Discurso durante a 62ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupações com as denúncias de corrupção no governo federal.

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Preocupações com as denúncias de corrupção no governo federal.
Publicação
Publicação no DSF de 18/05/2005 - Página 15013
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, DENUNCIA, NOTICIARIO, IMPRENSA, CRITICA, CORRUPÇÃO, ORGÃOS, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, OBSTACULO, GOVERNO FEDERAL, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, SITUAÇÃO, MOTIVO, TENTATIVA, MANUTENÇÃO, APOIO, CONGRESSO NACIONAL.
  • CRITICA, DESVIO, RECURSOS, SETOR PUBLICO, AUSENCIA, APLICAÇÃO, REALIZAÇÃO, REFORMA AGRARIA.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Pela Liderança do PDT. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, corrupção sempre houve neste País, impunidade também, mas o que as dezenas de milhões de eleitores que votaram no Presidente Luiz Inácio Lula da Silva esperavam é que, neste Governo, as coisas começariam a mudar; terminaria o fisiologismo, o troca-troca com Deputados e Senadores, não haveria Ministros suspeitos de corrupção, e o Governo iria às últimas conseqüências, em defesa da moralidade pública.

No entanto, Senador José Agripino, a decepção veio cedo: a leniência deste Governo com a corrupção nos altos escalões é impressionante! A mudança foi da água para o vinho. Abafam-se inquéritos, haja vista a morte, até hoje não-esclarecida, daquele Prefeito do PT, atrás da qual há coisas muito escabrosas; haja vista o abafamento da CPI dos Bingos, leia-se CPI do Waldomiro; haja vista a permanência no Governo de Ministros processados criminalmente; haja vista a defesa do Sr. Henrique Meirelles, também denunciado pelo Procurador-Geral da República, e, agora, este episódio repugnante, revelado pela revista Veja, de corrupção não apenas nos Correios, mas também, pelo que revela o corruptor, disseminado, Senador Tião Viana, em várias empresas públicas, nas quais determinado Partido político, mais exatamente o PTB, tem representantes por ele indicados.

Vejo, Senador Tião Viana, da mesma forma que o Senador Pedro Simon, com extrema preocupação, que pessoas ligadas ao Governo declaram, prejulgam e dizem que se trata de um fato isolado. Como posso entender que o Governo faça essa defesa prévia dos suspeitos de corrupção ou da suspeita de corrupção em outros órgãos, dizendo que o caso é isolado, quando se sabe que isso é a ponta de um iceberg, de um gigantesco iceberg que não aparece aos olhos da sociedade, mas que se sabe que existe?

Estou estarrecido, preocupado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores. Receio, Senador Arthur Virgílio, que, mais uma vez, a CPI não saia, que a punição para os envolvidos seja simplesmente a demissão e que, amanhã, o caso caia no esquecimento. Acho que a voz indignada da Nação precisa erguer-se. Nós, como representantes da sociedade brasileira, não podemos calar, Senador José Agripino, porque os fatos são muito graves. Não acredito que este País esteja podre. Podres estão alguns segmentos da Nação, e não a Nação brasileira.

Espero, tal como o Senador Pedro Simon, que os petistas honestos, que são muitos, não aceitem a conivência com a corrupção em nome de uma suposta governabilidade. Como disse em meu aparte ao Senador Pedro Simon, trocar as suas bases éticas pelo apoio das bases no Congresso é renunciar ao compromisso ético, é abrir mão daquilo que o PT tinha de melhor - o seu compromisso com a moralidade pública, que sempre defendeu, não apenas por moralismo, não apenas por virtude, Senador Tião Viana, mas também por saber que grande parte das desigualdades sociais, das injustiças sociais neste País não são corrigidas, porque o dinheiro público é dilapidado há dezenas, se não centenas de anos. É dinheiro dilapidado, roubado dos cofres públicos e que nem sequer fica no País, porque vai engordar as contas em paraísos fiscais. São recursos estimados em R$100 bilhões.

Vocês, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que estão me ouvindo nas galerias, se todo o dinheiro que tem sido roubado deste País, dos cofres públicos, da União, dos Estados e Municípios, das empresas estatais, se 10% desse dinheiro roubado de todos nós fossem aplicados na reforma agrária, não haveria mais um trabalhador sem terra neste País!

No entanto, a Esquerda é a mais iludida neste País: engana-se, imaginando inimigos externos que estão saqueando o Brasil. Os saqueadores estão aqui dentro! Estão saqueando os cofres públicos, Senador Antonio Carlos Magalhães, há décadas, há muitas décadas, impunemente! E esse dinheiro é remetido para o exterior. Não adianta quebrar sigilo bancário de ladrão de dinheiro público, não! Não vão encontrar um centavo lá depositado, Senador Magno Malta: vai tudo para o exterior!

A voz da Nação não pode calar. Isso não pode ficar assim! E eu só vou realmente perder a esperança neste País, quando a classe política, que ainda não apodreceu, perder a sua capacidade de indignação! (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/05/2005 - Página 15013