Discurso durante a 168ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários a denúncias publicadas na imprensa envolvendo o Governo Lula.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. SEGURANÇA NACIONAL.:
  • Comentários a denúncias publicadas na imprensa envolvendo o Governo Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 29/09/2005 - Página 33358
Assunto
Outros > PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. SEGURANÇA NACIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ACUSAÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, FAVORECIMENTO, DEPUTADO FEDERAL, OBJETIVO, OBTENÇÃO, APOIO, NATUREZA POLITICA, ELEIÇÃO, CANDIDATO, EXECUTIVO, PRESIDENCIA, CAMARA DOS DEPUTADOS.
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, TRECHO, ENTREVISTA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PERIODO, GESTÃO, FERNANDO COLLOR DE MELLO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, CRITICA, ATUAÇÃO, CHEFE DE ESTADO.
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ANUNCIO, DECISÃO, GOVERNO FEDERAL, IMPLEMENTAÇÃO, PARTE, PROGRAMA NACIONAL, ATIVIDADE ESPACIAL, AGILIZAÇÃO, PROJETO, MONOPOLIO ESTATAL, SISTEMA, SATELITE, APOIO, SETOR, AREA ESTRATEGICA, GESTÃO, TRAFEGO AEREO, METEOROLOGIA, DEFESA, SEGURANÇA NACIONAL, VIGILANCIA, REGIÃO AMAZONICA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Encaminho à Mesa pronunciamento, Sr. Presidente, com três itens principais. O primeiro é - claro - corrupção. Não é possível falar deste Governo sem falar de corrupção. Seria um contra-senso.

O segundo é uma denúncia de O Estado de S. Paulo de que o Governo estaria “doidivanamente” - não sei se estou criando uma palavra, porque doidivanas existe, mas “doidivanamente” não sei - recriando as teles. É duplamente um perigo. Implica retrocesso na economia e daria para fazer um aparelhamento com repercussões funestas para tudo o que temos neste País de bom, de produtivo e de promissor.

E o terceiro é uma denúncia muito séria do jornalista Etevaldo Siqueira, do Estadão, que diz que o Governo está apressando um megaprojeto de satélite que custará US$1,5 bilhão. Seria um satélite geoestacionário, e o jornalista não entende por que há tanto urgência nisso, pois há mais de 50 satélites geoestacionários.

Portanto, peço a V. Exª que solicite a inserção nos Anais do Senado deste material, na íntegra, que lhe encaminho e que trata deste três itens: primeiro, o de praxe, corrupção; segundo, tentativa de reestatizar as teles; e terceiro, a denúncia de Etevaldo Dias, sobre algo que pode bem ser uma farra, o megaprojeto de satélite geoestacionário, orçado em US$1,5 bilhão.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO DO SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO

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           O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quem ouviu ontem a Délis Ortiz, no noticiário da noite, ficou, no mínimo estarrecido. Eu a ouvi e vi, a Nação inteira também viu e ouviu. Todos nós quase chegamos a duvidar que pudesse ser verdadeiro o que estava sendo veiculado. Pior é que é!

           A cena brasileira ainda não se purificou, as CPIs prosseguem investigando e, de chofre, vem a dura frase, dura frasex, sed frasex:

           O Presidente Lula jogou pesado para tentar eleger o novo Presidente da Câmara!

           Tem mais coisa, mas basta esta frasex, para mostrar que nem chá de camomila consegue segurar a destemperança presidencial.

           Hoje cedo, tudo confirmado, repisado, em letras de forma nos jornais, tudo muito explicado ou, como diz o articulista Clóvis Rossi, na Folha: Cenas explícitas de despudor.

           Quem diria, oh tempora, oh mores! Um Presidente da República explicitamente tentando corromper a Câmara dos Deputados, tentando comprar votos...

           Não foi exatamente por causa disso que aí estão as três CPIs?

           Ainda mais estarrecido, li logo cedo os jornais diários. A Nação toda, também estarrecida, leu as manchetes do dia.

           Pego uma ao acaso:

           Quarta-feira, 28 de Setembro de 2005 O Estado de S. Paulo

           LULA PROMETE MAIS R$ 1 BILHÃO

           E CARGOS PARA ELEGER ALDO

           Presidente obtém apoio do PL para 1° turno e

           Ajuda do PTB no 2°, com promessa de devolver

           postos retirados por conta da crise.

