Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários a matérias publicadas na imprensa.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários a matérias publicadas na imprensa.
Aparteantes
Almeida Lima, José Jorge, Mão Santa, Ramez Tebet.
Publicação
Publicação no DSF de 22/02/2005 - Página 1738
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CONTESTAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), UTILIZAÇÃO, HOMICIDIO, IRMÃ DE CARIDADE, ESTADO DO PARA (PA), MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, CAMPANHA ELEITORAL, GOVERNO ESTADUAL, TENTATIVA, ACUSAÇÃO, GOVERNADOR.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, COMENTARIO, NOTICIARIO, IMPRENSA, ACUSAÇÃO, INFERIORIDADE, EXECUÇÃO ORÇAMENTARIA, REGIÃO AMAZONICA, ESPECIFICAÇÃO, OMISSÃO, GOVERNO FEDERAL, COMBATE, VIOLENCIA, CAMPO, EXCESSO, POLITICA PARTIDARIA, DIRETRIZ, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.
  • CRITICA, EXCESSO, PROPAGANDA, GOVERNO FEDERAL, PROTESTO, POLITICA FISCAL, AUMENTO, TRIBUTAÇÃO, INEFICACIA, REFORMA AGRARIA, REPUDIO, POLITICA EXTERNA, IMPUNIDADE, CORRUPÇÃO.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ENTREVISTA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, meu pai foi por três vezes Deputado Estadual da Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas. Era visto como um Parlamentar combativo, o tempo inteiro sério.

Pouco depois de eleito Deputado Federal, em 1958, ele me dizia que a sua transposição para a cena brasileira federal não havia mudado as suas convicções, mas havia permitido que ele contemplasse os problemas brasileiros de um platô. Por isso, o mais que posso, evito a mistura das questões locais com as questões federais, por entender que há problemas que devem ser resolvidos pelo conjunto dos Parlamentares, pela sabedoria dos homens públicos brasileiros, sem que, por exemplo, um caso como esse do Pará seja reduzido a um mero jogo eleitoral, um jogo de quem perde e quem ganha: fulana morreu, então agora vou ganhar porque o fulano supostamente perde, ou fulano ganha porque supostamente perdi.

Sr. Presidente, quero apenas aqui não escapar de discutir um tema tão momentoso e que a todos nos tocou tanto, dizendo que não é aceitável o maniqueísmo que alguns propõem e que haveria inércia completa para trás. Falam até em conivência do Governador do Pará com essa barbaridade da violência no campo, e, de repente - quem cunhou essa frase foi meu amigo, que nem por isso deixa de errar muito, o Ministro Márcio Thomaz Bastos* -, diz que o estado de Direito está chegando ao Pará. É por essas e outras que perderam a eleição na Câmara. É por essas e outras que o Presidente da Câmara hoje não se chama Luiz Eduardo Greenhalgh*, mas Severino Cavalcanti, porque a arrogância e a soberba não levam a bom termo.

O Estado de Direito está longe de chegar à Amazônia como um todo. Segundo o jornal Folha de S.Paulo de ontem, dia 20, este Governo estaria fazendo muito pouco para que ele aportasse à minha região. Diz a Folha de S.Paulo, em matéria firmada por Eduardo Scolese*: “Governo usa só 40% da verba do programa Paz no Campo”. Economizou, fez superávit, poupou o dinheiro que poderia ser utilizado no enfrentamento à violência no campo. Dos R$4,5 milhões autorizados no Orçamento de 2004, só R$1,8 milhão foram gastos.

Diz outra matéria da Folha de S.Paulo, muito realista, muito correta, assinada pelo jornalista Rubens Valente, da sucursal de Brasília: “Pará vive uma situação de ‘guerra civil rural’”*. Ele se refere a isso a partir do ano de 1964, ou seja, algo que tem que ser visto acima e além de governos, tem que ser visto como uma questão nacional mesmo. Algo que exija honestidade intelectual de todo aquele que aborde essa questão tão delicada.

