Discurso durante a 161ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Manifestação de apoio ao Senador Ney Suassuna. Considerações sobre o processo de legalização do P-SOL.

Autor
Heloísa Helena (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Manifestação de apoio ao Senador Ney Suassuna. Considerações sobre o processo de legalização do P-SOL.
Aparteantes
Amir Lando, Eduardo Suplicy, Efraim Morais, Mozarildo Cavalcanti, Ney Suassuna, Papaléo Paes, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 20/09/2005 - Página 31319
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • CRITICA, MEMBROS, BANCADA, CONGRESSO NACIONAL, APOIO, GOVERNO FEDERAL, OBJETIVO, OBTENÇÃO, FAVORECIMENTO PESSOAL.
  • COMENTARIO, SITUAÇÃO FINANCEIRA, DIFICULDADE, ESTADOS, MUNICIPIOS, RESULTADO, INEFICACIA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, POLITICA FISCAL, GOVERNO FEDERAL.
  • CONGRATULAÇÕES, MEMBROS, FILIAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE (PSOL), PARTICIPAÇÃO, LUTA, OBTENÇÃO, LEGALIDADE, PARTIDO POLITICO, DECLARAÇÃO, OBJETIVO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, ETICA, CONDUTA, DEFESA, IDEOLOGIA, SOCIALISMO, DEMOCRACIA, ATENDIMENTO, INTERESSE, POVO, BRASIL.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, primeiramente, quero compartilhar da preocupação aqui colocada pelo Senador Ney Suassuna. Eu até fazia franca provocação, quando descia da tribuna, porque S. Exª é da base de sustentação do Governo e está vendo claramente qual é o significado desse tipo de política econômica nos Municípios da Paraíba ou nos Municípios de Alagoas. E ainda bem que S. Exª falou, porque os que são da base de sustentação do Governo e comportam-se como sendo da “base de bajulação” do Governo, por terem cargos, prestígio, poder, liberação de emendas e outras coisas mais, esses não vão falar absolutamente nada, ou, então, porque usam uma ou outra inauguração para tirar foto, aquelas coisas que fazem parte da política tradicional e que não resolvem o problema do País. É esse o tipo de política econômica. Ou você compra os meios de comunicação para mentirem, tal qual aprendizes de Goebbels - e a mentira repetida muitas vezes vira verdade -, ou chama o David Copperfield, que também não virá, porque soluções econômicas não trará.

Esse tipo de política econômica dá nisto: joga-se mais da metade da riqueza nacional na pocilga do capital, aumentam-se os juros para favorecer os interesses daqueles que não dinamizam a economia, não geram emprego, não geram renda, que fazem a política dos gigolôs, que são os banqueiros nacionais e internacionais, e se aumenta a taxa de juros, aumentando-se o montante da dívida. Quando se aumenta o montante da dívida, mais comprometimento das receitas líquidas reais dos Estados e Municípios para dar conta desse aumento do montante da dívida, mais arrocho em política social e infra-estrutura, porque a conta tem que ser paga. Outra opção é o aumento da carga tributária, e tanto o Governo Fernando Henrique quanto o Governo Lula, quando aumentam a carga tributária, aumentam justamente naquele setor em que não há partilha para Estados e Municípios, havendo uma centralização cada vez maior.

Não é à toa que os Governos Estaduais estão em frangalhos. Os Municípios, então, nem se fala. Aliás, quando os prefeitos se reúnem para solicitar, quando fazem uma verdadeira guerra para solicitar o aumento de 1% no FPM - olhem que migalha!: 1% no FPM -, o que vai significar, Senador Papaléo Paes e Senador Mão Santa, um bilhão e quatrocentos milhões no País, o que, dividido por mais de cinco mil Municípios brasileiros, não é nada, mesmo assim, o Governo, com sua promíscua “base de bajulação”, não deixa votar, imaginem as outras coisas que são essenciais.

Mas por que é que o Governo faz isso? O Governo Fernando Henrique fazia e o Governo Lula faz. Porque conta com o Congresso Nacional como seu medíocre anexo arquitetônico. Conta com o Congresso Nacional, com Senadores e Deputados que, certamente, por pensarem mais nos seus bolsos, nas suas riquezas pessoais, e nos seus apaniguados, acham que não precisam disponibilizar dinheiro para a saúde, para a educação, para a infra-estrutura, para o desenvolvimento sustentável, para as outras coisas que são essenciais ao País e ao povo.

