Discurso durante a 168ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Presidente Nacional da Autoridade Palestina, Yasser Arafat.

Autor
Hélio Costa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MG)
Nome completo: Hélio Calixto da Costa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Homenagem ao Presidente Nacional da Autoridade Palestina, Yasser Arafat.
Publicação
Publicação no DSF de 25/11/2004 - Página 37592
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, YASSER ARAFAT, LIDER, PAIS ESTRANGEIRO, PALESTINA, REGISTRO, ATUAÇÃO, ORADOR, QUALIDADE, JORNALISTA, CONHECIMENTO, VULTO HISTORICO, COBERTURA, POLITICA INTERNACIONAL, ORIENTE MEDIO, DEPOIMENTO, SITUAÇÃO, POPULAÇÃO, EXPECTATIVA, CONTINUAÇÃO, NEGOCIAÇÃO, PAZ, REALIZAÇÃO, ELEIÇÕES.

O SR. HÉLIO COSTA (PMDB - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, ilustres convidados, saúdo a todos na pessoa do Embaixador Musa Amer Odeh, da autoridade palestina, e do Presidente da Confederação Árabe Palestina do Brasil, Farid Suwwan.

Primeiramente, eu quero saudar o Senador Eduardo Suplicy pela oportunidade que oferece à Casa de homenagear, em sessão solene, o Presidente Yasser Arafat. Em segundo lugar, dizer que a minha fala, muito embora objetiva e curta, tem duas proposições. Mas antes de chegar às proposições, situo a razão pela qual eu fiz questão de estar presente a esta cerimônia, a esta solenidade, e vir à tribuna para homenagear o Presidente Yasser Arafat.

Como profissional da comunicação, Sr. Embaixador Musa Amer Odeh, eu estive dezenas de vezes no Oriente Médio. Na verdade, tive a oportunidade de acompanhar, nos últimos 30 anos, cada um dos eventos e dos acontecimentos que marcaram essa região conturbada do nosso globo. Lembro-me de momentos emocionantes, tristes, sobretudo dois deles que me marcaram profundamente: em 1972 - no instante em que eu cobria como jornalista as Olimpíadas de Munique e ocorreu o atentado à delegação israelense e, alguns anos mais tarde, a morte de Anuar Sadat, quando eu também fazia cobertura internacional no Oriente Médio.

Conheci pessoalmente o Presidente Yasser Arafat. Qualquer pessoa que esteve com ele por um minuto pôde sentir a grandeza do seu carisma, da sua personalidade marcante, da sua fortaleza interior. Há três anos, como Parlamentar numa missão oficial a Hamalá, juntamente com dois outros Parlamentares - Deputado Antonio Carlos Pannunzio e o Deputado Milton Temer, chegávamos ao quartel-general de Yasser Arafat quando fomos, na verdade, impedidos de cruzar os últimos passos até onde estava o Presidente pelos canhões dos tanques israelenses. E com uma alegação que me deixou absolutamente estupefato: “ou se retiram ou temos de atirar”. Assim é que fomos recebidos; assim os Parlamentares brasileiros, numa missão oficial, fomos recebidos pelo Exército Israelense.

Para nós todos tem sido penosa, absolutamente lamentável, a situação vivida pelo povo palestino. A morte de Yasser Arafat não representa o fim da causa. Pelo contrário. Não se enterra o Líder. Não se enterra a causa. Não se enterra uma vontade, uma disposição, uma luta, uma vida inteira dedicada ao seu povo, à sua gente, à liberdade. Até pelo contrário. Alguns achavam que a morte de Yasser Arafat poderia resolver algumas questões palestinas. Não, elas não se resolvem pela morte de Arafat, resolvem-se porque Arafat se transforma num mito a partir do instante em que deixa este mundo, tal a força da sua personalidade. Talvez tenha sido preciso vermos sim, lamentavelmente, o desaparecimento físico do corpo de Yasser Arafat para que pudéssemos senti-lo cada vez mais forte, profundamente, no dia-a-dia daquela região e do seu povo.

