Discurso durante a 120ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre a crise no Partido dos Trabalhadores.

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Comentários sobre a crise no Partido dos Trabalhadores.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Leonel Pavan.
Publicação
Publicação no DSF de 28/07/2005 - Página 25753
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, CRISE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), RESULTADO, CONFISSÃO, TESOUREIRO, RESPONSAVEL, ELABORAÇÃO, SISTEMA, CORRUPÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, PARTICIPAÇÃO, DIRIGENTE, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA.
  • REPUDIO, CONDUTA, DIRIGENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DESRESPEITO, HISTORIA, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PROCESSO, CONSTRUÇÃO, LUTA, GARANTIA, ETICA, MORAL, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, TENTATIVA, ALTERAÇÃO, POLITICA, BRASIL.
  • DEFESA, EMPENHO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), RESPOSTA, DENUNCIA, CONTRIBUIÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EFICACIA, INVESTIGAÇÃO, APURAÇÃO, PUNIÇÃO, RESPONSAVEL, ATO, CORRUPÇÃO, APROVEITAMENTO, OPORTUNIDADE, ESFORÇO, RECONSTRUÇÃO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA.
  • EXPECTATIVA, REUNIÃO, ASSOCIADO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), MANIFESTAÇÃO, VOTO, RENOVAÇÃO, DIRIGENTE.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Sr. Senador Romeu Tuma, que preside esta sessão, nesses últimos dias, nessas última semanas em que tudo se articula neste Congresso em torno das Comissões Parlamentares de Inquérito que apuram uma série de irregularidades que envolvem setores do Governo e agentes políticos de diversos Partidos, notadamente agentes políticos do PT, tenho me esforçado ao máximo para estar junto do meu eleitorado, daqueles brasileiros e brasileiras que acreditam no Partido dos Trabalhadores e que me fizeram Senadora da República pelo Estado de Mato Grosso.

Aliás, eu deveria ter feito uma introdução antes de começar a ler o meu discurso, até porque, Sr. Presidente, V. Exª é testemunha de que não gosto de ler discursos. Gosto de fazer discursos improvisados.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Que venham do coração.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Exatamente. Mas, hoje, devido à linha do meu discurso, preciso fazê-lo lido. Por isso, peço um pouco de paciência.

Por todos os cantos, em todas as mídias, a crise do Governo e a crise do PT têm sido uma notícia permanente. As revelações que nos chegam de Minas Gerais, neste início de semana, demonstram que há uma crise abrangente, que envolve a prática sistemática dos principais Partidos políticos, principalmente durante as disputas eleitorais. É a roupa suja da política brasileira que se está lavando em público. E é importante que seja lavada em público, diante dos olhos da população que nos deu o mandato para chegamos até aqui - todos nós!

Há muitos aspectos a considerar em toda essa situação. E devo dizer que me parece particularmente importante a preocupação com o futuro do Partido dos Trabalhadores. Por isso, ao mesmo tempo que sigo cumprindo com minhas responsabilidades aqui em Brasília, tenho-me empenhado, lá em Mato Grosso, naquilo que já estamos caracterizando como um esforço de reconstrução do PT e do seu espaço na política do nosso Estado e do nosso País.

Ataques nos são feitos de todos os lados e é natural que isso aconteça. Como diria o Barão de Itararé, lembrado em boa hora pelo companheiro Paulo Delgado, um petista que sabe se preservar, preservando o seu bom humor: “Tudo seria mais fácil se não fossem as dificuldades”. Mas cabe a nós, do PT, a responsabilidade de reagir, de responder a esses ataques, tendo em vista o que representa o Partido dos Trabalhadores dentro da estrutura política do Brasil. O PT é um Partido que não surgiu por acaso, mas que é resultado de uma caminhada histórica da classe trabalhadora, e não podemos, por isso mesmo, permitir que se desmanche no ar. Se erros aconteceram, também tivemos muitos acertos, e esses acertos precisam ser preservados. Se houve um grande desvio em nossa trajetória, agora é a melhor oportunidade de corrigirmos a nossa rota e retomarmos o PT de acordo com os princípios que estão em seu manifesto e em seu programa. Esse Partido, forjado na resistência à violência do regime militar, tem uma história que merece respeito. Muitas foram as mulheres e os homens que deram a sua vida no esforço de tornar possível essa grande legenda.

