Discurso durante a 100ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Protesto contra as declarações do ministro José Dirceu, que atribuiu ao PLF falta de ética. Sugestões ao texto de reforma previdenciária e tributária.

Autor
Jorge Bornhausen (PFL - Partido da Frente Liberal/SC)
Nome completo: Jorge Konder Bornhausen
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. PREVIDENCIA SOCIAL. REFORMA TRIBUTARIA.:
  • Protesto contra as declarações do ministro José Dirceu, que atribuiu ao PLF falta de ética. Sugestões ao texto de reforma previdenciária e tributária.
Publicação
Publicação no DSF de 20/08/2003 - Página 24325
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. PREVIDENCIA SOCIAL. REFORMA TRIBUTARIA.
Indexação
  • MANIFESTAÇÃO, PROTESTO, DECLARAÇÃO, AUTORIA, JOSE DIRCEU, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, ACUSAÇÃO, FALTA, ETICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), DISCUSSÃO, SITUAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO, MUNICIPIOS, REFORMA TRIBUTARIA.
  • ESCLARECIMENTOS, POSIÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), ANALISE, REFORMULAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL, REFORMA TRIBUTARIA, NECESSIDADE, CRIAÇÃO, MODELO, BENEFICIO PREVIDENCIARIO, MAGISTRADO, MINISTERIO PUBLICO, APREENSÃO, POSSIBILIDADE, PREJUIZO, APOSENTADO, PENSIONISTA, DEFESA, MELHORIA, RECEITA, MUNICIPIOS, CRITICA, AUMENTO, CARGA, TRIBUTOS.
  • LEITURA, TRECHO, PROGRAMA DE GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), EXPECTATIVA, CUMPRIMENTO, ESPECIFICAÇÃO, REVISÃO, PACTO, FEDERAÇÃO.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, já ocuparam esta tribuna eminentes Senadores do meu Partido - o Líder Efraim Morais, o Vice-Presidente José Jorge, o Senador José Agripino -, para rebater com brilhantismo as críticas despropositadas do Ministro-Chefe da Casa Civil, Deputado José Dirceu, contra o PFL.

Como Presidente da Comissão Executiva Nacional do Partido, não poderia também deixar de trazer o meu protesto diante das infelizes declarações.

O que fez o PFL para provocar a ira do ilustre Ministro-Chefe da Casa Civil, pessoa de fino trato, Parlamentar inteligente? O PFL, cumprindo seu papel de oposição responsável, acusou as impropriedades e inconstitucionalidades contidas no texto do projeto de reforma da Previdência.

Alertamos, de forma clara, que a questão não era apenas apontar os erros crassos, mas também apresentar alternativas. O Poder Judiciário já havia se manifestado pela inconstitucionalidade da taxação de inativos e pensionistas, por ferir direitos adquiridos e atos jurídicos perfeitos. Fomos, na primeira etapa, vencidos, mas não convencidos.

Defendemos, na Câmara, uma previdência própria para o Poder Judiciário e para o Ministério Público. Não alcançamos nosso intento, que se baseava nas peculiaridades das respectivas carreiras, mas a nossa emenda propiciou a negociação que manteve a paridade, a integralidade e tetos compatíveis.

A nossa política de resistência à diminuição das perdas aos pensionistas produziu ganhos em relação à descabida sobrecarga inicial.

Criticamos e voltamos a criticar o tratamento igual que a reforma do PT dá a um aposentado precoce, hoje com 50 anos, e a um aposentado com 80 anos de idade ou mais. Não se tratam desiguais de forma igual.

Denunciamos a manobra sub-reptícia do Relator, incluindo, sem emendas, com um relatório apressado e sem leitura antecipada, a reestatização do seguro de acidentes do trabalho. Um retrocesso que não poderá deixar de ser apreciado no debate que se travará no Senado, que não pode, não deve e não deixará de aprimorar o texto votado na Câmara.

Também não foi outra a atitude do PFL, na primeira etapa da discussão da reforma tributária.