Ficaremos aqui sempre, o Senador Amir Lando, o Senador Cristovam Buarque, o Senador Mozarildo Cavalcanti, o Senador Efraim Morais, o Senador Geraldo Mesquita Júnior, estaremos aqui sempre resmungando, em uma verdadeira cantilena, a reclamar os problemas gravíssimos, e, quando chegar o final do ano, o Governo sabe... Aliás, fez isso há dois meses, na votação do salário mínimo. Para comprar os Parlamentares o que o Governo faz? Coloca lá o balcão de negócios sujos. Compra os Parlamentares para derrubar uma determinada proposta e libera as migalhas das emendas. Se o Parlamentar for daqueles bem safados mesmo, ainda tira o seu percentual, tira o percentual da empreiteira, bota no bolso e tudo bem, como se não estivesse acontecendo absolutamente nada. É por isso que o povo brasileiro odeia político - e a generalização perversa bate em todos nós -, mas tem mais é que odiar, com tanto pilantra, cínico, dissimulado, alguns mais sofisticados, igualmente safados, porém mais sofisticados. E por aí vai com as coisas cada vez piores.

Mas eu estou aqui - acabei entrando no assunto da saúde pública por ser uma área pela qual tenho paixão e a que dediquei muito tempo da minha vida -, mas estou aqui muito mais para agradecer ao Senador Geraldo Mesquita Júnior, à Deputada Luciana Genro, ao Deputado Babá, ao Deputado João Fontes, que estiveram conosco antes. Todos nós somos parte dessa verdadeira travessia no deserto, mas sempre encontramos generosos caminhantes, andarilhos, peregrinos espalhados por este Brasil afora que possibilitaram que tivéssemos o registro definitivo do P-Sol. Vejam que maravilha!

Aliás, eu soube que em Alagoas estavam dizendo que havia um político muito importante de Alagoas que tinha apostado uma casa de praia que a gente não legalizava o P-Sol. Eu disse: “Vixe! Então foi com dinheiro roubado essa casa de praia, porque um ‘cabra’ apostar uma casa de praia...”. É pena que a aposta não foi com a gente, porque aí a gente ia ganhar a casa de praia também.

Mas conseguimos legalizar o P-Sol. Foi uma tarefa gigantesca e só conseguimos a legalização pela generosidade das mulheres e homens de bem e de paz espalhados pelo Brasil. Foi a generosidade, só a generosidade de todas essas pessoas que possibilitou a legalização do nosso Partido.

Lógico que tivemos muitos entraves. Deus do céu! A lei mandava que o cartório liberasse em quinze dias e havia cartório que demorava cinco meses ou que não dava, e tinha problema num lugar e no outro... Mas também teve muita gente nos cartórios que nos ajudou muito, pessoas que fizeram um esforço concentrado para garantir as certidões das assinaturas, nos TREs, em todos os lugares. O TSE também agiu com a firmeza e o rigor técnico necessário, sem fazer nenhuma patifaria política, porque, se o Ministério Público quisesse, se o Tribunal Superior Eleitoral quisesse, seria feita alguma patifaria política, seriam usados os detalhes da legislação para impedir a nossa legalização... O Ministro Velloso, o Ministro Gilmar Mendes, que foi o Relator, o Procurador-Geral, a Procuradoria-Geral Eleitoral, todas as pessoas agiram com o rigor necessário para fiscalizar cada detalhe, cada linha que lá estivesse, mas souberam entender essa problemática política.

Então, manifesto-me só para agradecer muito a todas as pessoas que nos ajudaram.

O Sr. Amir Lando (PMDB - RO) - V. Exª me permite um aparte?

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Ouço com muito prazer V. Exª.

O Sr. Amir Lando (PMDB - RO) - Senador Heloísa Helena, quero me solidarizar com V. Exª e com o Partido P-Sol, que, por um esforço hercúleo, uma tarefa obstinada, determinada, certamente com a liderança de V. Exª, hoje assume esse registro tão importante para a democracia brasileira. Quero apenas desejar a V. Exª os mais profícuos votos de sucesso, sucesso político, sucesso eleitoral, sucesso na construção de um Brasil mais justo e um Brasil de todos os brasileiros, sobretudo daqueles a quem não reconhecemos, como sociedade, um mínimo de humanidade, como os pobres, os humildes, os doentes, os idosos, enfim, todos os excluídos. Parabéns! Que o seu Partido tenha sucesso!

