Discurso durante a 207ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos 50 anos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos - Dieese.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 50 anos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos - Dieese.
Publicação
Publicação no DSF de 24/11/2005 - Página 40713
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, FUNDAÇÃO, DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATISTICA E ESTUDOS SOCIO ECONOMICOS (DIEESE), IMPORTANCIA, SUBSIDIOS, ESTUDO, PESQUISA, APOIO, MOVIMENTO TRABALHISTA, REGISTRO, HISTORIA, CRIAÇÃO, GRUPO, DIRIGENTE, ENTIDADES SINDICAIS, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ELOGIO, ATUAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, DEMOCRACIA, PAIS.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, NOME, DIRETORIA, ELEIÇÃO, HISTORIA, DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATISTICA E ESTUDOS SOCIO ECONOMICOS (DIEESE).

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador César Borges, Srªs e Srs. Senadores; Sr. Presidente do Dieese, Carlos Andreu Ortiz, Sr. Vice-Presidente do Dieese, João Vicente Cayres; Sr. Clemente Ganz Lúcio; Diretor-Técnico do Dieese; Sr. Antônio Prado, que foi Diretor-Técnico do Dieese - peço a gentileza de me informarem os nomes dos demais que estão presentes -, hoje estamos comemorando os 50 anos de fundação do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos.

Desde 1955, o movimento sindical pode contar com o Dieese, criado para subsidiar os trabalhadores por meio de estudos e pesquisas na disputa política e por melhores condições de vida e de trabalho no Brasil. Era 22 de dezembro - pode-se dizer que o Dieese foi o presente de Natal mais útil que os trabalhadores já receberam.

            A história do Dieese começou, oficialmente, quando um grupo de 21 dirigentes sindicais de São Paulo, que já havia realizado uma série de mobilizações conjuntas, decidiu construir um organismo próprio dos trabalhadores, não previsto pela estrutura sindical, com o objetivo de produzir dados que embasassem suas negociações junto ao patronato.

O Dieese promove o estudo social, econômico e jurídico das condições de trabalho de todas as categorias profissionais e também da situação das empresas. Faz ainda o trabalho fundamental, que é o levantamento estatístico destinado à apuração de dados relativos a custo, nível e padrão de vida dos trabalhadores, e o regime de redistribuição do trabalho assalariado.

            Constituído por entidades sindicais e associações profissionais de trabalhadores e empregados do Brasil, o Dieese é considerado uma das instituições de maior credibilidade do País. Com o seu trabalho quebrou-se o monopólio patronal das informações.

Segundo o professor da PUC-SP Miguel Chaia, em seu livro Intelectuais e Sindicalistas: a experiência do Dieese, “a singularidade do Dieese transparece, de imediato, em seu primeiro “Boletim”, representa, pois, uma inovação dentro do movimento sindical brasileiro no sentido de uma tomada de consciência de que a situação do trabalhador e as condições de trabalho se acham enquadradas num conjunto de fatores nacionais e que o conhecimento de uma e de outras deve ser feito mediante a utilização de métodos modernos elaborados pelas ciências sociais.

Nos seus primeiros anos, o Dieese trabalhou na implantação do ICV - Índice de Custo de Vida - para a cidade de São Paulo, vigoroso instrumento de estudo e defesa do poder de compra dos salários.

Nos anos seguintes, continuou realizando pesquisas fundamentais para o estudo da economia e das relações sociais no Brasil. Entre eles estão a Segunda Pesquisa de Orçamento Familiar - POF -, concluída no início dos anos 70; o estudo “10 Anos de Política Salarial” e a denúncia de manipulação dos índices de 1973, quando acontecia o “milagre econômico” e a classe trabalhadora, na verdade, sofria um grande arrocho salarial.

Foi essa manipulação do índice oficial de inflação, em 1973, que deu ao Departamento destaque na sociedade brasileira. A denúncia contrapôs os dados levantados pelo Dieese aos números oficiais do Governo de então, em plena ditadura militar. Posteriormente, houve o reconhecimento público da manipulação, confirmando que o Dieese tinha toda a razão.

Sr. Presidente, Senador Leonel Pavan, participei bastante desses episódios, pois eu era articulista de assuntos econômicos da Folha de S.Paulo. Antes, em 1975, fui editor de economia da Visão. Mas de 1976 a 1980 tive a oportunidade de analisar esses assuntos nas colunas que escrevia na Folha de S.Paulo. Era Diretor-Técnico do Dieese Walter Barelli, que hoje é Deputado Federal pelo PSDB e que foi, nos anos 80 e no início dos anos 90, também um companheiro dentro do PT, a ponto de ter sido coordenador do governo paralelo, na área econômica, do então candidato a Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Eram muitas as ocasiões em que eu trocava idéias com Walter Barelli e com os técnicos, bem como com os sindicalistas que compunham o Dieese.

Lembro-me de que, certa vez, ao analisar o relatório do Banco Mundial que havia sido solicitado pelo jornalista Paulo Francis e encaminhado a ele, ali na redação da Folha de S.Paulo, notei que havia uma nota de rodapé dizendo que havia sido feito um ajuste no índice de preços da FGV, que era considerado o índice oficial, bem como o do IBGE e de outros. Eis que, então, dada a disparidade de evolução do Índice de Custo de Vida que ocorria com o índice oficial e com diversos outros, entre eles o do Dieese, começamos a formular perguntas, e nos foi dada a informação de que, de fato, o índice oficial havia sido ajustado para menos, levando os trabalhadores a terem um índice de reajuste menor do que efetivamente aconteceria se fosse levada em conta a verdade. Aquilo desencadeou um grande movimento no meio sindical, inclusive entre os metalúrgicos do ABC, que resultou numa campanha e em greve dos trabalhadores, primeiro da Scania e depois das indústrias automobilísticas, o que acabou tendo enorme influência na história brasileira.

