Discurso durante a 141ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

PREOCUPAÇÃO COM O RECRUDESCIMENTO NAS RELAÇÕES ENTRE ISRAEL E PALESTINA. HOMENAGEM PELO TRANSCURSO, EM 29 DE NOVEMBRO, DO DIA INTERNACIONAL DE SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO, QUE REPRESENTA A DECISÃO DA ONU, EM 1947, QUE DETERMINA A CRIAÇÃO DE DOIS ESTADOS NA PALESTINA: UM JUDEU E OUTRO ARABE.

Autor
Maguito Vilela (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Luiz Alberto Maguito Vilela
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA INTERNACIONAL. :
  • PREOCUPAÇÃO COM O RECRUDESCIMENTO NAS RELAÇÕES ENTRE ISRAEL E PALESTINA. HOMENAGEM PELO TRANSCURSO, EM 29 DE NOVEMBRO, DO DIA INTERNACIONAL DE SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO, QUE REPRESENTA A DECISÃO DA ONU, EM 1947, QUE DETERMINA A CRIAÇÃO DE DOIS ESTADOS NA PALESTINA: UM JUDEU E OUTRO ARABE.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Lindberg Cury, Lúdio Coelho, Pedro Simon, Roberto Saturnino, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 05/12/2002 - Página 23518
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, SOLIDARIEDADE, POPULAÇÃO, ORIENTE MEDIO, MANIFESTAÇÃO, APOIO, ESTABELECIMENTO, PAZ.
  • ESCLARECIMENTOS, CONTEXTO, CRIAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL, DETERMINAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), NECESSIDADE, CONTENÇÃO, GUERRA, RELIGIÃO, POSSIBILIDADE, SOLUÇÃO, IMPLANTAÇÃO, ESTADO, CONCESSÃO, AUTONOMIA, SOBERANIA, POPULAÇÃO, ORIENTE MEDIO.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Presidente desta Casa, Srªs e Srs. Senadores; Sr. Musa Amer Odeh, digno Embaixador da Palestina no Brasil; Srª Nala Husni Fariz, Ministra-Conselheira da Embaixada da Palestina; Sr. Nguyen Van Huynh, Embaixador do Vietnã; Sr. Hassine Bouzid, Embaixador da Tunísia; Sr. Amadeu Paulo da Conceição, Embaixador de Moçambique; Sr. Faris Mufti, Embaixador da Jordânia; demais Embaixadores presentes, senhores integrantes do corpo diplomático, meus senhores e minhas senhoras, é, para mim, motivo de grande orgulho e imensa honra assomar à tribuna para falar sobre o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. A problemática do Oriente Médio é algo que interessa ao mundo todo. E trata-se de uma questão que exige o envolvimento de toda a comunidade mundial.

Se, por um lado, sinto-me orgulhoso com esta missão, por outro, é algo que me traz grande preocupação. Há dois anos, reunimo-nos, nesta mesma data e, de lá para cá, não houve nenhum avanço, nenhuma solução, e ainda percebemos um recrudescimento nas relações entre Israel e Palestina.

A saída para o impasse desfila diante de nossos olhos, retratada no próprio significado desta data. O dia 29 de novembro, que marca o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, representa a decisão da Organização das Nações Unidas, de 1947, determinando a criação de dois estados na Palestina: um judeu e outro árabe.

Os problemas no Oriente Médio se agravam justamente porque essa decisão da ONU não foi cumprida, mesmo passados 55 anos. Se os judeus estabeleceram seu Estado, o mesmo não aconteceu com os palestinos, que vivem dispersados, sem terra, sem lar, sem pátria e sem dignidade.

A maioria dos cinco milhões de palestinos se espreme nos territórios ocupados da Cisjordânia e Gaza. Outros vivem em países árabes vizinhos e em outras regiões do mundo, inclusive aqui no Brasil. Mas todos eles, gerações inteiras, vivem privados da sua liberdade e da sua cultura, conhecendo tão-somente a dura e injusta vida da segregação e dos campos de refugiados.

