Discurso durante a 77ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre as denúncias de corrupção feitas pelo presidente do PTB, Deputado Roberto Jefferson.

Autor
Efraim Morais (PFL - Partido da Frente Liberal/PB)
Nome completo: Efraim de Araújo Morais
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários sobre as denúncias de corrupção feitas pelo presidente do PTB, Deputado Roberto Jefferson.
Aparteantes
Arthur Virgílio, Eduardo Suplicy, Flávio Arns, Leonel Pavan, Mão Santa, Tasso Jereissati.
Publicação
Publicação no DSF de 08/06/2005 - Página 18257
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • GRAVIDADE, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PERDA, CONFIANÇA, POVO, ANALISE, INCOMPETENCIA, GOVERNO, NEGLIGENCIA, PAGAMENTO, PROPINA, CONGRESSISTA, CRITICA, TENTATIVA, IMPEDIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
  • ANALISE, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), POSTERIORIDADE, DENUNCIA, SUBORNO, OBJETIVO, APOIO, GOVERNO, CONTRADIÇÃO, REFERENCIA, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI).

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Tião Viana, inicialmente, quero parabenizar V. Exª por essa prova de resistência, porque, democraticamente, V. Exª teve paciência para ouvir todas as Srªs Senadoras e os Srs. Senadores que, neste dia, entenderam de usar a palavra.

Quero parabenizar também o Senador Mão Santa pelo brilhante pronunciamento que acaba de fazer.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu diria que esta tem sido a semana das ilusões perdidas. Quem ainda tinha alguma agora deixou de ter. O Governo do PT, que se elegeu prometendo vencer o medo e vendendo esperança, há muito vem frustrando as expectativas. Hoje a coisa é mais grave. Não se trata apenas de frustrar esperanças. Trata-se, agora, de trair a confiança, e traição, em política, é pecado capital.

Hoje o povo se sente traído, e com razão. Sente-se traído pela inépcia do Governo, traído pela sanha com que o PT se atirou sobre o corpo do Estado, traído, agora - e mais gravemente -, pelos exemplos gritantes de corrupção.

Seja como for que olhemos para a situação, a conclusão é melancólica. Digamos, por hipótese, que o Governo Lula seja um Governo fundamentalmente honesto e que a corrupção ocorra somente nas margens. Ora, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, se, em tão pouco tempo, foi possível montar esses esquemas sem que ninguém do Governo se desse conta, então estamos diante de uma incompetência sem igual. Seja por pura e simples incapacidade, seja porque estava preocupado demais em “aparelhar” a parte do Estado que coube ao PT, o Governo não só conseguiu executar as tarefas que a sociedade dele esperava, mas também foi incapaz de cuidar de si mesmo.

Agora, suponhamos que o Governo do PT não seja honesto. Então, Sr. Presidente, estamos diante de um quadro cuja gravidade nem ouso caracterizar, para não dar margem a falsas acusações de alarmismo e de golpismo, saída fácil para os Governos acuados.

Sr. Presidente, o fato é que as denúncias feitas, ontem, pelo Deputado Roberto Jefferson, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, são muito graves. E não custa lembrar, Sr. Presidente, que o Deputado é homem de confiança do Presidente Lula, que afirmou que lhe daria um cheque em branco. Pois bem, esse homem, que poderia estar de posse de um cheque em branco do Presidente, vem a público denunciar um esquema de “mesada” a Parlamentares da base aliada do Governo. Não há como diminuir isso, Srªs e Srs. Senadores. Não há como deixar para lá. Não há como não parar e não investigar a fundo essas denúncias, de forma aberta e transparente, porque, só assim, deixando a luz entrar e fazendo o ar circular, é que poderemos arejar e sanear as coisas, salvaguardando nossas instituições.

É impressionante, Srªs e Srs. Senadores, a quantidade de pessoas que agora dizem que sabiam do que o Deputado Roberto Jefferson chamou de “mensalão”. O próprio Presidente, como reconheceram, ontem, o Ministro Aldo Rebelo e o nosso nobre colega Senador Aloizio Mercadante, sabia da história. Aparentemente, não levou a sério. Seriam apenas boatos, não uma denúncia. Já teria havido uma investigação na Câmara, que não levou a nada. Ora, isso chega a ser, na melhor das hipóteses, de uma ingenuidade comovente. Seja como for, os inofensivos boatos já viraram denúncias virulentas, e, agora que o Governo está contaminado, só lhe cabe submeter-se a exame, para que essa contaminação não acabe atingindo também as instituições.

