Discurso durante a 45ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem pelo transcurso do quadragésimo quinto aniversário de Brasília. Críticas à condução da política agrícola do atual governo.

Autor
João Batista Motta (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: João Baptista da Motta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA AGRICOLA.:
  • Homenagem pelo transcurso do quadragésimo quinto aniversário de Brasília. Críticas à condução da política agrícola do atual governo.
Aparteantes
Antonio Carlos Magalhães, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 26/04/2005 - Página 10116
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), CONCLAMAÇÃO, BRASILEIROS, TURISMO, CAPITAL FEDERAL, ELOGIO, ARQUITETURA, URBANISMO, CUMPRIMENTO, OBJETIVO, INTEGRAÇÃO, TERRITORIO NACIONAL.
  • HOMENAGEM, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, INDUSTRIALIZAÇÃO, BRASIL, CONSTRUÇÃO, RODOVIA, CAPITAL FEDERAL.
  • PROTESTO, NEGLIGENCIA, SEGURANÇA PUBLICA, COMBATE, VIOLENCIA, SEM-TERRA, INVASÃO, PROPRIEDADE RURAL, CRITICA, SUPERIORIDADE, JUROS, FALTA, INCENTIVO, POLITICA AGRICOLA.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PMDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aproveito o canal de televisão da TV Senado para me dirigir aos jovens e aos idosos que não tiveram a oportunidade de conhecer Brasília.

Na quinta-feira da semana passada, comemoramos mais um ano da fundação da cidade, que completou 45 anos de idade.

Para vocês, jovens do Brasil, mais uma vez, repito: se tiverem oportunidade, não deixem de conhecer a Capital do nosso País. É uma cidade linda, maravilhosa, onde os prédios se confundem com as árvores; onde o traçado urbanístico de Lúcio Costa revela um verdadeiro esbanjamento de inteligência e de capacidade do brasileiro; onde Oscar Niemeyer, projetando seus edifícios, também deixou uma marca jamais vista no mundo.

Brasília é linda! O lago Paranoá, com seus barcos, suas velas; os automóveis respeitando o homem, e o homem respeitando os automóveis. Cidade projetada para 500 mil habitantes, hoje, com as cidades satélites, tem uma população chegando à casa de dois milhões e meio.

Brasília é uma cidade inconfundível, a mais bonita do mundo, e talvez a de melhor qualidade de vida do mundo. Brasília é, portanto, orgulho deste País.

Mas a construção de Brasília, meus brasileiros, pouco significa no conceito em que foi embutida no momento de desenvolvimento para o País. De Brasília partiram estradas para Belém do Pará, para Belo Horizonte, para o meu Estado do Espírito Santo, para o Ceará, para Pernambuco, para Bahia, enfim, para quase todos os Estados do Brasil. Goiás, com a capital aqui, virou um dos celeiros de nossa Pátria. Belém do Pará ficou próxima à Capital. Ceará e Bahia também se aproximaram da Capital da República e toda a extensão dessas estradas foram habitadas. O cerrado virou fonte de riqueza para equilibrar o nosso balanço de pagamentos. Brasília arrancava um plano rodoviário invejável para a nossa Pátria.

E não foi só isso Senador Mão Santa. Naquela década, a de 50, nós também não tínhamos energia e aí surgiram as melhores hidrelétricas deste País, que nos sustentam até hoje, principalmente no Sudeste.

O Brasil também não possuía aço. Volta Redonda era uma siderúrgica tímida e pequena. Eu, muitas vezes, fiquei na minha cidade de Vitória olhando para o mar, vendo a aproximação de um navio, para que, quando ele chegasse, pudéssemos comprar algumas chapas de ferro na medida de 2mx1m para que pudéssemos remendar pára-lamas de carros americanos que importávamos na época.

Mas não era só aço que faltava. Nós não tínhamos também vidro. E o Governo providenciou e o Brasil começou a produzir vidro. Não tínhamos alumínio. O País não produzia automóvel. Os americanos não queriam vir para o Brasil. Eles forneciam os caminhões Fargo, Ford, Diamond, Super White, que circulavam nas estradas brasileiras. E um Presidente, o mesmo raçudo que construiu Brasília, que projetou todas as estradas que o Brasil possui atualmente, foi à Europa trazer uma Mercedes-Benz, uma Scania, pioneiros na implantação do novo ciclo industrial do País. E assim nós tivemos caminhões de qualidade fabricados no Brasil. Nós tivemos a construção de fábricas para que pudéssemos ter lâminas de barbear, porque, naquela época, havia apenas a lâmina Solingen. A enxada para tratar da terra também era Solingen e vinha da Alemanha.

E Brasília, as estradas brasileiras, a industrialização deste País, tudo isso nós devemos a um homem. E lamento que este País não tenha memória e que todos nós, dia e noite, não nos ajoelhemos para agradecer a Deus o período de governo do grande brasileiro, cujo nome orgulho-me em pronunciar, que foi Juscelino Kubitschek de Oliveira, Presidente. Brasília, sistema rodoviário; Brasília, industrialização do País; Brasília, desenvolvimento para toda esta Nação.

É uma pena que, depois de Juscelino, nós não tenhamos tido ninguém com a mesma capacidade e a mesma determinação. Muito tempo depois, tivemos o Presidente José Sarney, que recebeu o País esfacelado, com muitos problemas e tentou, com uma força fora do comum, fazer com que debelássemos uma inflação que era insuportável e que corroía toda a economia brasileira. E o Presidente Sarney tentou a primeira vez, tentou a segunda, tentou a terceira e passou seu governo lutando para que pudéssemos pôr fim à inflação, que finalmente foi debelada no Governo de Itamar Franco.