O número de mortos aumenta todos os dias. O mundo assiste a cenas de verdadeira barbárie humana, com crianças e idosos perdendo a vida estupidamente.

Em dois anos, só na Palestina, duas mil pessoas foram mortas. Dessas vítimas, mais de quatrocentas são menores de 17 anos, e nada menos que 85% dos mortos são civis. O número de feridos nesse período já ultrapassa a casa das 41 mil pessoas.

Na economia, os prejuízos também são enormes. A economia palestina perdeu quase US$10 bilhões. A taxa de desemprego em Gaza chega a assustadores 67%, e, na Cisjordânia, 48%. Quase 75% dos palestinos vivem na linha da pobreza, sobrevivendo com menos de US$2 por dia.

A ascensão de grupos radicais ao poder em Israel acabou contribuindo para o aprofundamento da crise. Os atentados contra os Estados Unidos, no fatídico 11 de setembro, da mesma forma complicaram ainda mais a situação.

Grupos radicais usaram a Guerra Contra o Terror como pretexto para aumentar os ataques aos palestinos, como se todo um povo pudesse ser tachado de terrorista ou responsabilizado por aqueles atos bárbaros.

A Guerra Contra o Terror não pode servir para demonizar toda uma cultura. Ao contrário, ela deve ter como um dos objetivos principais a soluça dos conflitos no Oriente Médio.

Toda forma de terror é absolutamente condenável. Por isso mesmo, o mundo não pode desviar os olhos do direito que os palestinos têm de construir a sua própria nação. Mais do que a maioria dos outros povos, os palestinos são vítimas de atos de terrorismo. Dia após dia, assistem seus prédios, suas casas, suas aldeias, suas cidades sendo destruídos por ataques.

Nesses dois anos, os prejuízos materiais na Palestina chegam a US$350 milhões. Mais de onze mil casas foram bombardeadas. Quatro mil prédios foram atingidos e 30 mesquitas e 12 igrejas foram totalmente destruídas em ataques.

Não podemos, portanto, misturar as coisas, tratando os conflitos no Oriente Médio como uma guerra do bem contra o mal. Ou agir com conceitos previamente estabelecidos, fechando os olhos para o essencial: fazer cumprir os tratados da ONU, garantindo direitos iguais para israelenses e palestinos.

O mundo deve trabalhar nesse sentido, inclusive os Estados Unidos. É interessante que todas as decisões da ONU, quando são do interesse dos Estados Unidos, são cumpridas imediatamente. Mas, quando dizem respeito a povos que não gozam da simpatia do governo americano, arrastam-se por anos e anos, como acontece na decisão que criou o estado da Palestina e o estado judeu. Não pode haver dois pesos e duas medidas, especialmente quando estamos lidando com vidas humanas e com o direito à liberdade e à paz.

As Nações Unidas precisam atuar como advogados da paz, colocando um fim na ocupação, de modo que os palestinos, como os judeus, tenham o seu estado independente. Além de selar a paz, o cumprimento dos tratados abrirá caminho para a estabilidade política e a prosperidade econômica naquela região.

Não é possível vislumbrar a paz dentro do contexto atual, onde os israelenses, assentados no Estado Judeu, continuam exercendo forte ocupação militar nos territórios palestinos, expandindo os assentamentos e colônias judaicas sobre propriedades palestinas. No estágio atual das relações diplomáticas, isso é algo quase inadmissível.

É preciso retomar as determinações das Conferências de Madri e Oslo, realizadas há mais de uma década, quando os israelenses se comprometeram a deixar os territórios ocupados. Sem o fim da ocupação, os palestinos não poderão estabelecer uma pátria livre. E não haverá paz se apenas um dos lados tiver direito à soberania.

É compreensível a frustração dos palestinos com os anos intermináveis de negociações. Os que permanecem na região pátria vivem em aldeias cercadas por postos de controle, o que os reduz a uma situação de indignidade e humilhação.