No final dos anos 70, o Dieese fez mais: intensificou as atividades de educação sindical em temas relacionados à negociação coletiva de trabalho - um grande avanço para a classe trabalhadora.

Falar do Dieese é também falar da evolução das pesquisas de emprego e desemprego no Brasil. Já nos anos 80, antevendo a necessidade de melhor compreensão do mercado de trabalho, o Dieese, em conjunto com acadêmicos, iniciou um debate que resultou na estruturação de uma das mais importantes pesquisas sobre mercado de trabalho: a Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED, realizada em parceria com a Fundação Seade, órgão da Secretaria de Economia e Planejamento do Governo do Estado de São Paulo. A PED, que era realizada só em São Paulo, foi implantada nos mesmos moldes em outras regiões. Desde então tornou-se referência em todo o País, muitas vezes contrapondo-se às estatísticas oficiais.

Na medida em que o País passava por transformações profundas em sua estrutura econômica, ao longo desses 50 anos, o Dieese foi incorporando às suas atividades um leque cada vez mais amplo de temas, como as mudanças no mercado de trabalho, as mobilizações dos trabalhadores e suas conquistas, a configuração dos perfis das categorias profissionais, o modelo de distribuição de renda e o processo de trabalho, entre outros.

A formação de dirigentes sindicais manteve-se como a sua principal linha de ação educativa. Como marca da criatividade e ousadia dos trabalhadores brasileiros, o Dieese é uma entidade única em todo o mundo, por reunir, com um único objetivo, a maioria das correntes do movimento sindical. Ali estão a CUT, a Força Sindical, a CGT, todas as centrais de trabalhadores brasileiros, inclusive do meio rural.

Esta Casa homenageia o Dieese com justiça, como lembrou o seu ex-diretor técnico, hoje Deputado Federal, Walter Barelli, em depoimento na Câmara dos Deputados, porque o Dieese, nestes 50 anos, sempre esteve presente no Parlamento brasileiro.

Seu primeiro Presidente, o bancário Salvador Romano Losacco, foi Deputado Federal, cassado em 1964. Na resistência democrática, durante o regime militar, Alberto Marcelo Gato, outro de seus presidentes, também foi eleito Deputado Federal. O famoso líder sindical Joaquinzão, Joaquim dos Santos Andrade, exerceu mandato de Senador em 1995, na suplência de Mário Covas. É justo mencionar que a maioria dos dirigentes e assessores sindicais que se elegeram também se valeu e se vale da produção do Dieese.

Quero assinalar que, há cerca de quatro anos, estive presente num desses seminários regularmente promovidos pelo Dieese, ocasião em que o Dieese convidou o Sr. Guy Standing, Diretor de Relações de Trabalho da Organização Internacional do Trabalho, para debater o tema da garantia de uma renda para todas as pessoas, a renda básica de cidadania.

Coloco-me à disposição, prezado Presidente do Dieese, Carlos Andreus Ortiz, e diretor Clemente, no sentido de debater o tema da renda básica de cidadania, seus efeitos sobre o mercado de trabalho, sobre a renda dos trabalhadores e as razões pelas quais acredito que haja fundamentos tão positivos nessa proposição que agora é lei, indicando que será instituída, gradualmente, a renda básica de cidadania, a partir deste ano, como um desenvolvimento do programa Bolsa-Família, até que toda e qualquer pessoa, não importando a sua origem, raça, sexo, idade, condição civil ou mesmo socioeconômica, venha a ter a possibilidade de participar da riqueza da Nação, através de uma modesta renda, como um direito à cidadania.

Parabéns, Dieese!

Ao finalizar esta homenagem, saúdo todos os diretores técnicos do Departamento que ajudaram a construir a instituição ao longo dessas décadas, como José Albertino Rodrigues, de 1956 a abril de 1962; Lenina Pomeranz, de abril de 1962 a meados de 1963; José Albertino Rodrigues, outra vez, de 1965 a 1966; Heloisa Martins, de 1966 a 1968; Walter Barelli, que foi Diretor Técnico por mais tempo, de 1968 a 1990; Sérgio Mendonça, de 1990 a 2003; e Clemente Ganz Lúcio, desde 2003.

Sr. Presidente, solicito sejam transcritos os nomes de todas as diretorias eleitas pelas entidades associadas ao Dieese, de 1956 até hoje.

Novamente, agradeço a presença do Presidente do Dieese, Carlos Andreu Ortiz; do vice-Presidente João Cayres; do Diretor Técnico, Clemente Ganz Lúcio; do Sr. Coordenador Regional do Dieese, Epaminondas Lino de Jesus; do Coordenador de Ações Sindicais, Nelson Karam; do Sr. Antonio Prado, ex-Diretor; e de outros diretores aqui apresentes.

Parabéns.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno)

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Matéria referida:

“Diretorias do Dieese eleitas desde 23/01/56.”


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/11/2005 - Página 40713