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Agradeço, de coração, a V. Exª.

Concedo o aparte ao Senador Efraim Morais.

O Sr. Efraim Morais (PFL - PB) - Senadora Heloísa Helena, o meu aparte é no mesmo sentido do pronunciado pelo Senador Amir Lando. Quero parabenizar V. Exª e a todos os que fazem o P-Sol, por essa batalha, essa luta, essa dedicação e, acima de tudo, essa vontade que sinto em V. Exª e em todos os que compõem o seu Partido. Que Deus lhe abençoe, lhe proteja e dê muita força para continuar a sua luta, a luta dos seus filiados, e que ela seja sempre em busca do melhor para o País e para os brasileiros. Parabéns a V. Exª e a todos do seu Partido por essa primeira vitória, a vitória do registro! O Partido de V. Exª passa agora a ter condições legais de disputar as eleições de 2006. Parabéns a V. Exª e a todos que fazem o seu Partido!

A SRª HELOÍSA HELENA (P-Sol - AL) - Obrigada, de coração.

Concedo um aparte ao Senador Mozarildo Cavalcanti, que hoje, logo que chegou, já me deu os parabéns.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Exatamente. Quero, de público, dar os parabéns a V. Exª, que foi uma guerreira. Aliás, V. Exª sofreu muito na mão daquela direção do PT, que, hoje se mostrou, não merecia estar na direção do Partido e não tinha, muito menos, o direito de punir V. Exª como puniu. V. Exª está dando a volta por cima, dando uma opção à esquerda, dentro dos princípios em que sempre acreditou, e criando um Partido que, tenho certeza, será muito útil à democracia do Brasil.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Obrigada, de coração, Senador Mozarildo Cavalcanti.

Com a palavra o meu querido Senador Geraldo Mesquita Júnior.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (P-SOL - AC) - Senadora Heloísa Helena, de pão-de-açúcar, doce e dura que nem rapadura. Aqui não é usual esse tipo de tratamento, mas quero lhe dedicar um beijo grande pela sua coragem, pela sua determinação, pela sua grandeza como mulher, como cidadã brasileira, que tem compromisso com esse povo querido deste Brasil, com esse povo sofrido, que não perde a esperança. Milhões de pessoas neste País que poderão, unidas, construir uma Pátria justa, democrática e fraterna hoje identificam em V. Exª um daqueles condutores, uma pessoa que não se vendeu. As pessoas hoje nos perguntam - a senhora sabe disso: “Mas vocês no poder não vão fazer a mesma coisa que essas quadrilhas aí fizeram?” Eu respondo com a maior naturalidade: “Eu, a Senadora Heloísa, o Deputado Babá e a Deputada Luciana estivemos no poder”. Não é verdade? Fomos testados, passamos na “casca do alho”, como se diz na rua. Junto-me à sua alegria e a de todas as nossas companheiras e companheiros, militância aguerrida do P-SOL, que, sob sol e chuva, sem recursos, sem a menor condição, fizeram essa travessia, como V. Exª diz, e ofereceram à população a oportunidade de ter uma organização político-partidária que possa, ombreada com o povo brasileiro, promover as transformações que este País tanto quer e tanto reclama. Gosto sempre de me referir ao fato de que nós do P-Sol conseguimos a generosidade do povo brasileiro, como a senhora bem o disse, no momento em que a avaliação dos políticos e da própria política não é das melhores, há muito. Mesmo assim, as pessoas, como que reconhecendo a possibilidade de surgir no cenário político brasileiro um conjunto de forças que tem compromisso férreo com a seriedade, com a ética, com a administração pública decente, nos acolheram, nos recepcionaram com alegria e entusiasmo. Estamos aí, com nosso Partido registrado, em grande parte - acho que todo o pessoal hoje reconhece -, em grandíssima parte, porque tivemos em V. Exª sempre aquela companheira que não nos deixava desanimar e se abater em face de tantas dificuldades que encontrávamos. Estava sempre ali: “Não, mas precisamos persistir, precisamos ir adiante, porque é o povo brasileiro que assim quer”. Meus parabéns a V. Exª, a todas as mulheres, aos homens, jovens e crianças que nos ajudaram nessa empreitada, aos magistrados da Justiça Eleitoral, aos serventuários de todas as instâncias da Justiça Eleitoral e, sobretudo, à militância aguerrida deste Partido tão querido que estamos começando a constituir em nosso País. Um grande abraço e outro beijo fraterno.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Querido, obrigada, guerreiro, que está enfrentando tantas dificuldades em nosso Acre maravilhoso e querido. V. Exª é um guerreiro das boas, belas e maravilhosas causas.