Os judeus sabem bem o que é isso. Eles também já passaram por esse tipo de sofrimento, na época da perseguição nazista. Não podemos deixar que situações semelhantes se repitam. Aqueles que foram vítimas não podem ser agentes da segregação e do sofrimento. Digo isso porque a verdade é que a paz se encontra, hoje, quase que tão somente nas mãos de Israel, que resiste em cumprir os tratados estabelecidos e as resoluções da ONU.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Srs. Embaixadores, demais integrantes do corpo diplomático, o objetivo do meu pronunciamento é chamar a atenção para a busca da paz no Oriente Médio. O ambiente nervoso e emocional entre as partes envolvidas impede um debate racional, lógico. Daí a necessidade do empenho de todo o mundo para que o bom senso se sobreponha à irracionalidade.

Os gestos de violência devem dar lugar ao cessar-fogo, ponto de partida para a retomada do diálogo com base nas resoluções da Organização das Nações Unidas. Assegurando os direitos dos dois povos, será possível construir a paz duradoura. Assim, palestinos e judeus irão concretizar o sonho de viver num ambiente de harmonia e total independência.

Neste Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, deixo registrada a solidariedade de todos os integrantes desta Casa a esse povo que sofre, mas que demonstra força e crença em novos dias de paz e crescimento.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Senador Maguito Vilela, V. Exª me concede um aparte no momento oportuno?

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Com muita honra, concederei o aparte ao Senador Romeu Tuma dentro de alguns segundos.

Da mesma forma, o meu respeito pelo povo israelense, que também por tantas privações já passou e, da mesma forma, aspira por dias de tranqüilidade e harmonia.

Faço também um apelo ao novo governo brasileiro. O Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva construiu sua biografia lutando contra a opressão e as injustiças. Que ele agora, como Presidente eleito do Brasil, use de suas prerrogativas, agindo com mais vigor junto à ONU, para que os tratados relativos ao Oriente Médio sejam de fato cumpridos.

Fica o nosso apelo e a nossa torcida para que prevaleçam a paz, o diálogo e a sensatez, elementos essenciais para que a paz seja construída em plenitude.

