Discurso durante a 31ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários à reportagem publicada em O Diário, de Mogi, do articulista Roberto Monteiro, intitulada "Envelhecer é chato".

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EDUCAÇÃO. POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA.:
  • Comentários à reportagem publicada em O Diário, de Mogi, do articulista Roberto Monteiro, intitulada "Envelhecer é chato".
Publicação
Publicação no DSF de 02/04/2005 - Página 7302
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO. POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA.
Indexação
  • CONGRATULAÇÕES, ELEIÇÃO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, URUGUAI.
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ELOGIO, DISCURSO, ORADOR, IMPORTANCIA, TRABALHO, CIDADÃO, SUPERIORIDADE, FAIXA, IDADE.
  • DEFESA, REFORÇO, ENSINO PROFISSIONALIZANTE, FACILITAÇÃO, ACESSO, JUVENTUDE, EDUCAÇÃO, OBTENÇÃO, PROFISSÃO.
  • ANALISE, UTILIZAÇÃO, EMBRIÃO, PESQUISA, VALOR TERAPEUTICO, RELEVANCIA, DOENÇA GRAVE, COMENTARIO, OPOSIÇÃO, INSTITUIÇÃO RELIGIOSA, DEFESA, INVESTIMENTO, ESTUDO, AMPLIAÇÃO, DEBATE.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores. eminente Senador Mão Santa, foi com muita alegria, que interrompemos nosso pronunciamento para receber o Presidente Tabaré Vázquez, recentemente vitorioso numa caminhada que, em nossa avaliação, muito fortaleceu o processo democrático em toda a América Latina e, com certeza, como S. Exª disse, o Mercosul, que nos dá tanta esperança.

Sr. Presidente, eu pretendia falar sobre a célula-tronco, assunto que tem muito a ver, com nosso envelhecimento e com a homenagem que ontem prestamos aos portadores de deficiências e sobre a vida do cidadão com mais de 45 anos. Porém, como há poucos minutos, recebi um artigo publicado em O Diário de Mogi, de autoria do jornalista Roberto Monteiro, vou lê-lo, porque entendo que ele toca nesse assunto que gostaríamos que fosse a tônica de grande parte da discussão quando enfrentarmos a reforma sindical, a reforma trabalhista e que aponte na direção de mais emprego e da não-discriminação do cidadão com mais de 40 anos.

O artigo de Roberto Monteiro, cujo título é “Envelhecer é chato”, é o seguinte:

Às vezes, imagino coisas que me deixam assustado. Outro dia, me veio a estrambótica idéia de botar “camisinha” na minha imaginação. Assim eu evitaria a contaminação desta coluna com crônicas desinteressantes. A gente que transa a escrita precisa de preventivos contra a mediocridade digital.

Anteontem eu procurava um assunto para esta crônica nesta sexta-feira. Queria um assunto que fosse realmente interessante. Ah! Como é difícil encontrar temas interessantes para o preenchimento desta coluna semanal.

Como já disse, eu espremia minha massa encefálica para tirar dela uma boa idéia. Eis o que aconteceu. O meu televisor estava conectado com o canal da TV Senado, na SK00Y. Eu via e ouvia os discursos de alguns senadores.(...)

Mas aí chegou a vez do senador petista Paulo Paim.

Diz ele:

Que surpresa! O discurso do Paim, que teve a duração de 15 minutos, entrou pelo meu ouvido direito e fez ninho no meu cérebro. E desse ninho decidi retirar o ovo desta crônica.

Mas qual foi o tema do discurso do senador Paim? Foi um tema que há muito tempo pede vozes como a voz do senador Paim. Voz com palavras que mereceram minha atenção. O senador criticou a marginalização das pessoas mais velhas no mercado de trabalho. Após os 45 anos, profissionais competentes não conseguem um emprego.

E o que acontece? Acontece algo que faz parte da estupidez humana. Profissionais de alta competência, experientes, são substituídos por profissionais mais jovens. Mais jovens, mas menos competentes. E menos experientes.

E o jornalista continua:

Não tenho nada contra os jovens profissionais. Mas eles teriam muito o que aprender com os profissionais idosos, que se encontram perfeitamente adaptados aos novos tempos. Aposentadoria é um prêmio por serviços prestados e não um atestado de inutilidade física e mental.

