Discurso durante a 57ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas aos reajustes salariais concedidos pelo Presidente Lula, em especial o do salário-mínimo.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIVISÃO TERRITORIAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Críticas aos reajustes salariais concedidos pelo Presidente Lula, em especial o do salário-mínimo.
Aparteantes
Heráclito Fortes, José Jorge, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 07/05/2005 - Página 13653
Assunto
Outros > DIVISÃO TERRITORIAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REGISTRO, AÇÃO JUDICIAL, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO AMAZONAS (AM), QUESTIONAMENTO, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), ALTERAÇÃO, DIVISÃO TERRITORIAL, ANTERIORIDADE, DECISÃO, PENDENCIA, ESTADO DO ACRE (AC), ESTADO DE RONDONIA (RO), TRAMITAÇÃO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF).
  • APRESENTAÇÃO, REQUERIMENTO, CONVOCAÇÃO, EX-DEPUTADO, AUDIENCIA PUBLICA, COMISSÃO DE FISCALIZAÇÃO E CONTROLE, ESCLARECIMENTOS, NOTICIARIO, DIVULGAÇÃO, DENUNCIA, EXTORSÃO, DEPUTADOS, JORNALISTA, CRIME ORGANIZADO.
  • COMENTARIO, CRITICA, ENTREVISTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESTADO DO PARANA (PR), DESPREPARO, DESCONHECIMENTO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, FALTA, DEMOCRACIA, RELACIONAMENTO, IMPRENSA, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, AUMENTO, SALARIO MINIMO.
  • ANALISE, NEPOTISMO, POLITICA PARTIDARIA, ELOGIO, INDEPENDENCIA, SENADO, ATUAÇÃO, BENEFICIO, INTERESSE NACIONAL.
  • DETALHAMENTO, INSUCESSO, GOVERNO FEDERAL.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho à tribuna para registrar a matéria intitulada “IBGE ‘tira’ pedaço do Amazonas, que vai à Justiça”, publicada no jornal O Estado de S.Paulo, de 6 de maio do corrente.

A matéria mostra que o governo do Amazonas está entrando com uma ação contra o IBGE, questionando a decisão de mudança nos limites do território do Amazonas.

            Ainda está pendente no Supremo Tribunal Federal a disputa de território entre os Estados do Amazonas, Rondônia e Acre e, portanto, não caberia a precipitação do IBGE, que repercute negativamente sobre as finanças do meu Estado. Com a perda de território, haverá redução da população e, conseqüentemente, queda nos números que servem de base para o cálculo do Fundo de Participação dos Municípios, o FPM.

Sr. Presidente, peço que conste dos Anais da Casa a referida notícia. E desde logo digo que desta tribuna vou reagir, desta tribuna não me conformarei. Exigimos que o IBGE respeite o Supremo Tribunal Federal, que ainda não se pronunciou sobre o assunto. Enquanto a Suprema Corte não se pronuncia, não haverá de ser o IBGE, que não é Corte nenhuma, a fazê-lo.

Sr. Presidente, encaminho à Mesa requerimento, nos termos regimentais, fazendo convite aos Srs. André Luiz, ex-Deputado Federal, cassado ontem ou anteontem pela Câmara dos Deputados, e Carlos Augusto Ramos, o chamado Carlinhos Cachoeira, para, em audiência pública na Comissão de Fiscalização e Controle, prestarem esclarecimentos sobre as matérias publicadas nos jornais do último dia 5 de maio, que mostram o ex-Deputado. insinuando haver outros Deputados tentando extorquir dinheiro do Sr. Carlos Augusto Ramos. E também Deputados e jornalistas recebendo propinas do que eles chamam de uma grande empresa S.A, uma organização criminosa, enfim.

Isso é bom. Vira e mexe lá está de novo esse fantasma chamado Waldomiro Diniz rondando a paz da sociedade brasileira.

Faço um balanço muito negativo a respeito da forma como se porta esse Governo. A entrevista coletiva do Presidente Lula eu estava no Paraná com V. Exª , Senador Álvaro Dias, que neste momento preside esta sessão. A entrevista coletiva foi entre engraçada e irritante. Engraçada porque estava lá o Presidente todo dirigido pelo Sr. Duda Mendonça, maquiado, elegante, bonitão etc.