Concedo o aparte ao ilustre Senador Romeu Tuma.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Senador Maguito Vilela, provavelmente, não teria eu o direito de interromper o discurso de V. Exª, tão bem equacionado, tão bem ordenado, dando um histórico de tudo o que vem acontecendo no Oriente. Mas o sangue que corre nas minhas veias é árabe, portanto, vejo-me na obrigação de - provavelmente com o coração bastante amargurado - intervir no brilhante discurso de V. Exª. Ontem, durante a apresentação para a sabatina do novo Embaixador do Brasil em Israel, o assunto foi bastante debatido. Lembro-me de algumas colocações feitas pelos Senadores Pedro Simon, José Sarney e outros tantos que lá se encontravam. Mas, como se tratava de uma reunião secreta - foi durante a sabatina propriamente dita e não na exposição inicial do Embaixador -, peço desculpas por não poder retransmitir o que foi falado. Mas algo que acredito ser público é que, quando a Assembléia-Geral da ONU - dirigida, na época, pelo nosso Embaixador Oswaldo Aranha - criou o Estado de Israel, criou paralelamente o Estado da Palestina. O que se dizia é que não teve a ONU a percepção, na época - por se tratar de um período pós-guerra, em que tudo seria aceito -, de ratificar a criação legal dos dois Estados - a Palestina e Israel -, que hoje, sem dúvida, poderiam estar dentro dessa globalização, com os seus povos tendo uma vida muito melhor, sem o sofrimento por que vêm passando há algumas décadas. Hoje, se analisarmos, perceberemos - V. Exª falou nos assentamentos - que a parte geográfica da Palestina está sendo diminuída a cada dia, a cada tempo. Na hora em que se criar o Estado da Palestina, provavelmente, não se terá metade do estabelecimento geográfico feito em 1946, se não me engano, durante a Assembléia da ONU. Ainda ontem, fiquei profundamente amargurado com uma notícia publicada no Estado de S. Paulo - trata-se de uma atrocidade inexplicável, que não seria própria do povo judeu, que tanto sofreu durante a guerra e com a perseguição nazista de Hitler - sobre a destruição de um depósito de alimentos. Vou considerar verdadeira a notícia de que “o prédio, no campo de refugiados de Jabaliya, foi inspecionado pelos militares e logo depois explodido”. Cerca de 537 toneladas de alimentos, que atenderiam ao povo miserável da Palestina, foram simplesmente destruídas. A Suécia e a União Européia reclamam a indenização e a devolução desses produtos, que serviriam para minorar a fome que o povo palestino está passando. É uma insensatez! E se discutia a provável eleição no Estado de Israel, no próximo mês de março, se não me engano, para a qual o Likut já tem seu candidato, que é a continuação do Primeiro-Ministro Sharon, e na qual o Prefeito de Haifa, escolhido como Líder do Partido Trabalhista, também sai candidato, mas com uma visão diferenciada. Ontem, nessa reunião, falava-se que precisam ser renovados os quadros que vão à mesa para discutir. Provavelmente, o ódio vem gerando essa violência inexplicável. A população, qualquer um de nós, tem medo do crime, da violência, do terrorismo, que se vão tornando coisa natural da convivência. O medo, o respeito, aos poucos, transformam-se em ódio, que não traz vantagens, nem benefícios a ninguém. A fome, a miséria, as crianças abandonadas, tudo isso se transforma em ódio. E o mundo não se alerta para isso, meu Deus! Ninguém quer homem-bomba, ninguém deseja um terrorismo inexplicável, mas, se esses homens colocam bombas no corpo, oferecendo a própria vida, é porque estão enxergando o sofrimento de seus irmãos, de seus filhos, de seus parentes. Essa constante agressão não trará benefícios a Israel. Por que, na hora em que um homem-bomba se mata e leva com ele vidas inocentes israelenses ou de turistas - também protestamos, não aceitamos isso -, destroem a casa de seus familiares? Imaginem se, no Brasil, onde a violência e a criminalidade crescem, destruíssemos a casa e a família de um assaltante ou seqüestrador preso. Como poderia reagir o Estado de direito? Como poderíamos confortar-nos? Seria legítima essa ação contrária à estrutura de uma família de alguém que tomou uma decisão individual, por não aceitar determinadas coisas? Senador Maguito Vilela, recebi do Embaixador e chefe da delegação palestina, o nosso amigo Musa Amer Odeh, a mensagem do Presidente da República, enviada ao povo palestino, por ocasião do Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. É interessante esse apoio que o Presidente dá por meio de uma mensagem do Itamaraty. Vou passá-la às mãos de V. Exª, que, se achar conveniente, poderá juntar a seu discurso, para fazer parte da publicação que, sem dúvida, será importante para conhecimento de todos os brasileiros. Recebi vários documentos do Sr. Musa, que também foram encaminhados a V. Exª; tenho comigo discursos feitos na Assembléia Legislativa de São Paulo, onde foi criado o Conselho Estadual Parlamentar das Comunidades de Raízes e Culturas Estrangeiras - Conscre, do qual meu irmão faz parte como representante da etnia árabe. Sentaram-se à mesa judeus, brasileiros, árabes, africanos, enfim, todas as etnias, numa discussão de amor e paz, pois sem amor não haverá paz, e quem destrói e mata não tem amor. Espero que o mundo sinta, de perto, todo o sofrimento que há naquela parte do Oriente, para que, realmente, haja uma imposição no sentido de que os homens sentem-se à mesa para buscar a paz onde Cristo nasceu.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Agradeço a V. Exª pelo aparte, que enriqueceu muito o meu pronunciamento. Entendo a sua emoção, até porque esse conflito emociona o mundo inteiro, assim como a V. Exª, os Senadores Lindberg Cury e Pedro Simon, a mim e a tantos outros que também somos descendentes do povo árabe.