Que o próprio Governo tenha sido atingido é evidente. Srªs e Srs. Senadores, as pesquisas de opinião feitas depois das recentes denúncias de corrupção já mostravam, inclusive como falou o Líder do PSDB, Senador Arthur Virgílio, que, se as eleições fossem hoje, o Presidente Lula teria de enfrentar um segundo turno. Ainda no mês passado - V. Exª se lembra muito bem -, as mesmas pesquisas indicavam que Lula seria imbatível no primeiro turno, a não ser que concorresse com o Prefeito de São Paulo, José Serra, que levaria a eleição para o segundo turno. O que significa isso, Srªs e Srs. Senadores? O jogo, como se vê, está virando. E não é de se espantar. Trair a confiança, sobretudo de quem já se frustraram as esperanças, é fatal em política.

Srªs e Srs. Senadores, a que assistimos? De um lado, o PT nega veementemente e parte para a velha estratégia da “blindagem” do principal acusado do esquema do “mensalão”, que é o Sr. Delúbio Soares. Quem é o Delúbio Soares? É o tesoureiro do PT.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - O PT fecha-se em copas, em vez de incentivar o arejamento de que falei antes. Hoje, quando publicaram a carta, quando assinaram a favor da CPI, disso não se precisava mais, pois já tínhamos os números. O único que teve coragem de assinar na hora precisa foi o Senador Eduardo Suplicy.

O que o PT precisa reconhecer é que vai sendo empurrada pela sociedade...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - É o povo brasileiro que quer essa CPI.

Sr. Presidente, por outro lado, o Governo tenta se desvincular da crise, dizendo, como disse ontem o Ministro Aldo Rebelo, que a acusação atinge o PT, mas não o Governo. Bela ironia para um Governo que parece patrocinar o aparelhamento do Estado por um partido político...

Mas essa estratégia é uma tentativa de engodo. O Governo diz que o problema é do PT, e o PT diz que é inocente. Mas e se não for? E se se comprovar que o PT, de fato, pagava o tal “mensalão”? Será que o Governo vai poder se sair dessa simplesmente dizendo que quem errou foi somente o Partido?

Deixemos de lado a questão fundamental sobre de onde vem o dinheiro com que, supostamente, se pagava - ou se paga - o “mensalão”. Que seja, por exemplo, dinheiro do próprio Partido, que, como todos sabem, tornou-se riquíssimo com este mesmo Governo que, agora, diz não ter nada a ver com os problemas do Partido. Mesmo assim, para que o PT iria comprar Parlamentares se não fosse para o Governo? Que interesse o Partido teria em dar essa mesada aos Parlamentares se não fosse para garantir o apoio ao Governo?

Agora, começa-se a ver que os Parlamentares já não reclamavam mais das liberações de emendas. O Governo não fazia as liberações de emendas, Senador Tasso Jereissati, e ninguém mais reclamava, porque existiam os “mensalões”.

Portanto, Sr. Presidente, o Governo está seriamente envolvido nessas denúncias, que o comprometem hoje e já ameaçam suas pretensões de continuidade, com a disputa da reeleição no ano que vem. Se esse Governo é inocente e ainda tem algum instinto de sobrevivência vai concluir que, neste momento, seu interesse converge com o da sociedade e que um exame cuidadoso, uma investigação profunda tornou-se imperativa.