Penso já ter ficado muito evidente para a maioria de nossa população que as práticas que parecem ter irmanado o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, o ex-Secretário-Geral do Partido, Silvio Pereira, o ex-Presidente José Genoino, um grupo de Parlamentares de nosso Partido, de Partidos da base de apoio a nosso Governo e também de Partidos da Oposição e o poderoso esquema articulado pelo empresário Marcos Valério constituíram-se em uma surpresa estonteante para uma expressiva parcela do Partido dos Trabalhadores e para a maioria de nossa militância. Se a sociedade brasileira se espantou e se espanta a cada dia com os fatos e os esquemas que vão sendo revelados, o choque e a revolta tomam conta ainda mais do coração e das mentes da comunidade petista.

            Nós, que construímos esse Partido, Senador Eduardo Suplicy, como um espaço diferenciado de militância política e eleitoral, ficamos boquiabertos, estupefatos, tomados por uma surpresa arrasadora, desde que o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, em surpreendente entrevista à Rede Globo, confessou ter participado da montagem de um esquema de caixa dois, à sombra do nosso Partido e à revelia de todas as instâncias partidárias. Um esquema de corrupção eleitoral, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores! Aquela confissão foi como uma punhalada em nossos sonhos, em nossa história, em nossa esperança de conseguir mudar os rumos da política brasileira a partir da presença do PT no Governo Federal.

Nosso esforço de construção do PT como um Partido diferenciado dos demais e comprometido com a ética foi colocado, desde então, sob suspeita. Muitos fazem, hoje, chacota dos propósitos que o PT sempre procurou sustentar, e sabemos que existem muitos interessados em estabelecer a terra arrasada, acabar com as esperança do povo brasileiro de que possa existir honradez nas atividades políticas. Não interessa a essas pessoas e a esses grupos que os trabalhadores sejam ativistas da política, que definam e exponham de forma independente os seus interesses de classe e as suas bandeiras de luta.

A verdade é que, sem que a militância contasse com o mínimo de informação antecipatória, nosso Partido viu ruir, a partir da confissão de Delúbio Soares de que comandava um esquema de corrupção eleitoral, grande parte do carisma do PT, construído durante mais de 25 anos por homens e mulheres das mais diversas regiões brasileiras, das mais diversas profissões, das mais diversas formações, todos identificados sempre pelo desejo de depuração da prática política.

Sim, muitos de nossos adversários, hoje, fazem piada e comemoram, porque o PT sempre sustentou, de fato, essa busca da moralidade pública como um de seus princípios. Nosso Partido se fortaleceu, através dos tempos, identificando e denunciando muitas das falcatruas alheias, e, agora, se vê enlameado, porque alguns dos seus dirigentes entenderam, numa atitude inaceitável, que poderiam recorrer aos mesmos esquemas de corrupção que sempre foram combatidos pelo discurso e pela prática do PT.

Não tenho outro nome para caracterizar esses dirigentes senão como oportunistas, traidores abjetos do projeto do PT. São pessoas que merecem nosso mais vívido repúdio, já que desrespeitaram um processo de construção, lutas que se vinham desdobrando há décadas, envolvendo mulheres e homens de bem, que fizeram da bandeira do PT a melhor expressão do seu modo de vida.

Existem aqueles militantes que, espantados, revoltados, feridos em seu orgulho de pessoas de bem, de brasileiros e brasileiras que tanto confiavam na direção e nas lideranças do PT, já anunciaram, inclusive no Congresso Nacional, seu desligamento de nossa legenda, por se sentirem atraiçoados de forma covarde, de forma infame.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Permite-me um aparte, Senadora?

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Eu já vou ceder os apartes aos Senadores Eduardo Suplicy e Leonel Pavan.

Foi o que aconteceu, em Mato Grosso, com alguns companheiros do Diretório Municipal da cidade de Sinop, que se desfiliaram, capitaneados pelo companheiro Rui Farias e pela nossa querida companheira Ivonete. Lamento profundamente a perda desses companheiros, mas compreendo a angústia de sua decisão. Vejam que o companheiro Rui Farias, advogado da maior respeitabilidade, sempre se caracterizou, em Sinop, por sua luta incansável contra a compra de voto. Agora, jogam-lhe na cara que o PT é um partido que pode estar comprando votos no Congresso, usando para isso um sórdido esquema apelidado de mensalão.

