Discurso durante a 225ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Desperdício do dinheiro gasto com bolsas de estudos de jovens economistas brasileiros nas universidades norte-americanas. (como Líder)

Autor
Marcelo Crivella (PMR - Partido Municipalista Renovador/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ENSINO SUPERIOR. SENADO.:
  • Desperdício do dinheiro gasto com bolsas de estudos de jovens economistas brasileiros nas universidades norte-americanas. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 16/12/2005 - Página 45049
Assunto
Outros > ENSINO SUPERIOR. SENADO.
Indexação
  • PROTESTO, PERDA, DINHEIRO, GOVERNO BRASILEIRO, CONCESSÃO, BOLSA DE ESTUDO, ESTUDANTE, CIENCIAS ECONOMICAS, ESTUDO, UNIVERSIDADE ESTRANGEIRA, COMENTARIO, AUSENCIA, RESULTADO, BENEFICIO, METODOLOGIA, MELHORIA, ECONOMIA, PAIS.
  • REPUDIO, IMPORTAÇÃO, MODELO ECONOMICO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), IMPLEMENTAÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), BANCO MUNDIAL, BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID), COMPROMETIMENTO, EMPREGO, BRASIL.
  • CUMPRIMENTO, SENADOR, ENCERRAMENTO, SESSÃO LEGISLATIVA.

O SR. MARCELO CRIVELLA (PMR - RJ. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senadora Ideli Salvatti, Líder do nosso PT, Srªs e Srs. Senadores, o dinheiro mais desperdiçado pelo Governo brasileiro nas últimas décadas não é nem o dinheiro das obras faraônicas nem o dinheiro da corrupção; é o dinheiro gasto com bolsas de estudo de jovens economistas brasileiros nas universidades norte-americanas.

Pagamos um preço gigantesco em termos de desempenho medíocre da nossa economia por causa da importação e aplicação no nosso País por parte desses jovens “gênios” que voltam para casa e se empoleiram nos altos postos da República, adotando modelos econômicos abstratos, inventados lá em cima, muito mais para o jogo acadêmico do que para o mundo real.

Os norte-americanos não lideram a economia mundial por acaso. Seu conservadorismo em economia não se confunde com a ortodoxia burra. Jamais passaria pela cabeça de um dirigente norte-americano aplicar no país a tese do governo mínimo ou do orçamento equilibrado. Essa proposta, aliás, já circulou várias vezes pelo Congresso, mas nunca foi adiante. Ao contrário, governos após governos realizam déficits fiscais gigantescos, com o que mantêm a taxa de desemprego num nível tolerável. Ninguém é louco de, em nome da austeridade fiscal, fazer disparar o desemprego.

Ao mesmo tempo, enquanto seus ideólogos pregam livre comércio pelo mundo, os norte-americanos são os maiores protecionistas do planeta, em nome de defesa da produção interna e do emprego doméstico. Alguém pode dizer que estão errados? Dificilmente. A primeira obrigação de um governo é defender os interesses concretos de seu povo, não os enunciados normativos de economistas matemáticos, em nome de abstrações doutrinárias. Errados estamos nós. Nossos economistas, deslumbrados com modelos da moda, importam teorias exóticas e fazem do nosso povo cobaias de laboratório.

Por certo, nossos tecnocratas não estão completamente sós na tarefa de transformar o Governo brasileiro num instrumento de punição do seu próprio povo. Há toda uma trupe operando na mesma direção: dirigentes do Tesouro norte-americano (para efeito externo), do FMI, do Banco Mundial, do BID, todos fazem parte de uma comunidade “epistêmica” de banqueiros e financistas, como disse um autor, trabalhando no sentido de forçar a implantação da ortodoxia burra urbi et orbi. A Ásia se safou, pulou fora. A América Latina mergulhou de cabeça. Por isso, a Ásia cresce, enquanto nós patinamos na mediocridade.