           O que se pode depreender de toda essa lama, quando tudo está tão explícito?

           A história se repete e tudo é tramado e vem da tornearia ali do outro lado da Rua. Será que essa gente não aprende?

           Pelo jeito, não. E ainda ontem, diante dos nossos judocas campeões mundiais, mais besteira, com a frase, como sempre grotesca, com que Lula se deixou revelar no mínimo desatento ou troglodita de caverna, a ponto de confundir tudo, diante dos judocas. Ele disse aos campeões que estaria pronto para entrar no tapume. Eu prefiro tatame. E imagino que seria difícil ao Lula se equilibrar num tapume. Só peço que ele não vá com o uniforme que vestia ontem.

           Estou achando que o noticiário de hoje, como o de ontem, é mais do que explícito. Revela uma confissão do Presidente. Essa falta de pejo, por si só, já mereceria a atenção do Ministério Público. É confissão pública.

           Enquanto o MP não vem, a voz do povo vem na frente.

            E a Voz do Povo é a Voz de Deus.

           Ainda ontem lembrei aqui de Vieira, o Padre Antonio Vieira, com seus ensinamentos sempre atuais.

           Relembro-o rapidamente também nesta tarde, para dizer:

           Quando um dirigente governamental deixa de lado as quatro letras com as quais se escreve a palavra Deus, ele também se distancia do Povo, outra palavra com quatro letras, e se distancia, por conseqüência, do País, igualmente de quatro letras.

           A Voz do Povo é refratária à corrupção, hoje infelizmente uma rotina do outro lado da Rua. A Voz do Povo não tem blog nem outros desses meios de propagação eletrônica. Mas está de olho na tornearia!

           Ontem, chegou ao meu Gabinete um e-mail de uma pessoa simples de Natal, de uma pessoa desblogada, mas que, por e-mail, me chamou a atenção para a reportagem da Delis Ortiz.

           O e-mail é de Regina Castanheira, que mora nas Rocas, um bairro simples da classe média sofrida, que o Líder Agripino me disse ser um bairro bem representativo de comunidades brasileiras de quaisquer outros pontos do País.

           O bairro das Rocas, explica o Senador José Agripino, é o lugar onde Nasceu a cidade do Natal, às margens do Rio Potengi.

           Portanto, essa mensagem eu a converto para uma espécie de bloc, o Blog das Rocas, que traduz o sentimento sufocado e o desalento do povo.

           Desalento hoje é o que não falta. Das Rocas ao Bagé do Rio Grande do Sul. Do Rio Grande ao Grande Rio. Do Paraná ao Amazonas.

           Em todos esses pontos, houve, às vésperas de 2003, um princípio de esperança, que logo se desfez, com o esgarçamento da Administração Petista do Presidente Lula, que vai passar à história como o Governo do Quatriênio Perdido.

           Faço um parênteses para ler a versão escrita de uma entrevista de áudio, com Lula condenando tudo o que, depois, veio, ele próprio, a instrumentar no Brasil.

           MÍLTON NEVES (comentarista esportivo, que já foi da Rádio Jovem-Pan)) ENTREVISTA LULA, EM 1993

           M.N. - Meu negócio é futebol, meu negócio não é política. É a primeira vez que falo com você, lado a lado. Mas me diga uma coisa, uma curiosidade que tenho. Lula, Luiz Inácio Lula da Silva, você tem pena de Fernando Afonso Collor de Mello?

           LULA - Tenho... não é que tenho pena. Como ser humano, acho que uma pessoa que teve a oportunidade que aquele cidadão teve de fazer alguma coisa de bem para o Brasil, um homem que tinha o respaldo da grande maioria do povo brasileiro, e ao invés de construir um governo construiu uma quadrilha como ele construiu, me dá pena, porque deve haver qualquer sintoma de debilidade no funcionamento do cérebro do Collor. Efetivamente, fico com pena, porque acho que o povo brasileiro esperava que essa pessoa pudesse pelo menos conduzir o País, senão a soluções definitivas, pelo menos a indícios de soluções para os graves problemas que nós vivemos. Lamentavelmente, a ganância, a vontade de roubar, a vontade de praticar corrupção, fez com que o Collor jogasse o sonho de milhões e milhões de brasileiros por terra. Mas de qualquer forma, eu acho que foi uma grande lição que o povo brasileiro aprendeu e eu espero que o povo brasileiro, em outras eleições, escolha pessoas que pelo menos eles conheçam o passado político.

