Discurso durante a 136ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre o discurso do Senador José Sarney, proferido ontem na tribuna do Senado a respeito da responsabilidade do Presidente Lula pela crise política e discordância com parte de seu conteúdo. (como Líder)

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Reflexão sobre o discurso do Senador José Sarney, proferido ontem na tribuna do Senado a respeito da responsabilidade do Presidente Lula pela crise política e discordância com parte de seu conteúdo. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 18/08/2005 - Página 28055
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, DISCURSO, JOSE SARNEY, SENADOR, CRITICA, NEGAÇÃO, COMPROMETIMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CORRUPÇÃO, CRISE, POLITICA NACIONAL.
  • LEITURA, TRECHO, DECLARAÇÃO, SOCIOLOGO, COORDENADOR, CAMPANHA ELEITORAL, ANTERIORIDADE, COMPROVAÇÃO, IRREGULARIDADE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), UTILIZAÇÃO, RECURSOS, FUNDO DE AMPARO AO TRABALHADOR (FAT), CONHECIMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • LEITURA, TRECHO, ENTREVISTA, HELIO BICUDO, JURISTA, EX-DEPUTADO, FUNDADOR, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), OPINIÃO, CONHECIMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, IRREGULARIDADE, FUNDOS, CAMPANHA ELEITORAL, IMPUNIDADE, RESPONSAVEL.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, ontem esta Casa ouviu com muita atenção o discurso do eminente Senador e prezado amigo José Sarney. O discurso foi muito bom, tanto na forma - S. Exª é um homem de letras - como no conteúdo, até a metade. Aí, Sr. Presidente, o discurso ficou, a meu ver - e desculpe a franqueza, meu eminente amigo - comprometido.

O Senador José Sarney, um homem experiente, um homem inteligente, dizer peremptoriamente que não há nada que, nem de leve, comprometa o Presidente da República é negar a evidência.

O Presidente da República está, sim, comprometido. Há evidências disso. Mas, se dúvidas havia, há antecedentes que reforçam a evidência. Conforme citarei aqui, quem vai tentar convencer o Senador José Sarney não sou eu, que sou um oposicionista; não é uma ex-petista, como a Senadora Heloísa Helena, que pode até falar levada pela emoção, pela mágoa, justa, por ter sido excluída do partido; quem vai falar são dois petistas históricos: um, que se desfiliou voluntariamente, indignado com o comportamento inclusive do Sr. Luiz Inácio Lula da Silva; o outro ainda está no PT.

Vejam o que disse - muitos dos senhores ouviram - o Sr. César Benjamin, domingo, no “Canal Livre” da TV Bandeirantes. Sociólogo, coordenador das duas primeiras campanhas de Lula, em 1989 e em 1994, coordenador das campanhas do então candidato a Presidente, disse César Benjamim, conforme texto de Sebastião Neri:

Em 93 (...) Lula nomeou um desconhecido professor primário de Goiânia, Delúbio Soares, para representante da CUT no Conselho do FAT. Era a mina.

O FAT (...), com mais de R$30 bilhões do FGTS. (...) O Conselho é quem decide os investimentos.

(...) Na campanha de Lula em 94, o estupefato guerrilheiro Benjamin descobriu que o grosso do dinheiro do partido vinha criminosamente do FAT.

Benjamin chamou Lula, Dirceu, o comando do PT, e disse que aquilo era um escândalo inaceitável.

Ele nomeia:

Lula e Dirceu mandaram que em nome do partido ele esquecesse tudo. Benjamim não esqueceu (...) e abandonou o PT. (...)

Já naquela época, Benjamin profeticamente disse (...): “Isso aí é o ovo da serpente”.

A serpente já está maior que uma jibóia.

O outro merece ainda mais credibilidade: Hélio Bicudo, do alto dos seus 83 anos, jurista, respeitado, ex-Deputado, Vice-Prefeito, até há pouco tempo, da Prefeitura de Marta Suplicy. Ele é petista há 25 anos, desde a fundação do Partido, e muito ligado a Lula. A entrevista de S. Exª na Veja é estarrecedora, Senador Leonel Pavan:

O senhor acredita que o Presidente Lula sabia dos fatos que estão vindo a público?

(...) É impossível que ele não soubesse como os fundos estavam sendo angariados e gastos (...).

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Dê-me mais um minuto, por favor, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Leonel Pavan. PSDB - SC) - V. Exª dispõe de mais dois minutos ainda, Senador.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - E continua a entrevista:

Por que o Presidente não tomou nenhuma atitude (...)?

Ele é mestre em esconder a sujeira embaixo do tapete. Sempre agiu dessa forma. (...)

Há outros exemplos dessa característica?

Há um muito claro. Em 1997, presidi uma comissão de sindicância do PT para apurar denúncias contra o empresário Roberto Teixeira, que estava usando o nome de Lula para obter contratos de prefeituras em São Paulo. A responsabilidade dele ficou claríssima.

Isso na sindicância presidida por Hélio Bicudo!

Foi pedida a instalação de uma comissão de ética, e isso foi deixado de lado por determinação de Lula, porque o Roberto Teixeira é compadre dele.

A acusação é frontal! Hélio Bicudo está mentindo, Senador José Agripino? Está caluniando Lula?

Sr. Presidente, o Presidente Lula vai escapar do tribunal judicial, vai escapar do tribunal político, mas do tribunal de ética ele não escaparia no julgamento moral. Estaria inapelavelmente condenado. Ele sabia de tudo, sim.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/08/2005 - Página 28055