Discurso durante a 222ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação de tristeza com a matéria da revista Veja que trata o Vice-Presidente da República de forma desrespeitosa.

Autor
Marcelo Crivella (PMR - Partido Municipalista Renovador/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Manifestação de tristeza com a matéria da revista Veja que trata o Vice-Presidente da República de forma desrespeitosa.
Aparteantes
César Borges, Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 14/12/2005 - Página 44158
Assunto
Outros > IMPRENSA. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • PROTESTO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, FALSIDADE, ALEGAÇÕES, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, REDUÇÃO, TAXAS, JUROS.
  • ACUSAÇÃO, IMPRENSA, TENTATIVA, OBSTACULO, REDUÇÃO, TAXAS, JUROS, IMPEDIMENTO, AUMENTO, DIVIDA, SETOR, MOEDA ESTRANGEIRA.
  • SOLIDARIEDADE, CONDUTA, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, PAIS, REDUÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, EMPRESA, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA, AQUISIÇÃO, EMPRESA ESTRANGEIRA, SETOR, ALGODÃO, RECEBIMENTO, EMPRESTIMO, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), INFERIORIDADE, TAXAS, JUROS.

O SR. MARCELO CRIVELLA (PMR - RJ. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Srªs e Srs. telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, venho à tribuna porque li, entristecido e consternado, a matéria da revista Veja que, de maneira desrespeitosa, trata o Vice-Presidente da República como um hipócrita.

Na verdade, o nosso Vice-Presidente da República tem sido, desde o começo do Governo Lula, uma voz que diz que o discurso da campanha não chegou ao Governo. Sempre foi uma voz falando sobre esses juros que o Senador Pedro Simon citou agora. Antes, clamava como João Batista no deserto. Hoje, está a seu lado um coro de economistas. Aliás, eu diria que não há um economista respeitável neste País que não deixe de concordar com o fato de que a política monetária do Governo é responsável pela estagnação e pelo desemprego ou subemprego de 26 milhões de brasileiros que estão em situação catastrófica.

A revista Veja acha que o Vice-Presidente é hipócrita. E por que? Porque prega juros mais baixos, mas a sua empresa, a Coteminas, toma dinheiro do BNDES com juros de 14%. Ora, o que quer a revista Veja? Que o Vice-Presidente peça que o juro do BNDES aumente, que suba para 18% o escorchante juro do Copom que já está com os cornos na Lua? É isso o que se quer?!

Acho que farisaísmo é quando pessoas interessadas no jogo... E aí já dizia o Presidente do Banco Central americano: “Quando se fala de economia, não se deve levar a sério a opinião daqueles que têm interesse no jogo”. A verdade é que a mídia brasileira se endividou em dólar e sabe que, se os juros caírem, por regra de mercado, o dólar vai subir. E estão defendendo o próprio interesse. Usam jornalistas jovens e brilhantes, que escrevem bem, que são inteligentes, mas que se prestam ao papel de defenderem coisas escusas. Parece até aquela moça do Rio de Janeiro que participou do incêndio a um ônibus, porque também recebeu a encomenda de um gangster - e ai dela se não cumprisse, se não entregasse a encomenda! Assim são muitos jornalistas hoje, pois recebem encomendas de donos de empresas interessadíssimos nos lucros que têm com essa política monetária que adotamos, e ai deles se não entregarem a encomenda!

Sr. Presidente, será que algum brasileiro de bom senso vai continuar dizendo que, se o País voltar a crescer, vamos ter inflação por demanda? Ora, o mundo inteiro está crescendo a taxas muito maiores do que a nossa e com juros baixos. Será que, nesses países, a demanda também está causando inflação, ou será que, aqui no Brasil, a inflação é muito mais função de preços indexados da época daquela privatização, que fizemos a toque de caixa?

Uns queimam ônibus, outros queimam dignidade, moral, biografias construídas ao longo de quase meio século.

A Coteminas consome 20% da produção brasileira de algodão e, recentemente, num mercado difícil como é o mercado têxtil, conseguiu comprar 50% da Springs, a maior empresa americana de cama, mesa e banho. Ora, quando foi que vimos isso? Assistimos, muitas vezes, a empresas americanas comprando o nosso patrimônio.

V. Exª, Senador Eduardo Azeredo, é de Minas Gerais e deve-se lembrar de nossa infância, quando os ingleses mandavam nas minas de ouro de Minas. Aliás, mandavam não apenas nas minas de ouro, mas também na energia, na Light, na Esso, na distribuição de petróleo. Era comum os estrangeiros dominarem o mercado.