As perguntas limitadaram-se a quatorze, sendo perguntas curtinhas dos jornalistas e quatorze discursos do Presidente, todos eles preparados, porque, na verdade, era um jogo de cartas marcadas. Ali estava o Sr. Duda Mendonça dando cola para o mau aluno, que é o Presidente Lula. E sem direito a réplica, ou seja, fugindo da tradição brasileira, da tradição das democracias, em que os jornalistas podem replicar para mostrar possíveis contradições na fala presidencial.

Mais ainda, Líder José Jorge, entristeceu-me - ai é a parte não engraçada, triste - ver o Presidente comemorando uma simples entrevista coletiva, depois de dois anos e meio de governo, Sua Excelência que sempre falava às pressas para os jornalistas, sem responder a pergunta alguma, apenas discursando para os jornalistas. Inclusive essas grandes tolices que tem proferido sempre são assim, na pressa desses improvisos que faz, sempre na euforia de suas viagens. É uma coisa esquisita: ele viaja e começa a derramar o besteirol.

O Presidente saiu feliz da vida, como se tivesse sido um grande feito. O Presidente Fernando Henrique deu, a meu ver, poucas entrevistas coletivas, foram oito em oito anos, mas falava com a imprensa a toda hora, tinha uma relação bem mais informal com a imprensa. Foram oito entrevistas formais, uma por ano. É pouco.

            O Presidente Bush, que não chega a ser um brilho intelectual, deu cinqüenta, sessenta, sei lá quantas. Ou seja, temos um Presidente que tem que ser protegido dos jornalistas. Para falar com a imprensa tem que ser maquiado, cuidado, tem que haver um decoreba, tem que limitar e cercear a capacidade de perguntas dos jornalistas.

A seguir, era Dia do Trabalho, lá vem o Presidente se vangloriando do tal aumento do salário mínimo, como se R$300,00, um número fechado, parecesse um número bonito... A Folha de S.Paulo, no dia seguinte, desmascara: o Presidente Lula deu alguma coisa tipo 3,5% de ganho real na média dos seus tempos de governo, com os três aumentos de salário mínimo. E o Presidente Fernando Henrique, tão criticado por ele, deu aumento de 4.7% reais. Ora, se o Fernando Henrique merecia críticas, imagine o Lula, que falou tanto em salário mínimo, em duplicar o valor real de compra do salário mínimo e ficou abaixo do seu antecessor. Mas lá estava ele apresentando aquilo como se fosse uma grande coisa.

Eu olhava o Presidente e os R$300,00 não compram nenhum item da vestimenta que trajava, nem a gravata, nem o paletó, nem a maquiagem. Nada. Os R$300,00 não pagam nada daquilo que significou a preparação formal do Presidente para falar no Dia do Trabalho em cadeia de televisão. E lá vem ele, de novo, todo pimpão, todo elegante, com ótimos modos. Aí pensei: o Presidente agora vai ser contido, vai ler os seus pronunciamentos, vai assumir o seu despreparo e não vai mais ficar improvisando. Que nada! O Presidente é como o chamado “pau que nasce torto, vai morrer torto”, ele não vai parar com isso nunca.

            Recentemente, o Presidente disse que dá para combater a inflação sem ser apenas com juros e não explicitou quais seriam os outros instrumentos. Seria aumentar o superávit ainda mais? Seria aumentar ainda mais, Senador Pedro Simon, o compulsório retido nos bancos, tornando o dinheiro mais caro ainda para quem dele precisa? Quais são os instrumentos, além dos juros, que ele vai usar para conter a inflação que está dando os seus ares de vida?

Lendo a Folha de S.Paulo, do dia 27/4/2005, por curiosidade - é uma leitura que estava atrasada - o Presidente dizia: “Juro maior não freia crescimento”. O Presidente dizia que juro maior não tem nada a ver com crescimento, pode aumentar o juro à vontade, segundo o nosso espontâneo Presidente Lula, que agora deve estar morrendo de inveja, porque mais espontâneo do que ele é o Presidente Severino Cavalcanti e faz muito mais sucesso de mídia, faz sucesso de público, é muito mais espontâneo e muito mais charmoso do que o Presidente. Ao dizer que juro maior não freia crescimento, realmente o Presidente não sabe, literalmente, o que está dizendo em matéria de economia. O juro maior serve precisamente para frear o crescimento. Essa é uma verdade econômica. É precisamente para frear o crescimento, sim. Por quê? Porque se considera que a capacidade instalada da indústria brasileira está perto do esgotamento, então, se quer evitar a chamada inflação de demanda.