           O que houve? O feitiço virou contra o feiticeiro?

           Prossigo com a Voz do Povo:

           Que surjam outros blogs como o das Rocas. O povo quer se expressar. É a Voz do País e, portanto, a Voz de Deus.

           Justificou: a todo instante, a nossa população é surpreendida com notícias repletas de pontos de interrogação.

           Pego o Estadão de hoje e leio, logo no alto, manchetes de bilhões. Bilhões dos dois lados.

           De um lado, à esquerda, a notícia do bilhão que vai virar mensalão nessa frenética corrida pela Presidência da Câmara.

           Pelo menos é o que pensa o povo.

           Do outro lado, à direita, outra farra do boi. R$l bilhão e meio, para um megaprojeto estatizante do Presidente Lula. Mega e secreto. E se é secreto, já estou providenciando um requerimento à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, para que o Governo, mesmo que seja em sessão secreta, venha, explicar o significado disso que, por ora, não sei se é um megaprojeto ou se é mais uma megalomaia do Governo Lula.

           Desde logo, estou anexando a este pronunciamento a primeira página do jornal O Estado de S. Paulo de hoje e a página A-14, com a notícia do projeto que tem tudo de estatizante, inclusive a idéia de ressuscitar a Telebrás. Talvez visando aos cargos para petistas.

           A revelação desse plano mirabolante é assinada pelo jornalista Ethevaldo Siqueira, um especialista nessa área. Pela credibilidade desse repórter, que o Brasil conhece e admira, as informações têm tudo para que sejam consideradas verdadeiras.

           Comecei com Delis Ortiz. Termino com Ethevaldo Siqueira. O conteúdo é o mesmo: a perplexidade dos brasileiros.

           Era o que eu tinha a dizer.

           Muito obrigado.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Anexos”;

“Clóvis Rossi”;

Lula promete mais R$1 bilhão e cargos para eleger Aldo”.

            ANEXOS

Quarta-feira, 28 de Setembro de 2005

            Governo apressa megaprojeto de satélites que custará US$ 1,5 bi

            Pedido de informações enviado a fornecedores, a que o 'Estado' teve acesso, indica interesse em começar programa até o ano que vem

            Ethevaldo Siqueira

Um projeto estatal maior que o Sistema de Vigilância da Amazônica (Sivam) - podendo custar ao País mais de US$ 1,5 bilhão - está em marcha acelerada. Os maiores fornecedores mundiais de tecnologia, equipamentos e sistemas de satélites geoestacionários receberam recentemente do governo brasileiro um documento 34 páginas, formalizando o pedido formal de informações (Request for Information, RFI) sobre o projeto do Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB). Com base no documento, a que o Estado teve acesso com exclusividade, conclui-se que o governo quer tornar irreversível o processo de implantação do projeto até 2006.

            Embora o País já conte potencialmente com mais de 50 satélites geoestacionários autorizados a operar em seu território, o governo brasileiro, por intermédio do Comando da Aeronáutica, defende a necessidade de levar avante o megaprojeto que prevê o lançamento de três satélites - sendo o primeiro deles em 2009.

            O documento distribuído aos potenciais fornecedores internacionais solicita informações e comentários que permitam o aprimoramento do projeto do SGB - denominado também Sistema de Satélites de Múltiplas Missões. Esses satélites darão apoio a vários setores governamentais em áreas e aplicações como gerenciamento de tráfego aéreo, meteorologia, aplicações estratégicas nacionais, defesa, segurança nacional e vigilância da Amazônia.

            Além desses objetivos, o projeto prevê a construção de centros e redes com outros objetivos, como: centro de controle de tráfego aéreo, rede de sistema de navegação via satélite (GPS), rede terrestre de circuitos de comunicações, redes terrestres e terminais móveis para cada aplicação e, finalmente, a construção de infra-estrutura, incluindo telefonia, energia e ar condicionado.