Senador Arthur Virgílio, com muito prazer, ouço V. Exª e, em seguida, os Senadores Leonel Pavan e Flávio Arns.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Efraim Morais, o que causa decepção é percebermos que o Governo não perde a arrogância, nem o sentimento marqueteiro. No JN Online, há uma notícia intitulada “Lula promete não dar trégua à corrupção” São quatro tópicos. No primeiro, se divulga: “[Lula] disse que o 'trabalho da imprensa é meritório', mas que na maioria das vezes são problemas antigos que ainda não foram combatidos”. Lembro que o “mensalão” é mais do que novo, é uma inovação. Sua Excelência sempre tem a mania de dizer: “É a primeira vez, neste País...”. Inventou Tom Jobim, Vinícius de Morais, Garota de Ipanema, o futebol, e foi no seu Governo que apareceu essa figura do “mensalão”. Pela primeira vez, alguém tratou, com esse tipo de sentimento pequeno, o Congresso Nacional. Mais adiante, há a notícia: “Ele disse acreditar que ainda leremos na imprensa páginas e páginas com denúncias [estamos vendo isso hoje], até que acordaremos [parece campanha eleitoral da Alice no País das Maravilhas] e veremos que acabou a impunidade e que os corruptos estão na cadeia”. Não era o que sugeria a operação “abafa”. Sua Excelência diz, enfim, “que a corrupção será combatida e que ‘a própria carne será cortada’”. É um bom sinal, porque está admitindo que há carne dele, ou seja, coisa interna a ser cortada. Afirma que “o Brasil não pode estar sujeito à corrupção, que o momento é de máxima transparência”, mas não é o que se vê no Governo de Sua Excelência. Finalmente, diz que “quer ser para o mundo um exemplo de combate à corrupção”. Estávamos aqui, em tom de brincadeira, questionando se o Presidente vai renunciar ou não. Era uma mera brincadeira nossa. Queremos que Sua Excelência continue mesmo. Em outras palavras, que dê o nome do Ministro citado por Miro Teixeira e, mais, que não deixe o Governo submetido a esse sobressalto. No Folha Online, de agora, Rose Ane Silveira escreve: “Jefferson promete nova bomba em depoimento no Conselho de Ética”. Não há governo que consiga governar nesse ritmo, nesse padrão. Então, o Presidente Lula teria perdido, pelo que vi no JB Online, uma belíssima chance de ter dado o nome do tal Ministro corrupto, de ter expulso do seu Governo o tal Ministro corrupto, de ter indicado quais seriam as linhas mestras efetivas do seu combate à corrupção; e não de ter dado essa declaração de vontade no sentido de que a opinião pública é tola, e a Oposição, néscia. “E vamos levando...” Não se trata de ir levando. O Congresso não aceita. Nós não aceitamos que sobre o Congresso pese essa dúvida toda. O Presidente não vai, pela omissão, deixar pespegar, no Congresso como um todo, aquela coisa que levianamente dizia quando era o Lula das verdades fáceis: o Congresso dos 300 picaretas. Que isso seja jurisprudência para dentro do seu Governo, mas não para nós. Queremos verdades, e o Presidente perde uma chance. Deve ter decepcionado, profundamente, as pessoas que foram lá para ouvi-lo, porque de combate à corrupção não disse nada. Encerro o dia de hoje, cobrando do Presidente o que falava ainda há pouco: o nome do Ministro corrupto, conhecido do Deputado Miro Teixeira. Isso é o que nos interessa saber. O resto é conversa para boi dormir, do tipo engana a Nação.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Senador Arthur Virgílio, agradeço o parte. Não somos apenas V. Exª e nós, que nos encontramos neste plenário, que queremos respostas para essas várias perguntas. Quem deseja saber é a sociedade brasileira, o povo brasileiro.

Agradeço o aparte de V. Exª, meu caro Líder, e escuto, com muita alegria, o nobre Senador Leonel Pavan.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senador Efraim Morais, ouvimos o Deputado Roberto Jefferson dizer que avisou ao Presidente Lula que havia uma mensalidade, uma mesada, para determinados Parlamentares. Segundo ele, o Presidente, quando ouviu, chorou. Há poucos dias, o Presidente Lula estava na China e um repórter perguntou como Sua Excelência se sentia em função das denúncias e com a instalação da CPI. O Presidente ironizou a pergunta do repórter; com um sorriso, disse: “Olhe para a minha cara para ver se estou preocupado”. Alguns dias atrás, chorou para o Deputado Roberto Jefferson quando soube da Comissão; depois, lá na China - repito -, ironizou a pergunta do repórter. Na verdade, o Presidente sabia o que ocorria, mas não queria tomar nenhuma providência. Pois também afirmou Roberto Jefferson que José Dirceu disse ao Dilúvio, ou melhor, ao Delúbio para não fazer o pagamento. Ora, se José Dirceu disse para não fazer o pagamento é porque havia dinheiro. E de onde era esse dinheiro? Estava declarado no Imposto de Renda? Foi pago em cheque? Em cartão? O dinheiro foi levado em pacotes? Foi levado em euro, em dólar? Foi em uma pasta pequena, em uma mala grande, em um contêiner? Se foi pago a todos que apóiam o Governo - não acreditamos nisso -, deveriam ser inúmeros pacotes de R$30 mil. Nós estamos realmente preocupados. Nós, da Oposição, queremos alertar o Presidente. Estamos fazendo o papel de governo, alertando o Presidente, que está realmente sendo assessorado por pessoas suspeitas. Aqueles que tentam acobertar estão querendo o mal do Governo, o mal do Presidente Lula. Estamos aqui, há quase nove horas, tentando alertar o Lula. Ainda há tempo, se Sua Excelência ouvir a nós, da Oposição; há tempo de limpar o seu Governo e de terminar seu mandato um pouco melhor do que ele parece estar hoje.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Agradeço o aparte de V. Exª, Senador Leonel Pavan, e o incorporo ao meu discurso.

