Discurso durante a 107ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Proposta para a recuperação das estradas brasileiras e criação de uma secretaria para tratar da utilização do biodiesel.

Autor
Alberto Silva (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Alberto Tavares Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES. POLITICA ENERGETICA.:
  • Proposta para a recuperação das estradas brasileiras e criação de uma secretaria para tratar da utilização do biodiesel.
Aparteantes
Ney Suassuna.
Publicação
Publicação no DSF de 09/07/2005 - Página 22739
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES. POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • IMPORTANCIA, PROVIDENCIA, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, SUPLANTAÇÃO, PERIODO, CRISE, POLITICA NACIONAL, AUSENCIA, PARALISAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, ANUNCIO, PREPARAÇÃO, DOCUMENTO, PROPOSTA, APRESENTAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • REITERAÇÃO, PRIORIDADE, RECUPERAÇÃO, RODOVIA, BRASIL, CONTENÇÃO, PREJUIZO, TRANSPORTE DE CARGA, AGRICULTURA, EXPORTAÇÃO, DETALHAMENTO, PROPOSTA, CAMARA DE GESTÃO.
  • PROPOSTA, CRIAÇÃO, SECRETARIA EXECUTIVA, MINISTERIO DO DESENVOLVIMENTO DA INDUSTRIA E DO COMERCIO EXTERIOR (MDIC), GESTÃO, Biodiesel, CULTIVO, COOPERATIVA, PEQUENO PRODUTOR RURAL, MATERIA-PRIMA, MAMONA, DENDE, RECURSOS, Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF).

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, neste fim de semana, os Líderes trouxeram a esta Casa os assuntos mais sérios e mais preocupantes relacionados com nosso País. Ouvimos o Senador Pedro Simon, o Senador Senador Suassuna, o Senador Maguito Vilela, o Senador Cristovam Buarque, os apartes, e eu me pergunto a mim mesmo: devemos fazer o que neste Congresso, além de discursarmos e de emitirmos opiniões? Eu, talvez o mais antigo, não só em idade, já assisti a muitos fatos neste País, desde o suicídio de Getúlio, que abalou o País inteiro - eu era prefeito naquela ocasião -, até a revolução, a renúncia de Jânio! O País entrou em comoção e, mais uma vez, está entrando!

É possível fazer muito. Vários Senadores, como o Senador Cristovam Buarque, com muita lucidez, e o Senador Pedro Simon, apontaram rumos, soluções, assim como o Senador Valdir Raupp, falaram sobre a reforma e o modo de evitar a reeleição! Tudo isso é possível.Temos o poder de fazer isso. Façamos, então!

Discordo do Senador Mozarildo Cavalcanti. O Senador Maguito Vilela disse que, quando o País está sangrando, é preciso usar um torniquete. Tudo bem, vamos conter o sangramento e cuidar do doente! Quem sabe uma transfusão de sangue... Não sou médico; sou engenheiro! Mas temos de fazer alguma coisa! E agora pego aqui o discurso de Simon e o discurso de Cristovam. Gostaríamos que chegassem ao Presidente Lula. Ele é o Presidente e tem condições de, nesse instante, fazer alguma coisa. Segundo Simon, ele tem de dizer: vamos por aqui. O caminho é esse! E nós o ajudaremos aqui. Seguramente, não vamos fugir. Existem homens no Congresso Nacional, na Câmara e no Senado, que são capazes, tanto na Oposição como na chamada base do Governo. Podemos e devemos oferecer ao Presidente algo concreto e prático.

Maguito falou, por exemplo, nos aditivos. Estou preparando, juntamente com meu Líder, um documento com propostas, para levarmos ao Planalto. Uma delas, por exemplo, trata do que está acontecendo no País. Desejo aproveitar este tempo, que é exíguo, e tentar ser sintético, para que o povo do Brasil entenda que temos, aqui no Congresso, uma proposta. Se o projeto é meu, não importa, quero o apoio de todos, das duas Casas do Congresso, para levarmos ao Presidente algo concreto para ele fazer enquanto se realizam CPIs e se apuram os culpados ou não.

O País não pode parar. E o País está sangrando por outro lado que nós não percebemos. Faz tempo que falo sobre isso aqui. O País está sangrando e perdendo dinheiro. Querem ver? Vou ser repetitivo, porque é o jeito! A economia brasileira, o que os brasileiros constroem, produzem, na troca comercial entre os países, temos que vender isso para ter o dinheiro, fruto do trabalho do nosso povo. E como se faz isso? Transporta-se, leva-se para os portos, os navios levam para os outros países, e temos uma troca que deve ser favorável a nós.

