Discurso durante a 96ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Sugestão para a especialização do setor de turismo na prestação de serviços à população da terceira idade.

Autor
Aelton Freitas (PL - Partido Liberal/MG)
Nome completo: Aelton José de Freitas
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TURISMO. POLITICA SOCIAL.:
  • Sugestão para a especialização do setor de turismo na prestação de serviços à população da terceira idade.
Aparteantes
Garibaldi Alves Filho.
Publicação
Publicação no DSF de 14/08/2003 - Página 23362
Assunto
Outros > TURISMO. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • SUGESTÃO, ESPECIALIZAÇÃO, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, SETOR, TURISMO, ATENDIMENTO, IDOSO.
  • IMPORTANCIA, PROGRAMA, INSTITUTO BRASILEIRO DO TURISMO (EMBRATUR), MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, IDOSO, INCENTIVO, APROVEITAMENTO, OFERTA, EQUIPAMENTOS, SERVIÇOS TURISTICOS.
  • DEFESA, NECESSIDADE, VALORIZAÇÃO, IDOSO.

O SR. AELTON FREITAS (Bloco/PL - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, agradeço a compreensão de V. Exas. Dado o avanço do tempo, procurarei ser o mais breve possível.

            Muitos dos valores predominantes em nossa época, que se diz pós-moderna e avançada, são de causar espanto e decepção até no mais ferrenho dos otimistas. O que se valoriza hoje? Valoriza-se a juventude, a beleza, a aparência, a exterioridade, a rapidez. São coisas admiráveis, mas também passageiras, superficiais, efêmeras! Outros atributos - como a sabedoria, a vivência, a tolerância, a aceitação do outro, o conhecimento acumulado, a compreensão profunda das coisas -, quanto mais passa o tempo, mais engrandecem homens e mulheres.

Vou falar, Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, de um tema: a velhice. A velhice em nossa sociedade não tem a conotação positiva como em outras partes do mundo. Para os orientais, por exemplo, o respeito ao velho é um valor cultural que passa de pai para filho. Os idosos são vistos como as pessoas mais sábias e mais experientes da comunidade, como as detentoras da história do povoado, da cidade ou da nação. Quem necessita de um esclarecimento, de um conselho, de uma recomendação, procura os mais velhos. Eles encarnam não só a sabedoria e a experiência, o juízo, o bom senso, a ponderação, o equilíbrio, a prudência.

No ocidente, Sras e Srs. Senadores, a velhice não está associada a tantos predicados positivos. Aqui no Brasil, o idoso costuma ser visto como um imprestável, um inútil dentro de casa, um estorvo para as famílias, uma fonte de conflito com os mais jovens. Muito bem fez o novelista Manoel Carlos, autor da novela “Mulheres Apaixonadas”, de inserir na trama um casal idoso, que convive com filhos, netos, nora e, nessa condição, espelha o cotidiano de milhares de idosos em conflito com as gerações mais novas. É muito bom que as novelas tragam para o seio das famílias brasileiras problemáticas como essa. Como a audiência é enorme, espera-se que o assunto se espalhe em toda a sociedade e gere uma reflexão saudável e que seja capaz de mudar o modo de pensar de muita gente, capaz de mudar o comportamento e as atitudes dos telespectadores que vivem problemas semelhantes.

Pois bem, Sr. Presidente, os idosos no Brasil já se estão percebendo como um segmento que tem direitos, que merece respeito e, principalmente, que pode transformar o período da velhice na melhor idade para ser vivida, usufruída e curtida intensamente. Livres da jornada da jornada diária de trabalho, libertos do famigerado relógio-ponto, com os filhos criados e os compromissos saldados, os idosos estão partindo para usufruir com plenitude programas educacionais, atividades culturais, bem como o turismo dentro e fora do País.

Quero me ater especificamente ao turismo voltado para a terceira idade. E o faço com particular satisfação, para conciliar a temática de duas subcomissões desta Casa das quais sou titular: a Subcomissão de Turismo e a Subcomissão do Idoso.