Concedo o aparte ao Senador Suplicy e, logo de imediato, ao Senador Pavan.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Querida Senadora Serys Slhessarenko, quero expressar a minha solidariedade à preocupação de V. Exª, sobretudo com a história de nosso Partido e o seu destino. Todos estamos empenhados em corrigir seus rumos. Como o Partido dos Trabalhadores é uma organização composta por seres humanos, obviamente, alguns erros podem ser cometidos e, no caso, foram erros graves. É muito importante que saibamos como corrigir esses rumos e isso vai depender muito das medidas que nós e o próprio Presidente Lula viermos a tomar. Devemos colocar o Partido no rumo daquilo que sempre foi o conjunto de ideais que nos fizeram fundá-lo, fazê-lo crescer e nos levaram a uma vitória tão excepcional em 2002, quando o povo brasileiro escolheu o Presidente Lula. De maneira que é importante que tenhamos todo o empenho em contribuir para que as Comissões Parlamentares de Inquérito possam apurar com equilíbrio e profundidade as responsabilidade de cada uma das pessoas envolvidas em problemas. Obviamente, há que se dar o direito de defesa para cada um explicar inteiramente os episódios, mas eu tenho a convicção de que, mesmo diante das dificuldades que alguns têm demonstrado de relatar inteiramente, nas Comissões Parlamentares de Inquérito, tudo aquilo que sabem, a comparação dos testemunhos, a colaboração que está havendo por parte de pessoas de todo o Brasil, acompanhando muito atentamente os trabalhos de investigação da CPMI, e a documentação que está chegando ao Congresso Nacional, tudo isso contribuirá para que possamos fazer um trabalho investigativo o mais sereno e profundo, com as conseqüências que teremos que levar adiante.

            A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Senador Pavan, pediria que V. Exª fosse muito breve.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Peço que os apartes sejam breves, porque já prorroguei.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Exatamente. Eu já saltei seis páginas e preciso terminar.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senadora, apenas um minuto. Senadora Serys, apenas quero dizer que o tempo que a conheço no Senado já foi suficiente para eu saber que V. Exª é uma pessoa ética e que, certamente, engrandeceria qualquer legenda partidária, tanto o PT quanto outros entes partidários. Sabemos que V. Exª trabalha com seriedade e está demonstrando a sua indignação em seu discurso. Mas é bom dizer, Senadora, que o Delúbio não é ex, ainda é tesoureiro, está licenciado. Ainda usa o carro do PT, não o devolveu, e ainda está recebendo salário. Ele não é ex, ainda é integrante. Ele não convenceu ainda o PT - a elite de que tanto fala o Lula - de que ele não está envolvido. Todos nós, brasileiros, sabemos que ele está envolvido. Quero dizer o seguinte a V. Exª: que também são nojentos e asquerosos não apenas o Delúbio e o Silvio, mas também aqueles que receberam dinheiro deles. Eles também o são.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Sim, claro. Foi o que acabei de dizer.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Quero alertar V. Exª para não citar muitos nomes deles, porque, daqui a pouco, se eles resolverem falar tudo, vai sobrar pouca gente no PT. Com certeza, V. Exª vai sobrar, porque é uma pessoa ética. É bom não provocá-los muito, porque, se o fizer e essas pessoas abrirem a boca, pouca gente no PT vai sobrar.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Eu diria o contrário, vai sobrar muita gente no PT.

Mas, independentemente disso, V. Exª tem razão com relação à questão do Delúbio. Se V. Exª consultar as minhas falas da semana passada, Senador, vai verificar que eu pedi por duas vezes, em dois momentos diferenciados, a expulsão de Delúbio Soares do PT, porque é inadmissível o PT pagar salários, advogados e outros privilégios para uma pessoa que agia realmente como bandido no Partido dos Trabalhadores e que já devia ter sido expulsa há muito tempo. Eu já havia dito isso há bastante tempo aqui; na semana passada, reiterei, e reitero novamente. Mas vai sobrar muita gente, com certeza.

Peço mais um tempo para tentar terminar o meu discurso, porque já pulei seis páginas.

