Discurso durante a 31ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Desafios a serem enfrentados durante seu mandato senatorial. Sugestões à realização de estudos que viabilizem, em conjunto com outros países, a criação de um Fórum Parlamentar Mundial pela Paz.

Autor
Sérgio Zambiasi (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RS)
Nome completo: Sérgio Pedro Zambiasi
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Desafios a serem enfrentados durante seu mandato senatorial. Sugestões à realização de estudos que viabilizem, em conjunto com outros países, a criação de um Fórum Parlamentar Mundial pela Paz.
Aparteantes
Aloizio Mercadante, Antonio Carlos Magalhães, Duciomar Costa, Eduardo Suplicy, Fernando Bezerra, Hélio Costa, Marco Maciel, Paulo Paim, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 03/04/2003 - Página 5870
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • EXPECTATIVA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, SENADO.
  • SUGESTÃO, REALIZAÇÃO, ESTUDO, PARCERIA, PAIS ESTRANGEIRO, INSTALAÇÃO, ENTIDADE, AMBITO INTERNACIONAL, DEFESA, PAZ, MUNDO.

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (Bloco/PTB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao subir pela primeira vez à tribuna desta Casa, não poderia fazê-lo sem registrar a enorme honra que é conviver com tão notáveis figuras da cena política brasileira.

Chego com a humildade de quem tem muito a aprender, mas também com vontade, com garra, com disposição de contribuir com a governabilidade desta nova administração, por acreditar na seriedade dos compromissos assumidos pelo Presidente Lula.

Quero agradecer publicamente a confiança que V. Exªs depositaram neste estreante, com sua indicação para um honroso cargo de 4º Secretário da nossa Comissão Diretora, função que procurarei desempenhar de modo condizente com a responsabilidade que esta exige.

Chego ao Senado Federal, enviado que fui pelo valoroso povo do Rio Grande do Sul como um reconhecimento ao meu trabalho, e aproveito para saudar a presença em nossas galerias do Deputado Estadual Osmar Severo, liderando uma caravana de representantes e líderes de áreas emancipandas no Rio Grande do Sul.

Sou radialista e jornalista por profissão. Não sou proprietário, nem sócio, nem acionista de qualquer veículo de comunicação. Sou um trabalhador que há mais de 35 anos exerce sua atividade profissional à frente de microfones de rádio. Fui Deputado Estadual por quatro Legislaturas, cabendo-me a honra de presidir, nos meus dois últimos anos de mandato, a Assembléia Legislativa gaúcha, uma das Casas que resguarda as melhores tradições da política brasileira.

Assim, com essa experiência vivida, não tenho dúvida de fazer do Parlamento um espaço privilegiado para expressar minha profissão de fé na democracia, atestada por minhas origens, minhas convicções e minha trajetória, seja pessoal ou pública.

É esse sentimento que trago humildemente ao Senado Federal, com a plena consciência de que há muito a aprender, a propor e a contribuir em prol do nosso País e do nosso povo, que apresenta tantas necessidades prementes.

Reafirmo a convicção na importância da independência desta Casa e do Congresso Nacional, que buscam atuar sempre de forma construtiva em relação aos demais Poderes.

Conforta-me ter ao meu lado e poder conviver com este verdadeiro mestre da política, que é o Senador Pedro Simon, liderança incontestável não apenas no Rio Grande do Sul; um nome sem o qual não se completa o quadro de ilustres pessoas públicas deste País.

Não é menor o meu privilégio de ter a companhia do Colega, também estreante, Senador Paulo Paim, que o Brasil teve a oportunidade de conhecer ao longo dos seus 16 anos como Deputado Federal, sempre abraçando as mais nobres causas populares, em muitas das quais fui, sou e serei seu parceiro.

Saúdo também, com muito respeito, meus companheiros de Partido, Senadores Fernando Bezerra, do Rio Grande do Norte, Duciomar Costa, do Pará, e Papaléo Paes, do Amapá.