Ouço o nobre Senador Flávio Arns.

O Sr. Flávio Arns (Bloco/PT - PR) - As pessoas, agora há pouco, perguntavam-me se eu ia defender o Governo Lula. Digo que temos de pensar o que a sociedade brasileira deseja que aconteça. Essa é a pergunta que temos de fazer. Então, se o Deputado Miro Teixeira disse que conhece fatos muito mais graves do que aqueles apresentados - e o Senador Pedro Simon, inclusive, manifestou-se a esse respeito -, temos de pedir, como membros do Congresso Nacional, que S. Exª diga que fatos são esses, porque é um homem de responsabilidade e pode, perfeitamente, numa Comissão de Ética, falar o que deve ser dito. Ao mesmo tempo, V. Exª mencionou a questão do que o Deputado Roberto Jefferson falou. Eu quero dizer para toda a sociedade também que o Deputado Roberto Jefferson falou um monte de coisas que não sabemos se são verdadeiras ou não, mas têm que ser, numa certa forma, periciadas. Fazendo como? A Bancada do PT do Senado inclusive disse: tem que ser instalada uma CPI, para que a pessoa venha na CPI, como também os que forem denunciados, e que a verdade seja apurada. Essa foi a iniciativa do PT. Agora, quanto a dizerem que o PT assinou a CPI depois de o número ter sido alcançado, só quero destacar o seguinte: ninguém sabe qual foi o resultado da Câmara ainda, se a CPI seria aprovada ou não lá, com também a correção do vício de inconstitucionalidade. Mas a assinatura do PT no Senado significa que a CPI vai sair, independentemente da decisão da Câmara. Essa é a garantia que o Partido pode dar. Então, nesse sentido, o que a sociedade quer que aconteça, e o que nós queremos que aconteça? Que as coisas fiquem claras, explícitas, esclarecidas, para que não haja dúvidas em termos de corrupção. Agora, se alguém chegar a um Governo - e há vários ex-Governadores aqui - e fizer insinuações, dizendo “Olha, estou ouvindo que alguma coisa está acontecendo”, eu digo: traga-me o fato! Se eu fosse Governador e alguém me dissesse que está ouvindo alguma coisa, mas não me trouxesse os fatos, eu demitiria de imediato essa pessoa, por trazer desinformação e calúnia. Não aconteceu isso, mas vamos trazer os fatos, para que a verdade seja esclarecida.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Senador Flávio Arns, tenho uma opinião - e não a mudarei - em relação a V. Exª: um dos homens mais sérios deste Congresso Nacional. Tive a oportunidade de ser seu colega na Câmara dos Deputados, estamos juntos novamente, mas quero reiterar a minha posição, externada a V. Exª, ao Plenário e ao Brasil: o PT só assinou a CPI - e eu fui bem claro, ressalvei o nome do Senador Suplicy - após ter sido atingido o número de Senadores e Deputados.

Lembro apenas, Sr. Presidente, que, neste mesmo plenário, o Líder do PT e outros Parlamentares do PT disseram que o Senador Suplicy traiu os seus companheiros no momento em que tomou uma posição, com muita emoção. Acompanhei o pronunciamento de S. Exª, e vi o Senador assinar, nesta mesa, o requerimento da CPI, em uma atitude que todo o País aplaudiu.