Eu diria, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que, para superarmos esta fase danosa para o PT, nada mais justo, nada mais apropriado, Senador Suplicy, do que uma completa renovação dos nossos quadros dirigentes, a partir da manifestação direta de cada um dos nossos filiados. No dia 18 de setembro, que já estava marcado há mais de dois anos, cada militante petista vai se manifestar, com o seu voto, sobre tudo isso que aconteceu com o Partido dos Trabalhadores. Dia 18 de setembro, não serão uns poucos, mas todos os petistas que, votando de forma direta, vão decidir os melhores rumos para o PT. Para superar esses tempos sombrios em que foi possível a alguns dirigentes manipular a sorte e os destinos de tantos petistas, vamos submeter o PT a um processo de renovação em que o militante petista é que falará mais alto.

Não ao adiamento do PED! Não ao adiamento do processo de eleições diretas no PT! É dia 18 de setembro e ponto. Está marcado há muito tempo e não é agora que vamos mudar.

Temos diversos candidatos à presidência do PT que merecem nosso respeito. Escrevi meu nome na chapa da companheira Maria do Rosário, mas destaco também as candidaturas dos companheiros Valter Pomar, Raul Pont e Plínio de Arruda Sampaio, que, coincidentemente, são lideranças que representam aquelas correntes que, em Mato Grosso, estão unidas na defesa de minha candidatura à presidência do PT regional.

Sim, não podemos vacilar em dizer que alguns dirigentes do PT cometeram equívocos tremendos nesse período em que estiveram à frente do Partido.

Devemos voltar a fortalecer a voz e a decisão da militância. Precisamos retomar a construção dos núcleos de base. Precisamos dar uma nova força aos nossos encontros municipais, estaduais e nacionais. Não podemos deixar pontos vagos e indefinidos no nosso programa de ação e nos nossos compromissos partidários. Falamos tanto em reconstruir o Brasil, em trabalhar pela construção do socialismo no Brasil, mas isso não pode ficar restrito a palavras ocas. Precisamos delinear melhor esse processo, senão nosso País corre o risco de ficar à mercê de ataques de qualquer oportunista melhor articulado, que, nos seus exercícios verbais, conseguem até parecer gente séria.

Precisamos de muita clareza e muita humildade, precisamos estudar mais, de forma mais aprofundada, a realidade brasileira, para nos capacitarmos melhor para oferecer soluções efetivas às graves e continuadas carências que tanto sacrificam o nosso povo. O nosso Governo está devendo as grandes mudanças que nosso povo ainda espera.

O Sr. Edson Lobão (PFL - MA) - Abaixo os oportunistas!

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Abaixo os oportunistas em todas as siglas partidárias! Nosso Governo está devendo as grandes mudanças que o nosso povo ainda espera.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Vou conceder-lhe mais dois minutos, Senadora.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Obrigada.

Há ainda muito o que fazer neste primeiro mandato, de forma a nos credenciarmos a ter um segundo mandato do PT à frente da Nação brasileira. Nosso Governo precisa se ajustar aos reclamos da maioria do povo e afinar sua política econômica com os interesses do povo pobre deste nosso Brasil, que ainda continua à espera de que se pague a enorme dívida existente em nosso passivo social.

Entendo que o PT tem tudo para continuar sendo um espaço de defesa privilegiada dos interesses da maioria do nosso povo. Por isso, continuo no PT, defendo-o e entendo que o PT deve sobreviver para além da crise atual. O PT é um patrimônio da classe trabalhadora e estamos a postos para limpar de suas fileiras os bandidos que nele se abrigaram.

Quero o meu PT de volta!

Muito obrigada. (Palmas.)

 

********************************************************************************

SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO DA SRª SENADORA SERYS SLHESSARENKO.

*********************************************************************************

A SRª SERYS SLHESSARENKO (PT - MT. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, nestes últimos dias, nestas últimas semanas, em que tudo se articula neste Congresso em torno das Comissões Parlamentares de Inquérito que apuram uma série de irregularidades que envolvem setores do Governo e agentes políticos de diversos partidos, notadamente agentes políticos do PT, tenho me esforçado ao máximo para estar junto do meu eleitorado, daqueles brasileiros e brasileiras que acreditaram no Partido dos Trabalhadores e me fizeram Senadora da República pelo Estado de Mato Grosso.

