Discurso durante a 215ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa de projeto de lei do Senado, de autoria de S.Exa., que coíbe a venda de bebidas alcoólicas em postos de gasolina. Críticas à manchete publicada pelo jornal O Globo, vinculando a empresa Coteminas, do vice-presidente da República e ministro da Defesa, Sr. José Alencar, ao suposto esquema de desvio de recursos públicos e formação de "caixa dois" do PT.

Autor
Marcelo Crivella (PMR - Partido Municipalista Renovador/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Defesa de projeto de lei do Senado, de autoria de S.Exa., que coíbe a venda de bebidas alcoólicas em postos de gasolina. Críticas à manchete publicada pelo jornal O Globo, vinculando a empresa Coteminas, do vice-presidente da República e ministro da Defesa, Sr. José Alencar, ao suposto esquema de desvio de recursos públicos e formação de "caixa dois" do PT.
Publicação
Publicação no DSF de 06/12/2005 - Página 42851
Assunto
Outros > SAUDE. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, DADOS, SUPERIORIDADE, CONSUMO, BEBIDA ALCOOLICA, BRASIL, GRAVIDADE, CRESCIMENTO, PROBLEMA, ALCOOLISMO.
  • COMPARAÇÃO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, PUBLICIDADE, FACILIDADE, VENDA, BEBIDA ALCOOLICA, JUSTIFICAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, PROIBIÇÃO, COMERCIALIZAÇÃO, POSTO DE GASOLINA.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DIVULGAÇÃO, NEGOCIAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), INDUSTRIA TEXTIL, PROPRIEDADE, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA, INADIMPLENCIA, AQUISIÇÃO, MATERIAL, CAMPANHA ELEITORAL, CRITICA, ORADOR, EMPRESA, ALEGAÇÕES, SUSPEIÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), CORRUPÇÃO, VICE-PRESIDENTE.
  • ANALISE, INTERESSE, GRUPO ECONOMICO, CALUNIA, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA, LOBBY, MANUTENÇÃO, SUPERIORIDADE, JUROS.

O SR. MARCELO CRIVELLA (PMR - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Srs. telespectadores da TV Senado, Srs. ouvintes da Rádio Senado, eu pedi para ocupar esta tribuna para tratar de um assunto muito importante para o nosso País, que é o aumento do consumo de álcool no Brasil. Houve um crescimento, nos últimos anos, de quase 70% e, segundo dados da ONU, somos um dos países onde mais cresce o consumo do álcool.

O álcool é algo que nos assusta porque entra pelos lares, pelas empresas, pelas fábricas, pelos sindicatos. Ele faz jus a sua origem - a palavra árabe “álcool” quer dizer sutil -, porque ao mesmo tempo em que faz parte da confraria dos desabrigados sob a ponte, também está presente nas solenidades em que se recebem os presidentes, os reis, os príncipes. Quando as pessoas estão tristes, bebem para esquecer; quando estão felizes, bebem para comemorar. Assim, o álcool vai encontrando caminho como uma coisa sutil e leva as pessoas aos vícios.

Uma análise rápida sobre o consumo de álcool no Brasil nos leva a ponderar sobre alguns aspectos. A propaganda do álcool, no Brasil, é muito mais ampla do que em qualquer outro país do mundo. Aliás, só aqui há refrigerantes e bebidas alcoólicas com o mesmo nome: aqui se pede um guaraná Brahma, mas se pede uma cerveja Brahma, e a mesma coisa acontece com a Antártica. De certa forma, isso confunde.

Os pontos de venda são extremamente amplos. Vende-se álcool, no Brasil, em qualquer lugar: nos estádios de futebol, em caixas de isopor, no trânsito engarrafado das grandes cidades, na praia, na porta do cinema, nos bares, lanchonetes, e se vende também em postos de gasolina. Neste momento, peço a atenção dos meus Pares para um projeto que apresentei há um ano e que tenta coibir a venda do álcool em postos de gasolina. É claro que surge o problema da isonomia: por que proibir em postos de gasolina e não em restaurantes e bares?

O posto de gasolina tem uma especificidade. As pessoas saem dali e vão, no mesmo momento, conduzir um automóvel, o que é extremamente perigoso, além do que no posto de gasolina reúnem-se, nas grandes cidades, uma quantidade cada vez maior de jovens, que bebem ouvindo som, e todos estão motorizados.

