Discurso durante a 124ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Festa do Çairé, realizada de 11 a 15 do corrente em Santarém/PA.

Autor
Luiz Otavio (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PA)
Nome completo: Luiz Otavio Oliveira Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL. HOMENAGEM.:
  • Festa do Çairé, realizada de 11 a 15 do corrente em Santarém/PA.
Publicação
Publicação no DSF de 19/09/2003 - Página 28084
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL. HOMENAGEM.
Indexação
  • REGISTRO, OCORRENCIA, FESTA, FOLCLORE, MUNICIPIO, SANTAREM (PA), ESTADO DO PARA (PA), DETALHAMENTO, PROGRAMAÇÃO, ORIGEM, CULTURA, INDIO.
  • HOMENAGEM, MUNICIPIO, SANTAREM (PA), ESTADO DO PARA (PA), INFORMAÇÃO, TURISMO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, REIVINDICAÇÃO, ASFALTAMENTO, RODOVIA.

O SR. LUIZ OTÁVIO (PMDB - PA. Sem apanhamento taquigráfico.) -

FESTA DO ÇAIRÉ E SANTARÉM

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, realizou-se, na semana passada, em Santarém, a tradicional Festa do Çairé, um dos maiores eventos folclórico-culturais da Região Norte. O festejo dura cinco dias e atrai cada vez mais turistas à cidade de Santarém. É um misto de festa religiosa, de dança, de procissões e cantorias e de competição em torno da lenda do boto amazônico.

Este ano, acompanharam a Festa do Çairé cerca de 60.000 pessoas. Nos últimos anos, a festa consolidou suas feições de grande atração turística. É organizada pela Secretaria de Turismo do Município e tem o apoio caloroso de todos os santarenos.

Os festejos têm um local específico para a sua realização, a Praça do Çairé, situada na vila do Alter-do-Chão, a 35 quilômetros do centro de Santarém. Alter-do-Chão é famosa pela sua belíssima praia fluvial, especialmente bonita nesta época do ano, quando estão bem baixas as águas do Tapajós. A barra fluvial existente na confluência do Lago Verde com o rio Tapajós é reputada como a mais bela praia fluvial do mundo. De areias brancas e de águas verde-azuladas, é bem conhecida dos navios turísticos de cruzeiros internacionais que sobem o rio Amazonas. Talvez mais conhecida por estrangeiros que pelos brasileiros de outras regiões.

Sr. Presidente, vale a pena estender-se sobre a colorida Festa do Çairé, atração fascinante e interessantíssima. Antes de fazê-lo, porém, quero prestar uma homenagem à terra do Çairé, Santarém, discorrendo um pouco sobre esse Município. Santarém, sempre que lá vou, recebe-me com grande carinho, e sou muito grato por isso. É bom lembrar mais um laço efetivo que me prende a Santarém: meu suplente, Dr. Antônio Jorge Hamad, pessoa que tenho grande respeito e admiração, é daquela região.

O Município de Santarém, plantado no mundo amazônico das águas, tem forte atividade pesqueira e madeireira. Conta com 268.000 habitantes, segundo estimativa do IBGE para o ano de 2003. Tem um grande território, com cerca de 25.000 quilômetros quadrados, maior que muitos países. Como pólo de ecoturismo, possui qualidades superlativas: imensas e belíssimas várzeas, incontáveis lagos e igarapés, exuberante floresta tropical e inúmeras praias selvagens.

Estão em implantação em Santarém vários projetos que deverão dar um grande impulso a sua vida econômica: um moderno porto fluvial, uma Escola Técnica Federal, o zoneamento agroecológico do Município, feito pela Embrapa, melhoramentos nas estradas municipais e várias iniciativas no setor agropecuário.

A grande esperança e o grande pleito de Santarém é a conclusão da pavimentação da BR-163, a estrada Cuiabá-Santarém. Com uma nova e moderna rodovia interligando Santarém à malha nacional, o Município, inevitavelmente, entrará em uma dinâmica etapa de seu progresso social e econômico. Naturalmente, o transporte fluvial continuará a ter seu papel fundamental na economia do Município.

Enquanto isso, outros projetos vão sendo tocados. Vêm sendo desenvolvidos cultivos já tradicionais, como o do cupuaçu, do urucum e da mandioca, bem como novos, como soja e café. Vem progredindo o abastecimento d’água e a eletrificação rural nas vilas e lugarejos da região do Planalto Santareno. A chegada da energia de Tucuruí a Santarém deu maior segurança a esses planos de desenvolvimento.