Por todos os cantos, em todas as mídias, a crise do Governo e a crise do PT tem sido notícia permanente. As revelações que nos chegam de Minas Gerais, neste início de semana, demonstram que é uma crise abrangente, que envolve a prática sistemática dos principais Partidos políticos, principalmente durante as disputas eleitorais. É a roupa suja da política brasileira que se está lavando em público e é importante que seja lavada em público, diante dos olhos de nossa população, com o mandato de quem chegamos até aqui.

Há muitos aspectos a considerar, em toda esta situação, e devo dizer que me parece particularmente importante a preocupação com o futuro do Partido dos Trabalhadores. Por isso, ao mesmo tempo que sigo cumprindo com minhas responsabilidades aqui em Brasília, tenho me empenhado, lá em Mato Grosso, naquilo que já estamos caracterizando como um esforço de reconstrução do PT e do seu espaço na política do nosso Estado e do nosso País.

Ataques nos são feitos de todos os lados e é natural que isto aconteça. Como diria o Barão de Itararé, lembrado em boa hora pelo companheiro Paulo Delgado, um petista que sabe se preservar, preservando o seu bom humor: "Tudo seria mais fácil se não fossem as dificuldades." Mas cabe a nós do PT a responsabilidade de reagir, de responder a estes ataques, tendo em vista o que representa o Partido dos Trabalhadores dentro da estrutura política do Brasil, um partido que não surgiu por acaso mas que é resultado de uma caminhada histórica da classe trabalhadora e que não podemos, por isso mesmo, permitir que se desmanche no ar. Se erros aconteceram, também tivemos muitos acertos e estes acertos precisam ser preservados. Se houve um grave desvio em nossa trajetória, agora é a melhor oportunidade de corrigir a nossa rota e retomarmos o PT de acordo com os princípios que estão em seu manifesto e em seu programa. Esse partido, forjado na resistência à violência do regime militar, tem uma história que merece respeito, muitas foram as mulheres e os homens que deram a sua vida no esforço de torná-lo possível, esta grande legenda que é hoje.

Penso já ter ficado muito evidente, para a grande maioria de nossa população, que as práticas que parecem ter irmanado o ex-Tesoureiro do PT, Delúbio Soares, o ex-Secretário-Geral do Partido, Silvio Pereira, o ex-Presidente José Genoíno, um grupo de Parlamentares do nosso Partido, de Partidos da base de apoio ao nosso governo, mas também Parlamentares de Partidos da oposição, e o poderoso esquema articulado pelo empresário Marcos Valério, essas práticas se constituíram em uma surpresa estonteante para uma expressiva parcela do PT e para a grande maioria de nossa militância. Se a sociedade brasileira se espantou e se espanta, a cada dia, com os fatos e os esquemas que vão sendo revelados, o choque e a revolta tomam conta ainda mais do coração e das mentes da comunidade petista.

Nós, que construímos este Partido como um espaço diferenciado de militância política e eleitoral, ficamos boquiabertos, estupefatos, tomados por uma surpresa arrasadora, desde que o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, em surpreendente entrevista à Rede Globo, confessou ter participado da montagem de um esquema de Caixa Dois à sombra do nosso Partido e à revelia de todas as instâncias partidárias. Um esquema de corrupção eleitoral, senhor presidente, Srªs e Srs. Senadores! Aquela confissão foi como uma punhalada em nossos sonhos, em nossa história, na nossa esperança de conseguir mudar os rumos da política brasileira, a partir da presença do PT no Governo Federal.

Nosso esforço de construção do PT como este Partido diferenciado dos demais e comprometido com a ética, foi colocado, desde então sob suspeita. Muitos fazem, hoje, chacota dos propósitos que o PT sempre procurou sustentar - e nós sabemos que existem muitos interessados em estabelecer a terra arrasada, acabar com as esperanças do povo brasileiro de que possa existir honradez nas atividades políticas. Não interessa a estas pessoas e as estes grupos que os trabalhadores sejam ativistas da política, que os trabalhadores definam e exponham de forma independente os seus interesses de classe e as suas bandeiras de luta.