Quantos temas relevantes poderiam ser tratados neste meu primeiro pronunciamento.

A BR-101, por exemplo, hoje recebeu destaque neste plenário. Mas quero, publicamente, dar o meu voto de confiança ao Ministro dos Transportes, Anderson Adauto, e ao Presidente Lula.

Poderíamos falar da soja transgênica. Mas a colheita deste ano está salva, graças à sensibilidade do Ministro da Agricultura e do Presidente Lula.

Porém, diante do clamor mundial que se alevanta contra a guerra, atrevo-me a deixar neste plenário uma proposta, a qual espero que seja ao menos objeto de reflexão dos meus Pares.

Todos assistimos, nos últimos anos, aos repetidos fracassos da Organização das Nações Unidas quando convocada para intervir na solução de conflitos mais sérios entre países.

Diante disso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ouvindo as vozes das ruas, as vozes de milhões de pessoas ao redor do mundo pedindo paz, e considerando que a legitimidade conferida pelo voto popular é indissociável dos parlamentos, que representam a totalidade das tendências dos povos em seus países por sua pluralidade, proponho que se estude, com a parceria de outros Congressos, a instalação de um Fórum Mundial de Parlamentos para a Paz.

Sim, Colegas Senadores, quem, no universo das instituições, tem mais autoridade para discutir, denunciar e frear confrontos belicosos, senão o Parlamento?

A última palavra para a guerra é dada pelos respectivos Congressos das Nações envolvidas. Portanto, quando falha a democracia, quando falha a diplomacia, quando falham as negociações dos representantes dos países no Conselho de Segurança da ONU - e tantas vezes fracassam por servilismo à vontade dos poderosos e aos interesses econômicos - resta aos Parlamentos a autoridade para dizer “não” aos senhores da guerra.

Srªs e Srs. Senadores, o Brasil vive um momento especialmente propício para liderar um movimento com esse objetivo. Temos um Presidente da República que se posicionou frontalmente contra o conflito no Iraque, fazendo corajosas críticas aos mandatários anglo-americanos. Seu nome já está sendo lembrado para o Nobel da Paz pela instituição do Programa Fome Zero. Quando, de um lado, um país ameaça com a mãe de todas as bombas, aqui somos convocados a lutar na mãe de todas as guerras, que é o combate à fome e à miséria. Se norte-americanos e ingleses utilizassem apenas o equivalente a um dia do dinheiro gasto na guerra para ajudar os países pobres, já haveria menos excluídos, menos fome e menos doenças no mundo.

Presidente Sarney, o Congresso Nacional brasileiro, que sempre agiu decididamente nos momentos mais difíceis da vida nacional e nas crises políticas mais agudas, pode oferecer uma contribuição de alto significado para a paz. Deixo em suas mãos essa proposta, Presidente Sarney. V. Exª, que por diversas vezes tem-se pronunciado, em nome desta Casa, pela paz, conta com o prestígio e a visibilidade política necessários para avalizar e comandar essa iniciativa, e este Plenário, composto por figuras de expressão e respeito internacional, como o ex-Vice-Presidente da República Marco Maciel, cerca de três dezenas de ex-Governadores, além de ex-Prefeitos, ex-Deputados e outras grandes Lideranças políticas, haverá de lhe dar o respaldo necessário a tal proposta. Considere, Sr. Presidente, a oportunidade de convocar seus colegas de outros Congressos para comporem esse fórum. Se por um lado a ONU tem-se mostrado incapaz de evitar a guerra, sabemos, por outro, que essa só se concretiza, via de regra, com a autorização dos Congressos dos países em conflito.

Senador Sarney, dê corpo à alma dessa idéia. Convoque os líderes de boa vontade para que apóiem, contribuam, associem-se ao Fórum Mundial de Parlamentos para a Paz!

