Discurso durante a 177ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração ao "Dia do Professor" e ao "Dia da Criança".

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.:
  • Comemoração ao "Dia do Professor" e ao "Dia da Criança".
Publicação
Publicação no DSF de 12/10/2005 - Página 34789
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, CRIANÇA, PROFESSOR.
  • AVALIAÇÃO, DESIGUALDADE REGIONAL, EDUCAÇÃO, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, CONCENTRAÇÃO, FACULDADE, MEDICINA, NECESSIDADE, AUMENTO, PLANEJAMENTO, DESCENTRALIZAÇÃO, INTERIOR.
  • DEFESA, VALORIZAÇÃO, PROFESSOR, AUMENTO, ASSISTENCIA, CRIANÇA.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero cumprimentar, em seu nome, Sr. Presidente, todas as autoridades aqui presentes, convidados, membros dos corpo diplomático e, principalmente, aqueles milhões de brasileiros que nos ouvem pela Rádio Senado e nos assistem através da TV Senado.

Olhando o painel que lustra esta sessão - Dia da Professor e Dia da Criança -, vemos que inverteram as datas. É uma pergunta a fazer: o que será mais importante, o professor ou a criança? A criança sem professor teria futuro? O professor sem criança para educar teria significado? É uma inversão talvez inadvertida que nos leva a fazer um pouquinho de reflexão.

Sr. Presidente, como muitos aqui quero me pronunciar na qualidade de professor da modesta Universidade Federal de Roraima, que tem apenas 15 anos de existência, e cuja lei de criação é de minha autoria, quando Deputado Federal. Portanto, desconcentrou-se um pouco o saber, que hoje ainda é muito concentrado no Sul e Sudeste do País.

Há poucos dias, assistindo a uma reportagem sobre o exame para os alunos de Medicina - que equivale ao exame de Ordem para o estudante de Direito - vi que só em São Paulo existem 23 faculdades de Medicina. E lá na nossa imensa Amazônia, só há bem pouco tempo temos uma escola de Medicina em cada Estado.

Quando visitei Cuba, uma das coisas que aprendi, não sendo socialista, foi justamente ver que lá, em cada província, em cada estado, tem uma escola de Medicina, e que cada escola de Medicina busca um ramo de especialização, dedica-se a um ramo de especialização.

No Brasil, a educação é muito pouco levada em conta; é muito pouco planejada; não se observa a necessidade de se pensar estrategicamente o desenvolvimento do País passando inicialmente pela educação. Se fizéssemos isso, talvez invertêssemos o que foi dito por um orador que me precedeu: que um professor do interiorzão do Brasil, que a mídia gosta de chamar de grotões, ganha menos do que um professor que reside em uma metrópole como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais. Deveria ser o inverso para estimular o professor a fazer uma pós-graduação em Brasil, sentir como vive o amazônida e não apenas ler publicações sobre a Amazônia, feitas por pessoas que, muitas vezes, nunca puseram o pé na Amazônia. Isso sem falar, evidentemente, do interior do Nordeste, do interior do Centro-Oeste, que às vezes vemos pelas novelas da Rede Globo, com os sotaques regionais, mas que não aprendemos a estudar de fato. Se pegarmos as teses de mestrado e de doutorado das academias mais importantes do País, encontraremos muito poucas que falem sobre a educação, por exemplo, no interior do meu Estado de Roraima, que fale, por exemplo, sobre a educação num Estado pobre como o Piauí. Então, é muito importante que pensemos a educação por esse viés também, e não pelo da academia que se isola dentro de um muro ou dentro dos laboratórios e acha que ali estão os colegas de Deus, que produzem teses como se fossem verdades proferidas por Deus. E, no entanto, não sabem um palmo do que se passa no interior deste País.

Então, quero falar por esse interior, como um homem que nasceu lá na Amazônia, que não apenas se elegeu pela Amazônia. Nasci no território mais setentrional deste País.

Aliás, falando em educação, há outra coisa a esclarecer. As grandes redes de televisão repetem hoje a expressão “do Oiapoque ao Chuí” como se o Oiapoque ainda fosse o extremo norte do País. E não é. E muita gente boa não sabe. Com os recursos modernos da geografia e da tecnologia, graças justamente à educação, constatamos que o Monte Caburaí, no Estado de Roraima, está mais de 30 quilômetros acima do Oiapoque. E, no entanto, ainda há professor, ainda há muita gente boa na televisão dizendo “do Oiapoque ao Chuí”.

Então, é muito bom que aprendamos, Senadora Emilia Fernandes, que é lá, no extremo norte, no meu Estado, em Roraima, e no extremo sul, no seu Estado, que estão os dois extremos do País - e não no Amapá, onde fica o Oiapoque.

Então, quero aqui homenagear os professores, principalmente os que estão no interior, que, surpreendentemente, ganham a mesma coisa que ganha quem está morando no Rio, em São Paulo, em Minas, enfim, no maior luxo. O professor que está exposto à malária, à leishmaniose e a outras doenças tropicais está ganhando a mesma coisa, não tem uma gratificação a mais. E eles estão em greve, Sr. Presidente, há vários dias, privando, por conseqüência, lamentavelmente, os alunos de terem aulas.

É preciso que, neste dia em que homenageamos o professor, nos lembremos dessa realidade e, principalmente, de que nossas crianças precisam ter melhores professores, sim, mas mais professores também! É lamentável que, às vezes, tenhamos de improvisar, fazendo com que um professor dê aula sem estar devidamente qualificado, mas temos de improvisar! Quantos jovens, no interior da Amazônia, que estão lá numa vicinal, se reúnem em grupos de 15, de 12, e têm uma professora “improvisada” que vai lhes ensinar o bê-á-bá? Era assim que se dizia antigamente, mas hoje nem se fala mais em bê-á-bá.

Precisamos, sim, olhar mais para as nossas crianças! E aqui quero falar um pouco como médico, dando mais ênfase, sim, à saúde preventiva, ao trabalho pré-natal, fazendo a observação de que é aí que começa o primeiro cuidado com a criança. Uma criança que nasce sadia, de um parto bem feito, de uma gravidez bem assistida, tem muito mais chance de ser mais inteligente. Se for uma criança razoavelmente bem nutrida, terá mais chance do que aquela outra que não o é.

Então, ao parabenizar os mestres deste País, devemos dizer: vamos olhar mais para o Brasil, vamos realmente valorizar mais o mestre e vamos incentivar mais e mais gerações a se tornarem mestres! Também não vamos nos esquecer de que sem crianças bem nascidas, bem nutridas e bem assistidas, a educação entra pouco pela cabeça.

Muito obrigado! (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/10/2005 - Página 34789