O Sr. Lúdio Coelho (Bloco/PSDB - MS) - Permite-me um aparte, Senador Maguito Vilela?

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Ouço também, com muito prazer, o ex-Governador e brilhante Senador Lúdio Coelho.

O Sr. Lúdio Coelho (Bloco/PSDB - MS) - Senador Maguito Vilela, fiquei satisfeito de, neste momento, tomar conhecimento de que V. Exª também tem um pouco de sangue árabe. Eu não sabia.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Sou neto de árabe.

O Sr. Lúdio Coelho (Bloco/PSDB - MS) - Sabia dos Senadores Romeu Tuma e Pedro Simon, mas de V. Exª, não. Essa homenagem que o Senado da República presta à família palestina faz-me lembrar o Embaixador Osvaldo Aranha. A criação do Estado de Israel representou uma esperança enorme, principalmente, naquela época, para a família judia, que tinha pago um tributo enorme pela perseguição que sofrera durante a última guerra. Pensávamos que ela seria a solução para os conflitos, e não o foi. Mas árabes e judeus continuam negociando. Apesar daquela violência enorme, eles persistem em busca de um entendimento. E esse entendimento, apoiado por Deus, ainda vai ter resultado. Não sabemos se levará um, dez ou vinte anos. Que essa homenagem aos senhores aqui apresentes seja uma posição de apoio ao esforço pelo entendimento. A paz no Oriente Médio interessa enormemente às famílias que lá residem, mas, sobretudo, à humanidade. A paz naquela região é de alto interesse da humanidade; um conflito, que pensamos poder acontecer a qualquer momento, sacrificaria famílias do mundo inteiro. Crianças do mundo inteiro sofreriam com a falta de alimentos e de recursos. Então, como Senador da República, brasileiro nato, mato-grossense, faço um apelo aos Srs. embaixadores que, com competência e a sabedoria dos mais velhos, encontrem um caminho que concilie, da melhor maneira, os interesses das famílias que residem no Oriente Médio. Muito obrigado.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Agradeço a V. Exª pelo aparte, que, sem dúvida, engrandece o nosso pronunciamento.

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Permite-me um aparte, Senador Maguito Vilela?

 O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Com muita honra, Senador Roberto Saturnino, do Estado do Rio de Janeiro.

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Senador Maguito Vilela, há pouco, o Senador Romeu Tuma chamava V. Exª de embaixador. Aparentemente, teria sido um lapso. Na verdade, não foi um lapso, porque V. Exª, da tribuna, está efetivamente representando todos os Senadores do Brasil. O importante discurso de V. Exª representa o pensamento desta Casa. Cumpre V. Exª o dever que é de todos nós - nós, Senadores, e nós, brasileiros de um modo geral -: o dever de justiça de prestar solidariedade ao povo palestino nesta data; o dever de prestar solidariedade e de prestar um compromisso de continuidade no que diz respeito ao apoio à luta pela efetiva criação do Estado palestino soberano. Essa realização só se fará sob os auspícios da ONU. Não há salvação para a paz no mundo se não houver o respeito integral e absoluto às resoluções da Organização das Nações Unidas, que representa a humanidade, que é o organismo multilateral representativo de todas as nações do mundo. Há que se respeitar e, por conseguinte, acatar integralmente todas as resoluções que emanarem daquele grande fórum que representa a humanidade. Aquilo que V. Exª disse da tribuna tocou o coração de nós todos e representa, efetivamente, o nosso pensamento, o nosso sentimento de justiça e de solidariedade ao povo palestino. Meus cumprimentos, Senador.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Sou eu quem deve agradecer pelo honroso aparte.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Maguito Vilela, permite-me V. Exª um aparte?

