Discurso durante a 39ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reivindicação de ações positivas do Governo Federal para construção da ferrovia norte-sul.

Autor
Eduardo Siqueira Campos (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/TO)
Nome completo: José Eduardo Siqueira Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE DESENVOLVIMENTO. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Reivindicação de ações positivas do Governo Federal para construção da ferrovia norte-sul.
Aparteantes
Arthur Virgílio, José Jorge.
Publicação
Publicação no DSF de 14/04/2005 - Página 9071
Assunto
Outros > POLITICA DE DESENVOLVIMENTO. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, MODELO, DESENVOLVIMENTO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), COMPARAÇÃO, BRASIL.
  • COBRANÇA, GOVERNO FEDERAL, EXECUÇÃO, POLITICA DE DESENVOLVIMENTO, RETOMADA, CONSTRUÇÃO, FERROVIA, LIGAÇÃO, REGIÃO NORTE, REGIÃO SUL, PAIS.
  • CRITICA, EXCESSO, VIAGEM, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PAIS ESTRANGEIRO, AUSENCIA, ATENÇÃO, PROBLEMAS BRASILEIROS.

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Papeléo Paes, Srªs e Srs. Senadores, meus caros telespectadores da TV Senado, caros ouvintes da Rádio Senado FM e da Rádio Senado em Ondas Curtas; quero, entre outras coisas, saudar as crianças aqui presentes, assim como as pessoas que acompanham nossos trabalhos na tribuna da imprensa e destacar, em mais um pronunciamento, minha expectativa de que este País seja um dia convocado para um grande projeto nacional.

Não é demais falar dos bons exemplos que tivemos, conforme demonstra a História. Para citar o exemplo de algum brasileiro, lembro os “50 anos em 5” do nosso saudoso, brilhante e, sem dúvida nenhuma, histórico Presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira, a quem devemos homenagear na próxima semana, em 21 de abril, dia em que comemoramos a inauguração de nossa Capital, Brasília, além de outros fatos marcantes ocorridos nesse dia.

Sr. Presidente, não é demais lembrar a crise vivida pelos Estados Unidos da América do Norte, quando o Presidente Roosevelt conclamou a Nação para o plano dos 100 primeiros dias. O País estava literalmente quebrado após o crack da Bolsa de Valores de Nova Iorque, havia filas de desempregados, e foi feita uma convocação para desenvolver um projeto nacional. Os americanos acreditaram no seu País e identificaram o que era verdadeiramente a riqueza nacional.

Sr. Presidente, a riqueza brasileira não pode ser medida pelo ouro que temos, pelos depósitos bancários ou mesmo pela participação do Brasil - que considero pequena - nesse grande mercado especulativo, no mercado financeiro internacional. Onde está a riqueza brasileira? Está na Amazônia; está na biodiversidade; está em nosso potencial hídrico e mineral. Temos riquezas, temos o nosso povo e um território abençoado, mas ainda falta, no meu entendimento, um líder e a convocação para o desenvolvimento de um grande projeto nacional.

Sr. Presidente, Roosevelt deixou ensinamentos históricos sobre isso. Faço essa citação para dizer que, apesar de outros equívocos brasileiros, como a opção pelo transporte rodoviário, ainda acreditamos que este País vai construir, entre outras ferrovias importantes, a Ferrovia Norte-Sul. Falei de Roosevelt exatamente por me lembrar da Companhia do Vale do Mississipi e da forma como aquele presidente, que acreditava em seu País, transformou uma região de abandono. Chamou os trabalhadores que estavam nas filas para receberem um fundo de amparo ao trabalhador a fim de ingressarem nas frentes de serviço, que rapidamente se transformaram em companhias de desenvolvimento. Assim, conseguiu fazer uma ocupação mais racional do território norte-americano. E, daí para frente, Sr. Presidente, a história que precisa ser contada é a nossa.

Disse ontem, de forma respeitosa, que o Brasil faria melhor se, em vez de pleitear sua presença no Conselho de Segurança da ONU, se preocupasse com a segurança nacional. Em vez de intervir na saúde de um Estado brasileiro, o Governo deveria intervir na saúde do Brasil, nos hospitais de todos os Estados, das capitais, de todas as cidades, que estão abandonados.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - V. Exª permite-me um aparte, Senador Eduardo Siqueira Campos?