Para mostrar que não dá para se canonizar o Governo Lula, até porque ele não é feito de santos - não conheço nenhum santo que integre esse Governo -, diz aqui o Correio Braziliense do dia 19 de fevereiro, Senador Mão Santa: “Tragédia estimula Governo a anunciar ações para a regularização de terras na Amazônia, que fariam parte de um plano nacional. Uma das principais é o bloqueio do desmatamento em 8,2 milhões de hectares”. Quem assina é Erika Klingl*, a matéria intitulada: “Pacote anticrise é antecipado”*. Se se antecipou um pacote anticrise em função da crise, pergunto: por que não o fizeram antes? Se tinham o diagnóstico de que tudo redundaria no agravamento da crise, por que não o fizeram antes? O Governo dormia em berço esplêndido. Aliás, dorme em berço esplêndido o tempo inteiro. O Presidente vive de marketing, a propaganda corre solta neste País. Não há administração. A incapacidade é a marca; a demagogia é a tônica. Percebemos que há uma certa malícia, uma certa vontade de transformar inverdades em verdades, como se aqui não houvesse vozes para rebater as aleivosias e colocar os pingos nos is.

Dizem que este Governo, que alguns tentam canonizar, estaria muito preocupado com o que ocorre no Pará. No entanto, as entidades que elegeram Lula Presidente, as mesmas que vaiavam o Governo de que fui Líder, de que fui Ministro, Senador José Jorge, anunciam nova onda de invasões, uma reedição do chamado Abril Vermelho, insatisfeitas que estão com a inércia do Governo Lula no enfrentamento à violência no campo. Mentira tem pernas curtas!

Convoco o Congresso a uma defesa menos “passeateira” sobre a tese de enfrentamento à violência no campo. Digo menos “passeateira” porque não se resolve tudo com passeata, com lenço branco para cá e para acolá. Resolve-se com sensibilidade pessoal, sim, e sobretudo com medidas. Essas medidas incluem o Governo e a Oposição e exigem honestidade intelectual por parte de quem queira enfrentar a questão com seriedade.

Solicito, Sr. Presidente, que essas matérias todas - algumas apontarei para que sejam encaminhadas no todo e outras em parte - constem dos Anais da Casa.

O brilhante economista Gesner Oliveira* chama de “O efeito Severino”* o seu artigo de hoje. Segundo ele, o Governo, que parou de fazer reformas, que não se propõe a fazer reformas estruturais profundas, que fala, fala, fala e não conclui nenhuma das reformas que submeteu ao Congresso Nacional, não deve usar agora a eleição do Deputado Severino Cavalcanti para dizer que, por causa disso, não fez as reformas de que já tinha desistido há muito tempo, antes até de se pensar na eleição do Deputado Severino para qualquer coisa com retumbância no País. Percebemos mesmo a crônica da inutilidade.

“Guerra a Garotinho”* é matéria do Correio Braziliense. A preocupação do Governo, então, é combater o casal Garotinho, o Governador Garotinho, a Governadora Garotinha. Enfim, não queria ficar nessa política de creches. Queria que o Governo parasse e dissesse aos prefeitos que é seu dever atender qualquer um, independentemente do Partido a que pertença. Gostaria que o Governo atendesse os prefeitos, sem picuinha, sem essa coisa menor, sem fato pequeno, sem fato medíocre, porque isso tudo é que está compondo um Governo de que - anotem bem - a Nação começa a se cansar. Isso foi explicitado nas urnas passadas e revelado agora pela Câmara dos Deputados. Só o pior cego político não percebe que este Governo corre riscos efetivos de instabilidade e de desestabilização se continuar não vendo a verdade que está posta diante dos seus olhos.

Concedo o aparte ao Senador José Jorge e, em seguida, ao Senador Almeida Lima.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Sr. Líder, solidarizo-me com V. Exª pelo seu discurso, competente como sempre e atual. Acrescento dois aspectos em que podemos verificar a forma como este Governo atua. Primeiro, houve aquela questão do IBGE. O Governo baixou uma portaria, por meio do Ministério do Planejamento, censurando as pesquisas do IBGE. Antes de divulgar as pesquisas para o País, elas teriam que ser entregues, dois dias antes, ao Governo, exatamente para que pudessem ser apresentas da melhor forma para ele, Governo. Isso é grave, é gravíssimo, porque tentaram fazer isso com o Conselho Nacional de Jornalismo, com a criação da Ancinav. Em segundo lugar, considerei interessante uma declaração do Ministro Ricardo Berzoini, quando reclamou do aumento da taxa de juros. Os que reclamam dizem que o aumento da taxa de juros vai aumentar o desemprego, não vai permitir que o País cresça. Enfim, cada um tem a sua razão. A razão dele foi bem simples: “A taxa de juros aumentou, vai prejudicar...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - A reeleição.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - ... a reeleição do Presidente Lula. Ora, a reeleição do Presidente Lula não está nas prioridades do Brasil. A prioridade do Brasil é crescimento, é melhorar o emprego etc. A reeleição do Presidente Lula pode ser uma conseqüência se ele fizer um bom Governo, o que, infelizmente, não está fazendo. Esse é um exemplo de como as coisas estão na cabeça deste Governo. Muito obrigado, Senador.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - É por isso, Líder José Jorge, que a minha tia Lindalva, de 97 anos, não perdoa o Ministro Ricardo Berzoini. Mas obrigado a V. Exª pelo aparte.

