Discurso durante a 125ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Incapacidade do Presidente Lula gerenciar a atual crise política. Necessidade de investigação de denúncias de corrupção. Análise sobre o caixa 2. Comentários sobre o depoimento do Deputado José Dirceu no Conselho de Ética. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), MESADA.:
  • Incapacidade do Presidente Lula gerenciar a atual crise política. Necessidade de investigação de denúncias de corrupção. Análise sobre o caixa 2. Comentários sobre o depoimento do Deputado José Dirceu no Conselho de Ética. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 04/08/2005 - Página 26377
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), MESADA.
Indexação
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ACUSAÇÃO, IMPRENSA, CLASSE SOCIAL, SUPERIORIDADE, RENDA, RESPONSABILIDADE, CRISE, NATUREZA POLITICA.
  • ESCLARECIMENTOS, CRITERIOS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), ARRECADAÇÃO, RECURSOS FINANCEIROS, CAMPANHA ELEITORAL, SEMELHANÇA, ANTERIORIDADE, CANDIDATURA, PRESIDENCIA, CIRO GOMES, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, DIFERENÇA, DESVIO, RECURSOS, SETOR PUBLICO, GOVERNO FEDERAL.
  • CRITICA, DEPOIMENTO, EX MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, AUSENCIA, ESCLARECIMENTOS, SITUAÇÃO, COMENTARIO, CONTRADIÇÃO, ACUSAÇÃO, ROBERTO JEFFERSON, DEPUTADO FEDERAL.
  • REGISTRO, CRESCIMENTO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, PAIS, CRITICA, FALTA, RESPONSABILIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • ANUNCIO, ACORDO, BANCADA, ORADOR, VOTAÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV).

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vejo, e com pesar, a incapacidade que o Senhor Presidente da República demonstra para ajudar a arrefecer essa crise - não vamos usar de meias palavras - de corrupção gerada por seu Governo, com efeitos nocivos e corrosivos na direção do Congresso Nacional.

            Sua Excelência fala todos os dias, fala pelos cotovelos, e não consegue diminuir a crise quando se pronuncia. O Presidente Lula ora ataca a imprensa, ora ataca as elites. Hoje, parece que atacou ambos: a imprensa e as elites ao mesmo tempo.

(Choro de criança nas galerias.)

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador Arthur Virgílio, parece que as crianças não estão gostando do discurso.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Nem isso eu daria de crédito ao Presidente, porque os adultos estão gostando e as pessoas maduras também. O Presidente Lula não pode imaginar que se manteria no poder com criancices. Sua Excelência precisaria manter-se no poder pela compreensão correta da problemática nacional, e o maior de todos os itens a envolvê-lo é, sem dúvida alguma, a corrupção sistêmica que grassa por todos os tecidos do seu Governo.

Senador Tasso Jereissati, até ontem, vivemos esse episódio que considero completamente superado, da tentativa mesquinha de envolvimento do Presidente do nosso Partido, Senador Eduardo Azeredo, nessas malfadadas histórias que envolvem o Governo. Poderia ter havido no máximo algo grave e lamentável de algum caixa dois na campanha de S. Exª - não sei, a responsabilidade é do seu coordenador, e não de S. Exª. Aleguei desta tribuna que, se o Presidente Lula é visto por todos como alguém que nunca sabe de nada, nem dentro, nem fora de seu Governo, nem dentro, nem fora de sua campanha, parecia-me leviano que tentassem envolver, de alguma forma, o Senador Eduardo Azeredo. E V. Exª advertia com muita sabedoria, dizendo: “Não vamos deixar essa gente arrastar a discussão para o caixa dois, que é grave, lamentável e deplorável, porque isso pode ser uma tentativa para impedir a discussão do roubo sistemático, sistêmico que está acontecendo neste País”. Houve a tentativa de igualar todo o mundo.