Essas agências internacionais também têm funcionado como correia de transmissão das veleidades acadêmicas norte-americanas. Não raro, nossos tecnocratas mais eminentes passam pelo aprendizado junto a elas. Para ficar só em dois exemplos, Pedro Malan, ex-Presidente do Banco Central e ex-Ministro da Fazenda, esteve no Banco Mundial, enquanto o nosso Secretário do Tesouro Joaquim Levy serviu o FMI por oito anos. Em outros postos da Fazenda, do Banco Central e do Planejamento, encontram-se vários egressos de doutorados nas universidades norte-americanas.

E o que aprenderam por lá? Alguns se tornaram monetaristas, mas, diferentemente dos norte-americanos, continuaram monetaristas mesmo depois do fracasso da aplicação da doutrina nos Estados Unidos, nos anos 79 até 82. Sim, porque os norte-americanos, ao contrário dos nossos tecnocratas, são extremamente pragmáticos e recuam logo quando vislumbram o fracasso. Mas a teoria que talvez tenha feito mais sucesso entre nossos gênios laureados lá em cima é das “expectativas racionais”, que reivindicou o status teórico de ter enterrado para sempre as teorias de Keynes.

Nos Estados Unidos, o keynesianismo - bastardo que seja - continua tão vivo quanto antes. Lá ninguém brinca com política monetária e fiscal, já que uma alta taxa de desemprego implica o despejo certo do governo incumbente. Nós, sim, enterramos nossas políticas de desenvolvimento que fizemos desde Getúlio e JK ao Governo Geisel. Nós as enterramos em nome de abstrações, como o ajuste fiscal e monetário, ou de iniciativas legais, como a famigerada Lei de Responsabilidade Fiscal, o superávit primário, os juros estratosféricos e essa monstruosidade monetária chamada “modelo de metas de inflação”. Abandonamos a administração econômica pelo Governo e embarcamos nas expectativas do mercado. O mercado se deu muito bem, enquanto o Governo cai, cada dia mais, nas pesquisas e a economia está estagnada.

Sr. Presidente, faço um apelo ao Plenário. Nós somos da base do Governo e lutamos muito ao lado do Presidente Lula! Sabemos que 68% do povo brasileiro acham que a política de juros está errada, que 70% do povo brasileiro acham que as políticas sociais e de desemprego são insuficientes e que 26 milhões de brasileiros estão desempregados e subempregados. As pesquisas mostram que a popularidade do Governo Lula e a aprovação ao seu Governo estão desabando. Meus Deus, será que, diante de tantos sinais, continuaremos trilhando os caminhos a nós destinados pelo mercado, pelas agências internacionais, pelo Fundo Monetário Internacional, pelo Banco Mundial, pelo BID, em conceitos que eles não aplicam lá porque têm um déficit fiscal extraordinário, mas um desemprego baixíssimo?!

Sr. Presidente, esse é o apelo que faço ao meu Governo.

Quero desejar a todos os telespectadores da TV Senado, aos nossos ouvintes, a todo o corpo de funcionários desta Casa, a todas as Srªs Senadoras e os Srs. Senadores e às suas famílias que lutaram conosco durante todo este ano um feliz Natal e um próspero Ano-Novo!

Sr. Presidente, Senador Tião Viana, peço a V. Exª que prorrogue por um minutinho o meu tempo, para que eu diga o seguinte: todos os anos, nesta época, o aniversariante, Jesus Cristo, muitas vezes vê as pessoas planejando festa, comprando alimentos, dando presentes, mas não é convidado para a festividade. Em casas, em palácios e em pequenas choupanas, tantas festas se realizam, e, muitas vezes, esquecem-se do aniversariante!

Quero fazer uma lembrança aos que nos assistem pela TV Senado e aos que nos ouvem pelo rádio e aos meus companheiros: quem sabe este Natal possa ser diferente! Sei da nossa situação econômica, o País não cresceu muito, talvez o peru de Natal não seja tão gordo, mas será um Natal extraordinário se dermos oportunidade para que o aniversariante, Nosso Senhor Jesus Cristo, possa estar em nossos corações.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/12/2005 - Página 45049