Antes de conceder aparte aos Senadores Almeida Lima e Mão Santa, prossigo mais dois minutinhos.

Em artigo intitulado “Só mais 22 meses”*, de O Estado de S. Paulo, jornal vetusto, que só abriga comentaristas responsáveis, o jornalista Mauro Chaves* afirma que “aos pessimistas e desesperançados, sugiro um choque de paciência”, ou seja, uma contagem regressiva de pacientes brasileiros, esperando o fim deste Governo, que não começou.

Em outro artigo, volta Lula a provocar o casal Garotinho e a sua política de creches.

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, edição do dia 19, o Governo, com essa sua monstruosa MP nº 232, aumenta deslavadamente a carga tributária deste País, já sabendo de antemão que por esta Casa - acredito que pela outra também não - não passará essa medida provisória. O Governo deve tirar o cavalinho da chuva, porque por esta Casa não passa, até porque não tem como passar por uma Oposição numerosa e vigilante e por membros da base governista que haverão de ter bom senso, como em outras ocasiões o tiveram, para enfrentar os desajustes e destinos do hoje delirante Palácio do Planalto.

Concedo o aparte ao Senador Almeida Lima

O Sr. Almeida Lima (PSDB - SE) - Senador Arthur Virgílio, reporto-me à primeira parte do pronunciamento de V. Exª a respeito da intranqüilidade e da insegurança no campo, sobretudo com relação a esse último incidente, que levou à morte a freira Dorothy. Temos ouvido no plenário do Senado Federal inúmeros pronunciamentos não apenas de filiados ao Partido dos Trabalhadores, como de outros Partidos da base de sustentação do Governo. De repente, vem a impressão de que o Partido dos Trabalhadores e os da base a que me referi estão na Oposição. Não me parece que eles estão no Governo, que este é o Brasil e que o Presidente é o Senhor Luiz Inácio Lula da Silva, porque, em dado instante, nos parece que se pretende que a responsabilidade do Governo seja transferida para a Oposição. Indaga-se: o que este Governo tem feito para estabelecer uma política, um encaminhamento para as resoluções das questões agrárias no País? O que este Governo tem feito? Estranho essa posição, como se estivessem desejando virar o lado do disco. As pessoas estão no Governo e querem passar a impressão à sociedade brasileira de que são ou de que estão na Oposição, de que a Oposição é Governo e de que, portanto, ela é responsável. Isso é um absurdo! É preciso que se veja a questão por essa ótica. O que este Governo tem feito para interiorizar a presença do Estado brasileiro na Amazônia, onde estamos com os mais graves problemas agrários? A bem da verdade, nada! Trata-se de um Governo do faz-de-conta, da omissão. Continuando a omissão que se verifica, veremos fatos como esses ocorrerem repetidas vezes. Solidarizo-me com V. Exª pelo pronunciamento.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Almeida Lima. V. Exª foi ao ponto do fulcro. Aliás, o Prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, disse outro dia, num artigo escrito para um grande jornal, que o marketing do Presidente Lula espertamente procura separar a figura simpática e bonachona do Presidente, que teve um belo passado de líder sindical, deste Governo ruim que faz. O Ministro da Reforma Agrária, por exemplo, é inoperante e preconceituoso, e estimula a violência no campo. Foi responsável por esse atraso na Embrapa. Felizmente, o Presidente Lula deu mão forte ao Ministro Roberto Rodrigues e se acabou com aquela brincadeira de aparelhamento petista na Embrapa. A verdade é que gente como o Ministro Miguel Rossetto não faz outra coisa senão vestir simbolicamente um boné de Che Guevara na cabeça, a não ser estimular este quadro de instabilidade no campo. E o Presidente Lula, espertamente, critica seu próprio governo. O Ministro fulano não é bom. O Ministro beltrano não sabe gastar o dinheiro. O Ministro sicrano é incompetente, como se não fosse o responsável por todo esse pessoal que está gravitando parasitariamente em torno de sua figura pública.