Concedo o aparte ao Senador Papaléo Paes.

O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Senadora Heloísa Helena, quero parabenizá-la pela grande vitória. Logicamente, quero parabenizá-la como a representante maior do P-Sol, como a pessoa idealizadora, em conjunto com um grupo de idealistas. V. Exª trabalha com uma política séria, determinada. Na figura de V. Exª, o P-Sol está representado por um símbolo de coragem, de determinação e de lisura na conduta da política partidária. Parabenizo V. Exª e o Senador Geraldo Mesquita, que também compõe a Bancada do P-Sol no Senado. Como idealista também, ingressei na política partidária com um ideal que, graças a Deus, é preservado até hoje. Apesar de eu já ter passado por vários partidos, faço-o exatamente para não perder o ideal que me fez ingressar na política partidária aos 38 anos de idade. Logicamente, se, naquela época, V. Exª já fosse uma pessoa admirada por mim como é hoje, eu teria ingressado na política partidária em sua companhia. Quero, mais uma vez, deixar registrada a necessidade que todos temos no nosso País de líderes como V. Exª e de outras pessoas do seu Partido, para que tenhamos alternativas. Falo de alternativas que realmente conduzam o Brasil a um rumo que todos idealizamos, ao rumo que V. Exª idealizou quando estava no PT. V. Exª lutou bravamente durante 20 anos da sua vida e não perdeu o ânimo. Agora, depois de ficar tão decepcionada com seu ex-Partido. Está hoje cheia de forças, cheia de esperanças. Se Deus quiser, P-Sol é uma sigla que vai trazer ao povo brasileiro uma nova expectativa e um novo horizonte para nosso País. Parabéns.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Obrigada, nosso querido Senador Papaléo.

Concedo o aparte ao Senador Pedro Simon. (Pausa)

Concedo o aparte ao Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senadora Heloísa Helena, acabo de ter um encontro no Itamaraty, ocasião em que o Presidente Lula recebeu o Presidente da Áustria. Trata-se de contato importante, porque a Áustria vem desenvolvendo relações muito promissoras com o Brasil. Há hoje cerca de 70 empresas austríacas que estão investindo, interagindo com a economia brasileira. Refiro-me a esse acontecimento porque, ao sair do Itamaraty, caminhando para esta Casa, vi que estavam ali mais de 100 trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, que, desde o dia 15, iniciaram um movimento de reivindicação e greve que vem causando preocupação a tantas pessoas. Observei hoje nos jornais que até mesmo os jurados de um dos principais festivais de filmes do Brasil estão preocupados com a greve dos Correios, que os está impedindo de receber os filmes, e há um prazo, digamos de dois dias, para que eles dêem o parecer sem ter visto o filme. É um pequeno exemplo. No caminho para cá, ao me verem, os trabalhadores pediram-me para ter, o quanto antes, uma audiência com o Ministro das Comunicações, Hélio Costa. Registro isso porque tenho certeza de que V. Exª será solidária neste pedido. Coincidiu de eu ter até almoçado com o nosso colega Senador e hoje Ministro Hélio Costa e com a sua senhora, Ana Catarina. Como me pediram que possa o referido Ministro receber os servidores dos Correios, gostaria de iniciar o meu aparte com este apelo, para que V. Exª - quem sabe - possa apoiá-los. O Ministro Hélio Costa, em breve, ficou de me telefonar, segundo a sua secretária, e vou transmitir o apelo para que possa recebê-los se possível hoje. Quero também saudar o sucesso de V. Exª e de seus companheiros ao conseguirem, num curto espaço de tempo e mediante circunstâncias muito difíceis, ter o número de filiações e assinaturas necessárias ao Partido Socialismo e Liberdade. Não preciso recordar a V. Exª meu esforço, porque gostaria que tivesse permanecido conosco no PT. As circunstâncias foram outras. Mas é interessante observar que ontem houve um momento histórico importante no PT. Muito provavelmente, o P-SOL seguirá os aspectos positivos de nosso Partido, e muito do que aprendeu, interagiu, participou e foi parte ativa V. Exª levará para o P-SOL. Uma das características positivas do PT é o método de eleição direta de seu Presidente, o que ocorreu ontem. Diante de todos os episódios que ocorreram, é interessante observar o resultado, por enquanto parcial. Compareceram, dos 800 e poucos mil filiados, cerca de 260 mil, e já há resultados parciais equivalentes a pouco mais de 115 mil, quase 50%, digamos. O primeiro resultado parcial indica Ricardo Berzoini com 41,6%; quase 13% para Walter Pomar; Plínio de Arruda Sampaio com quase 12%.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Eduardo Suplicy, peço que V. Exª encerre, pois queremos homenagear a esperança que nasce, o P-SOL.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Terei de ser muito sintético para respeitar o tempo, Sr. Presidente. E V. Exª há de convir que estamos falando de Partidos que, de alguma maneira, são parte de todo esse movimento pela democracia, por maior igualdade de direitos no Brasil. Portanto, se me permite registrar: Plínio de Arruda Sampaio obteve 14,9%; Maria do Rosário, 12,70%; Raul Pont, 11,9%; Markus Sokol, 1,40%; e Gegê, 0,60%. Isso claramente indica que, diferentemente do que ocorreu em 2002, quando V. Exª era parte do PT, quando o Campo Majoritário obteve 55%, agora sabemos que haverá...

