Discurso durante a 118ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração, no último dia 16 de agosto, dos 150 anos de existência da capital do Piauí, Teresina.

Autor
Benício Sampaio (PPB - Partido Progressista Brasileiro/PI)
Nome completo: Benício Parente de Sampaio
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração, no último dia 16 de agosto, dos 150 anos de existência da capital do Piauí, Teresina.
Publicação
Publicação no DSF de 31/10/2002 - Página 18733
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, SESQUICENTENARIO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, MUNICIPIO, TERESINA (PI), ESTADO DO PIAUI (PI), REGISTRO, ELOGIO, POPULAÇÃO, FUNDAÇÃO, REGIÃO.
  • REGISTRO, QUALIDADE, SAUDE, MUNICIPIO, TERESINA (PI), ESTADO DO PIAUI (PI), BENEFICIO, REGIÃO NORDESTE, COMENTARIO, IMPORTANCIA, COMERCIO, INDUSTRIA TEXTIL, ATIVIDADE ECONOMICA, REGIÃO.

O SR. BENÍCIO SAMPAIO (Bloco/PPB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, no dia 16 de agosto de 2002, a cidade de Teresina, capital do Piauí, completou cento e cinqüenta anos de existência. Srªs. e Srs. Senadores, a ocasião é histórica, digna de grandes e animadas comemorações. E me alegro em constatar que não foi de outra forma: as festas do sesquicentenário se estenderam por um mês, período em que a cidade recebeu as mais variadas homenagens. Na oportunidade, apresentei a esta Casa requerimento de voto de aplauso ao Prefeito Firmino Filho pela excelente organização dessa magnífica festa popular, que certamente ficará por muitos anos na lembrança de todos os habitantes de Teresina.

Gostaria de valer-me da ocasião do sesquicentenário de minha cidade natal para oferecer a V. Exªs. e aos demais brasileiros um breve perfil da Teresina de ontem, de hoje e de amanhã. Não o fiz anteriormente em virtude da escassez de sessões deliberativas no período eleitoral. Com a normalização de nossas reuniões neste Plenário, posso, finalmente, perante os meus nobres pares, fazer o elogio de que minha cidade é merecedora.

Única capital não litorânea do Nordeste, Teresina já nasceu com a missão de integração. Em meados do século XIX, o Presidente da Província do Piauí, o Conselheiro José Antônio Saraiva, decidiu transferir a sede da capital. Oeiras, então capital da província piauiense, jazia no meio do sertão mais incomunicável, num isolamento que dificultava muito qualquer tipo de desenvolvimento e prosperidade.

Por sua posição estratégica, o ponto de confluência dos rios Parnaíba e Poti foi escolhido como sítio da nova cidade, cujo crescimento estaria garantido pelo comércio que, fatalmente, grassaria em região de acesso tão fácil. A distância de 350 quilômetros do litoral não derrubou os ânimos do Conselheiro Saraiva, que inaugurou a cidade em 16 de agosto de 1852. Batizou-a Teresina - uma homenagem à imperatriz Teresa Cristina Maria de Bourbon, esposa de Dom Pedro II. Nascia, assim, a primeira capital planejada do País.

A análise do Presidente da Província revelou-se profeticamente correta. Nesses 150 anos, Teresina confirmou sua vocação de pólo comercial, vocação à qual foi acrescentando com o tempo alguns talentos que o Conselheiro Saraiva jamais chegou a conceber.

O comércio é, inegavelmente, a principal atividade econômica da cidade. Mais de 50% da mão-de-obra teresinense atua nesse setor. Teresina é um centro atacadista que atende comerciantes tanto das demais cidades do interior do Piauí quanto de cidades do Maranhão, do Pará, do Tocantins e do Estado do Ceará. Outras atividades econômicas de destaque são a indústria têxtil, as manufaturas e o beneficiamento do couro nos tradicionais curtumes da região. Outro setor em franco desenvolvimento é o da construção civil. A tendência, desde 1995, tem sido a verticalização, ou seja, a cidade vem crescendo para cima com a construção de modernos edifícios de apartamentos e de salas comerciais.

Como previu seu fundador, o florescimento comercial de Teresina deve muito à sua posição geográfica. O caráter mesopotâmico da capital piauiense favorece, de modo decisivo, a prosperidade econômica de seus cidadãos. A confluência dos rios Poti e Parnaíba possui, contudo, significado maior que a mera localização geográfica privilegiada. De fato, eles representam muito mais. O rio Poti, que banha vários bairros da cidade, é fonte de renda, alimento e lazer. A argila desse rio é matéria-prima de algumas das melhores peças de nosso artesanato. Já o sinuoso rio Parnaíba - o “Velho Monge”, como o conhecemos no Piauí - é o terceiro maior rio do País e pode ser considerado o grande eixo de desenvolvimento da região que banha, sendo impossível separá-lo da vida e da paisagem teresinense.