É verdade. Há profissionais que, uma vez aposentados, cancelam as atividades mentais. Desprezam o poder do cérebro, substituindo a inteligência pela inércia. Mas há profissionais, e não são poucos, que envelhecem usando, e até abusando, da inteligência viva.

A idade judia do corpo mas não afeta o cérebro, desde que esse seja utilizado, alimentado por novos conhecimentos, como a leitura. Há os que envelhecem preocupados com o corpo. Mas felizes são os que envelhecem preocupados com o fortalecimento da inteligência.

Artistas plásticos, inventores, escritores, teatrólogos, filósofos que chegaram à velhice com o cérebro ativo. Não apenas homens, mas também mulheres. O senador Paim é contra o desperdício de cérebros ativos e criativos, que muito poderiam estar ocupando lugar de relevo em todas as atividades profissionais. E políticas. Está assim de idosos ocupando cargos eletivos, tanto no Executivo quanto no Legislativo.

Mas eu não vou ultrapassar os limites desta coluna. Mas estou satisfeito por ter encontrado um assunto que deveria merecer mil crônicas e um milhão de discursos. Exagero? Jamais haverá exagero no que é útil e construtivo.

Sim, envelhecer é chato, mas a vida não perdoa. Vamos pois envelhecer colocando o cérebro acima da fisiologia e da anatomia. Afinal de contas, envelhecer é entrar no reino da melhor idade. Não é o que dizem?

E aí termina a coluna de Roberto Monteiro.

Segue aqui ainda informação sobre o autor da coluna:

Um dos mais antigos jornalistas de O Diário, Roberto Monteiro é um verdadeiro literato. Seus textos abordam de tudo um pouco, fazendo um registro da realidade e da imaginação, em entrevistas com personagens históricos.

Sr. Presidente, leio o artigo do jornalista Roberto Monteiro, do jornal O Diário, de Mogi, não porque ele elogiou o meu discurso. Leio o artigo, Sr. Presidente, porque fiquei sensibilizado quando ele disse, no encerramento de seu discurso, que a luta para que o cidadão, homem ou mulher, com mais de 45 anos tenha acesso ao posto de trabalho, tenha o direito a trabalhar mereceria um milhão de colunas, um milhão de discursos.

É um assunto que tem que ser debatido pela sociedade, como o foi, quando, Sr. Presidente, levantei o tema do combate à discriminação na Câmara dos Deputados há dez anos. Tentei incluir no Estatuto do Idoso um artigo, que foi retirado, concedendo incentivo fiscal para a empresa que mantivesse em seus quadros no mínimo 20% de profissionais com mais de 45 anos. Mas não foi aprovado.

Voltei ao tema, Sr. Presidente. Agradeço os milhares de e-mails que recebi, falando disso e mostrando que é uma realidade.

Gostaria de deixar muito claro aqui - e entendi muito bem o artigo do jornalista Roberto Monteiro - que ninguém aqui é contra o primeiro emprego. Seria uma burrice ao contrário! Ninguém é contra a necessidade de prepararmos nossos jovens para entrar no mercado de trabalho. Por isso, quando o Ministro Tarso Genro esteve aqui, a primeira pergunta que lhe fiz foi como estava, na visão dele, o ensino profissional, o chamado ensino profissionalizante. É esse o ensino que vai garantir ao nosso jovem, enquanto se prepara para o vestibular, o direito ao trabalho, já tendo uma profissão, que permitirá pagar a universidade - sabemos que, infelizmente, neste País, 90% dos nossos jovens são obrigados a pagar a universidade.

Então defendemos, e muito, o primeiro emprego. Mas entendemos também, Sr. Presidente, que a experiência acumulada do nosso povo, da nossa gente, dos homens e mulheres com mais de 40, de 45 anos não pode ser jogada na lata de lixo.

Lembro-me de que uma época fiquei quase um ano no Japão. Fui numa missão com empresários, indicado como sindicalista. Lá no Japão acontece muito isto: a pessoa vai envelhecendo e vai se tornando mestre - inclusive troquei até de empresa. É instrutor, professor, embora não tenha, em muitos desses casos, o nível universitário.