(Interrupção do som.)

 O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Eduardo Suplicy, a Presidência vai conceder a V. Exª mais cinco minutos. Devo dizer a V. Exª que não queremos falar das trevas, da escuridão; queremos falar da luz que nasce, da esperança para o Brasil. Assim sendo, em homenagem a essa esperança, fé e solidariedade, queremos ceder a esse anúncio de que o povo precisa, a esperança de um novo partido político.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Tenho a certeza de que, graças ao espírito de luminosidade e generosidade da Senadora Heloísa Helena e do próprio nome de seu partido, P-SOL, S. Exª me autorizaria a fazer esse anúncio, porque isso resulta, em parte, daquela decisão em que ambos e cerca de um terço do PT votamos contrariamente, quando preferimos que a Senadora não fosse expulsa do Partido. Aquele resultado de dezembro de 2003, de alguma forma, está refletindo-se aqui. Por essa razão, eu vou me permitir, ao saudá-la, fazer esse registro. Espero que sejam muitas as ocasiões em que possamos caminhar irmanados. Desejo, portanto, boa sorte a V. Exª, Senadora Heloísa Helena e ao P-SOL.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Agradeço de coração a V. Exª, Senador Suplicy, meu querido companheiro Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - V. Exª me permite um aparte, Senadora Heloísa Helena?

