Discurso durante a 36ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Necessidade de implementação de uma agenda produtiva para agilizar as votações no Congresso Nacional. Apelo ao Presidente Lula para que reveja a política governamental em relação aos servidores da Polícia Federal. Manifestação contrária ao Projeto de Lei de Conversão 20, de 2004. (como Líder)

Autor
Efraim Morais (PFL - Partido da Frente Liberal/PB)
Nome completo: Efraim de Araújo Morais
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Necessidade de implementação de uma agenda produtiva para agilizar as votações no Congresso Nacional. Apelo ao Presidente Lula para que reveja a política governamental em relação aos servidores da Polícia Federal. Manifestação contrária ao Projeto de Lei de Conversão 20, de 2004. (como Líder)
Aparteantes
Leonel Pavan.
Publicação
Publicação no DSF de 15/04/2004 - Página 10229
Assunto
Outros > SENADO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • DEFESA, NECESSIDADE, PRESENÇA, SENADOR, AGILIZAÇÃO, VOTAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL.
  • QUESTIONAMENTO, CONDUTA, GOVERNO, AUSENCIA, ATENDIMENTO, REIVINDICAÇÃO, POLICIA FEDERAL, DESRESPEITO, LEGISLAÇÃO, DIREITOS, CATEGORIA PROFISSIONAL.
  • SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ABERTURA, DIALOGO, POLICIA FEDERAL, ACOLHIMENTO, REIVINDICAÇÃO, EQUIPARAÇÃO, VENCIMENTOS, NIVEL SUPERIOR.
  • MANIFESTAÇÃO, OPOSIÇÃO, CRIAÇÃO, CARGO EM COMISSÃO, GOVERNO FEDERAL.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, veja V. Exª que a Minoria desta Casa está em paz; a Oposição está em paz, e a briga, a guerra ocorre dentro do Governo. Parece-me que o Governo do Presidente Lula não está satisfazendo as condições dos partidos aliados.

O assunto que vou tratar é sobre greve. Faço um apelo aos companheiros do Governo para que tenham paciência em relação a essa questão de liderança.

Concordo com o Senador Heráclito Fortes no sentido de que, com a saída do PL do Bloco, com o estremecimento do PMDB, vamos ter que acumular também a liderança da Maioria daqui a pouco. Portanto, peço ao companheiro e conterrâneo Ney Suassuna que tenha paciência. Sei da sua competência, mas, no momento, segundo o próprio Governo, deve-se tentar uma agenda positiva. O Governo quer uma agenda positiva!

O Governo está paralisado, e quem está paralisando o Governo não é a Oposição; quem está paralisando o Governo é o próprio Governo, porque está na hora de o Presidente Lula governar.

Sr. Presidente, faço um apelo aos companheiros do Governo: façamos uma agenda positiva. Que venham ao plenário votar, porque ontem não conseguiram; hoje, também não vieram, e a Oposição estava aqui para votar!

Quando se queria implantar e se criar a CPI do Waldomiro, o Governo disse que a Oposição queria parar o Brasil. Abafaram a CPI do Waldomiro e, agora, não há agenda positiva! O Governo não se entende, as Lideranças não se entendem.

Como Líder da Minoria, faço um apelo à Base do Governo: vamos votar, vamos elaborar uma agenda positiva para o País, vamos ajudar o Governo a governar ou a iniciar o seu Governo.

Pois bem, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o assunto que trago nesta tarde é a greve da Polícia Federal, órgão que V. Exª tão bem honrou, Sr. Presidente, Senador Romeu Tuma. Greve que já dura dois meses e tem sido alvo de críticas e de transtornos, sobretudo em face da intransigência exibida pelo Governo Federal no trato da questão.

É uma atitude que surpreende e decepciona a todos por pelo menos dois motivos: o primeiro decorre de algo simples. Os grevistas, como pretendo demonstrar neste pronunciamento, têm razão, mas estão sendo tratados como se não tivessem. A lei - e irei demonstrá-la - está ao lado deles.

O segundo motivo decorre do paradoxo de estar agindo assim um Governo que tem em seu comando um Presidente da República cuja liderança e prestígio foram forjados exatamente no trato desse tipo de questão. Quantas e quantas vezes o líder sindical Lula criticou a intransigência dos patrões mesmo quando nenhuma lei estava sendo violada? No caso presente, repito, a lei está com os policiais grevistas. E o Presidente e ex-líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva não manifesta a mais remota sensibilidade para com a natureza do que está sendo reivindicado. E o que está sendo reivindicado é justo e rigorosamente legal.