Hoje, como nada é melhor do que um dia depois do outro, posso aqui vir, de maneira neutra, falar talvez até com mais autoridade. Se há um homem público com quem já tentei me dar bem pessoalmente e não consigo é o Ministro Ciro Gomes. Não consigo! Está acima das minhas forças, e parece que está acima das forças de S. Exª também. Não consigo. Mas, vendo com clareza esse fato que envolveu a campanha do Ministro, parece-me nitidamente tratar-se de caixa dois de campanha esse episódio que envolveu o secretário executivo do Ministro. Claramente, pagamentos de saldos da campanha do Ministro Ciro Gomes, candidato à Presidente da República, lamentavelmente por essas fontes “valerianas”.

Eu consideraria, então, não muito honesto da minha parte estimular os nossos representantes na CPMI a convocarem o Ministro para constrangê-lo, a convocarem o seu secretário executivo para constrangê-lo, até porque eu estaria fazendo a mesma coisa que aqueles com que tentaram estigmatizar Eduardo Azeredo. Ou seja, estaria impedindo a investigação e a averiguação cabal, real e concreta dos casos de corrupção que estão, estes, sim, a merecer investigação profunda no País. Ou seja, se eu pudesse passar a opinião para o PSDB, diria: separem com clareza esses episódios.

Não vamos, então, tirar vendetas com o Ministro Ciro Gomes, que, às vezes, é leviano quando se refere, por exemplo, ao Presidente Fernando Henrique. Silenciou porque está sendo processado, mas não entendo que esteja envolvido com essa história de mensalão e não entendo também que seu secretário executivo esteja no mesmo rol. Entendo que é um episódio claro de caixa dois de campanha, sim, e que, portanto, deve ser examinado, quem sabe, até numa outra CPI. Não nesta! Esta é para cuidar de roubo de dinheiro público, e não me parece que tenha sido o caso.

O roubo de dinheiro público leva o advogado do PT, no caso Santo André, a ser pago com dinheiro “valeriano”; leva àquelas somas absurdas de dinheiro a deputados do PT e de outros partidos, claramente indicando que aquilo significaria algum coordenador repassar dinheiro corrupto para coordenados, com o objetivo de comporem, de maneira espúria e corrompida, uma base de apoio ao Presidente Lula.

Ontem, fiquei profundamente triste com o depoimento do Ministro José Dirceu. O Deputado Roberto Jefferson fez uma acusação frontal ao Presidente da República. Houve, na realidade, três acusações, que relato a seguir: primeiro, “Até o senhor, Sr. José Dirceu, que é tão poderoso, deveria ter alguém por trás”. Ele queria dizer claramente que era o Presidente da República. Segundo ponto. Roberto Jefferson disse assim: “Houve uma conversa heterodoxa, comprometedora, sobre Furnas, na presença do Presidente da República”. E disse mais, algo muito grave. Disse que, depois de uma audiência concedida pelo Presidente da República a um dirigente da Portugal Telecom, teria vindo um sinal verde para o Sr. Valério, um representante do PT e do PTB irem a Portugal buscar dinheiro para saldar dívidas do PTB. E parece que não é algo em vão.

As viagens existiram, o Sr. Valério as confirma, e isso começa a colocar no rol e no meio da confusão essa figura que se porta de maneira irresponsável diante da crise, que é o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O Sr. Zé Dirceu negou tudo, inclusive quando o Sr. Roberto Jefferson o acusa de maneira tola, dizendo assim: “O senhor é acusado de corrupção no IRB, o senhor é acusado de corrupção nos Correios, o senhor é acusado de corrupção em todos os lugares”, e se esqueceu de dizer que esses atos e fatos de corrupção se teriam passado no Governo Lula, do qual ele, Dirceu, era o coordenador, era o capitão, era o orientador, era, na verdade, o verdadeiro Presidente da República; ou, se quiséssemos inventar aqui um parlamentarismo medíocre, seria um primeiro-ministro informal desse Governo que aí está. Então, se ele admite que houve corrupção nos órgãos de um governo dirigido por ele, a sua situação só se complica.