Antes de conceder aparte ao Senador Mão Santa, vou dizer do que se ocupa o Presidente Lula. “Venezuela. Corrida às Armas”. Essas armas seriam brasileiras. O que me espanta é que o Presidente Lula vai fazer um convescote com o Presidente Chávez. Fico impressionado como algumas pessoas dizem tolice com pose. Relevamos que se diga tolice sem pose, mas tolice com pose, não. O Presidente está se tornado especialista em dizer bobagem com pose. Ele disse: “Não me interessa a Europa! Não me interessam os Estados Unidos! Quero acordo com a Venezuela, com o Peru, com a Argentina!” Pensei: “Meu Deus do Céu! Será que ouvi isso mesmo?! Será que minha geração merece ouvir isso?! Será que é de se esperar uma política externa infantil a esse ponto, como aqui propõe o Presidente Lula?! Será que é possível imaginar que, na sociedade de mercados globalizados, vai-se fazer enfrentamento com quem quer que seja com base em aliança de Venezuela, com o Peru, com o Brasil, com Colômbia ou com o Uruguai ou o Paraguai ou com quem quer que seja?!”

Prossigo, saindo da infantilidade para a fisiologia pura e simples. O jornal O Globo, de 20 de fevereiro, publicou: *“Após derrota, aliados brigam por mais espaço”. Então, agora está que nem “siri em lata”. Cada um querendo mais cargo, fisiologia campeando solta e a insegurança. Iam eleger o Líder do Governo, que é tão fiel ao Presidente Lula, agora, já vão colocar João Paulo, que deverá ser o Líder do Governo. Ou seja, desprestigiamento a companheiros, a deslealdade também como a marca e como a tônica deste Governo.

Em O Estado de S. Paulo, de 21 de fevereiro de 2005, a seguinte matéria: “O ‘compromisso’ do Governo Lula!”, em que Alcides Amaral brada contra o aumento da carga tributária.

Temos ainda a questão do aluguel de mandatos. Diz o Presidente José Genoíno, do PT, que a reforma é solução, que esse tipo de problema bateu no teto.

Afirma o Líder Janene, do PP, que a culpa seria toda do Governo Garotinho. Eu estou dizendo que é preciso investigar isso. Esse assunto deveria ser investigado para valer pela Câmara dos Deputados, porque não dá para transformar aquela Casa em motel. Essa história de quatro horas e meia fica o deputado fulano no partido tal; seis horas, o deputado tal. Outro dia alguns pensavam que eu tinha usado a expressão mais forte aqui em um arroubo, vou repeti-la: “Isso não é transferência partidária; isso é uma “rapidinha política”. Senador Cristovam Buarque, isso é transformar a Câmara em um motel. Isto é uma “rapidinha política”. Em motel, por duas horas, o preço é metade. Então, estão fazendo algo parecido com isso na Câmara. Não podemos compactuar com isso se somos congressistas nacionais de honra, que prezamos a honra e o conceito do Congresso Nacional.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª me concede um aparte, Senador Arthur Virgílio?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Ouço o Senador Mão Santa e, em seguida, o Senador Ramez Tebet.

O Sr. Mão Santa (PMDB-PI) - Senador Arthur Virgílio, os nossos cumprimentos inicialmente por V. Exª ter citado o seu pai. Já tenho intimidade com ele, porque um dos livros de minha cabeceira foi editado aqui pelo Senador Antonio Carlos Magalhães - “Os melhores momentos do Senado” -, no qual podemos ouvir a vibrante voz de seu pai, combatendo a ditadura, a revolução. Está escrito no Livro de Deus que a árvore boa dá bons frutos. V. Exª continua. É o bom fruto daquele Senador guerreiro. Eu vi aqui um dos melhores quadros do PT, que é o Líder Mercadante. Um dia, S. Exª citou Shakespeare e disse: “Palavras, palavras e palavras”. Aqui não é assim, Senador Suplicy. Shakespeare, diante do PT, diria: “Mentira, mentira e mentira”. Como mente esse PT! Olha, Márcio Thomaz Bastos, de cara limpa. Senador Suplicy, lembro-me do Piauí amedrontado, pois queriam levar o Beira-Mar para lá, para um presídio que eu mesmo construí, nas cercanias de Teresina. E tivemos que nos juntar, pois o povo Piauí ficou sem dormir. Senador Cristovam Buarque, o Ministro dizia que construiria cinco presídios de segurança máxima. Cinco presídios? Nenhum. Shakespeare disse que era melhor ser um mendigo em Nápoles do que rei da Dinamarca, porque lá estava podre. O que diria Shakespeare diante desse reino do PT que aí está? Estar ao lado do homem da cultura, da ciência, e do saber do PT, ou seja, nem tudo é perdição e ignorância. Está aqui Cristovam Buarque. Presidente Lula, sei que Vossa Excelência não vai ler Norberto Bobbio, mas reconvide. Aquele telefonema que fez foi errado. Pergunte ao Senador Cristovam Buarque, pois S. Exª lê o Norberto Bobbio. Senador vitalício, da Itália e do Renascimento, disse Norberto que o mínimo que tem de se exigir de um Governo, Senador Arthur Virgílio, é a segurança, a vida, a liberdade e a propriedade. E esse Governo não dá nada a ninguém.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito obrigado, Senador Mão Santa por se referir ao meu pai com tanto carinho.