Recentemente, vimos na Internet a fotografia de uma moça que estava acompanhada do namorado, num estacionamento de posto de gasolina, e que, depois da bebedeira, saiu com ele e acabaram se acidentando a 100 metros do posto. Ela perdeu uma perna e a fotografia é dramática. Eu a distribuí, inclusive, aos membros da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania.

Uma outra coisa que me preocupa é o preço do álcool no Brasil. Hoje, uma garrafa de cachaça custa menos de meio dólar; uma latinha de cerveja custa menos que uma de Coca-Cola ou guaraná. Os preços são muito baixos, os impostos são poucos e aumenta o consumo do álcool barbaramente no nosso País.

É bom lembrar, Senador Mão Santa, que ninguém mata sem antes beber. E, depois que o faz, volta a beber. Por conta do álcool, 70% dos doentes mentais se encontram, atualmente, internados neste País. Se constasse do rótulo de uma garrafa de bebida alcoólica o que realmente ela contém, ele diria: divórcios, desquites, crimes, acidentes automobilísticos, porque em todas essas tragédias o álcool é, sem sombra de dúvida, o fator de incentivo campeão.

Nessa quarta-feira, nós teremos a oportunidade de, de alguma forma, colaborar para diminuir o consumo de álcool em nosso País e de analisar essa medida, esse projeto de lei, a fim de encontrarmos uma redação ideal que ajude a diminuir o consumo de álcool, sobretudo pela parcela mais jovem de nosso País.

É bom lembrar que dos 80 milhões de brasileiros que constituem a PEA, quase 26% estão no desemprego aberto ou no subemprego. Quando as pessoas não têm trabalho, acabam-se reunindo nos bares e nas tabernas, aumentando o consumo de álcool. Está provado, Sr. Presidente, que em países com alto nível de desemprego, como o nosso, cujo PIB, infelizmente, não cresce - e já não cresce há 20 anos. Este ano, segundo a Cepal, o PIB brasileiro, na América Latina, só vai ficar na frente do Paraguai e da Guatemala; e, pasmem, vai empatar com o do Haiti, uma ilha sem quaisquer recursos naturais se comparados ao nosso, onde o Brasil chefia uma missão internacional de paz. Pois bem! Vamos ficar atrás, com 3,5%, que será o PIB do Haiti; vamos ficar atrás inclusive dessa Ilha do Caribe, que se encontra em guerra.

Mas, Sr. Presidente, antes de concluir o meu pronunciamento, eu gostaria de tocar um segundo aspecto: a manchete que hoje foi publicada no jornal O Globo.

Na verdade, tomamos conhecimento, neste último final de semana, de que o Partido dos Trabalhadores havia feito uma encomenda em camisetas à maior indústria têxtil do nosso País, a Companhia Têxtil do Norte de Minas, e que pertence a um ex-companheiro desta Casa, membro do Senado Federal e atualmente Vice-Presidente da República e acumulando o cargo de Ministro da Defesa.

Nas eleições municipais, o Partido dos Trabalhadores encomendou R$12 milhões em camisetas. Não pagou. Apenas em agosto deste ano, salvo engano, depois de várias tentativas por parte dos cobradores da empresa de receberem a conta, foi paga uma parcela de R$1 milhão.

Ora, essa é uma empresa de sociedade mista; é uma empresa que tem acionistas e que, portanto, deve e tem responsabilidade diante de muitos que ali investem o seu dinheiro. A empresa precisa receber. E para quem deve - e já deve há muito tempo - uma parcela de R$1 milhão é mais do que bem-vinda. Assim, foi depositado na conta da companhia no Bradesco, como depositante, o PT.

Até aí, tudo bem. Mas, há no Congresso Nacional uma CPI que investiga o Partido dos Trabalhadores e investiga o uso de caixa dois. Como esse dinheiro foi depositado à vista e, naquela época, ainda não se sabia que o uso de caixa dois por um partido político teria sido dessa forma, tão ampla, não houve preocupação alguma por conta dos aflitos credores que já cobravam essa conta há mais de um ano. Um caso que deve ser investigado; um caso que deve ser apurado.