Sendo assim, a saída por que tem optado o Governo em aumentar os juros serve para diminuir a capacidade de consumo dos brasileiros e, com isso, segurar a inflação, esperando tempos melhores, esperando mais investimentos, para dar um choque de oferta, para se poder vender mais barato os produtos que, hoje raros, custariam mais caros, pela lei capitalista da oferta e da procura.

Então, o Presidente diz uma tolice sem par quando fala que juro não freia crescimento. O juro é feito para frear o crescimento. Juro mais baixo é para soltar o consumo; juro mais alto é para segurar o consumo. O Dr. Murilo Portugal precisa dizer ao Presidente: “Vamos pegar leve com essas tolices!” Juro mais alto é para segurar o crescimento; juro mais baixo é para soltar o consumo.

O Presidente vai à Volkswagen e, de improviso, diz que os empresários brasileiros não podem se queixar do dólar baixo, que, supostamente, prejudicaria o esforço exportador. Muitos setores estão se queixando já disso e a culpa não é apenas do Presidente Lula, evidentemente, é dos juros. Juros altos atraem dólar, o dólar entra em grande quantidade, pressiona, e o que vem em muito fica barato, pela mesma lei da oferta e da procura. Como há uma tendência mundial de depreciação do dólar, os juros altos brasileiros servem para depreciar o dólar ainda mais.

Aí lá vem o Presidente Lula, brincando de novo: “Empresários brasileiros não podem se considerar coitadinhos”. Ele está sempre dando pito na sociedade. Ele dá pito no trabalhador; ou dá pito no servidor público; já tentou dar pito no Congresso; agora está dando pito nos empresários, dizendo que eles não podem fingir que são coitadinhos, porque, supostamente, estariam vivendo no melhor dos mundos. Com 37% de carga tributária, deve ser um paraíso para quem confunde céu com inferno e, ao mesmo tempo, com essas taxas de juros, que fazem com que a grande aplicação no Brasil seja, sem dúvida alguma, investir na Selic.

O Brasil só não está comprando mais reserva, hoje, por uma razão bem simples: o Brasil é remunerado em 3% ao ano, com reservas que adquire e paga depois...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - ... a sua dívida à base da Selic. Então, está fazendo o pior negócio do mundo quando faz algo aparentemente bom, que é encorpar as reservas brasileiras.

Aqui há outra simplesmente genial, Sr. Presidente.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Com muita honra, Senador José Jorge.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Eu gostaria de me solidarizar com V. Exª, inclusive quanto a um assunto que o Senador Pedro Simon já abordou, que é exatamente a atuação do Presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, meu companheiro de Pernambuco. Na realidade, apesar de verificarmos uma campanha muito grande orquestrada pelo Governo contra ele, o mesmo tem feito, como V. Exª também já disse, um grande sucesso na mídia. Hoje em dia, ocupa um espaço na mídia que, nos dois anos anteriores, a Câmara não ocupou, quando era presidida pelo Deputado João Paulo, de quem se esperava uma grande presidência, o que, na realidade, não se revelou, já que foi derrotado na emenda da reeleição e não conseguiu fazer seu sucessor. Foi um Presidente que não chegou muito longe. O Presidente Severino tem sido, além de autêntico, independente e tem votado uma série de projetos importantes que estavam engavetados pelo ex-Presidente João Paulo, como, por exemplo, a Lei de Biossegurança, a PEC paralela da reforma da Previdência, recentemente a cassação do Deputado André Luiz e as indicações para os Conselhos Nacionais de Justiça do Ministério Público. Tudo isso mesmo sendo atrapalhado pelo Governo diariamente com medidas provisórias. Mesmo com toda essa campanha que o Governo tenta orquestrar contra o Presidente Severino, ele tem mostrado, até agora, que um Presidente da Câmara independente é muito importante para o bom funcionamento do Legislativo. Eu gostaria de ressaltar esse aspecto, além de outros no discurso de V. Exª. Muito obrigado.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Agradeço a V. Exª.