V. Exª me faz lembrar de duas coisas: a primeira é de que faz mais de um ano que Waldomiro Diniz está impune. A segunda - o Senador José Jorge ficou sem a resposta adequada - é que eu apresentei um projeto de decreto legislativo sustando os efeitos da portaria do IBGE, aquela portaria autoritária que visava, de maneira soviética, a manipular os dados que pesquisadores responsáveis estariam colhendo para orientar, Senador Geraldo Mesquita, os rumos deste País.

Já concederei o aparte ao Senador Ramez Tebet, meu querido Presidente.

Avanço mais um pouco para dizer que se instala a casa de Noca no Governo. O Globo, de 21 de fevereiro, publica: Severino: ‘Governo tem que reconhecer valor do PP’. E, segundo a matéria, exige dois Ministérios para o Partido Progressista.

O mesmo Deputado, Presidente da Câmara, diz que o Presidente José Genoíno só fala asneiras. Sou querido amigo de José Genoíno, e não é sempre que ele fala asneiras. Quero discordar do Presidente Severino, em parte, porque não é toda a hora e não dá para generalizar; às vezes sim, às vezes não.

A Folha de S.Paulo, de 21 de fevereiro de 2005, publica: *Severino diz ver “com bons olhos” a candidatura de FHC. Neste ponto, vou decepcionar o Presidente da Câmara e asseverar que o Presidente Fernando Henrique não pretende ser candidato à Presidência da República, até porque já o foi por duas vezes, vencendo em primeiro turno o Presidente Lula que está aí. Diz também a matéria que José Genoíno vira alvo do novo Presidente.

Carlos Alberto Sardenberg falando das elites de Lula, em O Estado de S. Paulo, de 21 de fevereiro, diz que problema é que muitas delas estão com o Presidente desde criancinhas.

Há também um artigo sério, publicado pela Folha de S.Paulo, que deve ser lido e sobre o qual se deve meditar, do Sr. Jean-Pierre Leroy*, intelectual de peso, dizendo que o Estado de Direito na Amazônia requer dinheiro. O Sr. Jean-Pierre é um pesquisador sério, Sr. Presidente.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - V. Exª me concede um aparte, nobre Senador.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Concedo um aparte ao Senador Ramez Tebet, que, com muita honradez, presidiu esta Casa.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Senador Arthur Virgílio, agradeço a consideração de V. Exª ao me conceder o aparte e retribuo com sinceridade, porque estou aparteando um dos maiores Parlamentares deste País. Não tenho dúvida nenhuma disso.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito obrigado. É bondade apenas de V. Exª.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - V. Exª é um político firme e lúcido, que aborda, com coragem, os problemas nacionais. O seu pronunciamento de hoje é uma prova eloqüente disso. Peço permissão a V. Exª para abordar um ponto. V. Exª falou que usou uma expressão que alguém lhe disse que era muito forte: a expressão do motel, do troca-troca que está existindo.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Que o Governo criou o clima para a “rapidinha política”.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Essa expressão não está forte, Senador Arthur Virgílio. Venho do meu Estado, e a opinião pública está estarrecida com o troca-troca partidário, com o fisiologismo que está imperando no País. Penso que os Partidos políticos precisam reagir com uma reforma política forte, pelo menos em alguns pontos, como o da fidelidade partidária, sob pena de uma instituição como a nossa, que tem homens da grandeza de V. Exª e de outros tantos, que presta grandes serviços ao País, ficar inteiramente desmoralizada perante a opinião pública brasileira. A sociedade está à frente da classe política.