O Congresso brasileiro cassou um Presidente da República. E o Congresso americano levou outro a renunciar. Cito estes dois exemplos para demonstrar que o desaguadouro dos clamores populares é o Parlamento.

Talvez este Fórum pouco possa fazer, agora, para solucionar o conflito no Iraque, mas, quem sabe, poderá ter relevante papel nas discussões de paz entre palestinos e israelenses. Ou aqui mesmo, na América do Sul, na busca de saídas para conflitos internos, como o que ocorre agora entre as Farc e o Governo colombiano. Vamos trocar experiências, assumir compromissos!

Vejam o caso do Fórum Social Mundial em Porto Alegre, que, em suas edições, mostrou que “um novo mundo é possível”, ou o Fórum Mundial de Juízes, onde os Magistrados brasileiros estão representados, ou ainda o Fórum Econômico de Davos, na Suíça.

A proposta do Fórum Mundial de Parlamentos para a Paz pode ser o embrião para a criação de um Conselho Mundial de Congressos, não para competir com a ONU, mas para colaborar com propostas que permitam uma nova relação entre as nações.

E pode gerar imediatamente um documento, em que os parlamentos venham a comprometer-se a, no mínimo, ouvir a voz do povo antes de autorizar qualquer ação de guerra.

Mas não é só isso, Srªs e Srs. Senadores. Poderemos reunir e trocar experiências com os mais diversos países, discutindo, entre outros temas, alternativas para o combate ao narcotráfico e ao crime organizado, que tornam o Brasil e outras nações reféns do medo.

Com certeza, exerceremos um papel de alta relevância na Nova Ordem Mundial que surgirá após o conflito do Golfo.

Concluo, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, citando o discurso proferido pelo inimitável Chaplin no filme O Grande Ditador, em 1940, em plena 2ª Guerra Mundial.

Por sua atualidade, nestes tempos de guerra, por expressar veemente confiança na possibilidade de entendimento e solidariedade entre os homens, o discurso do tímido barbeiro judeu confundido com o ditador Adenoid Hinkel merece ser lembrado:

Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo - não para o seu infortúnio. Por que haveremos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo, há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza. Porém nos extraviamos. (...)

Soldados! Não batalheis pela escravidão. Lutai pela liberdade. No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem - não de um só homem ou grupo de homens, mas de todos os homens. Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder - o poder de criar máquinas; o poder de criar felicidade. Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela, de fazê-la uma aventura maravilhosa.

Portanto, em nome da democracia, usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo, um mundo bom que a todos assegure o ensejo do trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Senador Sérgio Zambiasi, V. Exª me concede um aparte?

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (Bloco/PTB - RS) - Concedo um aparte ao Senador Pedro Simon.

           O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Hoje é um dia muito importante para todos nós do Rio Grande do Sul e tenho certeza de que esta Casa haverá de compreender o significado da vossa presença na tribuna. V. Exª é uma figura histórica memorável em nosso Estado. V. Exª tem o programa mais importante, mais significativo de rádio no Rio Grande do Sul. No momento em que V. Exª aceitou os inúmeros apelos para que entrasse na vida pública, V. Exª foi quatro vezes candidato a Deputado Estadual, e nas quatro vezes obteve mais de trezentos e cinqüenta mil votos. Não foi candidato a prefeito porque não quis, em mais de uma oportunidade, com uma eleição tranqüila. Na última eleição, não foi candidato a Governador do Estado porque não quis. Sua eleição seria tranqüila. Candidato ao Senado, obteve mais de três milhões de votos, elegendo-se V. Exª junto com o bravo companheiro Paim, uma representação extraordinária. E nós temos uma honra muito grande com esses dois nomes aqui no nosso Senado Federal. V. Exª é um homem preocupado com o social, como consta dos programas de V. Exª, como Presidente da Assembléia Legislativa. V. Exª tem uma preocupação que vai aos extremos com a questão social. V. Exª tem seu nome ligado a uma infinidade de obras preocupadas com o social. Lá em Porto Alegre há uma legião de pessoas recolhidas das ruas e colocadas lá na Toca do Zé. E lá na Toca do Zé, pessoas que não tinham absolutamente nada, que ficavam embaixo da ponte, drogados, viciados, velhos sem absolutamente nada, são centenas de pessoas que hoje têm um lar, têm um amparo, têm a recuperação, graças ao trabalho extraordinário e à colaboração que V. Exª presta. Lá em Porto Alegre tem muita gente que diz que a Toca do Zé recupera mais drogados do que psiquiatras e hospitais especializados, porque ali é uma obra de fé, de amor, de carinho, de afeto, que não se encontra em outro lugar. Por isso, V. Exª é recebido com uma extraordinária alegria. E garanto que V. Exª, que começa hoje a tomada de Brasília, haverá de ter, por parte desta Casa, a compreensão, o respeito e a admiração que merece.

