Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem a Leonel Brizola por ocasião do transcurso de um ano de sua morte.

Autor
Roberto Saturnino (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Roberto Saturnino Braga
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a Leonel Brizola por ocasião do transcurso de um ano de sua morte.
Publicação
Republicação no DSF de 23/06/2005 - Página 20617
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, LEONEL BRIZOLA, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), EX-DEPUTADO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, BENEFICIO, EDUCAÇÃO, LIDERANÇA, POLITICA PARTIDARIA.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, decidi falar mesmo depois do discurso do Senador Pedro Simon, que todos escutamos com atenção redobrada - S. Exª falou com muito mais brilho, com muito mais conhecimento de causa e até com muito mais tempo do que eu, que tenho o tempo da breve comunicação. Sinto-me no dever também de dizer algumas palavras sobre esse grande brasileiro que desapareceu há um ano, que foi Leonel de Moura Brizola.

Sinto-me nesse dever, Sr. Presidente, pela ligação que ele teve com o Rio de Janeiro na segunda fase de sua vida política, depois que voltou do exílio, pela convivência muito estreita que tivemos em campanhas memoráveis que fizemos juntos a partir de sua primeira eleição para Governador em 1982, quando fui candidato a Senador, seu companheiro de chapa, e em função de toda a convivência que se desenrolou ao longo de seus dois mandatos à frente do governo do Estado, que deixaram essa marca indelével, que são os Cieps. Realmente, foi um feito no setor de educação no Brasil que não sei se terá sido igualado - creio que não -, porque foi o projeto mais avançado, mais arrojado e mais consentâneo com todas as declarações de prioridades que se têm feito neste País a respeito da educação.

Foi, efetivamente, um grande brasileiro. Leonel Brizola foi um grande brasileiro na liderança política, na capacidade de argumentação, de convencimento, na capacidade de arregimentação política, com seu grande carisma, sua dedicação integral à política - a política foi toda a sua vida.

E foi também grande na sua brasilidade, no amor ao Brasil, ao seu povo trabalhador, na crença que sempre teve, no fundo do seu coração, da grandeza deste País, que é o nosso, e que muitas vezes é posta em dúvida por brasileiros que atingem posições de governança. Brizola nunca duvidou da capacidade de projeção e de realização dos destinos maiores do nosso País entre as diversas nações do globo.

Foi grande também na probidade e na honradez. Acusações passaram à margem de seu caminho político e não deixaram nenhuma marca. Há um reconhecimento unânime a respeito da honradez, da qualidade de honradez e de probidade de Leonel Brizola.

Agora, foi uma figura polêmica. Como todo grande líder, teve afetos e desafetos profundos. Era um homem de convivência difícil - vamos reconhecer. Os que conviveram com ele, não apenas eu, tiveram rompimentos - César Maia também, Marcelo Alencar também e muitos outros. A convivência com Leonel Brizola era difícil pela especificidade da sua liderança, que era de caráter muito pessoal, dificultando o diálogo democrático que se deve processar também mesmo diante de uma capacidade de liderança extraordinária como era a dele. Entretanto, divergências profundas, rompimentos mesmo nunca atingiram a respeitabilidade da figura de Leonel Brizola perante aqueles que tiveram essas divergências com ele.

Particularmente, tive dois rompimentos, e, passado um tempo depois do primeiro rompimento - que era no momento em que eu estava na Prefeitura -, numa campanha oito anos depois, que eu fazia para Vereador da cidade, Brizola compareceu a um ato público da minha campanha e declarou, de livre e espontânea vontade, para surpresa minha, que tínhamos tido desavenças, eu e ele, erros de parte a parte, mas ele reconhecia que os erros dele tinham sido maiores do que os meus.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje gostaria de dizer o que não pude dizer, porque a morte de Brizola surpreendeu a nós todos, foi repentina. Mas gostaria de ter tido a oportunidade de dizer que, no segundo rompimento, essa declaração deveria ter sido minha. Houve erros e acertos de ambos os lados, porém os erros maiores, nessa segunda separação, foram de minha parte. Infelizmente, não tive essa oportunidade e queria fazê-lo frente a ele, como ele fez a primeira, frente a mim.

Sr. Presidente, vou encerrar, pois o meu tempo é limitado, mas presto esta homenagem em nome do Rio de Janeiro, que reconhece em Leonel Brizola uma grande figura, que optou pelo Rio de Janeiro para projetar-se nacionalmente, tendo feito uma grande obra no Rio Grande do Sul e deixando outra marca indelével no Rio de Janeiro.

Faz falta a liderança de S. Exª neste momento. Sei que ele teve e declarou divergências grandes em relação ao Governo do Presidente Lula, mas gostaria de vê-lo presente agora, saber que posição tomaria, ele que presenciou, que testemunhou, que viveu as campanhas orquestradas contra Getúlio Vargas e João Goulart. Enfim, gostaria de ver a posição que tomaria neste momento, apesar de todas as divergências que teria em relação ao Presidente Lula.

Nossa homenagem, em nome do Rio de Janeiro, à grande figura que foi Leonel de Moura Brizola.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/06/2005 - Página 20617