senado já falou pela voz autorizada de todas as Lideranças partidárias.

Assim sendo, como Presidente desta Casa, peço licença apenas para evocar um testemunho.

Tenho vivido intensamente a minha vida pública, como Prefeito municipal da cidade em que nasci, como Deputado Estadual, como Vice-Governador, como Governador e como Senador. Tem sido uma vida cheia de emoções: emoções de tristeza e emoções de alegria; de obstáculos e dificuldades a serem superados, da alegria do dever cumprido, de fatos bons e fatos horríveis, que, às vezes, se impõem aos homens públicos.

Nesta oportunidade, faço apenas um testemunho. Entre os que aqui estão presentes, pelo menos do Senado da República, creio que fui realmente privilegiado. Creio ter sido o Presidente desta Casa que teve a magnífica oportunidade de estar com Sua Santidade, o Papa João Paulo II, em recente visita ao Vaticano, por ocasião da cerimônia da canonização de Madre Paulina.

Aquele senhor, aparentemente alquebrado, que eu vi com a cabeça repousada sobre a lateral do peito, que eu vi com a mão trêmula pelo mal de Parkinson, encarnava, pude perceber, a imagem do Sublime, demonstrada na fortaleza da condução de uma missa de duas horas, saudando os fiéis em vários idiomas. Essa fortaleza naturalmente é proveniente da fé, do sentimento do amor, da fidelidade à missão redentora da Igreja. Ali eu pude constatar, realmente, que a virtude se aperfeiçoa na doença.

Em momentos como aquele, constatei que somente a fé é capaz de mobilizar o sentimento humano contra as desigualdades entre os povos e as pessoas. Estou convicto de que não pode haver outra explicação, que não a da fé, para compreender a manifestação dos muitos brasileiros agitando bandeiras, sob chuva, sem arredar o pé da grande praça de São Pedro, numa viva demonstração do espírito cristão que mora no coração de todos nós, brasileiros. Ao mesmo tempo, não pude deixar de ver naqueles guarda-chuvas abertos a imagem do Brasil, dos sem-teto. Aqueles guarda-chuvas me evocaram o teto que falta a tantos brasileiros.

Diante dessa visão emocionante, não houve como não pensar no doloroso contraste entre o sentimento de paz que nos une e a conturbada e sangrenta situação em que o mundo se encontra. Eu, ali, fiz muitas indagações a mim mesmo. Ali pude sentir o quão a vida é efêmera. E se ela é efêmera, não posso compreender, como ninguém pode, que a riquezas das nações, também sendo efêmeras, por que elas não se ajudam? Por que os ricos não ajudam os mais pobres? Por que os países ricos exploram os mais pobres? Por que tantas sanções comerciais aos países que querem desenvolver-se?

A exploração do pobre pelo rico - perguntei eu - é um fato inexorável da natureza humana? Estaremos, no Brasil, fadados ao conflito social, à injustiça, à miséria de muitos para alimentar a riqueza de poucos? Não posso crer! Não creio, pois compartilho da fé no poder da solidariedade entre os homens. A miséria e a pobreza são a negação do espírito religioso. É preciso melhorar a qualidade de vida da população. E isso não é tarefa que compete só aos que detêm o mandato popular. E isso é o que, a meu ver, a CNBB prega todos os anos em sua Campanha da Fraternidade.

Creio que cabe a nós, políticos, a responsabilidade de agir conscientemente, para dar ao sem-terra a terra de que ele necessita; ao sem-teto, a moradia que o dignifica; ao sem-renda, a remuneração que o sustente; aos que não têm educação, a qualificação que os habilite; aos que não têm saúde, a assistência que os recupere e, principalmente, aos que não têm cidadania, a cidadania que lhes é de direito.

Estou plenamente convencido, minhas senhores e meus senhores, de que toda essa miséria poderá ser superada pelo primado do sentimento religioso, da fé em Deus e nos homens.

Não creio que outra instituição possa encarnar tão bem esse espírito de solidariedade consciente com brasileiros e brasileiras que não a CNBB. Suas ações e suas palavras têm sido e devem ser apreciadas e internalizadas como sábias orientações dos sucessores dos Apóstolos de Cristo para o nosso comportamento diante das graves questões que o nosso País enfrenta.

Desejo concluir este pronunciamento louvando a Deus por nos ter concedido a benção de contar com a ajuda inestimável da CNBB e dos Bispos que a compõem na construção de um Brasil que queremos melhor e rico na sua fé cristã.

Finalmente, rogo a Suas Eminências Dom Jaime Chemello, Presidente da CNBB, Dom Marcelo Pinto Carvalheira, seu vice-Presidente, e Dom Raymundo Damasceno Assis, Secretário-Geral, para que, juntamente com todos os prelados de nosso País, incluam, em suas orações o pedido de uma graça especial, para que, principalmente o Senado da República e, em particular, permitam-me, o seu Presidente, possam ajudar a atender aos legítimos anseios do povo brasileiro.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/05/2002 - Página 8998