Discurso durante a 33ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre o pontificado do Papa João Paulo II. Chacina cometida na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, na última quinta-feira. (como Líder)

Autor
Patrícia Saboya (PPS - CIDADANIA/CE)
Nome completo: Patrícia Lúcia Saboya Ferreira Gomes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Considerações sobre o pontificado do Papa João Paulo II. Chacina cometida na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, na última quinta-feira. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 06/04/2005 - Página 7400
Assunto
Outros > HOMENAGEM. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JOÃO PAULO II, PAPA, ELOGIO, ATUAÇÃO, IGREJA CATOLICA, LIDERANÇA, AMBITO INTERNACIONAL.
  • GRAVIDADE, HOMICIDIO, OCORRENCIA, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), SUSPEIÇÃO, CRIMINOSO, INVESTIGAÇÃO, POLICIA MILITAR, PROCESSO, CONTROLE INTERNO, REGISTRO, DADOS, SUPERIORIDADE, VIOLENCIA, POLICIAL.
  • NECESSIDADE, REFORMULAÇÃO, MODELO, SEGURANÇA PUBLICA, COMBATE, CORRUPÇÃO, IMPUNIDADE, MELHORIA, CONDIÇÕES DE TRABALHO, POLICIAL, REFORÇO, POLITICA SOCIAL.

A SRª PATRÍCIA SABOYA GOMES (Bloco/PPS - CE. Pela Liderança do PPS. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o mundo inteiro vive um momento de dor, tristeza e emoção. Um momento em que pessoas de todos os cantos do planeta, católicos e não católicos, prestam as justas homenagens àquele que foi um dos maiores líderes do século XX.

Não há dúvida de que a História reservará ao Papa João Paulo II um lugar bem maior e mais nobre do que o de forte, vigoroso e competente Pastor de um rebanho de um bilhão de fiéis. Ele transcendeu - e muito - as fronteiras da Igreja Católica. Exímio articulador político e um dos maiores comunicadores do nosso tempo, Karol Wojtyla foi um verdadeiro peregrino da fé, da paz e da esperança.

Autêntico e aplicado, fez 103 viagens apostólicas para países dos cinco continentes. Falou de igual para igual com líderes dos mais diversos credos, cores e orientações políticas. Em suas andanças, emprestou todo o talento à defesa intransigente da paz mundial, da harmonia entre os povos, dos direitos humanos, da justiça social.

Foi, sobretudo, o arauto do perdão. Perdoou o terrorista que atentou contra sua vida em 1981. Pediu perdão pelas injustiças cometidas, inclusive por católicos, contra o povo judeu. Pediu perdão, em nome da Igreja que chefiava, aos povos da África que foram subjugados em nome dos valores ocidentais.

Nas três visitas que fez ao Brasil, não se furtou a tratar de temas ora incômodos, ora politicamente delicados. Defendeu a democracia e a liberdade política quando o País ainda vivia o entardecer da ditadura militar. Criticou a pobreza e a desigualdade social. Cobrou das autoridades brasileiras uma solução para os conflitos no campo. Defendeu a reforma agrária de peito aberto.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a biografia de João Paulo II, esse inesquecível peregrino da paz, da fé e da esperança, tem de nos servir, hoje mais do que nunca, como exemplo do que é preciso fazer para exorcizar as mazelas sociais do Brasil.

Entorpecido pelas disputas políticas, pela grita da sociedade contra a espiral dos impostos e até pela notícia da morte de Karol Wojtyla, o País assistiu, na última quinta-feira, a um dos mais bárbaros e revoltantes capítulos de nossa História. Foi o massacre de 30 pessoas na Baixada Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro. Entre as vítimas, Srªs e Srs. Senadores, sete tinham menos de 18 anos de idade. Eram adolescentes que tiveram seus sonhos e seus desejos cassados pela injustiça social.

O que aconteceu foi um lamentável atentado terrorista em pleno solo brasileiro. É inadmissível que continuemos a assistir, impassíveis, a cenas como as que tiveram lugar na Baixada Fluminense, na quinta-feira passada.

A violência, Srªs e Srs. Senadores, segundo informações das autoridades do Estado do Rio de Janeiro, teria sido cometida por integrantes da Polícia Militar, que estariam insatisfeitos com um processo de investigação interna, determinado pelo comando dos batalhões daquela região.

A edição desta segunda-feira, 04 de abril, do jornal Folha de S.Paulo, traz um dado alarmante. De acordo com um levantamento do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, ligado à Universidade Cândido Mendes, nos últimos anos, a Polícia do Rio matou mais pessoas em confrontos do que todas as 21 mil corporações que atuam nos Estados Unidos. Enquanto essas 21 mil corporações americanas mataram, em média, 341 pessoas, entre os anos de 1998 e 2002, somente em 2004, 983 pessoas morreram no Rio em conflitos com a participação da Polícia.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - V. Exª ainda dispõe de 3 minutos.

A SRª PATRICIA SABOYA GOMES (Bloco/PPS - CE) - Agradeço, Sr. Presidente.

Esses números são estarrecedores. Mostram que o atual modelo brasileiro de segurança pública tem sérios equívocos e precisa, portanto, de uma profunda reformulação.

Sr. Presidente, temos a obrigação de dar um basta nessas brutalidades. As sucessivas cenas de violência, que acabaram por virar rotina no nosso País, são um claro sinal de que não dá mais para esperar. Precisamos, de uma vez por todas, enfrentar a crônica situação da nossa segurança pública.

Sabemos que o combate à violência requer ações contundentes nas mais variadas áreas. É uma luta difícil e complexa, que requer boas doses de coragem, determinação e vontade política. Precisamos enfrentar a corrupção, a impunidade e o espírito corporativista que ainda persiste em contaminar determinados segmentos das nossas polícias. Mas precisamos também dar às autoridades policiais melhores condições de trabalho para que, dessa forma, seja possível aprimorar os mecanismos de repressão.

Ainda assim, todas essas estratégias não serão eficazes se não conseguirmos mudar a lógica das nossas políticas públicas.

Desde que entrei na vida pública, não me canso de repetir um mantra: chega de fazer políticas pobres para os pobres. Precisamos romper com essa lógica. Precisamos implementar políticas mais ousadas e mais criativas, realmente capazes de transformar a realidade de milhões de brasileiros.

Já perdemos a conta das vezes que vimos, nas favelas e nas periferias das grandes cidades, milhares de pessoas vivendo em condições absurdas, em um estado quase medieval! Pessoas que, no seu dia-a-dia, não têm acesso aos serviços públicos essenciais. Crianças e adolescentes que vivem e dividem seu precioso tempo entre as escolas públicas de péssima qualidade e a dura labuta nas ruas ou nas casas de terceiros.

Sr. Presidente, é nesse cenário de ausência do Estado e de falta de perspectivas que, lamentavelmente, a violência se instalou. Não podemos mais permitir que tantas pessoas inocentes morram em decorrência dessa barbárie. Não podemos mais aceitar que quem tem o dever de proteger a população cometa crimes tão cruéis. E, por fim, não podemos, como cidadãos, assistir impassíveis ao estado de terror e medo que tragicamente tem colocado em risco uma das cidades mais maravilhosas do mundo, cantada em verso e prosa por todos nós, brasileiros.

Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/04/2005 - Página 7400