Mas, não consigo entender, Sr. Presidente, como é que um jornal publica, como manchete de capa, que a CPI dos Correios vai investigar conta da empresa do Vice de Lula! Não dá para entender! Parece até aquela história do sujeito que chega em casa e encontra a mulher no sofá com o amante e põe a culpa no sofá.

O que tem a ver a empresa que vendeu as camisetas? O que tem a ver o Vice do Lula, o Ministro da Defesa? Por que essa matéria requentada seria capa de um jornal - e capa estrondosa - quando nem a CPI dos Correios está preocupada em investigar a conta, mas, sim, a origem do dinheiro que foi depositado nessa conta? Todo o Brasil sabe disso; não faz o menor sentido supor o contrário!

Mas, no Brasil, as coisas acontecem, Sr. Presidente, Srs. telespectadores da TV Senado, de maneira muito mais interesseira do que interessada. Não há interesse público algum em uma manchete como essa. Não há interesse de se buscar ou investigar alguma coisa importante com relação ao Vice de Lula ou à Coteminas. Há interesses mais escusos que eu gostaria de dizer aqui do Plenário ao povo brasileiro para fazermos juntos uma elaboração de pensamento.

O Vice-Presidente e Ministro da Defesa sempre foi, desde a época de Senador, um paladino em defesa de juros mais baixos. Antes, ele era uma andorinha, voando e cantando sozinho. Hoje, com as sucessivas quedas do PIB - em 2003, foi de 0%; no ano passado, tivemos um pequeno “vôo de galinha”; e, neste ano, vamos terminar, como disse, segundo a Cepal já está previsto há mais de seis meses, atrás do Haiti, só passando o Paraguai e a Guatemala na América Latina -, o coro aumentou. Hoje, uma parcela significativa da sociedade vive a dizer o seguinte: “O Zé tinha razão: os juros estão muitos altos; os ganhos no sistema financeiro são escorchantes; a atividade produtiva tem sido deprimida; a política econômica é contracionista; o desemprego explode; e o PIB, o crescimento do nosso País não acontece”. E, se não há crescimento, Sr. Presidente, a miséria diminui, mas diminui de maneira insatisfatória. Caem os que tinham alguma coisa - e são muitos: classe média achatada - e crescem muito pouco os que estavam na base da pirâmide. É preciso crescer para ter o que distribuir. É assim que vamos diminuir a miséria.

Agora, é claro, que há empresas, sobretudo da mídia, que precisam que o dólar esteja baixo, a despeito dos interesses nacionais. E, quando os juros caem, quando as taxas de juros abusivas caem, empresas que estão endividadas em dólar se assustam, porque isso significa que o dólar vai subir e a sua dívida vai subir também. E é por isso que José Alencar é tão caluniado, como foi agora nessa manchete. São outros interesses. Não há interesse público, não há amor pelo povo brasileiro, pela Nação brasileira ou qualquer interesse mais digno. É jogo de poder. É interesse por dinheiro. É contra uma pregação que o Brasil precisa ouvir: os juros precisam cair; e é preciso que o Brasil volte a crescer.

Esse é o preço que o sofá está pagando nesse episódio. Esse é o preço que o sofá está pagando: ter o seu nome exposto na capa de um jornal em uma manchete.

Sr. Presidente, eu gostaria que ficasse consignada essa nossa indignação, do Partido Republicano, porque não há o que se investigar na maior empresa nacional da indústria têxtil, que consome 20% do algodão nacional e que recentemente acabou comprando parte da Springs, que é a maior companhia americana de produtos de cama, mesa e banho.

Portanto, é um orgulho nacional. É uma empresa que distribui lucros a vários acionistas; é uma empresa que dispensa a seus funcionários, como foi mostrado já em diversas vezes, distribuição de renda e de salários que é padrão para o empresariado brasileiro. Não há motivos para se investigar nada lá. É preciso investigar - e com rigor, sim - a origem do dinheiro que foi colocado ali. E é com isso que a CPI dos Correios precisa se preocupar - e é com isso que a CPI dos Correios está se preocupando.

É claro que aqueles que não querem que os juros caiam, porque estão endividados em dólar, agirão assim; e, portanto, tentam denegrir a figura de uma pessoa que tem sido para todos nós um exemplo de cidadão, de político, de Vice-Presidente e, também, de Ministro da Defesa.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/12/2005 - Página 42851