            TRÊS SATÉLITES

            No projeto inicial, era previsto o lançamento de dois satélites geoestacionários, com custo orçado em US$637 milhões apenas no segmento espacial. Esse investimento deveria ser ressarcido em cerca de cinco anos, com base na suposta economia no pagamento dos serviços telefônicos e outros serviços de telecomunicações pela União.

            Na fase atual, o projeto prevê o lançamento de três satélites, elevando o investimento no segmento espacial - incluindo satélites e foguetes lançadores -, que poderá chegar próximo de US$1 bilhão. A esse montante, deve ser adicionado o investimento na infra-estrutura terrestre, que envolve centros de controle e estações terrestres, elevando o custo total do projeto a mais de US$1,5 bilhão.

            Segundo especialistas que trabalham no projeto, o satélite geoestacionário atenderá às necessidades dos serviços de trafego aéreo, "com base em acordos internacionais e aplicações tecnológicas existentes" - além de ser utilizado em comunicações para fins de segurança nacional e defesa civil, entre outras. O satélite poderá operar em conjunto com dispositivos como sensores meteorológicos.

            Os dois primeiros satélites deverão dispor de bandas de freqüência C (largamente utilizadas para TV e telefonia), banda L (comunicação móvel) e banda X (comunicações militares). O terceiro satélite deverá contar com transponderes em banda Ku (para altas freqüências, de 14 e 12 GHz), competindo diretamente com os satélites comerciais privados, além de sistemas produtores de imagens meteorológicas de redundância do satélite americano GOES.

            Nos estudos de viabilidade econômica, foram considerados praticamente todos os gastos com telefonia e outras formas de telecomunicações das repartições públicas federais, Forças Armadas, de empresas estatais, governos estaduais e municipais. Esses serviços, hoje providos por empresas privadas de telecomunicações, deverão ser atendidos pelo SGB, em áreas como as de comunicações aeronáuticas, coleta e difusão de informações meteorológicas, comunicações militares e de segurança nacional.

            O programa SGB faz parte do Programa Nacional de Atividades Espaciais, aprovado pela Agência Espacial Brasileira (AEB). A Atech Tecnologias Críticas - integrada por militares reformados - foi a empresa responsável pelo projeto de viabilidade do SGB, conforme contrato com a Aeronáutica. Seu presidente é Tarcísio Takashi Muta. A Atech trabalha agora na especificação, em parceria com a Fundação Casimiro Montenegro, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) e o Centro Técnico Aeroespacial (CTA).

            INTERCÂMBIO

            Além da prestação de serviços para a área estatal, os autores do projeto apresentam as vantagens e objetivos que, em sua opinião, justificariam o investimento. Essas vantagens se resumem ao desenvolvimento de competência brasileira em pelo menos três áreas estratégicas: tecnologia espacial, telecomunicações e meteorologia.

            Um dos pontos de apoio tecnológico é a experiência da Atech, cuja competência não é posta em dúvida por ninguém nas áreas especializadas. A empresa, com 500 funcionários, é responsável pelo desenvolvimento de sistemas que controlam 90% do espaço aéreo brasileiro.

            Por seu trabalho em projetos estratégicos como o do Sivam, a Atech deverá ter papel relevante na absorção de tecnologia, tanto na área de satélites, de infra-estrutura de comunicações terrestres e foguetes lançadores. Nesse intercâmbio com os fornecedores e organismos internacionais, argumentam os defensores do projeto, "o Brasil deverá absorver conhecimento e competência em projetos de telecomunicações espaciais", beneficiando instituições como o CTA, a Base de Lançamentos de Alcântara, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a própria Atech.

É claro que os maiores argumentos em favor do SGB dizem respeito à soberania do Brasil e a questões estratégicas e de segurança, já que, na visão dos líderes do projeto, "o País precisa reduzir seu grau de dependência de tecnologias importadas, em especial numa era em que a tecnologia da informação e do conhecimento desempenha papel crucial e decisivo".