Já estamos cansados de proclamar as virtudes que tem nosso País na esfera do turismo. Mas o segmento dos idosos é um filão riquíssimo para o turismo, que não foi ainda explorado da forma mais conveniente. É um mito dizer que velhos não gostam de sair de casa. Gostam sim, e gostam inclusive de formas de turismo mais ousadas, como o turismo de aventura e o ecoturismo.

A Associação Brasileira das Agências de Viagem - ABAV - apurou recentemente que 20% da receita gerada pelo turismo brasileiro é proveniente do fluxo dos turistas com mais de 60 anos. As estações de águas, tão procuradas no passado, ficaram para trás. Esse público prefere hoje viajar para locais históricos, em pacotes que incluam atividades culturais. E encaram com prazer o turismo de aventura, viagens radicais, ecoturismo, como já disse. Nada de baralho e passatempos na mala! Levam mochilas, tênis, boné e, não fossem os cabelos brancos, seriam confundidos com um grupo de adolescentes. Fazem caminhadas, percorrem trilhas, escalam dunas, andam em jipes e até lanchas.

O fenômeno é mundial, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores. Nos Estados Unidos, 49% dos turistas têm mais de 55 anos. Na Europa, de cada seis turistas um tem mais de 60 anos. No Brasil, foi exatamente essa faixa que impulsionou o turismo das últimas três décadas. E não há o que estranhar. Existem hoje quatorze milhões e meio de brasileiros na terceira idade. Hoje, a população brasileira tem uma vida média de 68 anos. Conforme as estimativas, haverá trinta milhões de pessoas com mais de 60 anos no Brasil até 2020. A esperança de vida estará acima dos 70 anos de idade. Na América Latina, a população brasileira já é uma das mais velhas. Em 2025, o Brasil estará certamente entre as seis maiores populações de idosos no mundo.

Quem considerava o velho um peso morto na família surpreendeu-se com a informação revelada numa pesquisa do IBGE. No Brasil, mais da metade dos idosos chefes de família vivem com os filhos e os sustentam. Chegam a cinco milhões os idosos nessa situação hoje.

O Brasil segue, Srs. Senadores, uma tendência mundial de envelhecimento da população, resultado da combinação do aumento da expectativa de vida com a queda da natalidade. Para se ter uma idéia do aumento do número de idosos, vamos fazer uma comparação. Por exemplo, há duas décadas havia 16 idosos para cada 100 crianças; dez anos depois, eram 21 idosos para cada 100 crianças. Hoje já são 29 idosos para cada grupo de 100 crianças.

Não é sem motivo que a indústria turística nacional tem demonstrado mais interesse pelos serviços voltados para a terceira idade. O turismo da “melhor idade”, como é chamado, de acordo com os profissionais do setor, ainda pode crescer, e crescer muito. Com o tempo, para viajar e fazer turismo fora dos tradicionais meses de férias escolares, os turistas com 50 anos ou mais são os responsáveis hoje pelos lucros do mercado no período de baixa estação, como exemplo. Por seu lado, lucram com os preços de equipamentos e custos dos serviços mais baixos nessas épocas de entressafra do turismo.

A cadeia de turismo, Sr. Presidente, deve dar mais atenção aos turistas brasileiros. Das agências de viagem à rede hoteleira, todos devem buscar se especializar para prestar melhor serviço a esse segmento da população, grande nicho, podem ter certeza disso.

Os idosos têm disposição para usufruir todo o serviço de lazer; integram-se com facilidade aos grupos de faixas diferentes e mostram surpreendente energia para viver situações novas. Eles possuem limitações, é natural, pois são próprias da idade! O que faz o diferencial do atendimento a essa população é justamente tais restrições serem consideradas e respeitadas na programação oferecida no dia-a-dia.

Não passou despercebida a demanda da terceira idade por turismo. A Embratur - Empresa Brasileira de Turismo - mantém há treze anos um programa voltado para a terceira idade, que propicia a melhoria da qualidade de vida para brasileiros com mais de 50 anos. Os Clubes da Melhor Idade funcionam como centros de convivência, incluindo atividades artísticas, culturais, de lazer e recreação, bem como viagens, preparadas por agências credenciadas pela Embratur, a custos reduzidos. Com filiais espalhadas por quase todos os Estados. Os Clubes da Melhor Idade já contam com mais de 200 mil associados. A programação de viagens procura aproveitar a oferta de equipamentos e serviços turísticos nas baixas temporadas.