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Pois não, Senador Pedro Simon.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Na verdade, Senadora Heloísa Helena, foi um feito muito importante esse de V. Exª e de sua equipe. Em uma época em que o que menos se fala é em credibilidade política, em uma época em que ouvimos pessoas dizendo que não querem mais votar e que os percentuais do descrédito em relação aos Deputados, Senadores e Partidos políticos chegam a índices em torno de 90%, em meio a toda essa situação negativa, V. Exª consegue um feito que considero muito importante: o registro de seu Partido. É um Partido que nasce com sentimento, que nasce com alma. Seu nascimento já é uma identificação, na prática, com os princípios que defende. Nasceu por defender princípios e por lutar por eles quando poderia ter sido muito mais cômodo ficar no Partido do Governo, tranqüilamente. O Governo fazia questão absoluta de que o grupo ficasse no Poder. No entanto, V. Exª se afasta do Governo para ficar fiel à identidade e aos princípios que defende. Aliás, ali começou - se formos marcar o início - o drama que vive hoje o PT. Tudo começou ali, quando, na questão da aposentadoria e dos inativos, V. Exª e um grupo defenderam a fidelidade aos princípios, ao que foi prometido na campanha, ao que o candidato Lula defendeu na campanha, e não uma decisão tomada não se sabe por quem. É uma questão de irracionalidade que não existe no mapa. Não é como aquele Governador que diz: faz isso, mas não faz aquilo. Eu até poderia entender que o PT votasse da maneira que votou, já que estava recuando em seus princípios, estava mudando de posição, estava transformando o Partido dos Trabalhadores em uma nova socialdemocracia à direita daquela do Presidente Fernando Henrique, mas daí a expulsar V. Exª... Deveria silenciar. Está certo que V. Exª poderia se retirar. V. Exª poderia, e provavelmente fizesse isso, o que é natural. Mas eles fizeram o que não era possível nem compreensível. Então, é um Partido que nasce dizendo que primeiro pôs na prática o exercício da causa que defende para mostrar como pretende ser, agora que é um Partido político. Desejo muitas felicidades a V. Exª, embora eu não negue que sonho com uma reorganização político-partidária que permita que estejamos juntos, as pessoas que se identificam, as pessoas que têm os mesmos pensamentos, e não da forma que está sendo. O Partido de V. Exª surge, é importante, mas, se não for feita uma reforma partidária, se não for feita uma reforma política, se não for feita uma reforma eleitoral, se não for feita uma reforma de princípios, de ética e de moral, não se poderá fazer nada, porque a onda leva tanto para um lado só que se torna impossível fazer um trabalho em contrário. Se não existir um sentimento de que devemos caminhar nesse sentido, se as pessoas que pensam e têm sentimento, têm idealismo - que é um número enorme de pessoas -, mas não têm o mínimo necessário de ação conjunta, não têm coragem como V. Exª - e V. Exª teve a coragem e a bravura de tomar uma posição -, lamentavelmente, ficaremos no lamento, não fazendo nada. E, não fazendo nada, as coisas continuam sendo como são. É muito importante o surgimento do Partido de V. Exª, com o qual as pessoas terão a oportunidade de se identificar. Creio que se o quadro for esse, V. Exª surpreenderá na votação à Presidência da República. Surpreenderá muito, muito, muito, porque o novo era o PT, mas esse novo envelheceu de uma maneira fantástica, não pôde sobreviver a alguns dias de sol no poder. Essa angústia de buscar algo que seja diferente V. Exª haverá de representar. Tenho dito e me sinto bem repetindo isso porque acompanhei o Teotônio, vi o drama. Foi um homem que podia ter ficado tranqüilo, sereno, podia ter vivido os últimos dias da vida de maneira ultraconfortável. Dedicou-se, sacrificou-se, lutou, correu pelo Brasil, por quatro causas: fome, miséria, injustiça social e liberdade. O Brasil tinha um amor, um carinho, um afeto fantástico por ele, mas ele, infelizmente, saúde não teve para continuar. V. Exª representa isso com mais ternura, com mais carinho, com mais afeto, com mais identidade e vivendo uma etapa posterior. Na época de Teotônio, vivíamos ainda a tentativa de reconstruir a democracia, de refazer a democracia. Muitos consideravam difícil; outros, não, mas estávamos naquela caminhada. Agora, não. Agora temos a obrigação de dizer para que fizemos e reconstruímos a democracia, por que caminhamos até aqui, o que queremos. Não há na história do Brasil uma paulada tão grande que o povo tenha recebido nem mágoa tão profunda quanto esta que está vivendo hoje. Em meio a isso, é que podemos dizer: sempre há um novo amanhecer, por mais negra que seja a noite; por mais tristes que sejam os tufões à noite, há o alvorecer da madrugada, os primeiros raios de Sol anunciando o raiar de um novo dia, de uma nova esperança. V. Exª é esse novo sol, esse novo raiar de esperança, essa nova expectativa. É com carinho e com afeto, como se V. Exª fosse uma filha que eu gostaria de ter tido, que vejo a beleza do seu comportamento, a grandiosidade do seu sentimento, a pureza da sua intenção, a coragem na sua maneira de agir, e a firmeza com que V. Exª, cavalgando nas convicções de sempre, caminha firme. O futuro pertence a pessoas como V. Exª, minha querida Senadora.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Agradeço. Este choro de filha é coisa de quem não teve pai, não é? Agradeço a generosidade das palavras de V. Exª, meu querido Senador Pedro Simon. Houve uma pessoa que eu sei que, se estivesse aqui, estaria muito feliz também, o Senador Lauro Campos, que talvez esteja mais descansado de não estar vendo essas tragédias todas aqui. Sei que o Senador Jefferson Péres, se estivesse aqui, estaria saudando. Mas agradeço de coração a generosidade das palavras de V. Exª.

Senador Ney Suassuna, concedo um aparte a V. Exª.