Quarta-feira, 28 de Setembro de 2005

            Telebrás poderia ser ressuscitada pelo Planalto

O projeto do Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB)suscita reações contraditórias entre os especialistas. No governo, ninguém quer falar sobre alguns pontos mais delicados do projeto, como o da operação do sistema. Esse é o grande mistério.

            Para tanto, o Brasil teria que criar uma empresa estatal com perfil bastante complexo e diversificado, não apenas para cuidar das telecomunicações civis, comunicações militares e aeronáuticas e vigilância da Amazônia, além de atividades de meteorologia e atividades científicas.

            Em fins de 2003, surgiu o plano de ressuscitar a Telebrás, com apoio entusiástico do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, de políticos da base de sustentação do governo Lula, de sindicalistas e de todos os que combateram a privatização das telecomunicações no governo de Fernando Henrique Cardoso.

            Outra questão difícil é justificar investimentos superiores a US$1,5 bilhão diante da oferta e da disponibilidade cada dia maiores de serviços de telecomunicações e de satélites privados - brasileiros e internacionais.

            Na verdade, o País já atende plenamente à demanda de telecomunicações das áreas governamentais.

            No tocante às áreas militares e de segurança nacional, o País tem contado, até aqui, com a banda X dos satélites da Embratel, hoje operados por sua subsidiária, Star One.

            Até recentemente, o SGB contava com o apoio ostensivo do ex-ministro José Dirceu, especialmente quanto à reativação da Telebrás.

Embora sem patrimônio, a antiga estatal das telecomunicações não foi extinta, permanecendo como uma mera personalidade jurídica nas gavetas de Brasília.

            CLÓVIS ROSSI

Cenas explícitas de despudor

            SÃO PAULO - Talvez se possa dizer da grande maioria da atual Câmara dos Deputados o que se dizia dos Bourbon: não esquecem, mas não aprendem.

            Todos dizem estar conscientes de que o Parlamento vive seu pior momento em termos de credibilidade. E a repulsa do eleitor é totalmente justificada, depois do mensalão e do mensalinho.

            Não obstante, os nobres representantes do povo insistem em repetir as piores condutas e em orgulhar-se dos seus piores momentos. Um dos candidatos à presidência da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), faz até elogios a Severino Cavalcanti, esquecendo-se de que ele acaba de renunciar para não ser cassado por falta de decoro. Quem tem um ídolo como esse já está confessando quem é.

            Nem por isso deixa de ter chances de eleger-se e tornar-se, assim, segundo na linha de sucessão.

            Como se fosse pouco, há a terrível ameaça de juntarem-se três partidos apanhados em cenas explícitas de falta de decoro para ver se conseguem a presidência.

            Refiro-me a PTB, o já indigitado PP e PL. Vejamos a ficha desses partidos: o PTB é o partido que Roberto Jefferson presidia. Cassado por falta de decoro. Quem elege para chefiá-lo um cidadão com esses predicados boa coisa não pode ser.

            O PP é o partido não só de Severino, mas também de Paulo Maluf, ora preso, e de Pedro Henry, de José Janene e de Pedro Corrêa, os três últimos figuras maiúsculas no escândalo do mensalão, mas nem por isso menos dirigentes do PP.

            O PL é o partido ainda presidido por Valdemar Costa Neto, outro que fugiu do mandato para não ser cassado, para não mencionar outros deputados igualmente na fila de espera para cassação.

            A decência básica exigia que tais partidos buscassem algum recato. Nada: exibem-se impudicamente, coerentes de resto com o passado.

            Pena que há poucas chances de terem a mesma sorte dos Bourbon.

Quarta-feira, 28 de Setembro de 2005

            Lula promete mais R$1 bilhão e cargos para eleger Aldo

            Presidente obtém apoio do PL para 1.º turno e ajuda do PTB no 2.º, com promessa de devolver postos retirados por conta da crise

            João Domingos

            Colaborou: Tânia Monteiro

O governo pôs ontem à disposição do candidato do Palácio do Planalto à presidência da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), toda a artilharia pesada de que dispõe. Para vencer a eleição, que começa às 10 horas de hoje, prometeu liberar R$1 bilhão para o Ministério dos Transportes - depois de ameaçar tomar a pasta do PL - e anunciou ao PTB que devolverá postos importantes retirados depois da crise gerada pelas denúncias de Roberto Jefferson (PTB-RJ). Com isso, ganhou o apoio do PL, já no primeiro turno da disputa, em negociação direta com o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, e garantiu a ajuda do PTB no segundo.

