Discurso durante a 16ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem pelo centenário de nascimento do ex-deputado Teodorico Bezerra. (como Lider)

Autor
Fernando Bezerra (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RN)
Nome completo: Fernando Luiz Gonçalves Bezerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem pelo centenário de nascimento do ex-deputado Teodorico Bezerra. (como Lider)
Publicação
Publicação no DSF de 24/07/2003 - Página 19508
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, THEODORICO BEZERRA, EX-DEPUTADO, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), EX PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIAL DEMOCRATICO (PSD), ELOGIO, VIDA PUBLICA, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, INDUSTRIA, ALGODÃO, DEFESA, POLITICA, FAVORECIMENTO, REGIÃO NORDESTE.

O SR. FERNANDO BEZERRA (Bloco/PTB - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho à tribuna desta Casa prestar uma homenagem à memória de um líder do meu Estado, na passagem do centenário do seu nascimento. Trata-se da extraordinária figura humana e de líder do seu tempo do ex-Deputado Federal Theodorico Bezerra, que, durante 16 anos, representou o povo norte-rio-grandense neste Congresso Nacional.

Theodorico Bezerra nasceu na minha cidade Santa Cruz, no Rio Grande do Norte, em 23 de junho de 1903, sendo, portanto, hoje, o centenário do seu nascimento.

Órfão de pai aos 11 anos, homem de instrução primária, um autodidata na verdade, começou a trabalhar como comprador de couro nas feiras e fez-se mascate aos 13 anos, negociando em feiras livres e em domicílio, trabalhando duro e diuturnamente para ajudar sua mãe viúva e seus irmãos - uma missão por ele assumida.

Em 1925, Theodorico Bezerra resolveu fixar residência em Natal e ingressou no ramo de hotelaria, adquirindo vários hotéis: o Hotel dos Leões, o Hotel Internacional, o Hotel Avenida e o Palace Hotel, até que, em 1939, o Governo do Estado construiu um prédio com modernas linhas arquitetônicas, destinado a ser um hotel de luxo, e Theodorico Bezerra, por meio de concorrência pública, passou a ser o seu arrendatário. Lá permaneceu como o primeiro e único locatário durante 48 anos. Ali, naquela casa, se escreveu grande parte da história política do Rio Grande do Norte.

Em 1928, agregou a atividade de agropecuarista. Adquiriu propriedades até formar o que se convencionou chamar de “Império” de Theodorico - a Fazenda Uirapuru - com mais de 10 mil hectares, chegando a ser o maior produtor de algodão no meu Estado.

Posteriormente, em sociedade com o seu irmão, meu pai, João Bianor Bezerra, instalou indústrias na cidade de Santa Cruz: usina de beneficiamento de algodão, fábrica de óleo de semente de algodão, de fiação, de tecelagem, fábrica de rede e de cobertores e exportou a pluma de algodão para o velho mundo europeu.

Hoteleiro, fazendeiro, agropecuarista, industrial, estabelecera regras na sua fazenda. Eram doze mandamentos de proibição. Quem desobedecesse era advertido para deixar a fazenda, entregar a casa e procurar outro trabalho. Era o lado folclórico, mas era o lado da visão desse importante líder do meu Estado. Dizia que era proibido andar armado, seja qual fosse a espécie de arma - e, hoje, esta Casa, justamente hoje, discute a questão do armamento no Brasil. Dizia que era proibido beber água-ardente ou qualquer outra bebida alcoólica - e sabemos as conseqüências dos desastres cometidos neste País, sobretudo no trânsito, pelo excesso do álcool. E sua visão de futuro obrigava aqueles que moravam na Fazenda Uirapuru a criar seus filhos aprendendo a ler e a escrever. Tinha a visão da educação, que faz tanta falta neste País, e, certamente, sem ela não teremos a possibilidade de nos projetar no conjunto das nações como um País desenvolvido.

Empresário irrequieto, continuou expandindo seus negócios. Montou agências de automóveis, comércios, indústrias gráficas, farmácia, etc.