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Concedo aparte ao Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Quero cumprimentar V. Exª, Senador Maguito Vilela, por este pronunciamento em que analisa a difícil situação por que passa o Oriente Médio e, sobretudo, a luta que, para nós, brasileiros, é tão difícil de ser compreendida. Há poucos dias, eu conversava com o senador eleito Marcelo Crivella, que relatava uma história contida na Bíblia Sagrada, no Gênesis. Segundo essa história, os filhos de Abraão, Ismael com Agar e Isaac com Sara, assim como seus descendentes, acabariam se envolvendo em conflitos para o resto de suas vidas, ao longo das gerações. Será que esse conflito é realmente infindável? Acredito que, no Brasil, temos visto alguns exemplos de como é possível, de como está ao alcance dos seres humanos - assim como está ao alcance dos árabes, palestinos e judeus - entender-se. Acredito, Senador Maguito Vilela, que as suas palavras, a sua iniciativa de hoje vai exatamente na direção de contribuir para o entendimento. Acredito que os brasileiros, sobretudo os descendentes de árabes - como V. Exª e os colegas que aqui estão se manifestando -, mas também os descendentes de judeus, crêem na possibilidade de se superar os obstáculos para chegar a um entendimento e repudiam atos que, no dia-a-dia, têm provocado tanto ódio, tanta energia em direção à violência. Até quando isso continuará? Quantas pessoas precisarão ser mortas até que, finalmente, cheguemos à conclusão, como seres humanos, de que muitas pessoas já morreram? É preciso, Senador Maguito Vilela, que mais vozes estejam dizendo aquilo que V. Exª hoje propõe: o caminho da paz efetiva, da paz baseada na justiça, no entendimento e no reconhecimento dos direitos de todos os povos, inclusive dos povos palestino e judeu. Muito obrigado.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Agradeço a V. Exª pelo oportuno aparte.

O Sr. Lindberg Cury (PFL - DF) - Senador Maguito Vilela, V. Exª me concede um aparte?

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Concedo o aparte ao Senador Lindberg Cury.

