Discurso durante a 144ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Transcurso do sesquicentenário da cidade do Crato, no Estado do Ceará.

Autor
Reginaldo Duarte (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: José Reginaldo Duarte
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. ENSINO SUPERIOR.:
  • Transcurso do sesquicentenário da cidade do Crato, no Estado do Ceará.
Publicação
Publicação no DSF de 18/10/2003 - Página 32863
Assunto
Outros > HOMENAGEM. ENSINO SUPERIOR.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, MUNICIPIO, CRATO (CE), ESTADO DO CEARA (CE), REGISTRO, HISTORIA, COLONIZAÇÃO, ELOGIO, DESENVOLVIMENTO, ESPECIFICAÇÃO, CULTURA.
  • DEFESA, CRIAÇÃO, UNIVERSIDADE FEDERAL, VALE DO CARIRI, ESTADO DO CEARA (CE), UNIFICAÇÃO, ESCOLA PUBLICA, ENSINO SUPERIOR, REGIÃO.

O SR. REGINALDO DUARTE (PSDB - CE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, neste dia 17 de outubro de 2003, comemoramos o Sesquicentenário da Cidade do Crato, no Vale do Cariri, na região sul do Estado do Ceará.

Quero, nesta data, contar de minha alegria. Antes, porém, desejo fazer um breve contraponto entre a trajetória do Crato de Portugal com o Crato do Cariri.

Desejo regressar no tempo e voltar à história da Vila do Crato ou, como chamam os nossos irmãos portugueses, o “Concelho do Crato”, pequeno vilarejo situado no Distrito de Portalegre, integrando em termos mais vastos a Sub-Região do Alto Alentejo, na região das Planícies, em Portugal.

A sede do “Concelho”, a vila do Crato, nasceu sobre as ruínas de uma importante cidade, talvez cartaginesa. Conquistada aos muçulmanos por D. Afonso Henriques em 1160, foi doada por D. Sancho II à Ordem de Malta, convertendo-se em 1350 na sua sede, o que contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da Vila. 

O castelo, de que subsistem alguns vestígios, foi edificado no século XIII, reconstruído dois séculos mais tarde e totalmente arrasado pelos exércitos de D. João da Áustria em 1662.

Atualmente, o “Concelho do Crato” é uma pequena vila alentejana, com uma superfície de 388 km² e uma população de 4.231 habitantes, constituída por seis freguesias: Aldeia da Mata, Crato, Flor da Rosa, Gáfete, Monte da Pedra e Vale do Peso.

O processo de integração de Portugal à Comunidade Européia criou novas perspectivas, e a Vila do Crato é hoje uma importante referência nacional quanto ao turismo, ao artesanato, à culinária e um testemunho concreto da bela história de nossa nação irmã.

Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, na mesma época em que finda o primeiro momento de apogeu do Crato português, por volta de 1660, portugueses e seus descendentes, vindos da Bahia e de Sergipe, chegam ao Cariri pelo riacho dos Porcos. Fixam-se em São José dos Cariris Novos, hoje Missão Velha, trazendo gado e, assim, inaugurando a civilização do couro.

Em 1730, a cultura do colonizador chegou aos nativos do Cariri por intermédio das missões fundadas pelos capuchinhos italianos do convento de Nossa Senhora da Penha, de Pernambuco, dos quais figurou como expoente Frei Carlos Maria de Ferrara, que, tendo recebido terras, doou-as aos índios.

Os religiosos organizaram aldeias indígenas para a catequese, as quais ficaram conhecidas como Missões, sendo a primeira instalada em Missão Velha. A primeira capela erigida no Cariri foi localizada no Município de Missão Velha e data de 1848.

O Cariri, de 1850 a 1860, passou por acentuada evolução com a chegada de ricos comerciantes da região de Icó, que somaram suas forças às já existentes no local e, dessa forma, contribuíram para a instalação de estabelecimentos comerciais, dando início ao processo de urbanização, especialmente no Município de Crato, que se transformaria no maior centro comercial da região. 

Assim, o Cariri saía da economia puramente agro-pastoril para intensa atividade comercial, abrindo, então, novas perspectivas de progresso e desenvolvimento.

No entanto, ao longo da história, o Cariri foi aglutinando elementos constitutivos de sua importância e de sua especificidade como pólo do semi-árido. A estreita ligação do ambiente político e cultural do sul cearense com Recife tornou-se decisivo marco para a independência na tomada de iniciativas, muitas vezes, ousadas.

Em 1817, líderes caririenses uniram-se aos revolucionários pernambucanos e proclamaram, na Vila do Crato, a Independência do Brasil, inspirados na coragem de Bárbara de Alencar e de seus filhos José Martiniano e Tristão Gonçalves. Ainda em 1817, os caririenses forçaram a Província do Ceará a aderir à Confederação do Equador. 

Em 1824, os caririenses proclamaram um governo republicano e, mais uma vez, marcharam em direção a Fortaleza, onde depuseram o Governo Temporário e conturbaram o ambiente político e administrativo da Província com seu ideário, claramente à frente de seu tempo. 

Em 1831, quando D. Pedro I abdicou, houve uma sedição no Cariri, alcançando até Icó, sob a liderança de Pinto Madeira. Somente em 1834, com o fuzilamento desse líder caririense, voltou a haver paz na Província do Ceará.

Pouco depois, em 1846, o então Senador José Martiniano de Alencar apresentava projeto e orientações para a constituição de uma nova província, a Província do Cariri, tendo como pano de fundo as potencialidades regionais. Essa iniciativa voltou a ser promovida em duas outras oportunidades ao longo do século XIX.