Eu já havia aparteado, no mesmo sentido, o ilustre Senador Pedro Simon. Agora, arremato, dizendo que, se o Presidente tivesse alguma coisa contra a suposta figura do nepotismo ou da figura da fisiologia, encarnadas na atitude do Presidente Severino Cavalcanti; se alguém me perguntasse: “Você concorda, Arthur, com o fato de o Presidente Severino Cavalcanti empregar parentes?” Eu diria: não concordo. “Concorda com a história de dizer que se tem que nomear, de qualquer maneira, alguém do PP”? Não concordo. Mas concordo com o fato de S. Exª ter colocado em votação projetos que estavam na gaveta.

Portanto, se o Presidente quisesse simplesmente romper com a fisiologia ou com a figura do nepotismo, ele teria que romper com um número infinito de Parlamentares da sua base, que não sabe dialogar com o Governo. Para defender não serve, mas é cargo para cá, cargo para acolá! Essa é que é a verdade.

Senador Pedro Simon, eu disse uma vez ao Presidente Fernando Henrique o seguinte: “Presidente, este Governo vai ter problemas no futuro”. Isso ocorreu quando ele veio aqui receber aquele prêmio junto com o Presidente Lula. Foi um ato muito bonito da faculdade Notre Dame, dos Estados Unidos. Eu disse: “Presidente, este Governo vai ter problemas”. Ele disse: “Faz uma análise rápida - estávamos na casa do Dr. José Lucena Dantas, que foi Secretário particular do então Presidente Fernando Henrique Cardoso. Eu lhe disse brincando, mas falando sério: “Presidente, essa gente do Governo tem mais palavras do que nós”. “Como assim?” “Presidente, procurávamos enrolar esse pessoal, procurávamos não dar o cargo, procurávamos desmontar a estrutura do cargo - quando dávamos um cargo, o cargo ia sequinho, magrinho, sem capacidade para gastar, sem a capacidade de ordenar despesas, e se colava sempre um técnico de suposta confiança para tomar conta daquilo - eles estão mesmo cumprindo a palavra. É cargo que amanhã vai dar problema para o Governo”.