A verdade é que, sem que a militância contasse com o mínimo de informação antecipatória, nosso Partido viu ruir -, a partir da confissão de Delúbio Soares, de que comandava um esquema de corrupção eleitoral -, grande parte do carisma do PT, construído durante mais de 25 anos por homens e mulheres das mais diversas regiões brasileiras, das mais diversas profissões, das mais diversas formações, todos identificados sempre pelo desejo de depuração da prática política. Sim, muitos de nossos adversários hoje fazem piada, e comemoram porque o PT sempre sustentou, de fato, esta busca da moralidade pública como um dos seus princípios. Nosso Partido se fortaleceu, através dos tempos, identificando e denunciando muitas das falcatruas alheias - e, agora, se vê enlameado, porque alguns dos seus dirigentes entenderam, numa atitude inaceitável, que poderiam recorrer aos mesmos esquemas de corrupção que sempre foram combatidos pelo discurso e pela prática do PT. Não tenho outro nome para caracterizar esses dirigentes como oportunistas, traidores abjetos do projeto do PT. São pessoas que merecem nosso mais vívido repúdio, já que desrespeitaram um processo de construção, lutas que vinham se desdobrando há décadas, envolvendo mulheres e homens de bens, que fizeram da bandeira do PT a melhor expressão do seu modo de vida.

Existem aqueles militantes que, espantados, revoltados, feridos em seu orgulho de pessoas de bem, de brasileiros e brasileiras que tanto confiavam na direção e nas Lideranças do PT, já anunciaram seu desligamento de nossa legenda, por se sentirem atraiçoados de forma covarde, de forma infame.

Foi o que aconteceu lá em Mato Grosso, com os companheiros do Diretório Municipal da cidade de Sinop, que se desfiliaram, capitaneados pelos companheiros Rui Farias e pela nossa querida companheira Ivonete. Lamento profundamente a perda destes companheiros, mas compreendo a angústia de sua decisão. Vejam que o companheiro Rui Farias, advogado da maior respeitabilidade, sempre se caracterizou, lá em Sinop, por sua luta incansável contra a contra de voto - e agora lhe jogam na cara que o PT é um Partido que pode estar comprando votos no Congresso, usando para isso um sórdido esquema apelidado de “mensalão”.

Como reação imediata, entendemos que tudo deva ser apurado. Que o PT e o seu Governo que, em alguns momentos, chegaram a vacilar, não interponham mais qualquer tipo de barreira às investigações que precisam ser feitas para esclarecer todo o alcance desta vergonha que cerca este nefando esquema caracterizado como esquema do mensalão. É preciso ir às últimas conseqüências nestas investigações, tanto aqui no Congresso Nacional, quando na Policia Federal e no Ministério Público. Como disse o companheiro Lula, que se corte na própria carne do PT, se for o caso, sem dor nem piedade - e os fatos já demonstram que a carne do PT já está sendo cortada.

Como reação imediata, já defendi anteriormente e volto a defender hoje, que é preciso que o sr. Delúbio Soares, que confessa ter traído o PT e jogado por terra os compromissos do PT, seja expulso imediatamente do Partido e que deixe também de receber qualquer tipo de proteção de nosso Partido. Entendemos, por tudo isso, que esse é um processo do qual o PT e seus militantes devem participar de peito aberto, com a maior disposição, já que ao mesmo tempo em que se desvenda o alcance da corrupção que envolveu alguns setores de nosso partido, vai se estabelecendo os marcos para uma retomada do processo de construção do PT. Sim, é importante que se saiba até onde foi a contaminação de nossa legenda, de nossa representação parlamentar, quais foram aqueles petistas que se deixaram embeiçar pelas tentações das facilidades financeiras, para que se possa fazer um balanço das perdas e se dimensionar o esforço que nos exigirá reconstruir a respeitabilidade do PT aqui em Brasília, dentro do Governo Federal, mas também lá no Brasil profundo, onde cada diretório zonal e municipal do PT, onde cada militante nosso também está tendo a sua honra colocada em questão. É preciso fazer isso, com urgência, para mostrar aos militantes de base do PT que nós os respeitamos, que nós nos miramos no seu exemplo e que nós também queremos um partido sem vendilhões, sem pessoas que se envolvam em tramóias, sem oportunistas.

É por isto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que aceitei o convite dos companheiros do Movimento PT e me juntei à chapa da companheira Deputada Maria do Rosário, para a disputa das eleições diretas através das quais o Partido dos Trabalhadores irá definir seus novos dirigentes em votação marcada para o dia 18 de setembro.