            "Estou pronto para a briga", avisou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao receber ontem um quimono de presente, no Planalto. A afirmação, diante de um grupo de judocas que ganhou medalha de ouro no campeonato mundial realizado há duas semanas no Cairo, Egito, foi interpretada como referência à eleição que definirá o sucessor do ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE).

            Depois de se referir à briga, Lula arrancou gargalhadas dos atletas trocando as palavras "tatame" por "tapume": "Estou pronto para entrar no tapume."

            Para garantir a ida de Aldo para o segundo turno, o Planalto mandou cinco ministros para o Congresso. Deram expediente os titulares da Saúde, Saraiva Felipe, das Comunicações, Hélio Costa, do Turismo, Walfrido Mares Guia, do Planejamento, Paulo Bernardo, e da Previdência, Nelson Machado.

            Um presidente da Câmara aliado ao governo representa a certeza de que medidas provisórias não serão devolvidas e projetos de interesse do Planalto vão ser incluídos na ordem do dia. Além disso, pode assegurar maior controle sobre relatores de comissões e sobre CPIs.

            Correu ontem a informação de que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, telefonaria a Michel Temer (SP), candidato do PMDB, para lhe oferecer uma vaga na Corte em troca da sua desistência. Temer ironizou: disse que já tem um aluno no STF, o ministro Ayres Brito.

            PROPINA

            A sucessão de Severino - que renunciou na semana passada, depois de ser acusado de cobrar propina do empresário Sebastião Buani - é a mais disputada eleição da história da Câmara. Também a primeira por causa da desistência do titular.

            Concorrem 10 candidatos: Alceu Collares (PDT-RS), Aldo Rebelo, Ciro Nogueira (PP-PI), Francisco Dornelles (PP-RJ), Jair Bolsonaro (PP-RJ), João Caldas (PL-AL), José Thomaz Nonô (PFL-AL), Luiz Antonio Fleury Filho (PTB-SP), Temer e Vanderlei Assis (PP-SP).

            Destes, teriam chances de ir para o segundo turno apenas Aldo, Nonô e Nogueira. Este último é o candidato de Severino, que passou o dia ao telefone, pedindo votos para seu pupilo. Nogueira pode surpreender, agregando os votos do baixo clero.

            "Dessa vez o governo não está cometendo os erros da eleição passada. Não tenho dúvidas de que o candidato Alto Rebelo já está no segundo turno", comentou o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), um ferrenho adversário do Palácio do Planalto.

            Para a deputada Yeda Crusius (PSDB-RS), ao pressionar PL, PP e PTB, o governo do presidente Lula "reeditou a coligação do mensalão".

            ARTICULANDO: Um dos principais acusados do caso do mensalão, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto (PL-SP), que renunciou ao mandato em agosto, participou diretamente das negociações pelo apoio de seu partido ao deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP). Valdemar foi ao Palácio do Planalto com o líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO). Os dois foram recebidos pelo ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner.

            O PL diz que perdeu espaço com a saída do vice-presidente José Alencar - que deve ingressar no PMDB mas continua no Ministério da Defesa. A dupla citou, como opções, os Ministérios da Educação ou da Previdência.

            Enquando Costa Neto e Mabel pediam mais espaço no primeiro escalão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentava resolver outra pendência com o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, também do PL: a liberação de recursos para estradas federais que estão em condições precárias. O ministro tentou minimizar a negociação afirmando que há cerca de 15 dias falara com Lula sobre a liberação de pelo menor R$680 milhões.

"São obras já iniciadas e importantes", disse o ministro que se reuniu no início da noite com Aldo Rebelo depois de participar do ato de apoio ao candidato do governo. Segundo ele, na sua conversa de hoje, Lula quis saber como PL se comportaria na eleição da Câmara. "O bom senso prevaleceu, mas isso não tem relação com a liberação dos recursos pois não sei quando e quanto vai sair", completou. "Se puser o nosso ministério para funcionar já é um avanço", completou Mabel, acrescentando que as negociações com Aldo começaram no fim de semana.