Já começo a ver os problemas. Concedo um aparte ao Senador Pedro Simon.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Creio que V. Exª está abordando um ponto realmente muito importante. Não nego, meu Líder. Vi com respeito o crescimento do PT. Eu era Governador, e eles elegeram os quatro primeiros Deputados. Sofri com esses Deputados. No entanto, aquele era uma legenda que se vinha formando como partido de trabalhadores, estilingue dos melhores que o mundo já conheceu, e preparando uma base que me fazia imaginar: “Essa gente está se formando, está se esforçando, estudando, realizando seminários, preparando-se, discutindo, defendendo teses, cobrando 30% dos seus colaboradores, indo a vilas, indo a bairros”. Eles se prepararam. Com a biografia do Lula, dava para confiar que aquele homem, que veio do fim, sem revolução, sem guerra, sem desmonte, sem promessa e que chegou ao Governo, faria história. Eu achava isso. Quando tive a oportunidade de falar com o Lula, em um jantar na minha casa, juntamente com José Dirceu, eu lhe disse: “Lula, tu és muito maior do que o PT; tu estás vivendo talvez o momento mais bonito da história do Brasil, em que todos estão confiando: os que votaram em ti e os que não votaram. Há uma expectativa; é um sonho dos brasileiros. Disse-lhe mais: “Tu tens que fazer um Ministério, Lula, que esteja acima do bem e do mal; um Ministério que seja composto de pessoas que realmente tenham condições de levar adiante o País. E terás o Brasil inteiro ao teu lado. Vamos viver o ano mais bonito da nossa história”. E juro que eu falava com sinceridade, porque acreditava que era isso. Quando ouço essas coisas que V. Exª está dizendo; quando ouço denúncias sobre essas nomeações, que são coisas pequenas... Cá entre nós! Ao chegar à Presidência da República, essas pessoas tinham de estar preocupadas com o macro. Em primeiro lugar, cargos têm de montanha, sem fazer desmoralização, sem exagerar, sem fazer o absurdo, sem que o PT tenha de nomear o segundo, o terceiro e o quarto escalões. Eles entraram por um caminho pelo qual não tinham o direito de entrar. Falo com toda a sinceridade: para mim, observando o Lula e vendo a maneira como se comporta, creio que a grande falha encontra-se naqueles que estão do lado do Lula e que não merecem: a chefia da Casa Civil, a secretaria particular, os cargos etc. É o grupo com quem se conversa. Não pode ser com o grupo duro do Governo; tem que ser com quem se dialoga: “Vamos fazer isso, vamos fazer aquilo”. Ouvimos falar de reuniões de todo o Ministério, com churrascos, com todo mundo falando. Mas não se houve falar de um grupo que discutiu na sexta-feira com o Ministro da Fazenda e com o Chefe da Casa Civil; ninguém ouviu dizer que chamaram o fulano de tal e o beltrano e que ficaram discutindo até a madrugada o problema tal. Não se ouve falar disso. Então, na minha opinião, não dá para dizer que o Lula não constituiu, porque ele não era um estadista, com todo o respeito. Pode até ser, mas não tinha experiência nenhuma. Ele não foi prefeito, não foi vereador, não foi governador de Estado, não foi ministro, não foi secretário de Estado. Mas aqueles que foram tinham a obrigação de dizer: “Olha, Lula, temos de nos reunir de vez em quando. Temos de ter uma pauta do que vai ser feito, de saber, na segunda-feira, que esta semana vai ser isso, a semana que vem vai ser aquilo”. Creio que o Lula está isolado. Fala o que fala, mas cada um segue o seu caminho. O Chefe da Casa Civil segue seu rumo; o Ministro da Fazenda segue o seu. Aliás, este último é o menos ruim na seriedade, na maneira de falar...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - É verdade.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) É o que eu mais respeito. Mas quem é o PT? Vamos falar com toda sinceridade: qual é o grupo? Quem é que o constitui? O Lula, de um lado; o José Genoino, do outro; o Chefe da Casa Civil, do outro; o Ministro político, do outro; o Ministro da Fazenda, do outro. Mas não há um núcleo que comanda. É impossível acreditar que um partido feito na base do colegiado, que se reuniu para discutir, discutir, discutir - e até se dizia que o que mais o PT fazia era se reunir para discutir e que a conclusão da reunião era fazer uma outra reunião para se discutir mais. Pois, na hora que estão no Governo, não há esse debate.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senador Pedro Simon, para concluir, pegando o exemplo do Senado, que conhecemos tão bem, não sei por que negociar cargo aqui. Não houve uma matéria meritória que não tivesse contado com o meu voto, com o voto do Senador José Agripino, com o voto de V. Exª, com o voto do Senador José Jorge.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - O Lula era o único que podia, lá pelas tantas, chamar o Senador Renan Calheiros, chamar V. Exª, chamar o Líder do PFL, chamar as Lideranças e dizer. “Olha, aqui há um assunto que é nacional. Isso é o Brasil. Quero conversar com vocês em relação a isso”. Nós iríamos com o maior prazer. Ele podia fazer isso. “Tem esse assunto agora. Agora, vou fazer esse acordo entre Brasil e Zaire, vamos nos reunir aqui, vamos debater, vamos mostrar unidade”. Nós faríamos isso. Mas parece que o PT tem inveja que a gente faça isso. No entanto, estamos aqui à disposição. Quer dizer, ouvir não causa nada; não precisa aceitar. Eu, quando fui Governador, do que eu mais gostava era de falar com os meus adversários, porque com eles eu aprendia. Para os que estavam do meu lado, sempre estava ótimo, tudo ia bem, e eu não ganhava nada. Porém, o adversário, que ia para a tribuna da assembléia e batia em mim, eu o chamava, conversava com ele e aprendia para mudar. Penso que está faltando isso.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Pois não, Senador José Jorge.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Só para acrescentar um ponto sobre o que o Senador Pedro Simon abordou muito bem. Na verdade, nas vezes em que o Presidente Lula convidou os presidentes dos partidos ou os Líderes da Oposição para se reunirem o fez para participarem de um almoço ou jantar; não era para uma discussão técnica. Então, nós, do PFL, desde o início, recusamo-nos a ir almoçar na casa do então Presidente da Câmara, João Paulo, ou na casa de quem quer que fosse com o Presidente Lula, com o “Primeiro Ministro” José Dirceu. Se houver uma reunião técnica para se discutir determinado assunto, evidentemente mandaremos nossos representantes ou estaremos presentes. Mas não vamos ficar almoçando ou jantando com o Presidente ou com o Presidente da Câmara ou com qualquer um desses, porque aquele não é o momento adequado para se discutir os problemas do País.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sem dúvida. Em outras palavras, não é para nos colocar numa foto, para dizer que nos cooptou; é conversar conosco a sério sobre a questão nacional. E, aqui dentro, o pau come de novo. Quando tivermos que divergir, divergiremos.