Mas se o nosso produto, para chegar aos portos, passa por gargalos que são evidentes, que estão aí, e, às vezes ninguém percebe - mas venho batendo nisso há muito tempo, tenho recebido e-mails do País todo, telefonemas de pessoas que estão interessadas -, o País está sangrando na sua economia.

Querem ver? O transporte de grãos brasileiros, que, com os produtos industrializados, já bateram a classe dos 100 bilhões, deixa 2 bilhões nas estradas, nos grãos que caem das carretas. E por que caem das carretas? Porque os buracos sacodem as carretas e os grãos caem. E os produtores disseram que são 2 bilhões por ano.

Mas eu já fiz outro estudo e digo que as carretas, freando e acelerando, em “n” buracos, em 32 mil quilômetros de estradas destruídas, gastam inutilmente - vou repetir os números, porque eles são fantásticos - R$6 bilhões, jogando 4 bilhões de litros de óleo diesel para o ar sem produzir transporte nenhum.

Então, a Petrobras importa óleo diesel, vende para os frentistas e eles vendem para o povo, para os usuários. Então, nessa cadeia de venda, a Petrobras não perdeu nada. Ela importou, vendeu e as carretas, ao transportar os nossos grãos desperdiçam, sem querer, R$6 bilhões. Brasileiras e brasileiros, como diz o Senador Mão Santa, que estão nos escutando neste instante, anotem o número: R$6 bilhões equivalentes a 4 bilhões de litros de óleo diesel desperdiçados são suficientes para colocar novos, completamente novos, 32 mil quilômetros de estradas em 18 meses. Podemos fazer isso? Podemos. Como não? Nós temos muito mais de cem empresas além dos batalhões de engenharia do Exército. Nós podemos e devemos.

Estou com os números reais, o retrato real da situação brasileira. Terça-feira eu recebo todos os dados, anoto e apronto um documento para ser entregue ao Governo, ao Presidente Lula. E tenho certeza de que a Ministra Dilma Rousseff, com aquela autoridade que ela tem, com aquela vontade de acertar, e com aquela presença, - e o Brasil todo está esperando - vai adotar isso. E não tem aditivos, como prevê o nobre Senador Maguito Vilela, porque o preço é aquele que foi seriamente calculado por quem entende do riscado - eu estou no meio desse grupo - e vou dar os números aqui para não espantar ninguém.

Se eu tiver que trocar a capa de asfalto de uma estrada destruída; com R$150 mil eu tiro a capa de asfalto e boto asfalto novo e não tapa-buraco. Se a base estiver prejudicada, esse número vai para R$200 mil. Então, se eu quisesse - e podemos conseguir isso -, se partirmos do preço de R$200 mil o quilômetro para qualquer tipo de estrada, então, em 32 mil quilômetros de estrada, praticamente, eu gastaria R$6 bilhões. Seis bilhões eu ganho num ano. Se eu consertar as estradas, em um ano eu economizo R$6 bilhões.

O que estamos esperando para fazer isso? Um documento e alguém para comandar. Já disse que o Ministério dos Transportes não tem a estrutura, mas pode fazer parte. O que vou propor é que haja não a tal Câmara de Gestão, mas um comando, um secretário executivo dentro do Planalto, sob o comando da Ministra Dilma, que tem autoridade e competência para isso. E o Ministério dos Transportes, seguindo o que está no Orçamento, porque tem de ser por lá, vai receber um documento que seguramente ele ainda não tem, como eu tenho, porque eu propus isso às cento e poucas empresas de engenharia rodoviária no Brasil. Aliás, são trezentas. Eu tenho os números reais. Então, vamos fazer isso, vamos levar.

Tenho certeza de que a proposta é assim: no dia D, todas essas empresas estarão disponíveis em todo o território nacional. Vamos começar no dia D e, em dezoito meses, não se fala mais em buraco em estradas federais brasileiras. E aí a economia de R$6 bilhões vai servir para as escolas, para a educação, para a saúde; os R$2 bilhões desperdiçados nos grãos se transformam em oito; e o frete, que foi elevado 35% e que representa R$7,5 bilhões. Soma-se isso tudo e são mais de R$15 bilhões de economia. Se eu tenho R$15 bilhões de economia, não preciso nem pedir ao FMI que nos dê de volta esse dinheiro. Com R$15 bilhões faremos muita coisa. Está dependendo exclusivamente de acertarmos os passos nesse rumo.