Senão, vejamos: as Leis nºs 5.645, de 1970, e 9.266, de 1996, transformaram todos os cargos dos quadros da Polícia Federal de nível médio em nível superior. Primeiramente, foram os delegados, pela lei de 1970. Depois, vieram os agentes, os escrivães e papiloscopistas, em 1996.

Ora, Sr. Presidente, ocorre que, em contradição com a elevação funcional dessas categorias ao nível superior, os vencimentos básicos respectivos não sofreram, desde então, qualquer alteração. Ou seja, servidores de nível superior recebem, ainda, oito anos após a sanção da lei, vencimentos de nível médio. E a situação é tanto mais esdrúxula quando se sabe que as diárias de deslocamento que eventualmente lhes são pagas têm como base a tabela de nível superior. Quer dizer, há o reconhecimento explícito de um direito que lhes é negado sistematicamente.

A situação seria risível e poderia ser encarada como mera falha da burocracia estatal não fosse a existência de afronta direta ao texto legal em vigor, reforçada pelas manifestações expressas do Tribunal de Contas da União, da Justiça Federal, da Procuradoria Geral da República e da própria administração do Departamento de Polícia Federal (DPF). Fica, pois, difícil compreender a intransigência do Governo em não aquiescer à mais do que justa reivindicação dos profissionais da Polícia Federal.

O Sindicato dos Policiais Federais no Distrito Federal protocolou, em 17 de setembro de 2003, no gabinete do Diretor-Geral do Departamento da Polícia Federal, ofício em que encarecia que a reivindicação fosse encaminhada ao Ministro da Justiça para atendimento, o que foi feito no dia seguinte, com a observação do diretor-geral de que apoiava o pleito, com base em parecer da Coordenação de Recursos Humanos de seu próprio órgão e na manifestação da Advocacia Geral da União, de 2003.

Recebido o expediente do Diretor da Polícia Federal, foi ele encaminhado ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão para “análise e manifestação dessa Pasta”, no dia 24 de outubro de 2003, após o que nada aconteceu. O Governo silenciou sobre o pleito e não lhe deu resposta alguma, o que é simplesmente espantoso, para dizer o mínimo. Ao contrário, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, passou a acusar os policiais de tumultuarem a vida dos cidadãos nos aeroportos e de reivindicarem aumentos salariais. Incomodou-se - e incomoda-se - com as conseqüências, mas despreza as causas. E elas se resumem no desprezo aos direitos dos grevistas.

Parece-nos, Sr. Presidente, que este Governo, para além do discurso da transparência, está-se tornando mestre na mistificação e no desrespeito aos pleitos da sociedade. A tabela que foi anexada à Lei nº 9.266 herdou das normas anteriores, para agentes, escrivães e papiloscopistas, os valores dos vencimentos básicos das então tabelas de nível médio, consolidando a dicotomia entre a classificação funcional revista para cima e a remuneração retida em nível inferior, o que configura incongruência inaceitável.

Mesmo com pareceres favoráveis e com decisão da Justiça Federal da 5ª Região do Estado do Ceará, também favorável aos demandantes, o Governo faz ouvidos moucos e cala-se em seu dever de dar satisfação às legítimas pretensões dos demandantes da Polícia Federal.

Sr. Presidente, legislar não pode ser ato inócuo em nosso País se quisermos ter uma sociedade organizada e justa. Legislar e fazer respeitar as leis são pilares do Estado democrático de direito. A folclórica tradição brasileira de leis que “não pegam” é intolerável e demonstra o despreparo de dirigentes, legisladores e sociedade no exercício da democracia.

Respeito às leis - e leis justas - é princípio basilar, sem o qual desmorona a ordem jurídica, deteriora-se a credibilidade das instituições políticas do Estado e estabelece-se o caos social. Se as leis estão mal redigidas, que se lhes dê nova redação e a devida adequação às exigências sociais. O que não se pode é passar ao largo das leis, como se simplesmente não existissem. Nada mais pernicioso para uma sociedade do que a desmoralização de sua ordem jurídica e o advento de um estado de anomia. Esta, no entanto, parece ser a situação que se apresenta em face da demanda dos servidores da Polícia Federal.