           O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (Bloco/PTB - RS) - Senador Pedro Simon, agradeço a generosidade de suas palavras. Elas são, com certeza, um estímulo para este estreante nesta Casa, com tantas pessoas de muito brilho. Muito obrigado.

           Com a palavra o Senador Paulo Paim.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Sérgio Zambiasi, eu também não podia também deixar de vir ao plenário e fazer um aparte ao seu brilhante discurso, que fala das questões do Rio Grande do Sul, como a BR-101, porque entendo que toda a região Sul está trabalhando para que ela se torne realidade. Ainda hoje eu falava com o ministro, que me dizia que essa é uma obra estratégica para o nosso Governo, até pela importância do Mercosul, e reafirmava que ela há de sair, sim, porque há um compromisso do nosso Governo para que ela aconteça. S. Exª me dizia que, infelizmente, a obra foi anunciada no Governo anterior, mas o BID ainda não havia firmado o convênio, não havendo, conseqüentemente, a estrutura suficiente para que ela acontecesse. Mas quero cumprimentar V. Exª não só por estar falando das questões do Rio Grande do Sul, mas também pela sua excelente proposta ao mundo em busca da paz, fazendo com que os parlamentos do mundo todo se somem nessa caminhada para evitar que um momento triste como este pelo qual o mundo passa, com a guerra no Iraque, volte a acontecer e para que ela termine o mais rapidamente possível. Mas gostaria de dar um depoimento, Senador Zambiazi. Ao longo da campanha em que disputávamos duas vagas no Estado, V. Exª - lembro-me como se fosse hoje - fez uma campanha no mais alto nível e obteve um milhão de votos a mais que este Senador. O Rio Grande do Sul, com certeza, sabia muito bem o que estava fazendo. E digo mais a V. Exª: inúmeras vezes, na potência de sua voz, no seu trabalho profissional de radialista - lembra-me o Senador Simon -, quando para a rádio ligavam, em plena campanha, e perguntavam ao Senador Zambiasi: “Não acha que o Paim age com muita demagogia na questão do mínimo?” Em plena campanha, Zambiasi, candidato, fazia a defesa do nosso trabalho no Congresso na questão social e reafirmava: “Vou para lá e estarei do lado dele, trabalhando também, principalmente no campo social”. Este depoimento eu tinha que fazer, porque V. Exª merece, por toda a sua história de vida pública ou não. Parabéns a V. Exª. Esta Casa ganha com sua presença aqui e o Rio Grande do Sul também, porque, embora V. Exª não esteja lá, aqui fará um trabalho para o Rio Grande e para o Brasil. Parabéns, Senador Zambiasi!

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (Bloco/PTB - RS) - Obrigado, Senador Paulo Paim. Quero registrar que essa afinidade com o Senador Paim não nasceu nessa campanha; ela é lá daquela primeira, de 1986, quando nosso Simon elegeu-se Governador daquele Estado e onde nós dois iniciamos essa caminhada que culminou com este mandato para o Senado.

Obrigado, Senador Paulo Paim.