E agora, aproveitando esse restinho, eu falo do biodiesel. O biodiesel está sem dono. Posso dizer que inventei isso trinta e poucos anos atrás, quando dirigi Empresa de Brasileira de Transporte Urbano, e, numa pesquisa, fizemos biodiesel. Todo mundo agora fala em biodiesel - biodiesel para cá, biodiesel para lá - a Petrobras diz “bota 2%”, e aí ninguém sabe quem é o dono.

A proposta que eu faço é que se crie uma espécie de Secretaria Executiva do Biodiesel, por exemplo, no Ministério da Indústria e Comércio - claro que no Ministério da Indústria e Comércio, que pode lidar com esse elemento novo de combustível renovável. A Petrobras cuida de gás, de petróleo, de derivados, de combustíveis fósseis. Está lá ela muito bem, importando, pesquisando, conseguindo novos volumes. Mas o petróleo fóssil vai acabar, e nós vamos fazer o petróleo renovável, aquele que Deus nos deu, com o sol, com o solo e com os brasileiros.

A minha proposta é jogar milhares, milhões de brasileiros trabalhando, plantando uma oleaginosa. Aí, são os pequenos que vão fazer biodiesel de mamona, talvez de dendê, de outros óleos mais densos. Esses serão produzidos pelos pequenos. E esse biodiesel, misturado ou não com o óleo mineral, deixará antes, no campo, um excelente salário. Nós já dissemos aqui que, com três hectares, uma família pode ter um salário compensador de aproximadamente R$700 por mês e pode pagar um empréstimo de uma pequena usina para cinco mil lavradores.

Nós estamos com esse projeto pronto, já mostramos ao Ministro Rosseto. Não pedimos a ele que arranje verbas, pedimos apenas que autorize - porque ele é o gestor do Pronaf - o Banco do Nordeste ou o Banco do Brasil para financiar as pequenas usinas para cinco mil lavradores. Então, cinco mil lavradores poderão formar uma sociedade, entram no banco, essa sociedade é gerida por alguém de alta competência e respeitabilidade. Isso se faz através de uma OSCIP. Nós estamos fazendo uma para exemplo no Piauí. Isso pode ser difundido no Brasil inteiro.

Cada cinco mil lavradores, numa usina, serão capazes de fazer o biodiesel, capazes de fazer o óleo de mamona, por exemplo, que pode ser vendido como óleo excelente, de padrão 3, óleo refinado, e pode ser vendido a R$2,50. Isso ajuda no salário, no ganho do lavrador. Mais ainda - e aí é novidade: eu corto o pé da mamona, transformo-o em adubo orgânico, que o Brasil não tem, senhores. Um hectare dá seis toneladas; três hectares, dezoito toneladas. Se eu tenho dezoito toneladas de adubo orgânico para uma família, ela tira três para os seus hectares, uma tonelada para cada um, e fica com quinze. Quinze, a R$300,00, dão R$4.500,00 a mais por ano. Some isso e vai se ter um salário mensal de R$700,00 a R$800,00 por mês.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Nobre Senador.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Se o Presidente me permite...

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - É muito rápida a minha intervenção, só para dizer o seguinte: quem dera que todos os Ministros tivessem essa cabeça de engenheiro que V. Exª tem! Quem dera que todos os políticos brasileiros que administram os vários órgãos da Nação tivessem a objetividade e a praticidade que V. Exª tem! V. Exª precisava ser reproduzido em cópia xerox e colocado em cada Ministério, para que tivéssemos a velocidade de que este País precisa. Parabéns, Senador.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Obrigado, meu Líder.

Meu Presidente, encerro.

Deus que me ajude pelo menos a continuar vivo, com a cabeça que Ele me deu, graças a Deus. Não quero ser tanto quanto o meu Líder disse, mas quero me juntar com todos vocês para fazermos um grupo de trabalho das duas Casas e uma proposição ao Presidente, para que aconteça isso.

Obrigado, Sr. Presidente. Fica aqui a minha esperança num Brasil maior, melhor, sem esses problemas, e o povo brasileiro vivendo melhor. São os meus votos a Deus para que isso aconteça.

Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/07/2005 - Página 22739