Imagine V. Exª a hipótese que considera, a de que, se o PT não assinasse a CPI, ela não aconteceria. Haveria a CPI, Senador. O povo brasileiro faz essa CPI de todo jeito. V. Exª não tenha a menor dúvida de que essa CPI é uma exigência hoje da sociedade brasileira. Ela não pertence mais a nós, os políticos; ela não pertence mais a Senadores e Senadoras, Deputados e Deputadas; é uma exigência da sociedade brasileira.

Sei da importância do Partido de V. Exª; reconheço a importância. São 13 Senadores nesta Casa, são 91 Deputados na Câmara dos Deputados, mas não tem jeito: queira ou não queira o Governo, queiram ou não queiram os Parlamentares, Líderes do Governo, Partidos que apóiam o Governo...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Efraim Morais, V. Exª me concede um aparte?

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Vou conceder um aparte a V. Exª.

Se não se instalar essa CPI, não sei o que vai acontecer com nossa Instituição. Não sei, Presidente Tião Viana. V. Exª, que é um homem sóbrio, inteligente, sabe muito bem que não há a menor condição de não se instalar essa CPI, por uma exigência da sociedade brasileira, do próprio povo que elegeu o Presidente Lula e a nós. Eles querem a CPI, e vamos ter que fazer a CPI, doa a quem doer.

Concedo um aparte ao Senador Mão Santa e, em seguida, ao Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Efraim Morais, a história se repete. No passado, Pedro Collor deu uma entrevista à revista Veja, simplesmente uma entrevista, Senador Antonio Carlos. Agora, Roberto Jefferson apenas mudou: deu uma entrevista para um jornal. Aí, a CPI é que foi buscar os fatos específicos que redundaram nisso. Mas, resumindo, para que V. Exª inclua no seu belo discurso, eu buscaria Sócrates, que dizia: o maior bem é o saber; o maior mal é a ignorância. E a ignorância do PT é audaciosa.

O SR. EFRAIM MORAES (PFL - PB) - Incorporo, Senador Mão Santa, o aparte de V. Exª ao meu pronunciamento e concedo, com muita honra, um aparte ao nobre Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Efraim Morais, quero aqui fazer algumas reflexões sobre o pronunciamento de V. Exª. Acabo de vir do Hotel Blue Tree, onde houve a cerimônia do Fórum Global de Combate à Corrupção, sob os auspícios da ONU, em que o Presidente Lula fez um pronunciamento de grande importância para o momento que vive o País, referindo o seu compromisso de vida de erradicar, de combater a corrupção por todas as formas. Sua Excelência cumprimentou o trabalho sobretudo do Ministro da Controladoria-Geral, Waldir Pires; do Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos; do Procurador-Geral da República, Cláudio Fonteles, a quem cumprimentou pelo extraordinário trabalho também que vem desenvolvendo, e historiou todas as ações que contribuíram para elucidar tantos problemas ocorridos, e por diversos anos. Muitos dos problemas detectados, nos mais diversos Estados, vinham acontecendo, alguns, há dez anos ou mais. O Presidente reportou também a sua disposição de colaborar com esses órgãos citados, com a cooperação do Congresso Nacional; mencionou explicitamente que não faz qualquer objeção a que o Congresso Nacional realize...

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - V. Exª me permite um aparte?

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ...realize a apuração que desejar fazer; que inclusive quer estimular que assim seja feito. Ou seja, com clareza - foi o meu entendimento -, se o Congresso Nacional desejar uma comissão parlamentar de inquérito para averiguar quaisquer das denúncias, Sua Excelência quer colaborar, e isso é consistente com tudo o que defendeu na sua vida.

Eu disse ao Presidente, há poucos instantes, que, ao tomar a decisão naquela quarta-feira à noite, eu o fiz pelo bem do Presidente, do meu Partido, da nossa história e da Nação brasileira. E ele disse: “Eduardo, tudo vai se acertar”. Foi a expressão que Sua Excelência usou: “Tudo vai se acertar”.

Pois bem, Senador, V. Exª mencionou a atitude de meus colegas. Hoje, os treze Senadores do PT assinaram documento com palavras muito semelhantes àquelas que pronunciei - V. Exª as ouviu na semana passada -, e estou me sentindo feliz com a decisão, porque eles perceberam que era o sentimento da Nação. Eu disse ao Presidente, há pouco, mais de uma vez, que nunca tinha visto o Diretório Nacional do PT tomar uma decisão em tamanha dissonância com a opinião pública, com o povo brasileiro.

