Discurso durante a 217ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do trigésimo aniversário da criação do Instituto Internacional Jacques Maritain.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do trigésimo aniversário da criação do Instituto Internacional Jacques Maritain.
Publicação
Publicação no DSF de 08/12/2005 - Página 43049
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, ENTIDADE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), OBJETIVO, CONTRIBUIÇÃO, ESTUDO, PENSAMENTO, FILOSOFIA, RELIGIÃO, COMBATE, POBREZA, REGISTRO, ATUAÇÃO, MEDIAÇÃO, NUCLEO, UNIVERSIDADE, PAIS, INTERNET.
  • HOMENAGEM, HISTORIA, INTELECTUAL, IGREJA CATOLICA, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA, ELOGIO, ATUAÇÃO, VIDA PUBLICA.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Presidente, Senador João Alberto Souza; Eminentíssimo Dom José Freire Falcão, Arcebispo Emérito de Brasília; Exmº Sr. Ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que tanta afinidade vem demonstrando, à frente do seu Ministério, com as idéias aqui apresentadas hoje, na tradição de Jacques Maritain e Alceu de Amoroso Lima; Ilmº Sr. Alceu Amoroso Lima Filho, Presidente do Instituto Jacques Maritain do Brasil; Eminentíssimo Dom Edson Luiz Campos da Silva, Bispo da Igreja Católica Brasileira; Eminentíssimo Dom João Evangelista, Bispo Auxiliar Emérito de Brasília; Reverendíssimo Sr. José Carlos Brandi Aleixo, Vice-Presidente do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais; quero cumprimentar especialmente o Senador Marco Maciel pela iniciativa desta sessão comemorativa dos 30 anos do Instituto Jacques Maritain, da qual também participo, com grande satisfação, em nome do Partido dos Trabalhadores.

Fundada em Roma, trata-se de uma associação cultural com fins não lucrativos, que opera hoje em 19 nações afiliadas, em consonância operacional com a Unesco e com a FAO. No Brasil, instalou-se em março de 1992, com o propósito de difundir os preceitos da matriz e reunir intelectuais inspirados pelo espírito da promoção de um humanismo integral.

Sua finalidade maior consiste em contribuir para o estudo e debate de questões contemporâneas, de ordem filosófica e espiritual, no âmbito complexo das sociedades modernas. Na função de verdadeiro laboratório intelectual multinacional e interdisciplinar, promove pesquisas que envolvam o homem, sua cultura heterogênea e sua estratificada sociedade.

Jacques Maritain, a quem se atribui tão nobre inspiração institucional, foi um típico pensador francês da virada do Século das Luzes, imerso nos estudos sobre Spinoza e sobre os fenômenos das ciências naturais. Embora oriundo de família agnóstica, converteu-se ao cristianismo, enveredando por um “tomismo” renovado, adaptado a uma metafísica contemporânea.

Segundo os biógrafos, sua genialidade se prendia, antes de tudo, a uma genuína combinação de um racionalismo antropocêntrico com um irracionalismo panteísta. Não acidentalmente, Maritain e sua esposa foram recebidos, sem qualquer resistência, na Ordem dos Beneditinos na condição de humildes oblatos.

Além da França, Maritain exerceu o magistério no Canadá e nos Estados Unidos, na primeira metade dos anos quarenta. De 1945 a 1948, serviu como embaixador francês no Estado do Vaticano. Em 1960, após o falecimento da esposa, Maritain se retira para Toulouse, na convivência da Fraternidade dos Irmãozinhos de Foucauld, em cuja sede realizou seu noviciado aos 88 anos. Morreu aos 90 anos, imerso em um ambiente de oração, silêncio e contemplação.

De suas obras, vale destacar Reflexões sobre a Inteligência e sobre sua Vida Própria (1924), Arte e Escolástica (1929), Os Graus do Saber (1932), Humanismo Integral (1936), Pessoa e Bem Comum (1947) e, por fim, O Camponês de Gorona (1966).