Mas volto, Senador Pedro Simon, depois de ter concordado com o Senador José Jorge, a dizer a V. Exª o seguinte: da tribuna, já disse ironizando - e já brinquei com os meus queridos adversários nesse sentido: “Puxa, toda vez que vocês fizerem um pacto conosco, sai barato, não tem que nomear nada para lugar nenhum, não tem que sofrer desgaste algum, basta ceder para a gente, para que tenhamos a possibilidade de melhorar os projetos que aí estão, até porque vocês não donos da verdade única.

Muito bem, então não vejo razão para toda essa euforia fisiológica se temos aprovado as matérias com o nosso voto. Não precisa de mais nada, basta acertar conosco, no interesse do País.

Concedo a V. Exª, Senador Pedro Simon, um aparte. É uma honra, este debate, ele está absolutamente encantador...

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Repare, V. Exª, que, em vez de um mar de medidas provisórias - algumas são da maior importância; realmente são importantes e urgentes -, Sua Excelência poderia reunir os Líderes e dizer: “Vou mandar este projeto aqui, mas tem o seguinte, esta é uma matéria que tem de ser votada”. E nos comprometemos a votar, quer dizer, numa semana, vota a Câmara; na outra, o Senado. Tenho certeza de que, se o projeto é importante, se é significativo, se é uma coisa clara, sai mais ligeiro do que a medida provisória...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Não tenho dúvida.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Se Sua Excelência tivesse a grandeza, seria definitivamente muito melhor.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senador Pedro Simon, sabe qual foi - já concedo o aparte ao Senador Heráclito Fortes - a decepção que V. Exª teve e que, no fundo, foi a mesma dos Senadores José Jorge, Heráclito Fortes e a minha própria, e vou tentar dizer da maneira como se diz num programa de televisão, popular. Eu estava acostumado - eu conhecia petistas chatos, donos da verdade, de proselitismo, que ficavam no nosso ouvido dizendo que eram o bem, o que não eram eles, era o mau -, a querer bem a essa gente, achando que alguns eram chatos, que perturbavam, julgavam-se donos da verdade, tendiam a não admitir a figura do contraditório, e a decepção que tive, que sei ser a de V. Exªs, foi termos agora conhecimento de petistas envolvidos em escândalos. Os petistas, que já não são chatos, são agradabilíssimos, maneirosos, cheios de maneirismos, com medo de virem depor no Senado, manobrando para não se instalar CPI. Há petista dizendo que não pode ter CPI de jeito algum, a não ser que a maioria queira, negando o instituto secular, que é uma proteção à minoria que pode representar proteção a uma maioria lá fora, às vezes, representada por uma minoria aqui na Casa. Então, eu preferia o petista, chato, pernóstico...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - ...dizendo os seus absurdos, enfim, mas com aquela imagem que eu tinha de que eram, de fato, um partido que vinha para corroborar os melhores momentos de aspiração por ética neste País.

Concedo o aparte ao Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Arthur Virgílio, apenas para lembrar que são 11 horas e 02 minutos e não chegou até este momento ninguém do PT para elogiar o Governo, para defender o Governo...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Até para concordar conosco, para atacar o Governo, de repente...

