Discurso durante a 178ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do Dia das Crianças e do Dia dos Professores.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.:
  • Comemoração do Dia das Crianças e do Dia dos Professores.
Aparteantes
Demóstenes Torres.
Publicação
Publicação no DSF de 12/10/2005 - Página 34913
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, CRIANÇA, PROFESSOR.
  • COMENTARIO, POLITICA SOCIAL, GOVERNO, EXPECTATIVA, FUNDO DE DESENVOLVIMENTO, EDUCAÇÃO BASICA, CRITICA, EXTINÇÃO, LEGIÃO BRASILEIRA DE ASSISTENCIA (LBA), FALTA, RECURSOS, CRECHE, PREJUIZO, FORMAÇÃO, CRIANÇA, DIFICULDADE, ATENDIMENTO, GOVERNO MUNICIPAL.
  • CRITICA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), DEMORA, CONCESSÃO, AUDIENCIA PUBLICA, PROFESSOR, GREVISTA, NECESSIDADE, VALORIZAÇÃO, EDUCAÇÃO.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senadora Serys Slhessarenko, que preside esta sessão, Senadoras e Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, hoje o meu Partido, por intermédio do grande Líder Ramez Tebet, fez uma saudação às crianças e às professoras. Senador Demóstenes, como o nosso Senador e Professor Cristovam Buarque sempre repete, são os pilares do futuro. Mas esse futuro está comprometido. Bastaria, Senadora Serys Slhessarenko, que se observassem as palavras de Cristo - e quis Deus que estivesse V. Exª, como professora, presidindo esta sessão e presente Magno Malta, ele que é um homem de muita fé, ligado à mensagem de Cristo. Eu faria nossas aquelas palavras de Cristo, Senador Ramez Tebet. Bastaria isso. Não seria necessário o Estatuto da Criança e do Adolescente não. Bastaria isto: consolidar este País cristão.

Magno Malta, “vinde a mim as criancinhas”; “ai daquele que escandalizar uma criança” - disse Cristo. Demóstenes, “é melhor colocar no pescoço uma pedra atada e se lançar no fundo do mar”. Magno Malta, “para entrares no Reino dos Céus, faça como uma criança”. Bastaria isso o Governo aprender. Eles não vão ler esse negócio de Estatuto da Criança e do Adolescente. Eles não vão ler. O Presidente da República disse que não gosta de ler. Então, ele não vai ler o Estatuto. Mas essa mensagem de Cristo, pelo menos nos templos, eu acho que talvez ele possa ouvir. Será que ele não gosta também de ouvir? É só de falar, falar e falar? Como foi o nome que ele disse? Urucubaca. Será que tem uma urucubaca lá no Alvorada, que não entra nem essa mensagem simples de criança?

Mas, Senadora Serys Slhessarenko, V. Exª é a estrela deste PT que está aí: é professora. Atentai bem, ó Lula! O Presidente da República tem; Vossa Excelência o é. Senadores e Senadoras, temos. Banqueiros e milionários têm, Lula, pois estão mais enriquecidos no seu Governo, assim como fazendeiros, fazendários, políticos e empresários. Lula, a Humanidade só chama de Mestre aos professores - não chama Presidente, não chama general.

Mestre! Esta é a maior homenagem, que não chega aqui. E as crianças, Senadora Serys? Esse negócio de Fundef foi do ex-Ministro Paulo Renato. Eu não sou tucano; quem é tucano é o Senador Demóstenes Torres.

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Sou pefelista.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É pefelista, é porque eles são irmãos gêmeos, são irmãos siameses. O Paulo Renato foi um bom Ministro e criou esse Fundef. Agora, o Governo implanta o Fundeb, uma solicitação nossa, dos Governadores de Estado. Uma inspiração nossa; não do Fernando Henrique, nem do Luiz Lula Paz e Amor sem Letras. Não foi, porque eles consolidaram os recursos para o ensino, o antigo Primário e Ginásio do nosso tempo, Senador Ramez Tebet. E é claro que o Ensino Médio, o antigo Científico, Clássico, Normal, é até mais dispendioso, por causa do currículo, da carga horária, da diversidade de matérias. E como mantê-lo se não havia dinheiro para tal? Criaram o Fundeb - reivindicação nossa, dos Governadores, mas acontece que não tem mais dinheiro algum para as creches. Acabou!