Colocamos, com clareza, que a reforma proposta era insuficiente, uma meia-sola, e, o que é pior, embutia novos aumentos na carga tributária.

Demonstramos que a redução para cinco alíquotas e a definição do enquadramento dos produtos por parte do Confaz farão com que a equalização ocorra sempre pelo teto maior. Apresentamos, por isso, emenda lógica, passando a responsabilidade do enquadramento para o Senado, a Casa que representa a Federação.

Condenamos as distorções existentes na formação dos Fundos de Participação dos Municípios e Estados. Quando da aprovação da Constituição de 1988, a receita total da União era representada por 75% de impostos e 25% de contribuições. Hoje, a diferença é a seguinte: a receita se constitui de 45% de impostos e 55% de contribuições.

Daí a situação caótica da maioria dos Estados e Municípios brasileiros.

Para corrigir a flagrante injustiça, apresentamos emenda que determina a partilha das contribuições, que, na verdade, na sua essência, constituem impostos com nomes disfarçados, para fugir ao dispositivo constitucional da partilha.

Aliás, friso e repito: a emenda da partilha das contribuições não aumenta a carga tributária - compromisso firmado pelo PFL, de forma explícita, na sua Convenção Nacional do dia 8 de maio.

Apontamos também a inequívoca intenção do Governo de aumentar a CPMF, que, por lei, votada no Congresso, terá a alíquota de 0,08% no próximo ano e que, com a colocação de contribuição definitiva e o estabelecimento de um teto de 0,38%, é evidente que, por conversão de alguma medida provisória, o Governo irá também aumentar a carga tributária.

Apresentamos, ainda, uma emenda que permitirá transformar a nova CPMF em ATF - Antecipação sobre Transações Financeiras, a qual possibilitará, no final do ano, que o contribuinte receba do banco a relação dos valores recolhidos ao Tesouro e deduzi-los na sua declaração anual de renda. Desaparece a bitributação para o bom contribuinte. O sonegador tem seu recolhimento transformado em impostos, e o Fisco, que pede e deseja o poder de fiscalizar com o cruzamento de dados, é atendido nesta emenda.

Não ficamos nisso, colocamos em debate um substitutivo global para fazer uma reforma tributária verdadeira que possa atender realmente ao setor produtivo, diminuindo impostos, simplificando e fazendo com que o Brasil possa realmente crescer.

O substitutivo é proposto para 2007, a fim de que o debate comece já, e para que não possam os atuais governantes dizer que inviabiliza seus mandatos. Para que possam efetivamente diminuir o tamanho do Estado, perdulário, que se dá ao luxo, na União, de criar ministérios e secretarias para ajudar eleitoralmente candidatos derrotados a Governador e a Senador nos Estados.

Mas não ficamos apenas dentro do Congresso. Programamos visitas aos Estados para debater as reformas com a sociedade, com os nossos correligionários, os nossos prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e os nossos governadores.

Oito Estados foram visitados e lá sentimos o clamor dos prefeitos, especialmente dos pequenos Municípios que enfrentam uma queda enorme e progressiva na distribuição do Fundo de Participação dos Municípios - FPM, obrigando-os a sacrifícios insuportáveis.

A Comissão Executiva Nacional do PFL resolveu, então, fazer uma ampla campanha pela partilha das contribuições, causa justa que o Governo tenta não enxergar. A primeira etapa foi a promoção, no dia 14 de agosto passado, de um encontro de Prefeitos do PFL, que acabou estendido a Prefeitos de outras agremiações. Para nossa honra, lá estiveram mais de 500 Prefeitos que atenderam ao nosso chamado, e o sucesso da reunião todos reconheceram.