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Sexta-feira, até este horário. Quero apenas falar a V. Exª sobre a transformação do PT. Outro dia, conversando com um velho petista militante, decepcionado como todos os outros, ele me disse: “O PT mudou, mudou até comportamentalmente, Senador. Imagine o senhor: antigamente, hospedavam-se em Brasília no Hotel Torre e agora é no Blue Tree; compravam terno na Casa Colombo e agora é no Ricardo Almeida; freqüentavam a Churrascaria Spettus e agora é no Porcão”, de que inclusive um militante é sócio. Isso é só o que sabemos, imaginem o resto.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, encerro de verdade agora. Obrigado, Senador Heráclito Fortes. Termino, dizendo, ainda no jocoso, que o Presidente Lula vai à Volkswagen e, falando, Senador Pedro Simon, da queda do dólar, em vez de dar uma resposta respeitosa aos empresários, se empolga, volta para o palanque e diz uma pérola. Isso depois de ter aparecido maquiado, bonitão, pimpão, no Dia do Trabalho. Eu digo: agora vem o Lula sóbrio, o Lula com pinta de Bill Clinton; lá vem o Lula com cara de Tony Blair. Mas nada, volta o velho Lula de sempre. Lula, em resposta a isso, sugere comitiva dos empresários para irem se queixar do dólar nos Estados Unidos (jornal O Globo). Se quiserem, vão para a Casa Branca se queixar do desajuste do dólar. Eu não sei o que pensa o empresário que está investindo o seu dinheiro, e que gera emprego no País; não sei o que pensa o trabalhador, que porventura sabe que o seu emprego depende de investimento, quando vê o mais alto mandatário da Nação dizendo o seguinte: “Olha, se estão chateados com o dólar baixo, então, por favor, se reúnam e vão à Casa Branca reclamar”.

Então, Sr. Presidente, Senador Alvaro Dias, concluo, dizendo o seguinte: eles passam para a truculência. Estão aqui as fotos - estou pedindo para que tudo isso seja publicado nos Anais, se for possível com foto e tudo. Tem aqui uma esposa de militar truculentamente agarrada. Não sei por que um homem desses, um gorila desses, precisa fazer força contra uma senhora indefesa. Ele poderia conter a senhora, segurando-a no braço, com delicadeza. Está aqui o gorila dando uma “gravata”, que ele não daria num homem - é um gorila mesmo que está aqui -, fazendo isso com uma senhora, esposa de militar, que está reclamando dos baixos soldos. Se pode aumentar ou não, é outra história. O que não pode é o gorila do Palácio do Planalto fazer isso com a esposa de um militar, nem com a esposa de um civil. Aliás, em um homem que faz isso, deposito muito pouca expectativa de coragem pessoal, porque tem um outro gorila olhando para ver se a senhora reage e derruba o gorila nº 1; o gorila nº 2 está olhando. Então, aqui a senhora está cercada por dois “King Kongs”.

Sr. Presidente, encerro, dizendo o seguinte: retrato das derrotas do Governo nesses últimos tempos: “Eleição - porque o Governo foi arrogante - do Presidente da Câmara, Deputado Severino Cavalcanti.”; “Aprovação do Secretário de Justiça do Estado de São Paulo para o Conselho de Justiça”. O Governo apoiou o candidato derrotado, Secretário do Ministério da Justiça, Dr. Sérgio Renault. “Rejeição do Dr. José Fantini para Diretor da ANP, na Comissão de Infra-Estrutura”; “Prorrogação por mais um ano do mandato do Presidente do PMDB, Michel Temer”; “Rejeição da MP 232, que elevava a carga tributária para o setor de serviços”.

Ou seja, o Governo quis dar uma esmolinha para a classe média para, no fundo, arrancar mais dinheiro dos prestadores de serviço. O Congresso e a sociedade reagiram. O Governo não pôde aumentar os tributos e teve que manter a tal esmolinha, que veio sob a forma dos tais 10% da correção, ou seja, o Governo em vez de aumentar seu caixa pantagruélico, teve que ceder dinheiro do seu caixa para a classe média. Essa é uma conquista da sociedade, apoiada pelas Oposições nesta Casa.

E, agora, a convocação do Ministro José Dirceu por considerar...

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - ...normal, completamente normal.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Nada mais normal do que alguém convocar o Ministro. E, portanto, o Governo que encara como normal não ter ninguém lá para defender o Ministro e encara como anormal a vinda do Ministro, isso significa que há alguma coisa de muito podre neste reino desta nossa sofrida Dinamarca, Sr. Presidente.

Era o que tinha a dizer.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO, EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Requerimento encaminhado à Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle.”

“Palavras do Senador Arthur Virgílio”

“IBGE ‘tira’ pedaço do Amazonas, que vai à Justiça.”

“Empresários brasileiros não podem se considerar ‘coitadinhos’, diz Lula”

“Mulheres de militares fazem novo ato por reajuste de soldo.”

“Lula sugere comitiva para se queixar do dólar nos EUA.”

“Juro maior não freia crescimento.”


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/05/2005 - Página 13653