Senador Mão Santa, é lamentável que hoje, em que os problemas são bem menores...basta comparar, Senador Mão Santa, se um cidadão de revólver na mão assaltar uma pessoa vai preso. É considerado um crime hediondo. Enquanto isso cem homens, acobertados pela sigla MST, podem invadir uma fazenda, matar os animais ali existentes, botar fogo na casa, quebrar as suas cercas e, quem sabe, matar os funcionários,...

(A Presidência faz soar a campainha.)

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PMDB - ES) - ...e isso não é crime.

Nós temos este problema: fazer a invasão de uma propriedade, ceifando vidas, não é crime; enquanto um assalto à mão armada, no meio da rua, é considerado um crime hediondo.

Será que não temos como resolver esses problemas hoje? Será que o problema dos juros altos, que foi aqui comentado pelos Senadores que me antecederam, não podemos olhar de frente, para combater e tentar resolver?

Será que vamos ficar enfrentando essa política desastrosa, em que, no ano passado, agricultores plantaram arroz e venderam a R$50,00 a saca; plantaram soja, venderam a R$50,00 a saca. Neste ano, a saca de soja cai para R$25,00; a de arroz, para R$20,00, e não tem solução. Ninguém está preocupado com o agricultor brasileiro! Isso não é problema para este País!

Então, pergunto: será que vamos viver todos estes quatro anos sem que se tome uma providência para que juros altos, para que violência, seja no campo ou na cidade, possam ser combatidos?

Será o caso, Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores...

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PMDB - ES) - Ouço V. Exª, Senador Antonio Carlos Magalhães.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Ouço com prazer V. Exª; contudo, penso que V. Exª está um pouco pessimista quando diz que viveremos ainda quatro anos. A meu ver, são apenas mais dois e olhe lá!

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PMDB - ES) - Obrigado, Senador Antonio Carlos Magalhães. É que acredito que o Brasil não suporta mais dois anos com uma política de estagnação.

Penso que o Presidente Lula tem tudo para enfrentar esses problemas. Sua Excelência veio do seio do povo e sabe das dificuldades dos trabalhadores, em especial os trabalhadores do campo. Sua Excelência sabe que não fará balança de pagamentos sobre a produção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Sua Excelência sabe que vivemos hoje em uma época de economia de escala, em que a produção tem de ser mecanizada, automatizada e que temos de olhar para o futuro. Temos de produzir, vender muito e fazer uma política agressiva.

E não é possível que, quando o Governo tem um Ministro do quilate de Roberto Rodrigues, por exemplo, não aproveite o trabalho e a inteligência de S. Exª e não deixe que esse homem faça alguma coisa por este Brasil.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Louvo mais uma vez o discurso de V. Exª para dizer que Roberto Rodrigues é um grande Ministro, que deveria ser prestigiado neste Governo. Ontem, li uma entrevista do Sr. Gerdau, que cita dois Ministros e “puxa o saco” de um terceiro, mas não cita o nome de Roberto Rodrigues, que é um dos melhores Ministros que este Governo tem. V. Exª faz justiça. V. Exª fala pelo Brasil lúcido, pelo Brasil que quer crescer e ver o seu desenvolvimento agrário. É esse o Brasil que queremos, esse é o Brasil de Roberto Rodrigues. Não sou íntimo, mal conheço o Sr. Roberto Rodrigues, mas acompanho o trabalho de S. Exª, que não pode ser ignorado por um industrial que foi o que mais ganhou no Brasil.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PMDB - ES) - Muito obrigado, mais uma vez, Senador Antonio Carlos Magalhães.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Permita-me um aparte, Senador João Batista Motta.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PMDB - ES) - Senador Mão Santa, por gentileza.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Em homenagem ao Senador Antonio Carlos Magalhães, eu faria minhas as palavras de Juscelino Kubitscheck, que disse que é melhor que sejamos otimistas: “o otimista pode errar, mas o pessimista já nasce errado e continua errado”. Mas ele deu este grande ensinamento para o Lula aprender: coragem. Ele rompeu mesmo com o FMI e realizou os sonhos dele: implantar aqui esta cidade que tão bem V. Exª descreveu, e transformou o Brasil; o parque industrial no Sul e o tripé, a Sudene, para diminuir as desigualdades. Essa foi uma grande obra. Mas eu tive a felicidade de ver Juscelino no apagar de seu governo, no fim de 1955. Senador Antonio Carlos, ele foi convidado a visitar uma faculdade de Direito. Esboçaram uma vaia, e ele disse: “Feliz do País em que se pode vaiar um Presidente”. Depois, ele saiu e foi até a praça, onde havia um abrigo e, no final, o povo. E eu vi um caboclo de chapéu. Era um cearense - eu estudava em Fortaleza -, querendo se aproximar, mas os Deputados e Líderes, naquele abrigo que tinha na praça do Ferreira, as praças antigas, e o caboclo não conseguiu. Mas ele falou pelo Brasil e de quem faço minhas as palavras: “Oh, Presidente Pai d’égua”. Pai d’égua, no Nordeste, é um homem realizador, empreendedor, que estamos aqui a ressuscitar.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PMDB - ES) - Vou terminar, Sr. Presidente, pedindo a Deus que nos ajude, principalmente a minha geração, a dos Senadores Antonio Carlos Magalhães e Mão Santa, para que possamos, em um futuro próximo, ver alguém do quilate de Juscelino, com a sua coragem e determinação, para que este País volte a tomar o caminho do desenvolvimento, mas um desenvolvimento sustentável, alicerçado na inteligência, no bom gerenciamento, sem a mentira e o engodo, porque, enganando, ninguém vai chegar a lugar algum. Precisamos de um Presidente que realmente enxergue as necessidades do Brasil e saiba gerenciar este País de uma vez por todas!

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/04/2005 - Página 10116