E pude perceber isso nos últimos dias. Por três horas andei pela favela do Capão Redondo, na periferia de São Paulo, pela favela da Godoy, da Agrissol, do Fundão. Estive ali andando com meus alunos da FGV para mostrar, juntamente com o escritor Ferrez, como era... No sábado, à noite, iria lá o Senador Aloizio Mercadante para conversar.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador Suplicy, somente um esclarecimento: se o Presidente Lula quer, se o PT quer, desde o início, qual o problema para instalar a CPI?

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Agora não há mais problema. Agora o problema talvez esteja no bom entendimento entre nós, da base aliada, e a oposição. Conforme hoje ainda lhe disse em aparte, seria adequado, dado que a redação do requerimento contém algumas falhas, que lá na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania se chegasse a um entendimento sobre qual o fato determinado, delineando-se muito bem...

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - E se o fato determinado for a corrupção?

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - A corrupção nos Correios, com os fatos...

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - A corrupção no IRB também.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Tasso Jereissati e Senador Efraim Moraes, devamos examinar o que aconteceu nessas empresas de 2001 para cá, porque, segundo as informações que estão nos chegando, havia alguns problemas e vícios de procedimento já há algum tempo. Façamos a averiguação, digamos, nos últimos quatro anos. Vamos chegar a um entendimento para que essa CPI seja feita, conforme as palavras de muitos aqui e do próprio Senador Tasso Jereissati, com equilíbrio, com serenidade, com imparcialidade.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Investiguemos os últimos dez anos, para pegar o governo...

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Efraim, V. Exª permite o nosso diálogo aqui?

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Pois não. Esta sessão é a mais democrática de todas.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Façamos a investigação relativamente aos últimos dez e meio, para pegar o Governo Fernando Henrique todo, se é isso o que V. Exª deseja.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - De frente para trás, começando já.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Se V. Exª assim o sugere...

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Essa questão de fato determinado - sei que V. Exª concorda comigo - é questão menor; a questão maior é esclarecer a corrupção.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Sem dúvida. Não tenho preocupação. O importante é iniciarmos o trabalho, instalarmos a CPMI.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Inclusive, com respeito às denúncias do Deputado Roberto Jefferson, vou dizer o seguinte: o Deputado Roberto Jefferson colocou uma série de fatos, de informações para a Folha de S. Paulo, informações que demandam um esclarecimento feito com muita responsabilidade por parte do Congresso Nacional.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Peço a V. Exª que conclua seu aparte, Senador Eduardo Suplicy, em um minuto, improrrogável.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Só posso concluir se meu microfone tiver som. S. Exª mencionou, inclusive, uma situação que atinge o diretor-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores. Vou fazer aqui a minha recomendação ao companheiro Delúbio Soares: numa situação como essa, acho importante ele se colocar à inteira disposição do partido, da opinião pública, da imprensa ou do Congresso Nacional para esclarecer todo e qualquer episódio. O mencionado pelo Deputado Roberto Jefferson é algo inadmissível como procedimento, para o Partido dos Trabalhadores, isso é inteiramente inadmissível. No entanto, uma vez citada como uma possibilidade sobre a qual...

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Com a palavra o Senador Efraim Morais.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Estou terminando a frase...

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Não há mais concessão da palavra a V. Exª, que não está considerando o Regimento nem o direito do orador que está na tribuna.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - É o orador que está na tribuna quem decide o aparte.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Não, o Regimento diz que é de dois minutos o tempo do aparte.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Depende do assunto tratado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Senador Eduardo Suplicy, peço a V. Exª que permita ao orador terminar o seu pronunciamento.

V. Exª tem a palavra Senador Efraim.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Sr. Presidente, desculpe-me, mas parece que é uma censura ao tema de que estou tratando.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Existe um abuso de autoridade de V. Exª no uso da tribuna. Peço respeito porque estou presidindo a sessão. Sou seu companheiro, seu amigo, mas V. Exª não está me respeitando.