Em 1872, o jovem sacerdote cratense Cícero Romão Batista solicitou ao Bispo do Ceará a construção do seminário regional. O Seminário São José em Crato constituiu-se no primeiro marco do sistema de ensino da região.

Foi ele o responsável pela formação de uma massa de intelectuais no Município e, de resto, na região, que possibilitou a implementação do sistema educacional que se completa no presente século, com a criação de colégios de 1º e 2º graus e da Faculdade de Filosofia do Crato.

Com a fundação do Ginásio Diocesano, em 1º de abril de 1916, a cidade do Crato, desde então, constituiu-se em centro cultural e educacional de grande influência no Ceará e nos Estados vizinhos.

O Crato passa a ser o centro de formação de uma elite acadêmica de sacerdotes, doutores, pedagogos, sociólogos, teólogos e políticos que alcançaram posição de destaque nos cenários local, regional e nacional.

Cabe, ainda, destacar a Universidade Regional do Vale do Cariri, a URCA, que prossegue nos dias atuais o trabalho antes desenvolvido pelo Ginásio Diocesano, como fonte de formação de nossa juventude.

Em todo o Nordeste, o Crato é reconhecido por suas tradições, seu modo civilizado de vida e a atração envolvente das quebradas da serra do Araripe, em cujas encostas se acomoda e se acolhe a nossa bela cidade.

Como disse um cronista, o Crato é alegre, aconchegante, camarada, intelectual e boêmio. Tudo isso emoldurado por atividades intelectuais que vão desde a Academia de Cordelistas até o Instituto Cultural do Cariri. O Coral Infantil, a Orquestra Lírica do Belmonte, formada por agricultores, a Banda Cabaçal, dos Irmãos Aniceto, a velha Banda de Música, a festa da exposição, os clubes serranos e, principalmente, a hospitalidade.

Antes de voltar a minha proposta inicial de fazer um contraponto entre o Crato português e o Crato brasileiro, permitam-me dizer de minha alegria em comentar a comemoração do aniversário do Instituto Cultural do Cariri.

Fundado em 1953, o Instituto é uma entidade que tem contribuído de forma séria e responsável para o desenvolvimento cultural de nossa Região. São 50 anos de serviços prestados ao Vale do Cariri.

A Revista ITAYTERA tem sido o veículo de divulgação do patrimônio cultural, artístico e histórico do Nordeste. Meus parabéns a todos que lutam pela preservação e proteção de nossa cultura, mediante as atividades do Instituto Cultural do Cariri.

Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, permitam-me regressar à iniciativa de propor um contraponto entre as duas cidades homônimas.

Enquanto o Crato português tem apenas 388 km² e uma população de 4.231 habitantes, no Cariri, o Município de Crato tem uma população de 104 mil habitantes, distribuídos em 1.117 km².

O Município é dividido em onze distritos: Lameiro, Dom Quintino, Santa Fé, Das Palmeiras, Bela Vista, Belmonte, Campo Alegre, Santa Rosa, Monte Alverne, Muriti, e Ponta da Serra.

O Crato alentejano tem 11 habitantes por quilômetro quadrado e o Crato caririense abriga 93 habitantes por quilômetro quadrado. Enquanto os irmãos portugueses contam com um momento favorável criado pela integração européia, com grande dinamismo no turismo e em atividades afins, os nossos conterrâneos do Crato caririense se indagam quanto ao futuro, suas perspectivas. 

No Cariri, as mães e os pais se indagam quanto às possibilidades futuras de emprego para os filhos. A juventude pergunta quanto às possibilidades de sua inserção na construção de uma Nação mais justa, mais desenvolvida, mais produtiva e competitiva.

A comemoração dos 150 anos do Crato é um bom momento para a reflexão: como construir um rumo seguro e viável para o Vale do Cariri. A longa trajetória do Crato lusitano nos ensina que a vida das cidades pode ter altos e baixos. Certamente há otimismo no Cariri, mas há, também, incerteza e apreensão quanto ao futuro.

Como Senador nascido no Vale do Cariri, reafirmo meu compromisso com a construção de um futuro melhor. Nesse sentido, coordenei a elaboração de um documento preliminar de proposta de criação da Universidade Federal do Cariri. 

Esse documento se encontra em análise no Ministério da Educação e estou aguardando uma reunião com o Senador e Ministro Cristovam Buarque para acertar um plano de ação com o objetivo de dotar o Cariri com mais um instrumento de criação e construção de um futuro mais promissor.

Minha proposta consiste em aglutinar as entidades federais de ensino superior existentes no Cariri, ou seja, a Faculdade de Medicina de Barbalha, o Centro Federal de Educação Tecnológica e a Escola Agrotécnica Federal. 

O estudo elaborado comprova que a Universidade Federal do Cariri precisa ser criada de imediato, para o que concorre, de forma providencial, a existência, em Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte, das citadas estruturas federais na área da educação superior que poderão ser administrativamente unificadas, de forma a racionalizar e viabilizar o investimento público. 

Dessa unificação e federalização resultariam maior eficiência na gestão pública e maior capacidade de atenção às demandas de nossa juventude.

Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, comemoro o aniversário do Crato caririense reafirmando meu compromisso com o Cariri e me comprometendo em seguir na luta em defesa de seus interesses e objetivos. Em especial, prosseguirei na luta pela criação e implantação da Universidade Federal do Cariri.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/10/2003 - Página 32863