O Sr. Duciomar Costa (Bloco/PTB - PA) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (Bloco/PTB - RS) - Ouço o Senador Duciomar Costa.

O Sr. Duciomar Costa (Bloco/PTB - PA) - Senador Sérgio Zambiasi, quero parabenizar o povo do Rio Grande do Sul pela sabedoria de ter convocado V. Exª para fazer parte desta bancada seleta aqui na Casa, composta pelos Senadores Pedro Simon e Paulo Paim. Tenho certeza de que o Rio Grande do Sul se orgulhará muito do seu trabalho nesta Casa. Quero também parabenizá-lo em nome do PTB, Partido Trabalhista Brasileiro, pois é uma honra para todos nós tê-lo em nossa bancada. O tema trazido por V. Exª hoje a esta Casa é de extrema relevância, uma vez que a população mundial assiste, estarrecida, a essa guerra contra o Iraque. E a situação atual da ONU não deixa de preocupar todas as nações. Realmente, temos de fazer com que o mundo creia em uma organização que garanta a paz. Nós, aqui no Parlamento, devemos buscar uma forma de reconstituir a credibilidade de um órgão que era tão importante para o mundo, mas que hoje se encontra em uma situação de descrédito. Talvez V. Exª tenha sido estimulado pelo pronunciamento em prol da paz feito nesta Casa, há poucos dias, pelo Presidente José Sarney. Tenho certeza de que devemos encontrar uma forma de o mundo possuir um organismo com a credibilidade necessária para manter a paz mundial. Parabéns, Senador Zambiasi, e seja feliz nessa sua nova missão, concedida pelo povo do Rio Grande do Sul.

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (Bloco/PTB - RS) - Obrigado, Senador Duciomar.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Concede-me V. Exª um aparte, Senador Sérgio Zambiasi?

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (Bloco/PTB - RS) - Pois não, Senador Marco Maciel.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Meu caro Senador Zambiasi, antes de mais nada, gostaria de cumprimentá-lo pela sua posse como Senador da República e, de modo especial, pelo excelente pronunciamento que faz na tarde de hoje. Esse tema é muito pertinente a esta Casa, porque o Senado, além de ser a Casa da Federação - e esse papel ficou claro sobretudo após a Constituição de 1891, que institucionalizou a República sobre a forma federativa -, também é a Casa da política externa. Como sabe V. Exª, cabe ao Senado - e isso, em alguns casos, de forma privativa - não somente aprovar o chefe das missões diplomáticas brasileiras no Exterior, mas também uma série de atribuições voltadas para a formulação e o acompanhamento da política externa. Por isso, esse tema da paz, trazido por V. Exª, tem muito que ver com o Senado, sobretudo no que diz respeito à sua competência no plano da política externa. Certa feita, Rio Branco disse que a guerra era uma desgraça - e nós sabemos bem disso. De modo particular, podemos também constatar que os conflitos trazem, além de grandes danos humanos, que são irreparáveis, danos materiais, econômicos, danos ao patrimônio cultural e ao campo social. Assim, todo esforço possível para que possamos, de fato, encontrar saídas para a solução rápida da questão merece o nosso apoio. Cada vez mais, temos a consciência de que precisamos fortalecer as organizações multilaterais, buscando caminhos para que a ONU volte ao seu papel desempenhado no passado na solução dos conflitos - mesmo porque foi para isso que ela foi criada, em 1945. Que por esse caminho e por outros, como suscita V. Exª, possamos encontrar a paz, construindo uma comunidade internacional mais atenta às grandes aspirações da humanidade, no sentido de promover, cada vez mais, não só o desenvolvimento que seja sinônimo de justiça social, mas também a concórdia dos povos. Sobre esse aspecto, quero registrar - perdoem-me se me alongo nas considerações - os esforços que vêm sendo feitos pelo Papa, não apenas por meio de sua autorizada palavra, mas também perante os Governos envolvidos na guerra, o que demonstra, mais uma vez, a necessidade de nos unirmos a essas vozes, para que encontremos a paz, aspiração perene da humanidade, mas que atualmente é uma grande exigência da opinião pública mundial. Quero aproveitar a ocasião para, ao tempo em que cumprimento V. Exª por seu discurso, felicitar o povo gaúcho por tê-lo escolhido para o Senado Federal. Faço votos de continuado êxito em sua atuação nesta Casa do Congresso Nacional. Muito obrigado a V. Exª.