O Sr. Lindberg Cury (PFL - DF) - Senador Maguito Vilela, parabenizo-o pela belíssima elocução. V. Exª referiu-se, com muita propriedade, à história e ao sofrimento do povo palestino. Quero aproveitar a oportunidade para prestar minhas homenagens a esse povo e ao mundo árabe na pessoa do Embaixador da Palestina no Brasil, em Brasília, Sr. Musa Amer Odeh. Saúdo também todos os membros dos consulados locais. A assertiva do Senador Maguito Vilela teve um apelo muito grande. O povo palestino paga um tributo muito caro, carrega um ônus muito grande esta geração que sofre o martírio da guerra, da fome, dos ataques, da ocupação do território permanentemente. Vive-se um clima de eterna guerra. A dor é tamanha que, às vezes, pessoas sacrificam suas vidas pelo patriotismo e pelo ódio por terem perdido suas residências, suas cidades, seus familiares, transformando-se em homens-bombas - muitos estão na fila. E o contra-ataque já vem por parte de Israel. É preciso tomar uma atitude imediata, disse o Senador Eduardo Suplicy há poucos minutos. Ressalto também o que disse o Embaixador da Palestina: “É preciso que todos elevem suas vozes contra o colonialismo de Israel e sua política de ocupação, a última do gênero no mundo. Nosso povo necessita de urgente proteção internacional e é responsabilidade da comunidade internacional exigir a retirada imediata das tropas militares israelenses dos territórios palestinos ocupados”. Em pronunciamento que fiz nesta Casa há poucos meses, falei da grande emoção que senti quando, em meados do mês de março, ouvi o Presidente Yasser Arafat dizer, exprimindo todo o seu sentimento, na Comissão de Direitos Humanos em Genebra: “Eu me dirijo a vocês hoje com o coração pesado. Carrego comigo a dor de uma nação prisioneira, de um povo privado dos direitos mais básicos e liberdades fundamentais e roubado da desamparada do direito internacional, individualmente e coletivamente”. Dizia ainda: “Perecendo sob a última ocupação militar remanescente da história, o povo palestino é atacado, bombardeado, metralhado, assassinado e aterrorizado de todas as maneiras possíveis. Nossas terras, nossos lares, nossas plantações, nossas árvores, nossa infra-estrutura, nossa economia e a própria essência de nossas vidas, tudo se tornou alvo dos persistentes ataques do exército israelense. Essa violência desenfreada, deliberadamente desencadeada sobre uma nação já aprisionada e sitiada, excede todas as formas de medidas punitivas coletivas e entra no âmbito da inflição de dor premeditada: uma bruta expressão de uma política cruel e imoral e um instrumento ativo de coerção”. Ele traduz, com muita fidelidade, todo o sentimento, não apenas do povo palestino, do povo árabe de uma maneira geral, mas de toda a humanidade que acompanha as eternas notícias de ataques de homens-bomba e contra-ataques em cima da Palestina. É o pensamento do povo sofredor, é o pensamento de quem vive sob o martírio de uma guerra, onde a força é representada por estes dois povos: um povo que não tem armamento, mas tem a coragem, tem o heroísmo como arma principal para enfrentar a função bélica, e um povo que tem os armamentos bélicos modernos de Israel. O mundo inteiro, neste momento, tem que voltar a sua atenção para essa tão propalada paz, antes que haja a dizimação de toda uma raça, de todo o povo palestino. Temos que nos preocupar. E foi por essa razão que a Organização das Nações Unidas, no dia 29 de novembro de 1947, deu aos palestinos o direito de lutarem para recuperação de seus direitos inalienáveis, o que até hoje é predominantemente aceito por toda a humanidade: o direito à autodeterminação sem interferência externa; o direito de independência e soberania nacional; o direito de estabelecer seu próprio estado soberano e independente na Palestina; o direito de estar representado como uma das partes principais no estabelecimento de uma paz justa e duradoura; o direito inalienável de regressarem aos seus lares e propriedades das quais têm sido desalojados e expulsos; e o direito de soberania e controle permanente sobre seus recursos naturais. É fundamental a paz para essa região. Muito poderíamos acrescentar, Sr. Presidente. Está na hora de o Brasil, em nome do povo brasileiro, como disse V. Exª, tomar uma posição firme em defesa do povo palestino. E, no momento que existem ataques e contra-ataques, também temos que exercer uma política de pacificação, porque quando se fala em paz, surge um ato que vem desabonar a conduta dos primeiros entendimentos pela paz. Agradeço a V. Exª pelo aparte. O tempo é curto, mas quero deixar registrado aqui ao povo palestino, ao mundo árabe de uma maneira geral, os nossos sentimentos. E que a paz venha o mais rápido possível.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Agradeço muito a V. Exª pelo aparte.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Concedo o aparte ao eminente Senador Pedro Simon.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Prezado colega, praticamente tudo foi dito nesta solenidade tão importante e tão significativa, quando o Senado Federal faz questão de manifestar - e poucas vezes o faz representando tanto o povo brasileiro - seu apoio ao povo palestino no Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. É importante que se esclareça o que esse povo vem sofrendo, a sua amargura com relação à expectativa da criação do Estado Palestino. O Estado de Israel teve todas as condições de se consolidar. A ONU, apesar das suas decisões, não tem condições de garantir a criação do Estado Palestino. Uma questão é certa: nunca, como hoje, o mundo viveu sob a hegemonia de uma nação só, a nação americana. Eles dominam a humanidade, fazem o que querem e não fazem o que não querem. Ainda outro dia, demitiram um embaixador brasileiro de uma entidade. Obrigaram-no a renunciar, porque achavam que isso deveria ser feito. Agora querem, de todas as maneiras, iniciar uma guerra contra o Iraque. Apesar de os representantes da ONU estarem no Iraque fazendo investigações e de nada terem encontrado até agora, os americanos e seus aliados ingleses já estão se preparando, independentemente do que encontrarem ou não os inspetores da ONU, para começar aquilo que eles querem - uma guerra de extermínio. Com relação ao Oriente Médio, a situação é a mesma. Por que o americano exige, impõe que se cumpram determinadas resoluções da ONU e não diz nada com relação às resoluções referentes ao povo palestino e que não são cumpridas? Por quê? Imaginar que Israel teria esse poderio, essa força de atacar, de bombardear se não tivesse atrás de si o americano é uma ingenuidade muito grande. Na verdade o americano está assistindo àquilo que quer, que é a demolição, a destruição não apenas do povo palestino, mas a decomposição do mundo árabe como um todo. Não sei se é só o petróleo, sinceramente não sei. Não sei se há algo a mais com relação a essa situação, sinceramente não sei. Mas é doloroso assistir a esse Presidente Bush que, cá entre nós, é uma figura trágica no mundo de hoje. Um homem como esse é o senhor do mundo, ele tem aos seus pés a humanidade, e parece mentira, com o apoio e a solidariedade total do povo americano. A grande verdade é que estamos assistimos momentos de tremenda crueldade com um povo que tem raça, que tem garra, que tem história, que tem biografia, que tem luta e que tem vontade. Mas estou convencido de que esta hora, por mais trágica que seja, passará. Que esses americanos, por mais poderio que tenham, e esse Bush, por mais monstro que seja na sua autoridade, passarão. Não dominarão nem a garra, nem o sangue, nem o patriotismo e nem a determinação dos palestinos de terem a sua pátria, o seu território, para poderem viver, confraternizar e conviver com a sua gente. E nisso podem contar, tenho certeza, com o apoio e com a solidariedade total do povo brasileiro.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Agradeço sensibilizado o aparte de V. Exª.