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Permite-me um aparte, Senador?

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - Concederei, com grande prazer, o aparte a V. Exª, Senador José Jorge, mas o Senador Arthur Virgílio havia levantado o microfone primeiro. Vou concluir a primeira parte do meu raciocínio e, depois, darei o aparte a V. Exªs.

Lembro que, após um encontro com representantes do BID, o Ministro do Planejamento informou que a Ferrovia Norte-Sul deverá ser o primeiro projeto objeto de uma PPP.

Vim a esta tribuna, Sr. Presidente, praticamente quatro anos atrás, para dizer que o Banco Mundial havia realizado um seminário em que o destaque era a Ferrovia Norte-Sul. Houve interesse do JBIC (Japan Bank for International Cooperation), que já investiu no Tocantins - nós temos estradas que foram co-financiadas por esse banco -, que já investiu na compra de patrulhas motomecanizadas, que já fez projetos junto com o nosso País, com o nosso Estado. O mundo inteiro sabe - é o óbvio - que estamos por realizar os grandes projetos da integração nacional. Para isso, Sr. Presidente, é preciso que haja liderança, é preciso que haja projeto, e é disso que todos nós sentimos falta. Por isso é tão reverenciada a vida, a memória, a obra de Juscelino Kubitschek, assim como a obra de Roosevelt nos Estados Unidos.

Sr. Presidente, nossa expectativa a respeito da Ferrovia Norte-Sul , após o lançamento dela pelo Presidente José Sarney, foi retomada. O Presidente Fernando Henrique Cardoso deixou pronta a ponte e fez os trilhos chegarem até o nosso Estado. De lá para cá, o que temos é mais uma obra na expectativa, talvez, de ser salva por uma PPP - Parceria Público-Privada. Há interesse nacional e internacional nessa questão.

Quero ouvir o nobre Líder Arthur Virgílio e, em seguida, o Senador José Jorge.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Eduardo Siqueira Campos, V. Exª falou rapidamente de alguns equívocos da política externa do Governo que aí está. Neste aparte, eu exibo à Casa o jornal O Globo de hoje - página 8, seção “O País” -, que traz matéria sob o título “Argentina se opõe a planos do Brasil na ONU”, ou seja, o Brasil, tendo em vista a economia, desarticulou o Mercosul (Mercado Comum do Cone Sul) sob esta gestão. Ele não consegue sequer o acordo político de seu principal parceiro na suposta caminhada de construção do Mercosul. A viagem do Presidente à África foi cercada de coisas pitorescas. Aqui ele pergunta: “Estou com cara de rei?” Não sei se rei tem cara, Senador Jefferson Péres. Qual é a cara de rei? Fico espantado, sou parlamentarista, mas republicano. O Ministro do Desenvolvimento, que não foi recebido por autoridades desses países africanos, está-se queixando de que a viagem foi um “chá de cadeira”. O Presidente visita todos os ditadores, um fica 30 anos no poder, outro, 37. Sua Excelência, se Deus quiser, ficará 4 apenas; sem ser como ditador; não vai avançar. Esteve no Oriente Médio em viagem de negócios, mas não visitou Israel nem a Arábia Saudita. Então, a viagem já perdeu qualquer seriedade, considerando a possibilidade de realizar ou não grandes negócios para o Brasil. Teve a ousadia de assinar um comunicado conjunto com aquele ditador sanguinário da Síria. Proferiu uma das frases mais absurdas que já ouvi alguém dizer. Acho que pensou que era o Bush e disse: “Israel deve abandonar Golan imediatamente”. Claro que eu gostaria que Israel abandonasse Golan, eu, Fulano de Tal; eu, Arthur, cidadão brasileiro. Sua Excelência falou de tal forma que parecia ser o Bush, ou seja, ou sai, ou começarei a derramar mísseis em cima de vocês. Trata-se de uma política externa tola, que haverá, no futuro, de complicar a situação econômica do País. Tudo porque o Presidente imagina que a grande meta deve ser um assento no Conselho de Segurança de uma ONU que não existe mais. A ONU não existe mais a partir do bombardeio cirúrgico - não mais cirúrgico, porque arrasador, unilateral - promovido pelo Presidente Bush contra a ditadura iraquiana de Saddam Hussein. O Presidente é a única pessoa que não percebe que não existe mais ONU. Sua Excelência quer assento permanente no Conselho de Segurança de uma ONU que não existe mais. Obrigado a V. Exª, Sr. Presidente.