Programas voltados para atender o público idoso devem merecer a atenção de nossos dirigentes e administradores, não só por darem vazão a uma demanda crescente, mas também porque tais programas impulsionam toda a cadeia do turismo, principalmente quando os equipamentos e serviços estão ociosos, na baixa temporada. Com certeza, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, sabe disso o nosso Ministro do Turismo e meu particular amigo, Walfrido Mares Guia, a quem envio, na oportunidade, as saudações amigas deste conterrâneo mineiro.

É necessário que se multipliquem no País ações efetivas em favor dos nossos idosos. Cito também como exemplo o brilhante trabalho desenvolvido pelo Serviço Social do Comércio - Sesc - que desenvolve desde a década de 60, em diversas regiões do País, grupos de convivência, cursos e atividades intergeracionais que valorizam o ser humano na idade em que mais precisa.

O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Permite-me V. Exª um aparte, eminente Senador Aelton Freitas?

O SR. AELTON FREITAS (Bloco/PL - MG) - Pois não, Senador Garibaldi Alves Filho, com muito prazer.

O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Parabenizo V. Exª por trazer ao conhecimento da Casa uma riqueza de dados atinentes à Terceira Idade e também pela perspectiva que suscita no sentido de termos um turismo voltado para os idosos. É salutar que o País tenha este cuidado. Não apenas no segmento mais elitizado da população, que pode fazer turismo - esse nicho que se abriu, como V. Exª disse -, mas também em regiões mais pobres, mais deprimidas, as pessoas mais velhas procuram superar as adversidades da idade. É preciso dizer que, no Nordeste, por exemplo, em face do desemprego existente, são as pessoas de mais idade, que recebem pensões do INSS, pensões do antigo Funrural, que sustentam sua família, que sustentam os mais jovens. São pessoas que merecem ser vistas, que merecem esse olhar de compreensão e de estímulo que V. Exª lança sobre elas. Parabenizo V. Exª.

O SR. AELTON FREITAS (Bloco/PL - MG) - Senador Garibaldi Alves Filho, como grande Governador do Rio Grande do Norte que foi, V. Exª fez daquele Estado o grande pólo turístico que é hoje. Sinto-me orgulhoso em ser seu companheiro nesta Casa, principalmente na Subcomissão de Turismo, na qual trabalhamos juntos.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nosso século tem pela frente o grande desafio de criar novas instituições e novos mecanismos para articular as gerações.

A sociedade moderna, que hoje se pauta pelos conceitos de beleza, juventude e rapidez, tem de inventar uma nova forma de convívio capaz de atenuar os conflitos entre as gerações. Os jovens precisarão aprender a usar a sabedoria, a temperança e o bom senso dos idosos. Isso não depende apenas de Governos e instituições; depende de educação, de aprendizagem que começa no berço, que continua na escola e que se consolida na vida, no dia-a-dia. Será uma longa aprendizagem que levará décadas para mudar as coisas. Mas o tempo que levará não importa tanto. O que mais importa é nossos netos e bisnetos poderem contar para seus filhos o quanto seu País evoluiu no convívio entre as gerações, acabando com a discriminação em relação aos mais velhos.

Essa luta, Sr. Presidente, tem de ser uma bandeira de todos nós, Senadores, nas comissões e nesta tribuna. Portanto, termino lembrando, que oferecer mais dignidades aos idosos é o desafio de muitas Nações.

Deixo registrado que ocorre esta semana, em Brasília, o III Mercoseti - Encontro do Mercosul sobre a Terceira Idade. Representantes de vários países estarão trabalhando juntos em busca de medidas que garantam um envelhecimento digno e saudável para todos.

Como Senador da República e membro titular da Subcomissão do Idoso, terei a honra de discursar, amanhã, no encerramento do evento e contribuir para essa discussão de grande importância para toda a sociedade.

Sr. Presidente, agradeço sua compreensão e a dilatação do tempo.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/08/2003 - Página 23362