Discurso durante a 39ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Transcurso dos 279 anos de Fortaleza/CE.

Autor
Patrícia Saboya (PPS - CIDADANIA/CE)
Nome completo: Patrícia Lúcia Saboya Ferreira Gomes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Transcurso dos 279 anos de Fortaleza/CE.
Publicação
Publicação no DSF de 14/04/2005 - Página 9139
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, MUNICIPIO, FORTALEZA (CE), ESTADO DO CEARA (CE), COMENTARIO, HISTORIA, REGISTRO, APOIO, GOVERNO MUNICIPAL.

           A SRª PATRÍCIA SABOYA GOMES (Bloco/PPS - CE. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, dirijo-me hoje aos senhores para celebrar uma data muito especial para mim e para os cearenses.

           É o aniversário dos 279 anos de Fortaleza, a capital do meu Estado. A quinta cidade do Brasil. Uma das mais belas e mais disputadas pelos turistas. Cidade com história digna de registro, pois o visitante que chega a Fortaleza dificilmente imagina que, quando nasceu, parecia ter poucas chances de evoluir.

           Enquanto Capitania, o Ceará não recebia atenção alguma. Sua ocupação de fato foi iniciada por Martim Soares Moreno, o capitão português que serviu de inspiração para um dos personagens centrais de "Iracema", de José de Alencar. Foi escolhido para a fundação da cidade o local onde, em 1603, ergueu-se o Forte de São Tiago, na Barra do Ceará.

           Mas uma antiga polêmica considera o holandês Matias Beck como o verdadeiro fundador de Fortaleza. O marco inicial seria o local onde hoje está erguido o prédio da 10ª Região Militar. Ali, no século dezessete, a expedição capitaneada por Matias Beck construiu o Forte Shoonenborch.

           Somente no século seguinte, o povoado foi elevado à condição de vila depois de vários desentendimentos entre as autoridades. A Carta Régia que autorizou a criação da Vila do Ceará em 1699 originou muitas contendas em torno de uma questão fundamental: onde instalar o Pelourinho, coluna que simboliza a autonomia municipal. Tais desavenças levaram à decisão de transformar a cidade de Aquiraz em vila e sede da Capitania em 1713.

           Com os ataques indígenas desferidos contra Aquiraz, Fortaleza foi, em 13 de abril de 1726, finalmente denominada Vila de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção.

           Mas a condição de vila com uma população expressiva não foi suficiente para garantir a sustentação econômica de Fortaleza, isolada do interior, onde se desenvolvia a civilização do couro e do gado. A cidade continuou sem expressão político-econômica até o início do século XIX.

           Em 17 de março de 1823, Fortaleza é elevada pelo Imperador D. Pedro I à condição de cidade. Nas décadas seguintes, segue convivendo com problemas como a inexistência de um cais, dificuldades de desembarque, condições sanitárias precárias e surtos epidêmicos. Sua população, porém, já era descrita por viajantes estrangeiros como alegre e simpática. Traço que criou sua fama de capital do humor.

           Outra característica que viria a ser reconhecida é a bravura cearense. Dois episódios salientaram tal perfil: a Confederação do Equador, em 1824, e a campanha abolicionista, nas décadas de 1870 e 1880. O primeiro movimento, iniciado em Pernambuco, teve grandes heróis cearenses. O Ceará foi também a primeira província a libertar seus escravos, em 25 de março de 1884.

           Srªs e Srs. Senadores, foi a demanda externa pelo algodão produzido no Ceará o fator gerador de um surto de desenvolvimento no Estado que, a essa altura, já contava com uma população numerosa e enfrentava as secas. O porto de Fortaleza exportava o produto para a Inglaterra, e, assim, a cidade passou a exercer seu papel de capital e sede do poder.

           Tais fatores foram responsáveis pelo surgimento de uma elite formada por comerciantes e profissionais liberais que, com sua formação de influência européia guiada por ideais de modernidade, teve atuação decisiva no ordenamento urbano.

           Em 1875, o intendente Antonio Rodrigues Ferreira encomendou ao engenheiro pernambucano Adolfo Herbster a elaboração da Planta Topográfica da Cidade de Fortaleza e Subúrbios - marco inicial da modernização urbana da capital. Inspirado nos feitos da prefeitura de Paris, então gerida pelo Barão de Haussmann, Herbster dotou Fortaleza de três bulevares e estabeleceu o alinhamento de ruas segundo um traçado em xadrez para disciplinar sua expansão e facilitar o fluxo de pessoas e produtos.

           A partir de 1880, Fortaleza ganhou novos serviços e equipamentos urbanos, como o transporte coletivo por meio de bondes com tração animal, o serviço telefônico, caixas postais, o cabo submarino para a Europa, a construção do primeiro pavimento do Passeio Público e a instalação da primeira fábrica de tecidos e fiação.

           Na virada do século, a cidade já detinha a sétima maior população urbana do país, passando a tomar medidas de higienização social e de saneamento ambiental, além de executar um plano de embelezamento com a implantação de jardins, cafés, coretos e monumentos, e a construção de edifícios de padrão europeu.

           Os primeiros automóveis circularam em 1910, seguidos de bondes elétricos, ônibus e caminhões. Entre as décadas de 20 e 30, iniciou-se a ocupação dos bairros próximos ao mar. Com a construção da avenida Beira Mar, nos anos 60, a cidade se volta definitivamente para o oceano.

           Entre 1950 e 1960, a taxa de crescimento foi de quase 100%, revertendo no aparecimento de núcleos desprovidos de infra-estrutura básica e espalhados pela periferia. Migrações internas no Estado, entre os anos 60 e 70, geraram o surgimento de favelas. A grande seca que se estendeu de 1979 a 1984 foi outro fator agravante dos problemas urbanos.

           Em 85, com a redemocratização, Maria Luiza Fontenele é eleita a primeira mulher do PT a governar uma capital brasileira. Quatro anos depois, Ciro Gomes vence as eleições iniciando um belo trabalho de recuperação da cidade. Passados dois anos, ele se elege para o Governo do Estado, ficando a cidade por quatro gestões sob o comando do grupo político de Juracy Magalhães.

           No início dos anos 2000, Fortaleza apresenta as mazelas da maioria das grandes cidades brasileiras, agravadas pela injusta distribuição de renda.

           Mas, após a crise do modelo administrativo implantado pelo ex-prefeito Juracy Magalhães, a população quis mudar e venceu a eleição uma mulher de muita fibra e coragem: Luizianne Lins. Apoiei Luzianne e acredito que Fortaleza está, de novo, em boas mãos.

           É, portanto, Srªs e Srs. Senadores, com o coração cheio de esperança que festejamos os 279 anos de Fortaleza. Tenho certeza de que, em 2006, ao completar seus 280 anos, em uma grande festa, muita coisa terá mudado para melhor. E seu povo, guerreiro, alegre e criativo, terá muito que comemorar.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/04/2005 - Página 9139