Os oradores não foram somente os do nosso Partido. Ao lado dos Senadores Antonio Carlos Magalhães, Marco Maciel e José Agripino, dos Deputados Ronaldo Caiado e Kátia Abreu, do Deputado e Líder José Carlos Aleluia, dos Prefeitos César Maia e Antônio Imbassahy e de outros que engrandecem a nossa legenda. Por lá também passaram, assumindo compromissos com a luta pela partilha das contribuições, o Presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziolkoski, do PMDB do Rio Grande do Sul, e o Presidente da Frente Pró-Municípios do Senado, Senador Ney Suassuna, e o Líder do PSDB, Senador Arthur Virgílio.

O encontro, como não poderia deixar de ser, causou grande repercussão entre Congressistas e na própria imprensa.

No dia seguinte, os jornalistas foram convocados pelos Ministros José Dirceu e Antonio Palocci. O encontro havia abalado as bases do Governo do PT. Até aí, nada demais, era natural.

No entanto, o Ministro José Dirceu foi longe demais, declarando “não dá para partilhar, não tem partilha. Se depender de nós, não partilhamos. Se ficarmos dando voltas, a reforma empaca e não sai”. E o pior, acusou o PFL de falta de ética, por ter apoiado aprovações do Governo anterior.

Lamento que o Ministro, um homem público inteligente e, repito, educado e de fino trato, tenha, injustificadamente, se excedido. É indispensável buscá-lo à razão.

É preciso deixar muita clara a diferença de postura entre a posição do PFL e a do PT sobre o assunto. O PFL participou do Governo anterior até março de 2000. Votou contribuições em função das crises que exigiram ajustes fiscais. Lembro a crise do México, a crise asiática, a crise da Rússia, a crise do Real e a crise da Argentina.

Agora, a recessão que se verifica é provocada pelo atual Governo, que já produziu 600 mil desempregados.

Neste momento em que se discute a reforma tributária, nada é mais certo que corrigir os erros e injustiças. O PFL tem humildade para reconhecer erros, a existência de excessos nas contribuições e, por isso, apresentou as alternativas adequadas, para uma partilha mais justa.

Convém ainda ressaltar que o PFL não teve candidato à Presidência da República e, por isso, não apresentou compromissos de Governo para a Nação. Nossa candidata, Senadora Roseana Sarney, que caminhava para uma grande vitória, teve sua candidatura ilegalmente abalada e a extemporânea vinculação dos cargos eletivos nos afastou do pleito presidencial.

O PT, sim, teve candidato, foi vencedor, e a ética exige que cumpra seu plano de Governo, o que não vem fazendo até agora.

E o que diz esse plano no Título - Crescimento, Emprego e Inclusão Social? “A inclusão de um modelo de desenvolvimento alternativo, que tem o social por eixo, só poderá ter êxito se acompanhado da democratização do Estado e das relações sociais, da diminuição da dependência externa, assim como um novo equilíbrio entre União, Estados e Municípios”.

            Consta ainda, dentro do plano de Governo do PT: “O contrato social que desejamos, promoverá não só a independência entre os três Poderes da República como também uma relação mais respeitosa e equilibrada entre a União, Estado e Municípios”.

A seguir conclui: “Somente um novo pacto federativo poderá corrigir as históricas desigualdades regionais, agravadas nos últimos oito anos”. “A União descentralizou atribuições, encargos administrativos para Estados e Municípios, ao mesmo tempo em que concentrou recursos em Brasília”.

Belo diagnóstico, mas quem está faltando com a ética?

Evidentemente o PT assinou, pelo seu plano de Governo, um contrato com o eleitor, pregando um novo pacto federativo que agora nega. E mais, renegando o compromisso de repartir melhor a receita com Municípios e Estados para acabar com os recursos concentrados em Brasília, conforme diz o seu próprio plano.

O PFL, que não pôde ter candidato, mas que soube se declarar oposição três dias após o segundo turno, continuará a luta pela partilha com Estados e Municípios, sem admitir aumento da carga tributária.

O PFL está ao lado da cidadania e lutará para que a reforma tributária não sofra o mesmo proposital abandono a que está relegada a reforma política.

Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/08/2003 - Página 24325