Todos nós temos acompanhado pelos jornais, pela tevê, o esforço desenvolvido pelo Direção interina do PT, para tomar pé da situação em que se encontra o Partido. Com o afastamento de Genoino, Delúbio, Silvinho e Marcelo Sereno, houve a substituição nos cargos, assumindo Tarso Genro como Presidente, Ricardo Berzoini como Secretário-Geral, José Pimentel como Tesoureiro e Humberto Costa como Secretário de comunicação. São companheiros que assumiram a difícil missão de conduzir o Partido até a eleição do dia 18 de setembro, quando caberá à nossa militância, aos milhares e milhares de filiados que o PT tem espalhados por todos os rincões deste País, determinar, através do voto direto, quem serão aqueles que vão comandar o PT neste processo de reconstrução que eu diria que já está em andamento. As estatísticas apontam que existem mais de 800 mil filiados do PT aptos a votar no dia 18 de setembro. Tenho para mim que será uma votação histórica, exemplar, um verdadeiro processo de faxina dentro do PT, comandado por sua militância. Sim, depois da infâmia desta traição, depois da sordidez deste esquema montado à revelia das instâncias do nosso Partido, no próximo dia 18 de setembro, os militantes do PT vão pras ruas, vão sair de casa decididos e vão votar no processo direto de escolha dos nossos novos dirigentes, fazendo a faxina que precisa ser feita na direção do nosso Partido, uma faxina dura, implacável, decisiva, que há de devolver nosso PT a seus rumos históricos. Essa é a minha confiança, esta é a minha esperança de militante petista.

A crise em que mergulhamos, dentro do PT, surgiu da centralização exagerada de poder que se operou dentro do Partido dos Trabalhadores, momentaneamente controlado por uma maioria do chamado Campo Majoritário. Tudo indica que Delúbio Soares, Silvinho Pereira, Marcelo Sereno, e José Genoino perderam completamente as estribeiras, deixaram de se referenciar na militância do PT e passaram a tomar decisões como se fossem decisões de todo o Partido. Tudo isto representou uma série de ofensas, um desrespeito enorme para tantos quantos têm participado da construção do PT, nestes últimos tempos. Estão aí os companheiros do Movimento PT, da Articulação de Esquerda, da Democracia Socialista, do Trabalho, dos movimentos comunitários, do movimento sindical, das comunidades eclesiais de base, do movimento dos Sem Terra, enfim, militantes das mais variadas esferas de participação que foram desconsiderados por estes companheiros que passaram a decidir sozinhos, como se tivessem cabeças iluminadas.

Ora bolas, o PT foi feito para acabar com este tipo de partido que é controlado por cabeças iluminadas. Isto pode ficar bem para o PSDB, para o PFL, para estes partidos que são controlados por caciques fisiológicos, mas nós do PT devemos repudiar e punir este tipo de prática!

O PT é um Partido sem caciques, em que os seus filiados se recusam terminantemente a fazer papel de massa de manobra para quem quer que seja. Por isso, nosso repúdio ao Sr. Silvio Pereira, que de modo vergonhoso aceitou como presente uma camionete luxuosa de um dono de empresa que tinha grandes interesses dentro da Petrobras. O PT não pode aceitar este tipo de troca de favores, ainda mais se tratando de um dirigente nacional de nosso Partido que, em boa hora pediu seu boné, se desfiliou do Partido, senão teríamos fatalmente que expulsá-lo, como entendo que deva ser expulso também o Sr. Delúbio Soares, por toda esta infâmia que tem trazido para dentro de nosso Partido.

Para superarmos esta fase danosa, nada mais justo, nada mais apropriado, do que uma completa renovação dos nossos quadros dirigentes, a partir da manifestação direta de cada um dos nossos filiados. Dia 18 de setembro, cada militante petista vai se manifestar, com seu voto, sobre tudo isto que aconteceu com o Partido dos Trabalhadores. Dia 18 de setembro, não serão uns poucos, mas todos os petistas que, votando de forma direta, vão decidir os melhores rumos para o PT. Para superar esses tempos sombrios em que foi possível a alguns dirigentes manipular a sorte e os destinos de tantos petistas, vamos submeter o PT a um processo de renovação em que o militante petista é que falará mais alto.

