Discurso durante a 26ª Sessão Especial, no Senado Federal

ENTREGA DA SEGUNDA PREMIAÇÃO DO DIPLOMA MULHER-CIDADÃ BERTHA LUTZ.

Autor
Patrícia Saboya (PPS - CIDADANIA/CE)
Nome completo: Patrícia Lúcia Saboya Ferreira Gomes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CONCESSÃO HONORIFICA. FEMINISMO.:
  • ENTREGA DA SEGUNDA PREMIAÇÃO DO DIPLOMA MULHER-CIDADÃ BERTHA LUTZ.
Publicação
Publicação no DSF de 28/03/2003 - Página 4932
Assunto
Outros > CONCESSÃO HONORIFICA. FEMINISMO.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, CONGRESSISTA, MULHER, LUTA, CIDADANIA, BRASIL.
  • HOMENAGEM, NAZARE GADELHA, ADVOGADO, CONSELHEIRO, ENTIDADE, DIREITOS HUMANOS, ESTADO DO ACRE (AC), RECEBIMENTO, CONCESSÃO HONORIFICA, SENADO, LUTA, FEMINISMO, CIDADANIA, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

A SRª PATRÍCIA SABOYA GOMES (PPS - CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente José Sarney, quero saudá-lo em nome de todos aqueles Senadores e Deputados que se encontram hoje prestigiando este momento tão especial para todos nós. Na verdade, sinto-me também com a responsabilidade de reafirmar aqui as palavras das outras companheiras e ressaltar o trabalho e a dedicação que têm tido pela causa de todas as mulheres do nosso País.

Quero cumprimentar a Senadora Serys Slhessarenko, que tem sido - não apenas aqui no Senado, mas durante toda a sua vida, toda a sua trajetória - uma incansável batalhadora não só pelos direitos das mulheres, mas certamente pelos direitos de todo o povo brasileiro, que deseja viver numa sociedade muito mais justa e muito mais digna.

Quero saudar a ex-Senadora e hoje Ministra, para orgulho de todos nós neste País, que tem tido uma atuação exemplar em seu Ministério, buscando resgatar os direitos de todas nós mulheres.

Quero também saudar o Senador Papaléo Paes, que está conosco e tem sido, nesta Casa, um exemplo de atuação política.

Quero saudar todas as mulheres que hoje recebem o prêmio Bertha Lutz e dizer da imensa satisfação e alegria de poder estar aqui para falar um pouco sobre a vida de uma dessas mulheres, uma mulher batalhadora, uma mulher que serve de exemplo para todas nós.

Nas últimas décadas, inúmeras mulheres brasileiras têm se destacado na batalha cotidiana em busca da superação de alguns dos principais problemas do País. A advogada Nazaré Gadelha, nascida na cidade de Xapuri, no Acre, terra de Chico Mendes, é uma dessas incansáveis guerreiras pela causa dos mais pobres e excluídos.

A coragem e a ousadia são a marca da trajetória de Nazaré Gadelha. Por mais de 12 anos, ela coordenou o Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Diocese, no Acre. Hoje é Coordenadora de Relações Internacionais do Movimento Nacional de Direitos Humanos e do Cedeca, no Acre. Realiza diversos trabalhos nessa área: atende as vítimas de violações de direitos humanos, denuncia abuso de autoridades, maus-tratos contra crianças, idosos e portadores de necessidades especiais, violência sexual e exploração do trabalho infantil, além de fazer a defesa jurídica de trabalhadores rurais.

Ao longo de todos esses anos, Nazaré Gadelha sofreu várias ameaças de morte em decorrência de sua atuação enérgica em defesa dos direitos humanos. Em algumas situações teve de se ausentar de seu Estado para não correr risco de vida. Um dos momentos mais graves aconteceu quando ela revelou à CPI do Narcotráfico, do Congresso Nacional, a existência de grupos de extermínio e de crime organizado no Acre. Naquela ocasião, contou com o apoio do Movimento Nacional de Defesa dos Direitos Humanos e a proteção de policiais militares.

A história de Nazaré é um exemplo para todas nós, mulheres brasileiras. Filha mais velha de uma família de nove irmãos, ela cresceu entre os seringais da região de Xapuri, porque seu pai, João Batista Ferreira, vivia da extração da borracha. Até a idade de nove anos, ajudava a mãe a cuidar dos irmãos e o pai a tirar a borracha. Eles moravam em uma casa simples, feita com paxiúba, palmeira típica daquele local. Após a destruição da casa por um incêndio provocado pelo dono do seringal onde seu pai trabalhava, a família se viu obrigada a migrar para Rio Branco. Na capital do Estado, Nazaré vendia bananas e entregava as roupas que a mãe lavava. Aprendeu a ler e a escrever. Aos 26 anos, começou a cursar História na Universidade Federal do Acre. Depois que passou a atuar no Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Diocese, Nazaré decidiu fazer Direito, formando-se em 1997.

O trabalho dessa nobre batalhadora já conquistou admiração e respeito no Brasil e no exterior. Em 2001, ela ganhou o Prêmio Centro-Sul de Lisboa, concedido pelo Centro Europeu para Independência e Solidariedade. No ano passado, recebeu o prêmio de Mulher do Ano, da revista Cláudia.

Entregar-lhe o Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz é uma imensa honra para mim e para esta Casa. É o reconhecimento de todos os brasileiros, homens e mulheres de boa-fé que acreditam numa sociedade mais justa, pelo seu trabalho. É o reconhecimento de todos os brasileiros, por meio de seus representantes no Senado Federal, da importância de sua luta por um País mais justo.

Nazaré Gadelha, talvez quebrando o protocolo, queria lhe dizer - e vejo nos seus olhos a emoção neste dia especial - que sua luta, seu trabalho, sua vida é um exemplo para todas as mulheres, como disse aqui a nobre Senadora Íris de Araújo. Não importa o lugar que ocupamos dentro da sociedade, o fato de sermos mais ricas ou mais pobres, brancas ou pretas, ou a religião a que pertencemos. O que importa é a luta de todas as mulheres que acreditam realmente numa sociedade muito melhor.

Você tem se dedicado, ao logo de toda a sua vida, por essa causa e merece o reconhecimento não só do Parlamento ou do Senado, mas de cada um de nós, mulheres e homens que acreditam também nesta causa.

Para finalizar as minhas palavras, quero dizer da enorme alegria de poder ter falado, hoje, um pouquinho da sua vida. Que esse seu exemplo sirva para nos fortalecer, todos os dias, para, dentro do nosso coração, dentro da nossa alma, sempre acreditarmos que é possível realizar um sonho, esse sonho de construir este País tão rico, tão cheio de criatividade, tão cheio de homens e mulheres de boa-fé! Que possamos fazer deste País um lugar cada vez melhor de se viver e de se morar!

Parabéns a você, Nazaré Gadelha, e a todas as outras mulheres aqui presentes!

(Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/03/2003 - Página 4932