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (Bloco/PTB - RS) - ) Obrigado, Senador.

O Sr. Hélio Costa (PMDB - MG) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador Sérgio Zambiasi?

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (Bloco/PTB - RS) - Pois não, Senador Hélio Costa.

O Sr. Hélio Costa (PMDB - MG) - Como seu companheiro jornalista, radialista, quero cumprimentar V. Exª e dar-lhe as boas-vindas a esta Casa. Sobretudo, cumprimento o povo gaúcho por tê-lo escolhido como um dos três ilustres representantes do Estado do Rio Grande do Sul no Senado da República. Já temos a figura extraordinária do Senador Pedro Simon, que todos reverenciamos; temos a juventude e a impetuosidade do Senador Paulo Paim e agora temos V. Exª como ilustre representante do Rio Grande e que tanto se destaca na sua profissão, razão pela qual V. Exª está aqui. Nesta oportunidade, lembro que não é suficiente apenas ser um grande radialista, um grande jornalista para se chegar ao Senado da República. Às vezes, algumas pessoas têm a impressão de que estar com o microfone na mão, estar na frente de uma câmera de televisão é garantia de sucesso numa eleição para algum cargo público. Se fosse assim, Senador, costumo dizer que, nos últimos anos, a coisa mais fácil seria o apresentador do Jornal Nacional eleger-se presidente da República. Não é assim! É pelo seu talento, pela sua qualidade, pela sua capacidade de representar os interesses da comunidade, de defender as obras sociais, por suas posições, por seus pontos de vista que o povo gaúcho o elegeu. É por isso que V. Exª mereceu a confiança dos gaúchos. É por essa razão que V. Exª está aqui no Senado da República! Meus parabéns, principalmente por sua postura em relação a essa guerra injusta, infame, que lamentavelmente causa tantas mortes de inocentes, principalmente de crianças indefesas. A sua posição é muito nobre e a sua convocação para que os parlamentos e seus presidentes se reúnam em favor da paz é uma idéia nova, que deve prosperar. E esperamos que nosso Presidente, Senador José Sarney, possa apresentá-la como proposta de repercussão internacional. Parabéns, Senador Zambiasi, pela sua eleição, pela sua presença.

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (Bloco/PTB - RS) - Senador Hélio Costa, meu colega em ambos os sentidos, obrigado por sua solidária manifestação.

O Sr. Aloizio Mercadante (Bloco/PT - SP) - Concede-me V. Exª um aparte?

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (Bloco/PTB - RS) - Concedo o aparte ao Senador Aloizio Mercadante.