Senador Antonio Carlos Valadares, é como Charles de Gaulle disse: “Este não é um país sério!”. É, Senador Ramez Tebet, ele disse isso mesmo. Não tem negócio de dizer que ele não disse; ele disse. E o pior, Senador Ramez Tebet, o de Gaulle profetizou os dias de hoje. Ele estava no Itamaraty em uma solenidade, Senadora Serys, Senador Ramez Tebet, e, em cinco minutos, foi apresentado a vinte generais. Charles de Gaulle, herói da Segunda Guerra Mundial, da Resistência francesa - na França, só há quatro generais; em guerra, cinco -, num instante, foi apresentado a vinte. Este é o nosso País, Senador Ramez Tebet.

E as creches da LBA? Eu fui prefeitinho, estou aqui porque tinha LBA. Acabaram, acabaram, acabaram! Antes, não havia problema. A Adalgisinha, minha mulher, era do serviço social. Ela pegava as creches, a LBA. Hoje, não há mais LBA. Então, na fase em que a criança é mais vulnerável, de três a seis anos, ela está desamparada, porque não existe mais creche. Colocaram essa responsabilidade para os prefeitos, mas eles, Senador Demóstenes, estão todos lascados, não estão? Como não têm condições, eles não as mantêm. Fecharam todas as creches. Há 25 milhões de crianças sem creche.

Atentai bem, Senador Rodolpho Tourinho. No nosso tempo, Bilac disse: “Criança! Não verás nenhum país como este!”. Senador Demóstenes, o que diria Olavo Bilac hoje? “Não verás nenhum país como este!”. Ele deve estar envergonhado com a corrupção, com a falta de virtudes. Um mar de lama, não; com oceanos de lama que existe na nossa política.

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Senador Mão Santa, permite-me V. Exª um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - A educação tem de ser de qualidade para todos.

Senador Demóstenes, concedo o aparte a V. Exª.

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Apenas para dizer que acho que Bilac diria: “Não verás país nenhum!”.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Não estou dizendo? O pai e a mãe do Senador Demóstenes colocaram o nome de S. Exª em homenagem ao grande orador grego. Mas o orador goiano já o superou, porque o outro era gago e este é sabido demais. Em poucos instantes, afirmou: “Não verá país nenhum!”.

Querida Professora Serys - e digo assim com sinceridade -, como as professores eram sorridentes, eram alegres, tinham esperança! Agora, há vinte dias, pedem uma audiência com o Ministro, que ninguém sabe o nome, que ninguém viu, que ninguém conhece. Ele é do PT. Eu não o conheço. Perguntei no Piauí e ninguém sabe quem é ele; perguntei ao Paulo Paim, ele também não o conhece. Tiraram o Cristovam Buarque, o outro que foi ser presidente do PT - que já depuseram - e colocaram um aí que olha o resultado: as professoras estão solicitando uma audiência há vinte dias - está aqui o documento. Que vergonha! A Serys vai falar depois e vai conseguir essa audiência. Está aqui o documento de greve: pedem uma audiência e o Ministro não recebe os professores. Que País é este, Bilac? Criança, não verás nenhuma indignidade como esta: um Ministro que não recebe os professores! Se ele, que é o Ministro da Educação, não recebe os professores, a quem vai receber, Serys?

            Eu vim de uma geração em que as professoras nos encantavam. Eu mesmo fiquei na porta de uma Escola Normal para buscar uma professora para me casar. E hoje elas estão decepcionadas, desestimuladas, desencantadas.

É verdade, o Ministro não as recebe. E o Presidente da República também não o demite, porque não sabe quem é ele, nunca o viu, nem o conhece. Eu já fiz um concurso e ninguém conhece esse Ministro. Conheciam o Professor Cristovam Buarque, que ele demitiu por telefone. O outro, com aquela mania de colocar derrotados no Ministério, ainda se conhecia, foi um Prefeito; mas, e esse?!

Professora Serys, nós queríamos que V. Exª garantisse a audiência do Ministro com os professores que estão em greve. A greve não é simples. Ó, Lulinha, 600 mil estudantes estão em greve, inclusive uma filha minha, Tourinho, a Daniela. Rapaz, que inspiração! Vir para cá e ver que a Universidade Federal é uma lástima! Estão em greve. Seiscentos mil estudantes é o número de alunos atingidos! Cinqüenta e cinco instituições federais de Ensino Superior! Aí está o resultado.