            O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Senador Heloísa, nem sempre estamos do mesmo lado. São raras as ocasiões em que estamos do mesmo lado. Mas o PMDB não pode deixar de saudar o irmão mais novo, o Partido mais novo. E esse Partido é obra e graça de V. Exª, que é o seu pai e a sua mãe. Eu perguntava aqui ao nosso companheiro médico se esse fenômeno se chamava de partogênese, e ele dizia “Não, deve ser autogênese.” Na realidade, seja qual for, V. Exª é o pai e a mãe. É um Partido que nasce sob essa sua vitalidade. Tem hora que essa vitalidade nos dá vontade de esganá-la, mas respeito. Outras horas, brincamos, e V. Exª promete que vai me fuzilar, mas que, primeiro, vai expropriar todos os meus bens. Sei que tudo isso é uma forma carinhosa de aqui lidarmos, sabendo viver como opositores, mas opositores que se respeitam. Eu respeito muito V. Exª. Por essa razão, quero louvar e saudar a vinda do P-SOL, um filho seu que, se Deus quiser, vai ter sucesso como V. Exª teve até hoje. Quem quiser, vá fazer a trajetória que V. Exª fez. É uma trajetória difícil que lhe tem custado - eu, que sou seu vizinho, vejo - todas as suas horas de lazer, às vezes, causando até o seu definhamento físico. Quantos quilos V. Exª já não perdeu nessa luta infinda? Mas, graças a Deus, raia o sol: é o seu P-SOL. Parabéns.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Obrigada pela delicadeza, Senador Ney Suassuna.

Enfim, é somente para agradecer mesmo. Agradeço, Senador Mão Santa, pela generosidade de V. Exª também.

Sei o quanto foi difícil. Todo esse processo foi muito difícil, mas, como disse o Senador Geraldo Mesquita, contamos, todo o tempo, com a generosidade de mulheres e homens, crianças, idosos e jovens espalhados pelo Brasil, que foram parte essencial para que conseguíssemos agora, humildemente, entregar ao povo brasileiro um instrumento de luta a serviço das causas mais belas e nobres vinculadas ao socialismo e à democracia.

O P-SOL não é o santuário, o dono da verdade absoluta. Ele nasce pequenininho, como uma semente. Não é um partido nanico que funcionará como moeda de troca nos jogos sórdidos eleitorais. Jamais almejará ser um partido grande se tiver que vender a alma para ser aceito no convescote do poder. Mas humildemente se predispõe a ser um instrumento de luta a serviço da grande maioria da população brasileira, a serviço da nossa classe, a classe trabalhadora.

Eu estou muito feliz com este momento, muito agradecida a todos as pessoas que foram parte essencial na construção desse processo. Os militantes de base, do P-SOL e pessoas que nunca tinham vivenciado construção partidária, que só tinham mesmo o coração partido, não queriam saber de partido nenhum e que mesmo assim foram capazes de, pelo espírito democrático, pela generosidade, nos auxiliar nesse processo.

Quando eu soube, eu estava em Juazeiro do Norte, Senador Pedro Simon, pois há mais de cinco anos que vou com os padres da minha infância, lá de Palmeiras, para a procissão de Nossa Senhora das Dores, no dia 15. Então, não conseguia receber recado de ninguém porque estava sem celular, sem nada. Quando eu recebi, eu pensei logo, vou ligar para o Carreiro e para a Claudinha e dizer a eles que agora não precisam mais ficar desesperados com essa história da liderança - todos nós sabemos que acabou se concretizando a Liderança até por um gesto simbólico do Senador José Sarney, que estabeleceu a Liderança do P-SOL, porque eu era Líder de mim mesma aqui. Depois, com o Senador Geraldo Mesquita, um lidera o outro aqui.

O mais importante é isto, agradecer. Não guardamos mágoa nem rancor do processo que vivenciamos. Tudo é aprendizado para cada um de nós. Esse processo nos dará os mecanismos necessários para evitar que o P-SOL se transforme numa estrutura degenerada, burocratizada que, cedo ou tarde, se vende para se conciliar com o neoliberalismo e com o poder. Portanto, este é um momento de muito agradecimento. Agradeço, de todo o coração, às mulheres e aos homens de bem e de paz espalhados pelo Brasil que foram essenciais para que pudéssemos construir este instrumento a serviço do socialismo, da democracia, que é o nosso P-SOL.

Sr. Presidente, Senador Mão Santa, agradeço também a sua generosidade, porque sei que V. Exª deixou ultrapassar bastante o meu tempo. Agradeço, de coração, aos Senadores por todos os apartes.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/09/2005 - Página 31319