Santarém, estrategicamente situada a meio caminho entre Belém e Manaus, conta com aeroporto que opera com aeronaves de médio e grande porte, em vôos regionais e nacionais.

Na área da educação, cabe citar as três instituições de ensino superior da cidade, duas particulares e uma pública, esta representada pelo Campus de Santarém da Universidade Federal do Pará. Igualmente merecem destaque as quatorze unidades de ensino do Sistema “S” (SESC, SENAC, SENAI e SESI). Também o SEBRAE é muito ativo em Santarém.

A farinha de mandioca produzida e exportada por Santarém merece menção especial. São fabricadas diversas variedades: seca, d’água, tapioca e macaxeira. Além disso, a granulação e a pigmentação variam de uma área do Município para outra. É uma generosa diversidade.

A natureza generosa da terra e do povo de Santarém pode ser comprovada por quem circula por suas ruas e feiras. Os mercados e feiras são numerosos e multicoloridos. Basta atentar para as frutas que neles se vendem. Além de frutos tradicionais, como banana, cítricos, abacaxi, manga, melancia, melão, abacate, acerola, goiaba, maracujá, coco e outros, o visitante depara-se com os deliciosos frutos regionais: cupuaçu, graviola, ata, biribá, jambo, taperebá, sapoti, murici, pupunha, açaí, bacaba, cacau, uxi, umari, piquiá, pitomba e muitos outros.

De modo que, Sr. Presidente, o visitante que foi a Santarém em setembro ver a Festa do Çairé, além do empolgante pitoresco dos festejos de cinco dias, encontrou também a beleza da região e a simpatia da cidade.

A festa é, por si, sem dúvida, uma grande atração. Sua origem é indígena, ou melhor, nasceu do encontro entre os jesuítas catequisadores e os índios. O termo “Çairé” designa uma espécie de escudo usado nos festejos, em que estão desenhadas as cruzes que simbolizam o mistério da Santíssima Trindade.

Talvez a melhor maneira de dar um breve resumo, de começar a formar uma idéia do que é a Festa do Çairé seja citar alguns tópicos da sua programação, que se estenderam, este ano, do dia 11 ao dia 15 de setembro. Leio no programa do Çairé: primeiro dia, alvorada e fogos de artifícios; busca do juiz, da juíza e da saraipora, para dar início à busca dos mastros; procissão fluvial da busca dos mastros; cerimonial de abertura, hino nacional em tupi-guarani e apresentação da bandeira da festa; missa no Barracão na Praça do Çairé; apresentações folclóricas, como danças das crianças, dos idosos e carimbó; show musical.

Segundo dia: rito religioso; início da disputa entre as duas agremiações, Boto Tucuxi e Boto Cor de Rosa, com a apresentação dos desfiles, danças e alegorias; show musical. Terceiro dia: novas apresentações do Boto Tucuxi e do Boto Cor de Rosa e novo show musical. Quarto dia: rito religioso e shows musicais na praia e na Praça. Último dia: derrubada dos mastros; ritual de encerramento, que inclui a cecuiara, grande almoço de confraternização; e, finalmente, o Baile dos Barraqueiros.

A leitura do programa não basta para descrever a festa. Ela se inicia com um desfile de barcos enfeitados que penetram na mata para que os “procuradores” escolham os dois mastros que liderarão as procissões. Um, levado por um cortejo de homens comandados por um “juiz”. Outro, conduzido por um cortejo de mulheres comandadas por uma “juíza”. Saraipora é a mulher que leva o estandarte-símbolo do Çairé. As procissões repetem-se todos os dias do Çairé, ao meio-dia, com um breve ritual em torno dos mastros.

Ao anoitecer, nos dias da festa, há uma procissão que, no Barracão do Çairé, entoa ladainhas em latim. Segue-se a cerimônia do beija-santo, de que participa toda a hierarquia do Çairé: juízes, mordomos, procuradores e assistentes. Ao final do festival, a derrubada dos mastros é feita em forma de disputa entre homens e mulheres. Quanto à competição festiva principal, entre o Boto Tucuxi e o Boto Cor de Rosa, incorporam-se nela feições específicas da tradição do Çairé. Uma atração à parte é a apresentação ritual dos antigos habitantes da Vila do Alter-do-Chão, os índios borari.

Sr. Presidente, vale a pena ir a Santarém, conhecer sua natureza exuberante e a fascinante Festa do Çairé. Registro aqui minha homenagem a essa tradição do valoroso Município de Santarém.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/09/2003 - Página 28084