Citarei um exemplo que não diz respeito à reforma política, mas mostra como a sociedade está a exigir a atitude firme do Poder Legislativo e uma reforma política que venha realmente a contribuir para o aperfeiçoamento democrático do País. Em relação à Medida Provisória nº 232, a sociedade está à frente do Poder Legislativo; ela está mobilizada, reunindo-se para debater essa medida, porque não aceita definitivamente essa situação.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Ela já refugou essa medida.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - De tal forma a sociedade está-se comportando, que não tenho dúvida de que essa medida provisória sofrerá profundas modificações no Congresso Nacional. Esse é apenas um exemplo para justificar que a expressão de V. Exª não foi forte. Precisamos de uma reforma política, sob pena de colocarmos em risco o prestígio já decadente - eu diria - do Poder Legislativo, que conta com homens da envergadura de V. Exª. Muito obrigado.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - E de V. Exª, Senador Ramez Tebet, que me concede a honra de ser, ao mesmo tempo, meu colega, meu amigo pessoal e um brasileiro que me dá os melhores exemplos para segui-los ao longo de minha vida pública.

V. Exª tem razão. Falar em reforma política hoje será outra confusão porque já se levantam as vozes de Líderes dos Partidos menores - menores nas urnas, mas grandes porque desfalcaram Partidos grandes como o meu e o PFL, por exemplo -, os quais dizem que não aceitam o estabelecimento do instituto da fidelidade partidária.

O Presidente Lula imaginou que tinha descoberto a pólvora. Ele disse: “Vou preservar o PT, vou entupir Partidos satélites de Deputados e vou governar com o máximo de estabilidade”. Na época, eu dizia aos Líderes do Governo desta Casa e da Câmara dos Deputados: vocês não inventaram nada neste País. Usem essa bobagem de herança maldita para ganhar votos, mas não acreditem no que estão dizendo”.

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco/PT - SP. Fazendo soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, apesar de ter economizado muito tempo em relação ao orador anterior, já vou concluir.

Senador Ramez Tebet, eu disse aos Líderes que não fizessem aquilo, pois estavam armando alguns partidos que futuramente se voltariam contra eles e lhe poriam a faca no peito ao longo dos tempos. Quem está no poder costuma não ouvir. Disse-lhes que tivessem cuidado com o início do terceiro ano do Governo Lula, quando a situação ficaria complicada e as pessoas passariam a considerar o Presidente menos sedutor. Ou ele revela condições efetivas de reeleição - e essa é sua obsessão - ou, em pouco tempo, o cafezinho começará a esfriar no Palácio do Planalto. Essa é uma regra infeliz e dura da República brasileira, Senador Cristovam Buarque.

Encerro, pedindo a V. Exª, Sr. Presidente para não tomar mais tempo dos Colegas, que insira nos Anais, como peça em separado, um pequeno pronunciamento meu, encaminhando a matéria de duas páginas publicada ontem pelo jornal Correio Braziliense, em que consta entrevista do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso feita pelo jornalista Guilherme Evelyn*.

Em meu discurso eu me refiro à lucidez desse grande brasileiro e à honestidade com que formula elogios e críticas. Quando o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso faz críticas sempre é criticado de maneira virulenta por membros do PT - não consigo entender isso. Quando ele elogia, as pessoas calam-se. Parece que o elogio é sempre bem-vindo no Governo. Eu fazia muita comparação dele com outros presidentes. Ex-presidente que fala contra, Senador Geraldo Mesquita, não pode falar. Dizem que ele não deve falar, que está deixando de ser estadista, que está se rebaixando ao nível não sei de quê. Quando fala a favor, dizem que está colaborando com a governabilidade. Essa política precisa ser derrubada e ela é derrubada nada mais nada menos do que pela voz poderosa do Presidente Fernando Henrique Cardoso, que nada pretende neste País, a não ser o direito de falar e de expor suas idéias. Fez isso contra a ditadura, faz isso contra ou a favor do Presidente Lula, assim que entender que deva estar contra ou a favor do Presidente Lula.

Peço a V. Ex.ª que insira nos Anais a matéria relevante desse grande brasileiro. Aconselho V. Exª, que é um intelectual, a ler com atenção essa matéria cheia de experiência e de bons ensinamentos para todos nós.

Agradeço a V. Exª a tolerância e aos meus Pares a audiência tão ilustre.

            Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.

 

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            DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.)

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/02/2005 - Página 1738