Em 1932, casou-se com D. Zilá Bezerra, com quem teve os filhos Kleber e Sânzia e oito netos. Ela, uma mulher extraordinária e discreta, quem o influenciou ao longo da vida.

Em 1945, Theodorico entrou na política partidária já com uma sólida fortuna e grande extensão de terras. Projetou o perfil de um novo “coronel” com o título de “Majó”. Um “Majó” sem a truculência dos “coronéis”, sem jaguncismo, sem desacato às autoridades. Os mandamentos da Fazenda Uirapuru, a quem me referi, revelavam o pacifismo do novo “coronel”.

Um afigura folclórica que, em entrevista ao Jornal do Brasil, em 1976, dizia que a política é feita de tudo o que é bom: música, foguetão, baile, passeata, flores e aplausos. Orgulhava-se de ter sido hóspede de Getúlio Vargas na Fazenda Santos Reis, no Município de São Borja, no Rio Grande do Sul. Foi o único norte-rio-grandense a merecer tão honroso convite.

Foi um dos fundadores do Partido Social Democrático, o PSD, em 23 de maio de 1945.

O Senador Dinarte Mariz - de quem esta Casa ainda se recorda pelo trabalho extraordinário que exerceu durante muito tempo como 1º Secretário da Mesa do Senado, e que todos nós vamos reverenciar na sua figura de Líder, no próximo 28 de agosto, também no seu centenário - era amigo, desde a juventude, do ex-Deputado Theodorico Bezerra.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. FERNANDO BEZERRA (Bloco/PTB - RN) - Já vou encerrar, Sr. Presidente.

Theodorico e Dinarte estiveram juntos no passado sob a liderança de José Augusto.

Em 1945, após os primeiros sinais de redemocratização do País, ambos tomaram caminhos diferentes. Dinarte, com o Brigadeiro Eduardo Gomes, e Theodorico, com Getúlio Vargas.

Na época, Dinarte o incentivara para seguirem juntos, defendendo a bandeira do Brigadeiro Eduardo Gomes; Theodorico, entretanto, divergiu politicamente, mantendo a mesma amizade.

Enfrentou o primeiro teste das urnas, em 1947, e se elegeu Deputado Estadual ao lado de seu irmão João Bianor Bezerra, meu pai. Seu primeiro discurso na Assembléia foi uma análise da estiagem periódica e suas repercussões, a seca do Nordeste, que até hoje está sem o tratamento adequado pelo Governo Federal e pelas lideranças deste País.

Em 1948, houve uma concentração pública, em Natal, comemorativa à redemocratização. Theodorico foi informado de que seria um ato de hostilidade a Getúlio Vargas. Não compareceu.

Em 1950, Teodorico foi eleito Deputado Federal, sendo reeleito em 1954 e 1958. Em 1962, vice-Governador do Estado.

De novo na Câmara Federal, ali honrando as suas raízes e suas origens de sertanejo, ele falava também sobre a seca do Nordeste em busca de soluções que até hoje perseguimos nesta Casa.

Em 1954 ajudou Dinarte Mariz, seu amigo, a eleger-se pela primeira vez Senador da República.

No final de 1951, Juscelino Kubitschek, então Governador de Minas Gerais, visitou o Rio Grande do Norte e fez duradoura amizade com Teodorico, levando-o outras vezes ao Estado, inclusive como candidato a Presidente da República.

Em 1948, Theodorico se elegeu Presidente do PSD e ali permaneceu até o Ato Institucional que extinguiu aquele Partido.

Sr. Presidente, o tempo está escasso, mas quero dizer que essa grande figura de líder, à qual homenageio, não apenas como membro de sua família, o que me orgulha muito como seu sobrinho, foi uma figura que deixou marcas na política do Rio Grande do Norte tanto pelo lado humano como pela figura de grande líder, vindo a desaparecer em setembro de 1994, deixando para todos nós, norte-rio-grandenses, seus parentes e amigos, uma grande saudade.

Esta a homenagem que presto, hoje, da tribuna desta Casa ao ex-Parlamentar e líder do meu Estado, Theodorico Bezerra.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/07/2003 - Página 19508