Discurso durante a 33ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil pela Campanha da "Fraternidade e Pessoas Idosas: Vida, dignidade e esperança".

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA.:
  • Homenagem à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil pela Campanha da "Fraternidade e Pessoas Idosas: Vida, dignidade e esperança".
Publicação
Publicação no DSF de 08/04/2003 - Página 6273
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA.
Indexação
  • HOMENAGEM, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), CAMPANHA DA FRATERNIDADE, DEBATE, SITUAÇÃO, IDOSO, IMPORTANCIA, VALORIZAÇÃO, CIDADANIA, DIGNIDADE.
  • APOIO, POSIÇÃO, JOÃO PAULO II, PAPA, OPOSIÇÃO, GUERRA, ORIENTE MEDIO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Senador José Sarney; Dom Lorenzo Baldisseri, Núncio Apostólico; Dom José Freire Falcão, Arcebispo de Brasília; Dom Raymundo Damasceno Assis, Secretário-Geral da CNBB; Dom João Bosco, Bispo de Patos de Minas; ilustre Senador Paulo Paim, autor desta belíssima idéia e, portanto, desta belíssima e justa homenagem à Campanha da Fraternidade e à CNBB. A CNBB é uma entidade que se marca por posição forte e sempre clara. Muito forte e clara em seu conteúdo social, apontando, o tempo inteiro, suas soluções, ainda que às vezes eu me permita discordar da terapêutica - quando não, é uma felicidade. Quando sim, devo ter a honestidade de confessar a diferença. Mas se, quanto à terapêutica, pode haver discordância, nunca há quanto ao fundo, ao objetivo, quanto à necessidade de todos nós lutarmos, cada um a sua moda e com suas convicções, por justiça social neste País.

A Campanha da Fraternidade vem em ótima hora, quando temos de fazer profunda reflexão sobre o papel do idoso em nossa sociedade. A população de idosos cresce. As demandas, os remédios, os aparelhos consumidos pelos idosos são caros. Li um estudo muito interessante que mostrava que os idosos custam mais do que os jovens, até porque as necessidades são urgentes. É preciso que se lance um olhar estratégico e sensível, por parte do Estado e da sociedade brasileira, sobre eles.

Eles são cada vez mais numerosos. Isso revela o dado bom de que coisas positivas têm acontecido no Brasil e o dado preocupante de que talvez não estejamos aparelhados em face de tantas exigências novas.

Sou representante do Amazonas. Tenho lá toda a miscigenação e tenho em mim toda miscigenação que marca a Nação brasileira. Em minhas veias corre sangue negro, europeu e - com muito agrado de minha parte e de minha família - indígena.

Eu pego o exemplo dos índios brasileiros, que são profundamente sábios ao lidarem com o idoso. Eles valorizam o conselho de anciãos. Entendem que aquele que já viveu tem muito o que ensinar àquele que está vivendo, experimentando, fazendo, exercitando sua experiência. A nossa sociedade quase sempre é fria.

É uma verdade sociológica que o idoso tende a perder peso específico, com o tempo e com a diminuição da sua capacidade de agir como provedor das necessidades de uma família. Ele é menos procurado pelo neto para resolver problemas, bem como para decidir as questões familiares. Isso tudo tem um fundo econômico muito claro.

Nós não aprendemos a buscar respostas na experiência dos mais velhos que construíram a história do País, que fizeram muito para chegarmos no ponto de hoje, com as nossas deficiências, defeitos e qualidades. Eles não são utilizados, chamados, convocados como deveriam, por todos nós.

Eu creio que há, então, questões objetivas com relação ao direito dos idosos. E aí vem - diz muito bem o nobre Senador Paulo Paim, já em ponto de votação, no Plenário deste Senado - o estatuto dos idosos.

Há a questão psicológica e a sociológica: Como o Brasil conseguiria ser completamente uma Nação democrática, e ser uma sociedade mais justa, ou menos injusta ou crescentemente menos injusta para ser crescentemente mais justa, se não formos capazes de dar ao idoso o papel importante que cabe a ele, não por compaixão, não por dó, não por comiseração, não por pena, mas por entendermos a importância de recorrermos aos idosos como fonte de sabedoria viva, não registrada em livros, que está à nossa frente.

