Discurso durante a 109ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO FILSOFO GERD BORNHEIM.

Autor
Emília Fernandes (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Emília Therezinha Xavier Fernandes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO FILSOFO GERD BORNHEIM.
Publicação
Publicação no DSF de 11/09/2002 - Página 17459
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, GERD BORNHEIM, PROFESSOR, FILOSOFIA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).

            A SRª EMILIA FERNANDES (Bloco/PT - RS. Para encaminhar a votação. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, o Brasil, na última sexta-feira, mais precisamente no dia 6 de setembro último, perdeu um grande pensador, um grande mestre da filosofia do Brasil. Refiro-me ao gaúcho, nascido em Caxias do Sul, no meu Estado, Gerd Bornheim.

Nasceu em 1929 e formou-se em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em 1969, cassado pela ditadura militar, foi proibido de lecionar em qualquer outra universidade brasileira. Essa situação, que durou dois anos, terminou quando Bornheim foi lecionar na Alemanha e na França, Paris, por quatro anos. De volta ao Brasil, ficou com seu pai em Caxias do Sul e escreveu várias obras. Morreu no Rio de Janeiro, onde morava, na madrugada do dia 6 de setembro, vítima de câncer, aos 72 anos. Era solteiro e deixou duas irmãs, um filho adotivo e um neto.

O professor Gerd Bornheim teve extensa formação em Filosofia. Iniciou seus estudos na PUC, de Porto Alegre, e na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Logo a seguir, a sua primeira experiência internacional no mundo acadêmico foi na Sorbonne de Paris. Esteve também em Oxford, na Inglaterra, e em Freiburg, na Alemanha. Como professor, lecionou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, durante o período da ditadura militar, e na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Lecionou também por um semestre na Universidade de Frankfurt, na Alemanha.

Esse homem foi realmente um professor excepcional, responsável pela formação de algumas das mais importantes cabeças filosóficas do Brasil atual. Amparado por uma formação clássica, destacou-se como estudioso da Fenomenologia em sua vertente francesa e da Filosofia Existencialista alemã. Os seus amigos e mestres afirmam que, apesar dos reveses que sofreu, como o veto para lecionar na UFRGS na volta do exílio, sempre foi um homem aberto ao que acontecia no mundo, recebendo com atenção as novidades da Filosofia. Além disso, foi uma pessoa engajada e participativa da vida social, abraçando causas como a resistência à ditadura e mudanças no ensino.

Gerd Bornheim fez elogios à consciência crítica dos brasileiros de hoje e afirmava que “o espírito crítico atualmente é mais intenso que antes, porque amadurecido pelo sofrimento e pela perda de liberdade”. Justificava sua opinião citando Heráclito, que dizia que “se não existisse a injustiça, não conheceríamos nem o nome da justiça”. Ele era um defensor da disciplina da Filosofia. Assim, sempre descartou qualquer possibilidade de decadência em relação à Filosofia. E, nesse sentido, ressaltou o crescente interesse dos professores das Ciências Exatas, que voltaram a buscar a complementação filosófica como estímulo ao pensamento crítico. Defendia também o retorno da disciplina Filosofia aos currículos das escolas de segundo grau.

Durante nossa luta aqui, neste Congresso, para que incluíssemos a Filosofia e a Sociologia no currículo escolar, ele foi um dos que acompanharam atentamente a aprovação da matéria pelo Congresso e o respectivo veto do Presidente da República.

Segundo ele, o ensino da Filosofia deveria constar no currículo das escolas de todos os Estados brasileiros, ajudando os jovens a entenderem a problemática do mundo em toda a sua dimensão e, a partir daí, a encontrarem seu próprio caminho.

Registramos a grande perda nesta oportunidade, Sr. Presidente. Queremos prestar esta homenagem não apenas em nome do povo gaúcho, mas também - tenho certeza -, de toda a Casa, pelo que foi realmente o filósofo Gerd Bornheim.

Sendo hoje a véspera do dia 11 de setembro, vale lembrar o que ele falava sobre os atentados terroristas ocorridos em 11 de setembro de 2001, entre outras questões:

Acho que os americanos provocaram esta idéia, este estilo, esta maneira de fazer terrorismo, porque isso não é, por exemplo, europeu. A guerra pode representar a destruição da cultura árabe. O petróleo está no fim, e um povo não pode atacar outro povo na base do palpite. Primeiro tem que haver a transparência e, se os Estados Unidos são a potência que são, é incrível que não consigam alcançar essa transparência. Mas, ao estilo de faroeste, é absolutamente vergonhoso. É irracional. Pode dar tudo errado.

Ele tinha uma visão de mundo, era um grande pensador. Por isso, Sr. Presidente, peço que os Anais desta Casa registrem o seu passamento e que também a família enlutada receba as nossas condolências.

Obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/09/2002 - Página 17459