Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Alerta para as conseqüências da crise na agroindústria do interior do País. (como Líder)

Autor
Osmar Dias (PDT - Partido Democrático Trabalhista/PR)
Nome completo: Osmar Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA. POLITICA INDUSTRIAL.:
  • Alerta para as conseqüências da crise na agroindústria do interior do País. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 18/01/2006 - Página 518
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA. POLITICA INDUSTRIAL.
Indexação
  • ANALISE, EFEITO, CRISE, AGRICULTURA, DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL, BRASIL, APRESENTAÇÃO, DADOS.
  • ACUSAÇÃO, INEFICACIA, POLITICA AGRICOLA, GOVERNO FEDERAL, PROTESTO, AUSENCIA, PROVIDENCIA, GOVERNO, SOLUÇÃO, CRISE, SETOR.
  • COMENTARIO, PREJUIZO, AGROINDUSTRIA, ESTADO DO PARANA (PR), EFEITO, DENUNCIA, INCIDENCIA, FEBRE AFTOSA, REGIÃO, ACUSAÇÃO, INEXATIDÃO, INFORMAÇÃO.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, INCENTIVO, IMPORTAÇÃO, TRIGO, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, PREJUIZO, PRODUÇÃO, ESTADO DO PARANA (PR).
  • DEFESA, IMPORTANCIA, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL, SOLUÇÃO, CRISE, INDUSTRIA, AGRICULTURA.

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR. Como Líder do PDT. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no ano passado, fiz aqui inúmeros pronunciamentos alertando para as conseqüências da crise que começava a ficar muito clara no interior do País e que, cada vez mais, se torna efetiva. Em meados do ano passado, já dava para notar que aquilo que acontecia com o agronegócio brasileiro - com a agricultura e as indústrias que cercam a agricultura, tanto as fornecedoras de insumos quanto aquelas que revendem os produtos da agricultura, a fabricação de equipamentos e máquinas, enfim, a indústria que abastece a agricultura e se abastece da agricultura - já estava começando a sentir os reflexos da crise que se abateu sobre a agricultura brasileira em função, em primeiro lugar, da estiagem, seguida pela política cambial e real que coloca o dólar muito desvalorizado em relação ao real e que derruba os preços de todas as commodities, não permitindo a contabilização da receita de renda suficiente por parte dos agricultores brasileiros. A importação de produtos, no momento em que os agricultores brasileiros comercializavam a sua safra, mais especificamente o trigo e o arroz, derrubando novamente os preços. E alertávamos que o Governo não poderia continuar fomentando essas importações. Pois bem: o resultado não poderia ser outro.

É incrível como o Governo demora para enxergar e, até agora, não tenha tomado nenhuma medida para evitar que aquilo que aconteceu no ano passado continue acontecendo ainda com mais força neste ano.

Tenho aqui a medição do desempenho industrial de novembro do ano passado. Em oito regiões, a produção industrial cresceu; nas outras a produção industrial caiu e em alguns Estados, inclusive, de forma vigorosa. Enquanto no Estado de Pernambuco a indústria cresceu 12,3%, a média no Brasil não passou de 0,6%. E o que é mais relevante, ou aquilo que indica ainda mais, como teve influência, a agricultura no desempenho da indústria nos Estados do Sul. No Rio Grande do Sul, a indústria, em novembro, teve uma queda de 3,4%; em Santa Catarina, 2,2%; no meu Estado, Paraná, 10,4% negativos. Claro que temos que considerar que a agricultura é que abastece a indústria, porque a agroindústria é a força da indústria do meu Estado. Ela praticamente foi paralisada pela ação do clima e pela ação do Governo, pela incompetência do Governo Federal em estabelecer uma política que pudesse dar crédito, que pudesse oferecer o seguro, o que foi promessa de campanha do Presidente Lula quando ainda era candidato. Sua Excelência prometeu instalar o seguro da produção e não o fez, pelo menos de forma efetiva.

Além disso, tivemos um episódio lamentável, que demonstra completo despreparo de algumas autoridades na condução da política pública, do caso do anúncio da febre aftosa no Paraná, que até hoje não foi comprovada. Milhares, centenas de milhares de amostras foram enviadas aos laboratórios. Tivemos o Laboratório do Pará de Belém que fez a análise sem constatação; o do Rio Grande do Sul também não o fez. Mas, para a Organização Internacional de Epizootias (OIE), vale o anúncio; se há suspeita de febre aftosa, então há febre aftosa. E o Paraná foi incluído como um Estado onde a febre aftosa existe. Não existe. Mas os frigoríficos pararam; a indústria de aves, de frango de corte, foi atingida; a pecuária de leite foi atingida. Ou seja, as indústrias de laticínios, os abatedouros de frango, a bovinocultura, a suinocultura e os frigoríficos acabaram resultando neste péssimo desempenho da indústria no Paraná.

Mais que isso, Sr. Presidente, o trigo. Enquanto o Governo insistiu em fomentar, em estimular a importação de trigo argentino, negligenciando o trigo nacional, tivemos uma queda brutal do desempenho da indústria também no setor moageiro de trigo. Então, o resultado não poderia ser outro. E quando se fala em 10,4% negativos no Paraná, acende-se uma luz vermelha enorme.

É preciso que o Governo do Estado esteja atento àquilo que poderá continuar acontecendo em decorrência da crise que se instalou no Estado com a febre aftosa, que não existe. Anunciaram uma febre aftosa que não existia. Estamos agora pagando o preço pelo péssimo desempenho da indústria. Estamos também sofrendo conseqüências com a estiagem que castiga o Rio Grande do Sul, o Paraná e Santa Catarina e que pode novamente derrubar a safra.

Sr. Presidente, nestes dez segundos que me restam, quero concluir falando ao Governo Federal e aos governos dos Estados, principalmente chamando a atenção do Governo do meu Estado para que se adotem políticas saneadoras desta crise, porque, se ela se aprofundar, ficará irreversível. E quem mais pagará a conta serão aqueles que são objeto do discurso tanto do Governo Estadual quanto do Governo Federal, os mais pobres, os menos favorecidos. Aí não adiantará querer distribuir leite e cesta básica porque nem haverá o que distribuir. É preciso produzir para que haja cesta básica. Do jeito que está, com a indústria caindo e a agricultura numa situação de abandono completo, não há como essas estruturas continuarem sobrevivendo. É preciso agir e de forma rápida, principalmente com a política monetária, que é um desastre para os setores produtivos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/01/2006 - Página 518