(O Presidente faz soar a campainha.)

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - Agradeço-lhe o aparte, Senador Arthur Virgílio e responderei a V. Exª.

Antes, porém, vou ouvir o Senador José Jorge dentro desses dois minutos que me restam.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Quero ser bastante rápido. Eu gostaria também de ressaltar essa questão da viagem do Presidente Lula à África. V. Exª disse muito bem: estamos precisando de um líder. O Presidente fez uma viagem - e pode-se dizer - folclórica, sem planejamento. Hoje, a mídia inteira está dizendo que não se alcançaram resultados, mesmo porque não se levou nenhuma proposta. Os empresários não puderam viajar, porque eram viagens de 24 horas no novo jato do Presidente, e, infelizmente, não havia outro jato para acomodar os empresários. Portanto, foi uma viagem folclórica e falsa, do ponto de vista dos objetivos por que deveria ser realizada. Então, eu gostaria só de acrescentar esse ponto ao brilhante pronunciamento de V. Exª.

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - Senador José Jorge, agradeço imensamente a V. Exª, pela contribuição que faz, como também ao Senador Arthur Virgílio, profundo conhecedor da diplomacia e das relações exteriores.

Não quero, Sr. Presidente, até como brasileiro e representante do Estado do Tocantins, minimizar o esforço que faz o Presidente, mas, no meu entendimento, o faz na direção errada. Eu gostaria de uma ênfase maior nas questões nacionais, uma melhor ocupação do território nacional. Eu não gostaria que virasse galhofa essa questão de criação de novos Estados. Mais de 400 mil ONGs estão atuando, substituindo o Poder Público no Brasil, cadastrando e levantando elementos da nossa biodiversidade, registrando-os em outros países, a nossa saúde em crise. E o Brasil tenta uma liderança mundial.

Será que isso, Sr. Presidente - como reflexão -, nos fará mais respeitados? Será que vamos ser mais respeitados se mantivermos os índices de mortalidade infantil? Se deixarmos paralisada a ferrovia Norte-Sul? Se continuarmos a fazer a opção equivocada de exportar minério de ferro bruto, soja bruta, perder e desperdiçar a riqueza mineral deste País, sem agregar valores? Será que nós estamos no caminho certo?

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - E aí, Sr. Presidente, eu encerro, meu nobre Líder Arthur Virgílio, dizendo que o Presidente da República mandou um recado para os seus ministros, dizendo que é no tête-à-tête, é na presença que se conseguem, pelo contato, os resultados. Assim, no próximo ano, vamos viajar mais no Brasil, porque é ano eleitoral. Aí, Sr. Presidente, eu já parto não apenas para a discordância, mas para a indignação. Se o BNDES está com recursos para fazer obras e financiar projetos em tantas partes do mundo, e o Presidente diz que é no tête-à-tête que se resolvem as coisas, eu queria muito um tête-à-tête no Tocantins, porque já são dois anos e quatro meses de Governo, o Presidente ainda não foi ao meu Estado, e nós não vamos querer visita no ano eleitoral. Nós queremos a continuação das grandes obras nacionais.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - Eu gostaria de fazer um chamamento - e aqui não é um Senador de oposição apenas; é um representante de um Estado que precisa, que luta para que possamos obter o que é do nosso direito: que recebêssemos a visita do Presidente da República no Tocantins. Respeitamos a viagem à África, a Cuba e tantas outras que já estão anunciadas, mas queremos que o Tocantins seja inserido nesse contexto. E talvez possa até parecer pedir um absurdo, Sr. Presidente, mas eu disse ontem: eu queria que se fizesse uma intervenção na Saúde do meu Estado, na Educação, que se fizesse uma intervenção no Brasil, porque não foi em outro País que assistimos pela televisão os pais dormindo na fila para conseguirem uma vaga na rede de ensino básico. Então, quem está precisando de intervenção é o País inteiro, mas de uma intervenção de Governo, de projeto, em uma demonstração de fé neste País.

Eu acredito muito na política externa, Sr. Presidente, mas estamos precisando muito é de uma política interna eficaz.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/04/2005 - Página 9071