O Sr. Aloizio Mercadante (Bloco/PT - SP) - Senador Sérgio Zambiasi, eu não poderia faltar num momento como este. V. Exª chegou a esta Casa cheio de energia e entusiasmo, vindo de uma longa carreira não apenas na potente voz do rádio, que sempre manteve no Rio Grande do Sul, mas em serviços públicos prestados, mandatos de Deputado Estadual, com votações espetaculares. Com essa composição - o Senador Pedro Simon, com sua tradição, vivência, ética e competência; o Senador Paulo Paim, com a combatividade e o compromisso com os trabalhadores e com a trajetória sindical e parlamentar; e V. Exª, com essa vivência pública de prestação de serviços e com integridade -, o Rio Grande do Sul mostra a qualidade política, a longa tradição de debate e de eleger figuras com grande expressão nacional. Tenho certeza de que V. Exª fará, nesta Casa, um grande mandato e dará imensas contribuições. Tenho a honra de pertencer a um Bloco de sustentação do Governo de que V. Exª faz parte, para o que tem ajudado tanto e contribuído de forma inestimável. Portanto, dessa Liderança, saiba que esperamos estar sempre juntos, atentos às contribuições e argumentações. Recentemente, V. Exª trouxe a problemática da soja, mostrando que devia haver uma solução emergencial, e contribuiu para que o Governo agilizasse e fosse ao encontro das expectativas, mostrando a importância e a atenção que se deve ter com os produtores rurais do seu Estado e com os desafios complexos que teremos pela frente. Com a vivência e a experiência de V. Exª, tenho certeza de que o Senado e o Brasil terão uma imensa contribuição de um grande homem público. Parabéns. Bem-vindo a nossa vida pública.

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (Bloco/PTB - RS) - Obrigado por suas palavras encorajadoras, Senador Aloizio Mercadante.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Concede-me V. Exª um aparte?

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (Bloco/PTB - RS) - Concedo o aparte a V. Exª, Senador Antonio Carlos Magalhães.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Senador Sérgio Zambiasi, não há no País quem não o conheça, mas, quando V. Exª estréia no Parlamento com essa competência, tratando de temas importantíssimos para o País, e culmina seu discurso com esse apelo à paz, chamando a atenção de todos os Parlamentos do mundo, principalmente do nosso, V. Exª demonstra mais uma vez a vitalidade do seu Estado e a sua grande capacidade no Parlamento. Tenho certeza de que V. Exª, com o correr do tempo, será das figuras mais brilhantes desta Casa, como está demonstrando no seu primeiro discurso, quando tem a unanimidade do apoio do Congresso Nacional. Muito obrigado a V. Exª.

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (Bloco/PTB - RS) - Agradeço ao Senador Antonio Carlos Magalhães por essa encorajadora manifestação.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Concede-me V. Exª um aparte?

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (Bloco/PTB - RS) - Concedo o aparte ao Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Sérgio Zambiasi, cumprimento-o pelo pronunciamento, sobretudo porque ele congrega o anseio dos brasileiros hoje e inclusive de todos os Senadores que têm pensado em formas de contribuir para que haja paz efetiva no mundo. V. Exª propõe ao nosso Presidente, Senador José Sarney, que organize um fórum de todas os Parlamentos do mundo, para efetivamente estarem todos envolvidos na questão da paz. Trata-se de uma excelente iniciativa. Avalio que ela possa ser objeto de deliberação, como sugestão. Na verdade, pode V. Exª apresentá-la na forma de um requerimento, que pode ser examinado pela Comissão de Relações Exteriores e, em seguida, pelo Plenário. De maneira consistente, houve a aprovação pela Comissão dos dois requerimentos ontem apreciados: um, de iniciativa dos Líderes Aloizio Mercadante e Tião Viana, que eu mesmo subscrevi, solicitava ao Conselho de Segurança da ONU que imediatamente se reúna outra vez, examinando formas de estabelecer a paz; o outro, que inúmeros Senadores comigo assinaram, aprovado ontem, unanimemente, propunha que Sua Santidade o Papa João Paulo II possa reunir os líderes religiosos do mundo preferencialmente em Bagdá - se isso se tornar impossível, numa das capitais envolvidas no conflito, como Washington ou Londres -, para, de pronto, pensar em formas de estancar essa guerra que horroriza a todos. Senador Zambiasi, ainda ontem, o Diretor da Cruz Vermelha, com uma equipe de quatro pessoas, visitou um dos hospitais de Hilla, no Iraque, e informou que todos ficaram horrorizados com as dezenas de corpos esquartejados de seres humanos, de crianças. Praticamente uma família foi inteiramente dizimada porque um míssil explodiu um veículo em que estavam 15 pessoas, em princípio, inocentes e crianças, que foram exterminadas por essa guerra que cada dia faz menos sentido. Até quando os Estados Unidos vão continuar com essa guerra? Será que precisarão matar mais do que os três mil e tantos seres humanos mortos no World Trade Center e no Pentágono? Cumprimento V. Exª. A sugestão merece todo o nosso apoio.