De acordo com os historiadores do pensamento contemporâneo, não houve questão no âmbito da filosofia, das artes e da ciência que não tivesse sido abordada pelo estudioso Jacques Maritain. Na verdade, literatura, arte, ciência, ética e política nacional e internacional. Não se registra qualquer domínio do pensamento de seu tempo de que o filósofo Jacques Maritain não tenha participado, explorado e reconhecido, com sua presença irradiadora.

Na América Latina, os argentinos hospedaram Maritain durante sua viagem a Córdoba em outubro de 1936. Naquela ocasião, proferiu uma palestra endereçada à comunidade da Universidade Católica, intitulada: “Ciência Moderna e a Filosofia”. Aos brasileiros, restou-nos, naquela oportunidade, acompanhar de longe, mas sempre com muito interesse, as palavras sábias do filósofo francês.

Diante de um roteiro de vida tão prodigiosamente altruísta e tão igualmente despido de veleidades materiais, a fundação do Instituto Jacques Maritain não poderia assumir perfil mais fiel aos ideais de seu filósofo maior. E é desses ideais que depende todo o sucesso prático do projeto humanitário previsto em seu estatuto.

Mais precisamente, seguindo os preceitos definidos nos estatutos sociais, a instituição tem como objetivo estudar, aprofundar e difundir a cultura nos princípios de um humanismo integral. Na prática, isso significa trabalhar por um desenvolvimento que alcance a configuração de um homem íntegro, integral e em solidariedade com todos os outros homens e mulheres.

Em outras palavras, trata-se do delineamento da moldura de um homem completo, em todas as suas dimensões, não apenas biológicas e econômicas, mas também espirituais, e sem a exclusão dos mais pobres. Por isso, o Instituto não se furta a participar de eventos e seminários que explorem reflexões aprofundadas sobre a pobreza e métodos para combatê-la.

Nessa perspectiva temática mais flexível, o Instituto Jacques Maritain do Brasil, para além da reflexão sobre o pensamento do filósofo em epígrafe, se debruça também sobre outros humanistas cristãos, do jaez de Lebret, Igino Giordani, Mounier, Teilhard de Chardin, Alceu Amoroso Lima, Rubens Ricupero e muitos outros.

Para tanto, cumpre suas metas investigativas mediante a montagem de núcleos de estudos nas principais universidades do País, incontestáveis focos de fermentação intelectual dos ideais humanos. No entanto, em caso de necessidade, outras instituições que se mostrem adequadas a tal fim podem vir a dar abrigo aos núcleos de estudo.

Por fim, antenada para os avanços incessantes da tecnologia da informação, a Instituição lança mão da Internet como ferramenta indispensável à transmissão e troca de conhecimento. Como bem frisa Alceu Amoroso Lima Filho, Presidente do Instituto, “se dependermos de presenças pessoais no mesmo lugar, ao mesmo tempo e com freqüência, certamente teríamos que procurar a ajuda de Diógenes, e sair com uma lanterna a procurar (...) gente que quisesse se juntar a nós”. Quero dizer, prezado Alceu Amoroso Lima Filho, que me disponho, de pronto, a me juntar aos que colaboram no Instituto Jacques Maritain, seguindo essa tradição, para debater também os propósitos e projetos nos quais muito tenho acreditado, inclusive a proposição, transformada em lei pelo Congresso Nacional, que institui a garantia de uma renda para todos os brasileiros e brasileiras como direito de todos partilharem da riqueza da Nação, à luz daquilo que é hoje um dos principais projetos implementados pelo Ministro Patrus Ananias, um desenvolvimento, portanto, do programa Bolsa-Família e dos projetos que S. Exª coordena e administra tão bem.

Para encerrar, nada mais justo que reiterar, com imenso júbilo, as congratulações pelos 30 anos do Instituto Jacques Maritain, na certeza de que seu papel se reveste de grande importância. Aos seus dirigentes e coordenadores, o País presta especial homenagem estimando-lhes um ambiente extremamente profícuo de trabalho, pesquisa e reflexão intelectual.

Meus parabéns! (Palmas.)

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/12/2005 - Página 43049