Sr. Presidente, agradeço a tolerância de V. Exª e de toda esta Casa, que sabem a importância deste Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. Assim, antes de encerrar o meu pronunciamento, gostaria de agradecer mais uma vez ao Embaixador da Palestina, Sr. Musa Amer Odeh; a Srª Nala Husni Fariz, Ministra-Conselheira da Embaixada da Palestina; ao Sr. Nguyen Van Huynh, Embaixador do Vietnã; Sr. Hassine Bouzid, Embaixador da Tunísia; Sr. Amadeu Paulo da Conceição, Embaixador de Moçambique; Sr. Mohamed Hmieda Matri, Embaixador da Líbia; Sr. Faris Mufti, Embaixador da Jordânia; Sr. Tamás Rózda, Embaixador da Hungria; Sr. Lahcène Moussaoui, Embaixador da Argélia; Sr. Jürg Leutert, Embaixador da Suíça; Sr. U Hla Myint, Embaixador de Myanmar (antiga Birmânia). E também os meus agradecimentos a todos os Srs. Embaixadores, a Srª Aurora Mejía, Ministra-Conselheira da Embaixada da Espanha; Sr. Jarallah Al Obaidi, Encarregado de Negócios da Embaixada do Iraque, aos Deputados Federais, aos Deputados Estaduais aqui presentes, a todas as Srªs e aos Srs. Senadores, e a todos os descendentes dos palestinos, dos árabes que lotam as dependências desta Casa, e dizer mais uma vez que estamos todos muito solidários ao povo palestino. Queremos homenagear todos os palestinos, brasileiros, que estão no Brasil e em outras partes do mundo e manifestar a crença e a confiança no sentido de que a paz seja encontrada, mas que a Organização das Nações Unidas faça cumprir a Resolução de 1947, que dá direito aos palestinos de ter sua própria pátria, autônoma e digna.

Portanto, as nossas homenagens e os nossos agradecimentos ao Presidente do Senado Federal e a todos aqueles que nos prestigiaram e nos honraram com as suas presenças.

Sr. Presidente, chegou às minhas mãos, por meio do Sr. Embaixador, uma mensagem do Senhor Presidente da República, e sua leitura fica a critério da Presidência da Casa.

Meus agradecimentos.

Soqran.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/12/2002 - Página 23518