Eles, por meio de sua legítima representação, formularam fundada e justa demanda às autoridades competentes, seguindo os devidos protocolos hierárquicos, sem que houvesse, da parte das autoridades ministeriais, qualquer empenho em estabelecer um diálogo. É no mínimo estranho, para um Governo que tem a comandá-lo um dos maiores líderes sindicais da História do Brasil.

Quando os superiores desprezam as demandas de seus subordinados, colhem, fatalmente, o desgaste de sua autoridade. No caso de uma corporação como a Polícia Federal, responsável pela mais alta administração da segurança nacional, é algo gravíssimo. Como podemos falar em segurança do Estado e dos cidadãos se a sua principal força é tratada como se não existisse?

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, uma das atribuições precípuas do Estado - sobretudo um Estado democrático de direito - é garantir aos cidadãos o exercício de seus direitos. Um dos instrumentos mais eficazes para garantir esse ambiente de legalidade é o aparelho policial de vigilância e proteção da sociedade contra o abuso de indivíduos ou grupos que a ameacem. E a Polícia Federal é a elite dessa estrutura de proteção à sociedade. Não pode, pois, ser tratada dessa maneira, fragilizando ainda mais a segurança do País.

No momento em que uma das principais cidades brasileiras, o Rio de Janeiro, presencia uma guerra entre traficantes, que ameaça a sua população pacífica e desarmada, não pode o Governo central dar tal tratamento a sua Polícia Federal, cujos serviços, mais do que nunca, fazem-se necessários. É a Polícia Federal quem zela pelas fronteiras e combate o contrabando de armas e drogas. É ela que precisa ser prestigiada neste momento. Como pode um agente da Polícia Federal zelar pelo cumprimento das leis de nosso País, se o governo a que serve as descumpre em relação a seus próprios agentes?

O Governo Lula, que assumiu com a promessa de ampliar e aprofundar a prática democrática, ouvindo e respondendo com presteza às demandas da sociedade brasileira, mostra-se, a cada dia que passa, mais e mais distante dessa mesma sociedade. Encastelado no discurso de que todos os males do País são uma herança maldita dos governos que o antecederam, mostra-se incapaz até de fazer cumprir a lei. Como, então, supor que irá cumprir parcela mínima que seja das demais promessas eleitorais?

Apesar disso, Sr Presidente, Srªs e Srs. Senadores, desejo dar, ainda, crédito de confiança às sempre reiteradas boas intenções do Presidente Lula, a quem faço um apelo desta tribuna, para que reveja o comportamento de seu Governo junto aos servidores da Polícia Federal, dando acolhimento a mais do que justo pleito que formulam, desde o ano passado, a seus Ministros.

Confiante, Sr. Presidente, na sensibilidade social do Presidente e ex-líder sindical Lula, aguardo um desfecho justo e feliz para esse conflito ainda este mês.

Para concluir, Sr. Presidente, espero que volte ao Presidente Lula o sangue do sindicalista, para que pelo menos converse, abra o diálogo com a Polícia Federal, com o funcionalismo público.