Os dois rios representam, também, nossa vontade de integração. A localização estratégica de Teresina, que permite o contato próximo entre essa capital e os estados das regiões Norte e Nordeste, faz-nos lembrar das pontes que interligam as margens opostas dos rios que banham a cidade. Parece-nos, assim, que a vocação dessa cidade é mesmo a busca constante do encontro com o outro, com a outra margem, esteja essa simbolizada pelo litoral, pelos rincões do sertão nordestino ou, ainda, pelas outras regiões do País.

Mas não são apenas os rios que se encontram em Teresina. A malha rodoviária piauiense permite à capital receber, diariamente, milhares de trabalhadores que transitam pelas rodovias municipais, estaduais e federais. A cidade está na convergência do tráfego rodoviário de estados do Norte e do Nordeste para o sul do País. Teresina encontra-se interligada a Fortaleza, a São Luís, a Belém, a Recife e a Salvador. As estradas locais, por sua vez, facilitam o trânsito entre os habitantes da capital e as diversas cidades que compõem o interior piauiense.

Sr. Presidente, às vezes gosto de imaginar que, por mais certeira que possa ter sido sua visão de futuro, o Conselheiro Saraiva jamais poderia imaginar que Teresina se tornaria um grande centro regional de saúde, sob muitos aspectos, o mais importante do Nordeste. Construído ao longo de mais de sessenta anos, o Pólo de Saúde de Teresina é referência nas regiões Norte e Nordeste. O surgimento do pólo pode ser identificado com a inauguração do Hospital Getúlio Vargas, em 1941. Desde então, a estrutura médico-hospitalar da capital piauiense não parou de se expandir. Hoje, 33 hospitais, juntamente com outros 600 estabelecimentos ligados ao setor de saúde, oferecem atendimento médico à população de sete estados. Trata-se da maior concentração de unidades assistenciais do Nordeste. Metade das pessoas atendidas não são de Teresina - uma proporção que não é superada por nenhuma outra cidade do País. É importante frisar, Sr. Presidente, que as pessoas não são atraídas apenas pela grande quantidade de estabelecimentos, mas também pela grande diversidade de especialidades médicas e pelo avanço tecnológico e técnico que caracteriza a prática da medicina em Teresina. Mesmo intervenções delicadas, como o transplante de coração, rim e córnea, são realizadas com elevadíssimos níveis de sucesso e qualidade.

Essa excelência se explica pela tradição que a cidade conquistou no ensino da medicina e de outras áreas de ciências da saúde. Tradição viva até hoje, e fortalecida nos anos 70, com a instalação da Universidade Federal do Piauí. Ainda em razão do Pólo de Saúde, Teresina é uma cidade bastante requisitada para a realização de seminários e outros eventos nas áreas médico-científicas.

A exemplo de vários outros projetos em andamento em todo o País, o Pólo de Saúde de Teresina enfrenta atualmente grave crise, ocasionada por uma carência de recursos alarmante. A verba que o Governo Federal vem destinando à saúde no Piauí não reflete as reais necessidades do setor. Os critérios utilizados pelo Executivo Federal na distribuição de recursos são puramente populacionais. É evidente, Srªs e Srs. Senadores, que tais critérios não contemplam a situação de uma cidade como Teresina, em que grande parcela dos pacientes são oriundos de outros Estados. Esse erro de logística, se não for corrigido, poderá ser a causa do colapso de um sistema do qual dependem a saúde e a vida de cidadãos de outros Estados da Federação!

Outro evento que o Conselheiro Saraiva não seria capaz de predizer é o boom que Teresina e o Piauí vêm presenciando, nos últimos cinco anos, na oferta dos cursos de 3º grau. Em um universo de 27 faculdades isoladas, 20 - isso mesmo, 20 - iniciaram suas atividades nos últimos cinco anos. Essas faculdades, juntamente com as duas universidades da cidade, lançam, anualmente, cerca de 8.000 novos profissionais em um mercado mais que saturado.

Reduzir o número de vagas, obviamente, não é solução. O problema, na verdade, tem a mesma natureza dos desafios enfrentados pelo Pólo de Saúde: precisamos de mais recursos, neste caso aliados a programas de desenvolvimento patrocinados pelo Governo Federal. O Estado do Piauí, sozinho, não conseguirá inverter essa grave situação.

Por fim, gostaria de destacar o bem mais valioso de Teresina: as 770 mil pessoas que orgulhosamente habitam a cidade. O calor de seus corações é o verdadeiro responsável pelas elevadas temperaturas da capital. Essa gente festeira e acolhedora terá o maior prazer em apresentar aos visitantes as delícias da cidade: o verde das árvores, espalhadas por 220 praças e 21 parques e reservas; as festas folclóricas do Bumba-Meu-Boi, do Reisado e da Quadrilha; o céu azul e o sol equatorial; e, quando a fome apertar, um belo prato de Maria Isabel, acompanhado de um copo de cajuína, imortalizada por Caetano Veloso em belíssima canção.

Parabéns, Conselheiro Saraiva, pela iniciativa de fundar a cidade. E parabéns, povo de Teresina, pela linda cidade que construímos e continuamos a construir, dia a dia!

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado. 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/10/2002 - Página 18733