O objetivo deste pronunciamento, Sr. Presidente, vai na linha de que devemos fortalecer o ensino profissionalizante, para que a nossa juventude tenha acesso à educação, mas também a uma profissão, e que, efetivamente, os pais de família, as mães, enfim, o homem e a mulher com mais de 40, de 45 anos tenham acesso, tenham o direito ao trabalho para poder dirigir a sua vida, a da sua família, a dos seus amigos, a sua caminhada.

Então, faço questão de que esse artigo seja contemplado na íntegra, Sr. Presidente, reproduzido aqui e nos órgãos de informação da Casa, dentro, é claro, do respeito aos direitos autorais, conforme estabelece os direitos reservados - 103/614.

Sr. Presidente, eu ia falar mesmo sobre células-tronco, mas como recebi da minha assessoria um belo trabalho, Senadora Heloísa Helena, sobre células-tronco - claro que reafirmando a importância, para toda a nossa gente, das células-tronco. Gostaria que V. Exª considerasse este meu pronunciamento como lido na íntegra, aqui da tribuna, pela sua importância.

A expectativa, a esperança de milhões e milhões de pessoas, não só no Brasil como no mundo, é de que avancemos, o mais rápido possível, nesse debate das células-tronco. Claro, hoje já é lei; mas não é só a lei; é preciso investimentos para que continuemos avançando.

Ontem mesmo, fazíamos uma homenagem às pessoas portadoras de deficiência. Recebi muitas delas em meu gabinete na semana passada. Eles estão se mobilizando para que haja investimento, para que a ciência avance ainda mais, que os estudos rapidamente assegurem o acesso efetivo da nossa população - V. Exª, que é médico - a esse expediente tão poderoso da célula-tronco como forma de recuperação de grande parte dos brasileiros.

Se V. Exª me permitir, vou ler somente a última página.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Tenho ainda um minuto.

No momento em que a Mãe Natureza gerava sua família, ela assegurou-se de que a vida deveria conter, ao mesmo tempo, simplicidade e complexidade. Cada peça do quebra-cabeça, mesmo a sua menor parte, tem um papel, de maneira que esta possa ser montada e mantida em equilíbrio.

Para que o ser humano compreenda todo o contexto, são necessários humildade e orgulho para continuar lutando pela vida, a fim de aceitar que somos pequenos diante do universo. Será que estamos preparados? Será que todas as pessoas terão efetivamente acesso a tratamento com células-tronco, se não tivermos mais investimentos? Como poderemos saber se os embriões que possam vir a apresentar algum tipo de deficiência de fato serão assegurados também para os mais pobres? Terão os mais pobres direito à vida?

            Na verdade, o que queremos efetivamente trazer à reflexão de população é a imperiosa necessidade de as pessoas efetivamente pensarem como seres humanos, nos seres humanos, aceitando naturalmente suas diferenças e contribuindo para a chamada política de igualdade.

            Evoluir tanto a ciência como as religiões, isso porque, aqui no documento, cita-se que há um setor da sociedade articulada e parte da religião que ainda resiste à discussão das células-tronco.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - V. Exª pode usar mais da palavra, porque a Presidência entende que este Parlamento deve muito a V. Exª. Deve consideração, respeito e também tempo.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

São cinco frases.

Evoluir, tanto a ciência como as religiões, para o futuro, onde o ser humano seja, de fato, o centro de todas as ações. Nossas gerações futuras dependerão da integridade e do amor ao próximo praticados pelos indivíduos de hoje, que, aliados ao desenvolvimento científico, técnico e ético, trarão os resultados consistentes e duradouros tão esperados por todos nós.

Sr. Presidente, ao longo do pronunciamento, falei da importância de se investir cada vez mais nesse caminho da célula-tronco.

Cumprimento V. Exª, que, além de médico, é um dos defensores dessa teoria.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO DO SR. SENADOR PAULO PAIM.

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O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, desde os tempos das cavernas, nunca o homem avançou tanto nos estudos científicos e tecnológicos como nos últimos dez anos.

Mediante pesquisas e diversos estudos, o ser humano vem desenvolvendo ferramentas importantes para sua melhor qualidade de vida, como a criação de vacinas para doenças até então incuráveis, a invenção de aparelhos como o telefone, os aparelhos celulares, microcomputadores, fax, meios de transporte e assim por diante.

Hoje, a ciência já permite ao homem vislumbrar uma revolução humana, onde já é possível determinar características físicas de cada indivíduo.