E mais, Professora Serys, Padre Antônio Vieira, que andou lá no Nordeste, disse, Demóstenes, que um bem nunca vem só, mas também uma desgraça nunca vem só. Nessas instituições federais de ensino, que estão em greve, há hospitais universitários, que atendem aos mais pobres, que estão na fila, sofrendo, desesperados, morrendo, humilhados, sacrificados. Quantos brasileiros estão nessa situação! E o Ministro não recebe o comando geral. O feitiço caiu com o feiticeiro. Lá no Piauí se diz isso, Demóstenes.

O Lula é PhD em fazer greve, ensinou a fazer greve. Agora, está todo mundo em greve, e ele não sabe como acabar com a greve. Está aí, isso é greve, estudante universitário.

Então, essas são as nossas palavras, Senadora Serys. E quis Deus que V. Exª estivesse presidindo esta sessão, para eu lhe dizer o seguinte: a educação tem de ser de qualidade. E falo, ó Lula, porque - ó Senador Augusto Botelho, desligue aí o telefone - criei no Estado do Piauí o maior desenvolvimento universitário, não do Brasil, mas do mundo. No último vestibular que presidi, havia 66.840 brasileiros inscritos nos 400 cursos, nos 32 campi universitários. Hoje, em Teresina - o exemplo arrasta -, há quatro faculdades de Medicina. Entendi, Senador Antonio Carlos Valadares - está aí na globalização; na Internet se vê -, que países com educação são saudáveis, ricos e felizes; se não têm educação, são pobres, doentes e infelizes. E estamos caindo na educação. Essa é a verdade, esse é o desespero.

Senadora Serys Slhessarenko, tenho o que ensinar. Eu era prefeitinho, que ninguém do núcleo duro foi e nem vai ser, porque não serão eleitos nem síndicos de edifício quando saírem daí.

            Recebi, Senador Demóstenes, um convite para ir para a Alemanha, de uma multinacional Merck Sharp & Dohme, do Piauí.

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Peço-lhe mais um minuto, Srª Presidente.

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Já lhe concedi quatro minutos a mais, mas lhe está concedido mais um minuto, Senador.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Em homenagem às professoras, e V. Exª representa bem essa classe sofrida e generosa.

Um quadro vale por dez mil palavras. Cheguei à Alemanha, prefeitinho da Parnaíba, do Piauí, e o meu intérprete era um diretor químico da Merck Sharp & Dohme, maior multinacional de medicamentos. Professor Demóstenes, eu andava na rua, parava o trânsito, e ele gritava “Professor Basedow!” e passava. Eu entrava em um restaurante, e ele gritava “Professor Basedow!”, e nos era dada a melhor mesa. No teatro, dizia “Professor Basedow!”, e a melhor cadeira do teatro nos era reservada. No meu jeito extrovertido, perguntei: “Venha cá, Basedow, você não é diretor químico da Merck, poderosa e rica?”. Ele disse: “É, mas o título mais honroso aqui na Alemanha é o de professor, e eu o era. Fui professor em Heidelberg, onde estudou Einstein. Depois, entrei, fiz concurso, sou diretor químico, poderoso e rico, mas o título mais honroso é o de professor. Eu me apresento e, para poder usar o título, eu tenho de, toda semana, dar uma aula de Química”.

E me levou a Heidelberg, uma cidade antiga. A Alemanha é nova, moderna, pois foi reconstruída após as guerras. Heidelberg é antiga. Ele disse: “Aqui, o mundo respeitou a educação e a universidade. Einstein!”.

            Esse é o quadro que eu queria...

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Então, são estas as nossas palavras, como disse Cristovam Buarque: que esses pilares do futuro sejam respeitados e protegidos, em homenagem principalmente às crianças! V. Exª as teve como mulher, mãe e professora. E que as professoras sejam protegidas, amparadas e respeitadas! Aí, sim, vamos dizer, como Bilac: “Criança, não verás país nenhum como este!”.

Obrigado, Srª Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/10/2005 - Página 34913