Com muito prazer, ouço V. Exª, Senador Leonel Pavan.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Nobre Senador Efraim Morais, quero aproveitar seu brilhante pronunciamento - sem querer desvirtuá-lo - para ler algumas manchetes de jornais que circularam pelo Brasil nos últimos dias. Permita-me, V. Exª, fazer esse levantamento: “A trajetória e a Tragédia do PT” - Folha de S.Paulo; “Coleta de Lixo em Campinas é alvo de denúncia do PT contra o PT - O Globo; “O PT Federal não trabalha, mas cobra” - O Globo; “Gastos sociais não aumentam com Lula” - Folha de S.Paulo;Nas mãos de Deus” - Folha de S.Paulo. “O Governo Lula passa a sensação de todo poderoso a fracassado. Gasto com social fica estagnado no 1º ano de Governo Lula” - Folha de S.Paulo; “Lula aumenta a carga de tributos que afetam os pobres” - Folha de S.Paulo; “Presidente contraria discurso e corta gasto com saneamento” - Folha de S.Paulo;Para Ianni, Lula frustra seu papel histórico” - Folha de S.Paulo; “Crise política abala confiança dos analistas na economia” - Folha de S.Paulo; “O preço da omissão. Governo cometeu o equívoco de achar que podia com MST”. O Presidente Lula dizia que eram seus filhos. “Queda da renda da população e incertezas sobre marco regulatório, carga tributária e juros pesam em decisões do empresariado. Investimentos em marcha lenta” - Jornal do Brasil; “PT tenta abafar série de críticas internas à política econômica” - Folha Online. Apenas usei o espaço de V. Exª para dizer à população brasileira, porque muitos não têm acesso aos grandes jornais do Brasil, que, quando acusam o nosso Líder Efraim Morais de fazer uma dura oposição, eles deveriam, de repente, responsabilizar a imprensa nacional. Esses títulos mostram o fracasso do atual Governo Federal e certamente dão razão a todos os seus pronunciamentos, que acontecem praticamente todos os dias, alertando o Governo Federal em relação a esse desgoverno, a este Governo que ainda não começou a trabalhar. O meu aparte foge um pouco de seu tema, mas o fiz para comunicar ao Brasil inteiro que a imprensa do País está chamando a atenção do Governo muito mais, às vezes, do que a própria Oposição.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Agradeço ao nobre Senador Leonel Pavan o aparte. Considero importante essa observação que, por meio da nossa televisão, V. Exª faz ao povo brasileiro, àqueles que não têm acesso à grande mídia, à grande imprensa nacional, para que entendam o que está acontecendo no País.

V. Exª diz que não há mais controle do Presidente Lula sobre seus filhos do MST. Imagine, então, com o irmão Waldomiro, como era chamado. Se Sua Excelência não controla os “filhos”, imagine o “irmão” Waldomiro.

Uma manchete de jornal hoje estampa que o Presidente da República diz que Dirceu continua o capitão do time.

Veja bem, V. Exª, para onde nós vamos! Se compararmos com o futebol, já que o próprio Presidente da República gosta de fazer muitas comparações, se continuarmos com esse capitão, não passaremos nem das eliminatórias. Essa é a minha preocupação e da sociedade brasileira.

Para concluir, Sr. Presidente, eu diria as palavras do Presidente Lula:

O povo brasileiro não suporta mais mentiras, não suporta mais que as coisas não sejam cumpridas”. Luiz Inácio Lula da Silva, sexta-feira, em discurso no interior de Goiás. Embora pareça, mas ele não estava fazendo autocrítica.

Portanto, Sr. Presidente, deixo aqui, mais uma vez, bem claro à sociedade brasileira, ao povo brasileiro, que ontem não se votou nada nesta Casa, que hoje não se votou nada nesta Casa, e a Oposição esteve presente ontem até às 21horas e 50 minutos, esperando a base do Governo para que votássemos as medidas provisórias que foram enviadas pelo Executivo e que estão trancando a pauta do Senado Federal.

Hoje, aqui estamos nós, da Oposição, novamente, preparados para votar contra esse “trem da alegria” que o Governo criou, trazendo aproximadamente três mil cargos em comissão para serem utilizados pelos companheiros e companheiras do PT, para irem para as eleições municipais e para contribuir para os cofres do PT. Vamos votar contra! Há uma reação não só da Oposição, mas dos próprios Senadores e Senadoras da base que não querem votar esse “trem da alegria”, esse absurdo que está sendo trazido ao Plenário desta Casa. Em vez de resolver a questão da Polícia Federal e outras dezenas e centenas de compromissos que têm com o funcionalismo público; em vez de utilizar esse dinheiro para dar um melhor salário mínimo ao trabalhador brasileiro, o que pretende o PT? Ele quer cargos comissionados, para engordar seu caixa e gastar esse recurso - que é o suor do povo brasileiro; que é o imposto pago pelo povo brasileiro - na tentativa de ganhar as eleições.

Mas digo, Senador Leonel Pavan - o PT já sabe disso -, que estão abafando a CPI dos Bingos e a CPI do Waldomiro, mas não vão abafar a CPI das urnas, porque o povo brasileiro vai, sim, no mês de outubro, derrotar esse Partido que fez do palanque da eleição passada e do Governo, hoje, um verdadeiro estelionato eleitoral com a sociedade brasileira.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/04/2004 - Página 10229