Hoje, a Coteminas, com o nosso algodão, está comprando uma empresa que é a maior americana, e isso é questão de orgulho.

O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Permite-me V. Exª um rápido aparte, Senador?

O SR. MARCELO CRIVELLA (PMR - RJ) - Com a maior alegria, Senador Eduardo Azeredo, concedo-lhe o aparte.

O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Como mineiro que sou e como uma pessoa que conhece o Vice-Presidente, José Alencar, faço este aparte a V. Exª no sentido de mostrar que o Vice-Presidente, José Alencar, é um homem de bem, é um homem que dá empregos em grande quantidade, não apenas em Minas Gerais, como em outros Estados do Brasil. É um empresário que entrou na política para completar a sua vida, para doar um pouco de si para o País. Orgulho-me de que José Alencar seja mineiro, pois é, sem dúvida alguma, um homem de bem, um grande empresário, que honra o nosso Estado de Minas Gerais.

O SR. MARCELO CRIVELLA (PMR - RJ) - Muito obrigado, Senador Eduardo Azeredo.

Concedo um aparte ao nosso Senador e bom baiano César Borges.

O Sr. César Borges (PFL - BA) - Senador Marcelo Crivella, quero associar-me ao discurso de V. Exª quando diz que o Vice-Presidente é um empresário de sucesso. Ele merece elogios por conduzir uma empresa a ser uma líder de mercado com eficiência, com competência, com modernização. É claro que qualquer empresário tem de procurar os menores juros de mercado. O que ele faz e tem feito ao longo do seu período como Vice-Presidente da República é combater essa política de juros elevados. Sem sombra de dúvidas, se todos, no Brasil, pudessem ter os juros do BNDES, este País seria outro, e a economia iria desenvolver-se. Portanto, não há nenhum equívoco. Nada há a se retocar na atitude do Vice-Presidente. Sinceramente, Senador Marcelo Crivella, o único ponto em que tenho de fazer reparos é a negociação das camisetas. Creio que errou o nosso Vice-Presidente, José Alencar, quando concordou em fornecer ao Partido dos Trabalhadores, se não me engano, 500 mil camisetas a R$10 milhões ou a R$12 milhões e aceitou o pagamento em espécie. Sei que a formação e a maneira de agir da Coteminas não é essa. Qualquer empresa desse porte, Senador Marcelo Crivella, faz todos os seus pagamentos e recebimentos em cheque e em transferências devidamente registrados e contabilizados - aliás, como o foi -, mas não em espécie. Com relação ao procedimento do Vice-Presidente como empresário, entendo que S. Exª faz bem ao País no momento em que faz crescer a sua empresa, gera emprego e renda. Lamento seu envolvimento com o Partido dos Trabalhadores, que usa esse tipo de procedimento com relação aos seus fornecedores e à forma de captação de recursos e de fornecimento para suas campanhas eleitorais. Associo-me aos elogios ao empresário de sucesso que é o Vice-Presidente, José Alencar.

O SR. MARCELO CRIVELLA (PMR - RJ) - Muito obrigado, Senador César Borges.

Concluo, Sr. Presidente, dizendo que o Vice-Presidente foi realmente vítima de um pagamento em dinheiro, mas um pagamento atrasado há mais de um ano. Como é uma companhia de capital aberto, ela tem de dar satisfação a muitos investidores, e seus aplicadores querem receber o dinheiro. Pagaram 8% - a conta foi de R$12 milhões.

A revista diz também que a camiseta foi cara. Não foi, não. Existem camisetas que custam R$2,00, chinesas, mas são péssimas. Quem faz campanha sabe que uma camiseta melhor, que dura uma campanha inteira, custa mais caro. Foi o caso da camiseta da Coteminas.

Infelizmente, foi um pagamento lamentável, o Vice-Presidente lamentou o fato profundamente. Mas, no momento em que recebeu o dinheiro, ele foi contado, depositado no banco, na conta da empresa, e dado o recibo.

Penso que quem deve explicar isso é o PT. É como aquela história do sujeito que chega em casa, encontra a mulher no sofá com o amante, e põe a culpa no sofá. A culpa é de quem levou o dinheiro e é ele que tem de explicar esse caixa dois.

Sr. Presidente, era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado pela compreensão.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/12/2005 - Página 44158