Estou cada vez mais convencido da minha inocência', diz Dirceu

Em novo depoimento no Conselho de Ética, ex-ministro afirma que não pode ser responsabilizado por erros cometidos pelo PT

PT trocou militância por poder a qualquer custo, diz Valente

            São Paulo - "O PT tinha condições de mudar a lógica da governabilidade e não fez", disse o deputado federal Ivan Valente, 59 anos, em entrevista ao Programa do Jô. Valente criticou o PT, partido que ajudou a fundar há 25 anos, dizendo que a legenda deixou a militância petista para chegar ao governo a qualquer custo.

            Valente lembrou que, além de obter 52 milhões de votos, Lula, quando venceu as eleições de 2002, tinha apoio popular de 92%. Esse respaldo, na opinião do parlamentar, dava credibilidade a Lula para promover as mudanças que o partido "incendiou no imaginário popular".

            No lugar disso, lembra Valente, o PT optou pela política da continuidade, "além dos mensalões, mensalinhos e do hipermensalão, que é o pagamento dos juros da dívida pública brasileira". Valente é mais um petista histórico que deixou a legenda. Ele ingressará no PSOL, partido formado por ex-membros do PT que, assim como ele, pertenciam à ala considerada radical da legenda.

            Adriana Cardoso

PL quer Educação ou Previdência por apoio a Rabelo

            Sucessão na Câmara

            Brasília - Um dos principais acusados do caso do mensalão participou diretamente das negociações que garantiram o apoio do PL à candidatura do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP). O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que renunciou ao mandato de deputado para evitar a cassação, esteve no Palácio do Planalto na companhia do líder do partido na Câmara, Sandro Mabel (GO). Os dois conversaram com o ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner. A dupla citou especificamente os Ministérios da Educação ou da Previdência como opções desejadas pelo PL.

            Os dirigentes do PL argumentam que perderam espaço com a desfiliação do vice-presidente José Alencar, que deve ingressar no PMDB mas continua no comando do Ministério da Defesa.

            Enquanto Costa Neto e Mabel pediam mais espaço no primeiro escalão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentava resolver outra pendência com o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, também do PL: a liberação de recursos para estradas federais que estão em condições precárias.

            O ministro tentou minimizar a negociação afirmando que há cerca de 15 dias falara com Lula sobre a liberação de pelo menor R$680 milhões. "São obras já iniciadas e importantes", disse o ministro que se reuniu no início da noite com Aldo Rebelo depois de participar do ato de apoio ao candidato do governo.

            Segundo ele, na sua conversa de hoje, Lula quis saber como PL se comportaria na eleição da Câmara. "O bom senso prevaleceu, mas isso não tem relação com a liberação dos recursos pois não sei quando e quanto vai sair", completou. "Se puser o nosso ministério para funcionar já é um avanço", completou Mabel, acrescentando que as negociações com Aldo começaram no fim de semana.

Cida Fontes

Quarta-feira, 28 de Setembro de 2005

            PP pagou viagem de Jobim para São Paulo

            Ministro do STF não quis comentar se considerava ético aceitar convite do partido

            Diego Escosteguy, Marcelo de Moraes e Mariângela Gallucci

Autoridade máxima do Poder Judiciário no País, o ministro Nelson Jobim viajou de Brasília a São Paulo e ficou hospedado num hotel 5 estrelas a convite do Partido Progressista (PP), pouco antes de ser empossado como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), em maio do ano passado. Bancado pela sigla cujos dirigentes acumulam vários inquéritos no STF, Jobim foi à capital paulista participar de um seminário sobre economia, promovido pela legenda.

            As despesas com a viagem de Jobim estão registradas em faturas do PP obtidas pelo Estado. Elas foram confirmadas tanto pelo presidente do STF quanto pela presidência do partido.

            Além dos processos que já corriam à época do seminário, a mais alta Corte do País é crucial para o destino dos dirigentes do PP no caso do mensalão. Os quatro deputados do partido que estão na fila de cassação da Câmara - Pedro Corrêa (PE), José Janene (PR), Pedro Henry (MT) e Vadão Gomes (SP) - jogam seu futuro político nas decisões do STF.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/09/2005 - Página 33358