Nós, brasileiros, que sabemos conviver de uma forma tão bonita com os quase 15 milhões de árabes que vivem em nosso País, ou descendentes de árabes, e que certamente também convivemos na maior harmonia com os quase 200 mil judeus que vivem em nosso País ou que fazem do Brasil a sua casa, podemos sentir a cada instante o que representa para o povo palestino a causa da sua terra, do seu país, da sua nação, que foi tão bem representada por mais de 40 anos com a Liderança de Yasser Arafat.

Oportunidades já surgiram no passado para que se fizesse esse acordo de paz tão esperado. Agora ele surge novamente de forma especial. Mas para que esse acordo de paz realmente possa existir, para que se possa voltar a negociar, sentar novamente à mesa de negociações com as duas partes, há um fator que deve ser levado em consideração - e creio que represento aqui a vontade do povo árabe nesse momento porque temos que exigir, para o início de qualquer conversação de paz, o retorno à situação do dia 28 de setembro de 2002. As forças israelenses, os acampamentos devem recuar; tudo deve ser recuado à posição de 28 de setembro porque, senão, não há como começar a discutir. E é lamentável que se coloque dessa forma. O Senador Pedro Simon deixou muito claro, de uma forma objetiva, citando um professor emérito estudioso da região do Oriente quando disse que, daquilo que as Nações Unidas determinaram como território árabe no Oriente Médio, já não existe sequer mais do que 21% ou 22%. Por quê? Porque esses territórios foram absorvidos, tomados, assaltados.

Estive nessa região quantas vezes, Sr. Presidente, e vi como o povo palestino é oprimido, nos dias de hoje, neste instante em que estamos falando. É importante que se faça a negociação de paz retornando tudo ao estado em que se encontrava em 28 de setembro de 2002. Esse é um primeiro passo. E, principalmente, entendo ser fundamental que o mundo inteiro - e o Congresso Nacional brasileiro, especialmente o Senado Federal, esteja presente - seja chamado a participar como observador das eleições palestinas, para que elas ocorram de forma clara, cristalina, representando a vontade do povo palestino. Senão, são capazes de distorcer os fatos.

A diferença entre a ditadura e a democracia é que, na democracia, quando o povo não gosta de um governo, ele muda o governo; na ditadura, como a que existe lá, quando o povo não gosta de um governo, o governo tenta mudar o povo, mesmo que seja por meio de instrumentos lamentáveis ou de persuasão ou até de falsificação.

Considero importantíssima a representação do Congresso Nacional brasileiro, composta de Deputados e Senadores, para atuar como observador nesse pleito, Embaixador Musa Amer Odeh. Juntamente com outros representantes do mundo livre, vamos atestar se realmente os palestinos terão a oportunidade real e séria de exercitar o seu sagrado direito de escolher quem dirige os seus destinos, depois de perderem essa figura emblemática, extraordinária, carismática, de uma liderança tão forte, que foi Yasser Arafat.

Para nós, na medida em que ele é reconhecido mundialmente como Prêmio Nobel da Paz, ao lado de Shimon Peres e de Itzhak Rabin para nós, brasileiros, aquele foi um momento decisivo em que Yasser Arafat deu um passo em direção à imortalidade porque passou a ser reconhecido pela liderança, pela capacidade de unir o seu povo e de realmente ser o elemento decisivo que vai levar todas as nações, principalmente as poderosas que hoje comandam as ações, a entenderem a necessidade da criação do Estado Palestino juntamente com o Estado de Israel, na mesma região, e a convivência evidentemente pacífica dos dois Estados.

Por isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quis apenas falar aqui quase como um observador, uma testemunha ocular da história, mas, sobretudo, testemunha ocular por ter, várias vezes, sentido a presença dinâmica, formidável, extraordinária, carismática do Presidente Yasser Arafat. A partida de Arafat não deixa uma lacuna porque a imagem dele é tão forte que continuará impulsionando corações e mentes do povo palestino e dos amigos desse povo, como é o caso dos brasileiros.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/11/2004 - Página 37592