Prova disso, é a mais recente descoberta das células tronco, um estudo aprofundado de cientistas e médicos que ganha forma a cada dia, conquistando espaços que até então estavam esquecidos.

Neste contexto, aparecem soluções para os mais diversos problemas de saúde, trazendo resultados de cura para doenças que levam à degeneração de órgãos e tecidos dos indivíduos.

Células-tronco são células imaturas, com grande capacidade de proliferação e de originar diferentes tipos celulares e que não possuem características que as diferenciem como uma célula da pele ou do músculo.

Tal diferenciação tem chamado a atenção dos cientistas. As últimas pesquisas mostram que as células-tronco podem recompor tecidos danificados e, assim, teoricamente, tratar um infindável número de problemas, como alguns tipos de câncer, o mal de Parkinson e de Alzheimer, doenças degenerativas e cardíacas ou até mesmo fazer com que pessoas que sofreram lesão na coluna voltem a andar.

Basicamente, há dois tipos de células-tronco: as extraídas de tecidos maduros de adultos e crianças ou as de embriões.

No caso das extraídas de tecidos maduros como, por exemplo, o cordão umbilical ou a medula óssea, as células-tronco são mais especializadas e dão origem a apenas alguns tecidos do corpo.

Já as células-tronco embrionárias, mostram-se cada vez mais eficazes para formar qualquer tecido do corpo. Esta é a razão pela qual os cientistas desejam pesquisar estas células para possíveis tratamentos.

Segundo os cientistas, seriam usados apenas embriões descartados pelas clínicas de fertilização e que, mesmo se implantados no útero de uma mulher, dificilmente resultariam em uma gravidez. Ou seja, embriões que provavelmente nunca se desenvolverão.

Porém, essa idéia esbarra na oposição de setores religiosos que consideram que a vida começa no momento da concepção e só aceitam as pesquisas em células tronco maduras.

Para tornar a questão ética ainda mais complexa, o implante de células-tronco seria mais eficaz se extraído de um embrião clonado do próprio paciente, pois evitaria o risco de rejeição. Esse procedimento só não serviria para pessoas que apresentam doenças genéticas.

E então nos perguntamos: Como serão avaliados os casos em que o embrião poderá não se desenvolver? Será que os cientistas e pesquisadores não irão descartar vidas que possuam algum tipo de deficiência, cor de pele ou etnia, em benefício de uma sociedade de iguais, onde não existam as diferenças?

Por estes e por outros avanços, é necessário reconhecer que o ser humano é um ser único e precisa ser visto como tal. Devemos respeitar as diferenças culturais, sociais e individuais, e que todos esses benefícios deverão estar à disposição de todas as pessoas, independente de sua classe social.

Quando abordamos a natureza, podemos perceber que todas as criaturas vivas possuem a mesma estrutura de código genético - o DNA. Em dado momento do processo, os códigos começam a se diferenciar, trazendo identidade peculiar a cada espécie, a cada ser.

Um dos aspectos mais satisfatórios para o indivíduo é descobrir que o mesmo DNA, responsável por tantas semelhanças entre os seres vivos é também aquele que os torna tão diferentes e individuais.

No momento em que a Mãe Natureza gerava sua família, a mesma assegurou-se de que a vida deveria conter, ao mesmo tempo, simplicidade e complexidade. Cada peça do quebra-cabeças, mesmo a sua menor parte, tem um papel, de maneira que esta possa ser montada e mantida em equilíbrio.

Para que o ser humano compreenda todo o contexto, são necessários humildade e orgulho, a fim de aceitar que somos pequenos diante do universo. Será que estamos preparados para tudo isso? Será que todas as pessoas terão acesso a tratamentos com células tronco?

Como poderemos saber se os embriões que possam vir a apresentar algum tipo de deficiência no futuro, terão direito a vida?

Na verdade, o que queremos efetivamente trazer à reflexão de nossa população? É a imperiosa necessidade de as pessoas efetivamente pensarem como seres humanos, nos seres humanos, aceitando naturalmente suas diferenças.

Evoluir, tanto a ciência como as religiões, para um futuro, onde o ser humano seja o centro de todas as ações. Nossas gerações futuras dependerão da integridade e amor ao próximo praticados pelos indivíduos de hoje, que aliados ao desenvolvimento científico, técnico e ético, trarão os resultados consistentes e duradouros tão esperados por todos.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/04/2005 - Página 7302