E, por outro lado, não é na base do não sei, repilo, nego; não é na base da acentuação, da regressão - Glória Beuttenmüller diz que quando alguém está pressionado psicologicamente tende a recuperar o seu sotaque de origem; não é na base de evasivas que S. Exª vai defender-se. Saiu de lá menor, saiu de lá mais fraco, saiu de lá com o peso ainda mais reduzido.

E nós temos hoje, Sr. Presidente, com muita clareza e muita nitidez, uma crise que longe está de se delimitar no tempo e no espaço. Nós temos uma crise que todo dia é abanada, todo dia é estimulada pela irresponsabilidade do Presidente da República. Temos uma crise que todo dia é abanada, é estimulada pelo surgimento de fatos novos. Nunca temos o último fato; sempre temos o penúltimo. E, agora, as revelações são sempre de mais envolvimentos, de mais comprometimentos e de mais novidades, num terreno que me leva a dizer, Sr. Presidente, com muita tristeza, que eu chego a imaginar, Senador José Agripino, que - e eu quero aqui ressalvar que, para mim, a maioria esmagadora dos parlamentares do PT é composta de pessoas honradas e a militância do PT é composta, na sua esmagadora maioria, de pessoas honradas também e certamente frustradas e decepcionadas com este Governo e com este partido, elas também - o núcleo, que a orientação, que a liderança,...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - ... que o comando desse movimento, em vez de preparar um programa de governo, parece ter preparado um programa de assalto aos cofres públicos, porque, se não tinha programa de governo algum - copiou alguma coisa do que recebeu -, por outro lado, mostrou uma articulação terrível, mostrou uma capacidade de se articular enorme: com quinze dias de governo, começou a produzir malfeitos, a produzir agressões à ética no trato com a coisa pública.

Portanto, Sr. Presidente, tenho a registrar que a sociedade brasileira está estarrecida, está desamparada, está decepcionada, está aturdida. A sociedade brasileira está completamente, inteiramente na expectativa de que nós cumpramos com o nosso dever, e o nosso dever é fazer a apuração clara, fazer a apuração nítida de cada fato, de cada denúncia de corrupção e, ao mesmo tempo, olhar com responsabilidade para os destinos que o País tem de cumprir.

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Encerrando, digo a V. Exª que hoje acabamos de acertar a votação de uma medida provisória por entendermos que se trata de matéria meritória - a Oposição não se nega ao diálogo positivo, não se nega a cumprir com o seu dever. Mas uma coisa é fato: esse episódio, Senador Tasso Jereissati, envolvendo o Secretário Executivo do ilustre Ministro Ciro Gomes - e aí sim eu posso falar à vontade - me parece tipicamente um caso de caixa dois de campanha, e apenas um caso de caixa dois de campanha. Ele me dá autoridade para dizer que tentaram, e tentaram inutilmente, misturar caixa dois de campanha com roubo de dinheiro público.

Nada como um dia depois do outro. Ou seja, este Governo tem de se explicar diante das acusações que sofre e parar de inventar, de artificializar companhias para afundar com ele nesse lodaçal da corrupção.

Nada como um dia após o outro. Já está aqui hoje o Ministro Ciro Gomes, com seu Secretário-Executivo sendo defendido - se é que se pode dizer que eu estou fazendo isso - como Líder do PSDB, porque o que eu quero mesmo é evitar que se misturem as estações. Eu não estou preocupado neste momento com casos passados de caixa dois, apesar de querer evitá-los muito fortemente daqui para frente. Estou preocupado em evitar que cortinas de fumaça de qualquer setor impeçam a apuração até a última responsabilidade do último corrupto que esteja infelicitando este Pais indigitado, que é a Pátria brasileira, Sr Presidente.

Muito obrigado.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/08/2005 - Página 26377