Essa votação e essa renovação feita a partir das bases, acredito que será o passo primeiro, inicial, num processo de reavivamento do nosso partido. Por isto, não podemos concordar com aquelas vozes que nos chegam, propondo que, em sua próxima reunião, o Diretório Nacional do PT vote por um adiamento do PED, das eleições diretas do PT. E vejam que essa proposta tem sido feita, com mais insistência por lideranças e militantes ligados ao Campo Majoritário. Seria bom que esses companheiros do Campo Majoritário se despissem um pouco da empáfia, da arrogância que insistem em manter, mesmo diante de todo o caos em que mergulharam o PT, e se curvassem a esta evidência de que não se pode antecipar mas também é inaceitável que se adie a livre manifestação dos militantes de base do PT sobre os rumos e os destinos de nosso partido.

Temos diversos candidatos à Presidência do PT que merecem nosso respeito. Escrevi meu nome na chapa da companheira Maria do Rosário, mas destaco também as candidaturas dos companheiros Valter Pomar, Raul Pont e Plínio de Arruda Sampaio que, coincidentemente, são lideranças que representam aqueles correntes que, em Mato Grosso, estão unidas na defesa de minha candidatura à presidência do PT Estadual. E o que nos une é o desejo de ver o PT retomar os trilhos da ética, da decência, acabar com esta fase de prostituição que representou a atuação dos srs.Genoíno e Delúbio e Silvio Pereira à frente do PT.

Sim, não podemos vacilar em dizer que o Campo Majoritário cometeu equívocos tremendos neste período em que esteve à frente do PT. Mas não nos basta acusar. Devemos aprender com os erros cometidos por eles, que acabaram se constituindo em erros de todos nós, erros de todo o PT. Precisamos, agora, democratizar profundamente a gestão de nosso Partido. Acabar com esta concentração de poderes que permitiu que alguns dirigentes introduzissem, nos assuntos do PT, oportunistas como Sr. Marcos Valério, sem que grande parte da Executiva do PT e do Diretório Nacional do Partido percebessem o tremendo buraco em que estavam mergulhando o PT. Trouxeram para dentro do PT uma prática de corrupção eleitoral, que o senhor Marcos Valério, pelo que as investigações já demonstram, começou a exercitar em proveito próprio e em proveito do PSDB, a partir da campanha eleitoral de 1998. Isso foi possível porque, de alguma forma, os controles internos da gestão petista estiveram frouxos.

Devemos voltar a fortalecer a voz e a decisão da militância. Precisamos retomar a construção dos núcleos de base. Precisamos dar uma nova força aos nossos encontros municipais, estaduais e nacionais. Não podemos deixar pontos vagos e indefinidos no nosso programa de ação e nos nossos compromissos partidários. Falamos tanto em reconstruir o Brasil, em trabalhar pela construção do socialismo no Brasil, mas isso não pode ficar restrito a palavras ocas. Precisamos delinear melhor este processo senão nosso País corre o risco de ficar à mercê de ataques de qualquer oportunista melhor articulado do tipo de César Maia ou de Antony Garotinho que, nos seus exercícios verbais, conseguem até parecer gente séria.

Precisamos de muita clareza. Precisamos de muita humildade, precisamos estudar mais, de forma mais aprofundada, a realidade brasileira para nos capacitarmos melhor para oferecer soluções efetivas às graves e continuadas carências que tanto sacrificam o nosso povo. O Presidente Lula está devendo as grandes mudanças que nosso povo ainda espera. Ainda há muito que fazer neste primeiro mandato de forma a nos credenciarmos a ter um segundo mandato do PT à frente da nação brasileira. Nosso Governo precisa se ajustar aos reclamos da maioria do povo e afinar sua política econômica com os interesses do povo pobre deste nosso Brasil, que ainda continua à espera de que se pague a enorme dívida que existe no nosso passivo social.

Entendo que o PT tem tudo para continuar sendo um espaço de defesa privilegiada dos interesses da maioria de nosso povo. Por isso que continuo no PT, defendo o PT e entendo que o PT deve sobreviver para além da crise atual.

O PT é um patrimônio da classe trabalhadora e estamos a postos para limpar de suas fileiras os bandidos que nele se abrigaram.

Quero o meu PT de volta!

Obrigada, Sr. Presidente!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/07/2005 - Página 25753