V. Exª tem a palavra, Senador Efraim Morais.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Senador Suplicy, agradeço o pronunciamento de V. Exª. Devo dizer a V. Exª e a todos os que nos vêem e escutam neste momento que considero V. Exª um homem bom, um homem de bem, um homem sério, mas me permita a sinceridade: V. Exª está sendo ingênuo diante do que dizem os seus companheiros do PT, principalmente o Presidente, que V. Exª tanto adora, por quem tanto luta e a quem tanto defende. Se o Presidente Lula quisesse CPI, essa comissão já estaria instalada.

Vejamos o que V. Exª acaba de dizer. Se o Presidente quer a CPI, a CPI ainda não foi instalada porque o PT não a quer, mas o PT assinou... Então, há uma contradição, há uma posição diferenciada entre o que diz o Presidente e o que está acontecendo.

V. Exª é uma pessoa que estimo e quero bem. V. Exª é um homem bom e de um coração enorme. V. Exª se refere ao Capão Redondo. Acho que, do PT, só V. Exª pode ir lá, e mais nenhum de São Paulo, porque, se forem lá, o povo não recebe mais. V. Exª, pela atitude que tomou neste plenário, pode ir ao Capão Redondo, ao quadrado, ao comprido, a qualquer um, mas duvido que qualquer companheiro seu, digamos de São Paulo, vá ao Capão porque não se sabe o que irá acontecer lá.

Ouço o aparte do Senador Arthur Virgílio. Peço-lhe que seja rápido para que possamos atender o nosso Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - V. Exª ainda dispõe de tempo. Faço o alerta apenas para não prejudicar o tempo de V. Exª.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Vou concluir, Sr. Presidente. Quero apenas dividir um minuto com o Senador Arthur Virgílio.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Efraim Morais, tenho uma notícia bem curta. O Senador Eduardo Suplicy tem absoluta razão - e quero, mais uma vez, louvar a sinceridade de S. Exª. Tenho aqui uma notícia online: S. Exª acaba de pedir ao tesoureiro do PT, Sr. Delúbio Soares, para se afastar do cargo enquanto durarem as investigações com base na denúncia feita pelo Deputado Roberto Jefferson envolvendo o Sr. Delúbio. O Senador Eduardo Suplicy, como sempre, procura estar ao lado do correto. O Deputado José Genuíno defende os direitos do PT. Até aí está tudo muito bem. S. Exª pode pensar uma coisa, e o Senador Eduardo Suplicy, outra. O estranho, Senador Efraim Morais, é que diz a notícia que o tesoureiro deixou hoje a sede do PT deitado no banco do carro que o conduzia. Qual a razão que faz um homem público se deitar num carro para sair de um lugar para outro? A coisa está ficando grave e está indo para os desvãos da descompostura.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Imagine V. Exª o que iria acontecer se fosse no Capão Redondo...

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, agradeço a todos os apartes que me foram concedidos.

Este Governo vem acumulando escândalos que, somados à sua inépcia gerencial, à sua falta de um projeto para o País e à insuperável capacidade de amplificar as crises, originada na inabilidade política e na esquizofrenia interna, chegaram agora ao paroxismo.

Estamos, hoje, diante de uma encruzilhada. Se for culpado, tem de assumir sua responsabilidade e pagar pelos erros. Se for inocente, tem de aceitar arejar-se, apurando e investigando as denúncias e provando sua inocência. Caso contrário, a suspeita constante, conseqüência inevitável da quebra de confiança, vai lentamente corroer o pouco que resta dele, contaminando até mesmo a economia e refletindo-se nas eleições do próximo ano.

Espero, Sr. Presidente, que ao menos desta vez o Governo seja capaz de fazer a escolha certa. São muitas as perguntas sem resposta. O povo brasileiro quer saber de onde vem o dinheiro para o pagamento do mensalão dos Parlamentares, quer saber por que o Presidente Lula não tomou nenhuma providência quando soube do caso, por que nenhum dos cinco Ministros - José Dirceu, Antônio Palocci, Ciro Gomes, Gilberto Carvalho e Walfrido Guia -, que teriam sido informados sobre o caso, tomou providências. E muitas outras perguntas encontram-se sem respostas.

Portanto, Sr. Presidente, agradecendo a tolerância de V. Exª, concluo dizendo ao Brasil que o meu sentimento é o do povo brasileiro. Falo de um sentimento de perplexidade porque os casos de corrupção são tenebrosos.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/06/2005 - Página 18257