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (Bloco/PTB - RS) - Senador Suplicy, agradeço a V. Exª pela sensibilidade no acolhimento dessa proposta para que esta Casa examine a possibilidade da criação de um fórum mundial de parlamentos para a paz, porque, se hoje nos vemos diante dessa guerra pelo petróleo, amanhã ela poderá ser pela água, e o Brasil é um dos países mais privilegiados com relação à água. Aquele míssil que está explodindo lá pode amanhã estar explodindo aqui.

É com essa preocupação que estou colocando essa proposta em mãos do nosso Presidente José Sarney, para que, juntamente com a Comissão de Relações Exteriores e com o Plenário desta Casa, possa estudar a possibilidade da criação desse fórum.

O SR. Fernando Bezerra (Bloco/PTB - RN) - Senador Sérgio Zambiasi, concede-me V. Exª um aparte?

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (Bloco/PTB - RS) - Concedo o aparte ao meu Líder, meu querido companheiro Senador Fernando Bezerra.

O Sr. Fernando Bezerra (Bloco/PTB - RN) - Senador Sérgio Zambiasi, é com grande alegria que saúdo V. Exª pelo brilhante discurso e que pude recebê-lo nesta Casa como grande Líder do Rio Grande do Sul e de meu Partido. Ao meu lado, veio prestigiar a estréia de V. Exª nesta tribuna o nosso Presidente, o nobre Deputado José Carlos Martinez, que também o saúda neste momento. V. Exª faz um discurso com a visão de estadista, num momento conturbado da vida mundial, de uma guerra absolutamente irracional e repudiada pela opinião pública do mundo. V. Exª propõe, no entendimento que tem da força dos Parlamentos do mundo, a criação de um fórum mundial de Parlamentos pela paz. Cumprimento V. Exª por tudo isso. Falar de V. Exª é absolutamente desnecessário, haja vista o depoimento dado pelo Senador Pedro Simon, com a autoridade que tem de homem de vida pública irretocável e exemplar e de quem conhece V. Exª na vida política e pública do Rio Grande do Sul. Saúdo V. Exª, como grande figura política do outro Rio Grande. Trago a saudação do meu Rio Grande, do Rio Grande do Norte, do nosso Partido, o PTB, e o cumprimento pelo belo discurso que faz e pela felicidade que tem o PTB de ter nos seus quadros um homem da sua dimensão. Muito obrigado.

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (Bloco/PTB - RS) - Obrigado, Senador Fernando Bezerra. Deixa-me orgulhoso haver sido recebido por V. Exª nesta Casa e por V. Exª haver conduzido os meus primeiros passos e sido um de nossos guias. Com a serenidade de V. Exª, temos produzido por meio da nossa Bancada, trabalhos importantes já, para o bem do nosso País.

Agradeço a V. Exª e ao Presidente Nacional do PTB, José Carlos Martinez, pela presença. S. Exª tem sempre sido um grande companheiro, um parceiro a nos estimular nesta caminhada política, na qual estamos envolvidos neste momento. Obrigado, Martinez, pela forma como tem conduzido o nosso PTB.

Todos nós, Presidente José Sarney, de uma forma ou de outra, registramos nossa indignação contra a guerra e, ao mesmo tempo, conscientizamo-nos para a paz.

Registro, ainda, o gesto da Ouvidoria Parlamentar da Câmara, que fez a gentileza de nos encaminhar sua forte mensagem pela paz, acompanhada do laço de fita branca, que simboliza o grande sonho de toda a humanidade e o qual sugiro que todos usemos.

Muito obrigado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/04/2003 - Página 5870