Portanto, a campanha é extremamente oportuna, significando, mais uma vez, que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil sai à frente de um tema que precisa ser encarado frontalmente pela Nação brasileira.

Louvo, ainda, D. Lorenzo Baldisseri, que anunciou a posição do Vaticano no episódio da paz. Os assuntos não são separados, mas assemelhados, sim. Se temos sensibilidade para com os idosos - e temos que tê-la -, precisamos ter sensibilidade para com a paz, compreendendo que o mundo sem guerra haverá de ser mais justo, construído à base do diálogo, com os conflitos sendo dirimidos à base do entendimento, do desentendimento pacífico, quando for o caso. Este mundo será sempre melhor do que aquele que nasça, ou da Ditadura sanguinária de Saddam Hussein, ou do unilateralismo praticado pelo Presidente George Bush, que a todos nós preocupa.

Considero a posição de Sua Santidade, o Papa João Paulo II, muito firme, serena, inteligente, fazendo o inverso do que pode ser a conseqüência mais nefasta desta guerra, que é pôr de um lado a civilização judaico-cristã e de outro a civilização mulçumana. Observo Sua Santidade caminhando na direção inversa e sábia, e essa é novamente uma homenagem ao idoso que aqui faço. Admiro a sabedoria de alguém como João Paulo II, que hoje representa tão bem o sentimento de paz de mulçumanos, de cristãos, pois se trata de alguém que abre o fosso, procura mostrar que é possível, sim, até pelo entendimento dele, a convivência pacífica, fraterna e amorosa entre judeus, cristãos e mulçumanos. Por isso, não consigo deixar de resgatar essa figura idosa e sábia, felizmente idosa, feliz e necessariamente sábia, até porque felizmente idosa, do Papa João Paulo II.

Certa vez, quando era menino, tive uma conversa com um assessor de meu pai nesta Casa. Eu tinha aproximadamente 15 anos e o cidadão 48, idade que, àquela altura, parecia para mim uma idade além da de Matusalém. E, no decorrer da conversa, perguntei-lhe se não se sentia mal com a velhice, que, para mim, se traduzia por 48 anos de idade. Considerava-o, de fato, uma pessoa idosa. Ele me disse: “Arhur, você vai aprender com o tempo que as pessoas mais felizes são as que conseguem envelhecer. Aquelas que não conseguem envelhecer deixam de contribuir muito prematuramente para a vida e só envelhecem dois tipos de pessoas, as que têm sorte e as que têm sorte e são sábias. Se não houver sabedoria” - fez alusão à droga, imprudência, violência -, “nem sorte, não se chega à idade mais provecta e se deixa de aprender coisas e de ensinar muito mais coisas para as pessoas mais novas.

Aprendi a lição. O tempo vai passando. Hoje, sou uma pessoa madura e meu grande objetivo pessoal é envelhecer com dignidade, com respeito, envelhecer podendo passar coisas boas para as pessoas com menos idade do que eu.

Ao mesmo tempo, nosso objetivo seria nós todos - e essa é uma Casa para ação coletiva se fazer presente na vida das pessoas - cuidarmos das crianças abandonadas e cuidarmos dos idosos, seja para preservar-lhes a dignidade, seja para não esquecermos de quem nos fez; seja para buscar em quem realmente é sábio as soluções para um País mais justo, dentro de um mundo cada vez mais fraterno, cada mais solidário, cada vez mais cristão, com a face fraterna, solidária e cristã do coração da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Sr. Presidente, sou muito honrado com a designação que V. Exª me fez para falar em nome da Casa nesta bela homenagem. Aqui reafirmo a minha ternura e a minha admiração por essa entidade que é imprescindível, nos seus acertos e até nos seus raros equívocos, para que este Brasil nunca perca o seu olhar sensível na direção dos mais humildes na direção dos mais idosos, na direção dos mais desvalidos na terra brasileira.

Muito obrigado, Sr. Presidente, era o que tinha a dizer. (Palmas)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/04/2003 - Página 6273